Era uma vez
Apesar do sol, o dia estava frio. Estava até mesmo muito frio, e não é para admirar, afinal era Fevereiro. Nesta altura, por causa do frio e da falta de alimentos, muitos animais preferem hibernar, ou seja, preferem dormir um sono muito longo, onde só precisam de fazer uma coisa: dormir..
D. Matilde, a rela, foi um desses animais que até há poucos dias estava a hibernar. Agora, já acordada, aqui está ela pousada no cimo de uma erva bem alta, onde espera paciente que um inseto mais distraído ali passe e lhe sirva de almoço..
De repente, algo passou por ela e sem avisar, pousou de cabeça para baixo num ramo de um arbusto, ali mesmo, a poucos centímetros de si. Arregalando os olhos, o mais que podia, enquanto as suas patinhas tremiam como varas verdes, a Matilde perguntou com medo: Quem és tu? - Não sei quem sou, nem o que aqui faço respondeu o estranho animal só sei que procuro alguém que me diga quem sou. E tu, quem és?
S-s-s-sou a Matilde, uma rela-comum, vieste comer-me? - Não, isso não!!! Só quero saber quem sou e o que aqui faço respondeu a estranha figura. Talvez outro animal te conheça, queres que te ajude a procurar alguém? - Farias isso por mim? perguntou animado o animal
Claro. Não me custa nada. E dito isto, lá foram os dois. A rela saltava enquanto o novo amigo voava, em ziguezague, mas voava.
Olá Matilde rela, claro que sim, mas nesta altura do ano é sempre mais difícil encontrar insetos que me matem a fome. Que te trás por aqui, tão longe do teu charco? Olá Laurinda carriça, à procura do almoço?
- Trago comigo um amigo que não sabe quem é. Podes ajudar-nos? perguntou a rela. - Se o conhecer... respondeu a carriça. É esquisito! exclamou a carriça enquanto observava o animal. Tem umas asas e voa... mas não me parece que seja uma ave. Além disso tem muitos pelos...não, não o conheço. - Pronto, paciência!!! Lamentou-se a rela de qualquer forma, obrigado.
www.cienciahoje.pt E lá continuaram os dois à procura de quem os ajudasse. Um pouco mais à frente, eis que pousado numa folha de medronheiro, um besouro os avistou
Olá Matilde! Que fazes aqui, tão longe do teu charco? - Trago comigo um amigo que não sabe quem é. Podes ajudar-nos? Perguntou a rela. - Se o conhecer... Respondeu o besouro.
Hum!!! É esquisito... tem asas e voa... mas não me parece um besouro. Além disso tem pelos. Não, não o conheço. Obrigado besouro! Talvez outro animal nos ajude... E lá seguiram uma vez mais os dois amigos.
- Olá Matilde, que fazes por aqui, tão longe do teu charco? Trago comigo um amigo que não sabe quem é. Podes ajudar-nos? - Se o conhecer... Respondeu o coelho-bravo enquanto observava com atenção o estranho amigo da Matilde. Tem muitos pelos... por isso parece-me um mamífero, mas com asas... não, não o conheço. - Obrigado Saltitão agradeceu a rela talvez outro animal nos diga.
E uma vez mais, lá seguiram. Ao passar por baixo de um grande sobreiro: Olá Matilde, que fazes por aqui tão longe do teu charco? perguntou do cimo de um ramo o professor coruja-do-mato.
- Olá professor exclamou a Matilde trago comigo um amigo que não sabe quem é. Podes ajudar-nos? - Hum!!! Se tem pelos, é mamífero! Observou o professor. Se tem asas, é porque voa!!! - Sim, e depois? Perguntou ansioso o animal. - E depois?!? Perguntou espantado o professor Quem é o único mamífero que consegue voar? Enquanto a rela e o amigo se olhavam espantados, o professor divertia-se com a ignorância dos dois.
És um morcego!!!
Então vou explicar-te quem és - Sou um morcego?! Interrogou-se o animal Onde é que vivo? O que costumo comer? Como é que - Calma! - Interrompeu a coruja Deves ter perdido a memória. Bateste com a cabeça em algum lado? - Não sei disse o morcego.
Adaptação da história e ilustrações de Quim Ferreira O morcego esquecido, ICNB (http://www.icn.pt/o-voo-da-bonelli/morcego/morcego_1.htm)