Tendências Observadas e Projeções Futuras de Extremos Climáticos na Cidade do Rio de Janeiro



Documentos relacionados
Tendências Observadas nos Índices Extremos Diários de Temperatura e Precipitação na Cidade do Rio de Janeiro

OBSERVAÇÃO DE MUDANÇAS DE EXTREMOS CLIMÁTICOS (PRECIPITAÇÃO E TEMPERATURA)UTILIZANDO O SOFTWARE

PROJEÇÕES DE PRECIPITAÇÃO PARA O ESTADO DE SÃO PAULO E MODOS DE VARIABILIDADE NA ESTAÇÃO DE VERÃO EM RESULTADOS DO MODELO REGIONAL ETA

REPRESENTAÇÃO DOS CICLONES EXTRATROPICAIS NO ATLÂNTICO SUL PELO MODELO ETA CLIMÁTICO: AVALIAÇÃO DO CLIMA PRESENTE ( ) E PROJEÇÕES FUTURAS

VARIABILIDADE CLIMÁTICA DA TEMPERATURA NO ESTADO DE SÃO PAULO. Amanda Sabatini Dufek 1 & Tércio Ambrizzi 2

Eixo Temático: Inovação e Sustentabilidade em Diferentes Setores ANÁLISE DOS EXTREMOS DE TEMPERATURA PARA PORTO ALEGRE-RS

IDENTIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS NAS SÉRIES DE PRECIPITAÇÃO E TEMPERATURA. UFPEL Departamento de Meteorologia - PPGMet

TENDÊNCIAS DE ÍNDICES DE EXTREMOS CLIMÁTICOS PARA A REGIÃO DE MANAUS-AM

TENDÊNCIAS NOS ÍNDICES CLIMÁTICOS DE EXTREMOS DE TEMPERATURA E PRECIPITAÇÃO EM PIRACICABA, SP ( )

Clima. Álvaro Silva & Fátima E. Santo, IPMA. Reunião de divulgação de resultados do projeto AdaPT AC:T Hotéis parceiros do projeto

EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE A LA PLATA BASIN EM SIMULAÇÕES DO CLIMA PRESENTE E DE PROJEÇÕES PARA O FUTURO Kellen Lima 1 & Iracema Cavalcanti 2 1

O FENÔMENO ENOS E A TEMPERATURA NO BRASIL

Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ

CST-311 Metodologia da Pesquisa Científica. André de Arruda Lyra. Análise da Tese:

ANÁLISE DE ÍNDICES DE EXTREMOS DE TEMPERATURANO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Avaliação do desempenho do Modelo Eta (versão climática) com relação à configuração de ciclones no Atlântico Sul

EFEITOS DE FRENTES FRIAS NO COMPORTAMENTO CLIMÁTICO DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA (ES)

PROJEÇÕES DE EXTREMOS CLIMÁTICOS NAS REGIÕES METROPOLITANAS DE SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO PARA O FINAL DO SÉCULO XXI

AS ESTIAGENS NO OESTE DE SANTA CATARINA ENTRE

Variabilidade da Precipitação Pluviométrica no Estado do Amapá

Estudos de tendências de índices de precipitação sobre o estado da Bahia

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Previsão de Vento em Altíssima Resolução em Região de Topografia Complexa. RELATÓRIO DO PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (PIBIC/CNPq/INPE)

METODOLOGIA DE IDENTIFICAÇÃO DE VERANICOS EM PASSO FUNDO- RS. Humberto Conrado 4

PLANO DE TRABALHO, CONTENDO A DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES, OS RECURSOS TECNOLÓGICOS NECESSÁRIOS PARA EXECUÇÃO E OS PRAZOS

Análise de tendências climáticas nas bacias hidrográficas do interior de Pernambuco

ANÁLISE PRELIMINAR DO IMPACTO DO RESERVATÓRIO DE ITÁ NO CLIMA LOCAL. Maria Laura G. Rodrigues 1 Elaine Canônica 1,2

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A CULTURA DO FEIJOEIRO. Gabriel Constantino Blain

CARACTERIZAÇÃO DE EXTREMOS CLIMÁTICOS UTILIZANDO O SOFTWARE RClimdex. ESTUDO DE CASO: SUDESTE DE GOIÁS.

Boletim Climatológico do Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo Verão de 2019

Alterações Climáticas: o passado e o futuro. Do GLOBAL ao l cal.

Eventos climáticos extremos: monitoramento e previsão climática do INPE/CPTEC

Boletim do Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo Dezembro de 2018

A Ciência das Mudanças Climáticas: Relatório do IPCC-2007 (GT1 e 2) e Relatório de Clima do INPE

ANÁLISE COMPARATIVA DA ATUAÇÃO DO FENÔMENO EL NIÑO /OSCILAÇÃO SUL ENTRE AS CIDADES DE RIO GRANDE E PELOTAS-RS PARA O PERÍODO DE

INFLUÊNCIA DO EL NIÑO/ LA NIÑA NO NÚMERO DE DIAS COM PRECIPITAÇAO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE PARNAIBA-PI

Projeções da duração do ciclo da cultura da soja baseadas no modelo regional Eta/CPTEC 40km (cenário A1B)

ABSTRACT: Palavras-chave: Jato de baixos níveis, Modelo Regional, Fluxo de Umidade, IPCC SRES A2, Andes.

Adaptar o Ciclo Urbano da Água a Cenários de Alterações Climáticas - EPAL 6 Julho 2011

ÍNDICES DE TENDÊNCIAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO ESTADO DA BAHIA

CARACTERÍSTICAS DA PRECIPITAÇÃO NO SERTÃO DE PERNAMBUCO E SUA RELAÇÃO COM EL NIÑO E LA NIÑA

IMPACTOS SOBRE O MEIO FÍSICO

Análise Climatológica da Década (Relatório preliminar)

Boletim do Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo Janeiro de 2019

Alterações observadas e cenários futuros

MONITORAMENTO DA PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE PE UTILIZANDO A TÉCNICA DOS QUANTIS. 3

INFLUÊNCIA DO EL NIÑO-OSCILAÇÃO SUL (ENOS) NOS REGIMES PLUVIOMÉTRICO E TÉRMICO NA ILHA DE SÃO LUIS, MA RESUMO 1. INTRODUÇÃO

AVALIAÇÃO DAS PROJEÇÕES DE PRECIPITAÇÃO DOS MODELOS CLIMÁTICOS GLOBAIS DO QUARTO RELATÓRIO DO IPCC PARA O BRASIL *

Probabilidade de Ocorrência de Dias Chuvosos e Precipitação Mensal e Anual para o Município de Domingos Martins-ES

1 Mestranda (CNPq) do Programa de Pós-graduação em Meteorologia/Universidade Federal de

Extremos na Serra do Mar

INFORMATIVO CLIMÁTICO

ANÁLISE DE ÍNDICES CLIMÁTICOS EXTREMOS PARA AS CAPITAIS DA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL. PARTE I: TENDÊNCIAS DE PRECIPITAÇÃO

Boletim do Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo Outubro de 2018

CARACTERIZAÇÃO DE DISTÚRBIOS ONDULATÓRIOS DE LESTE EM ALCÂNTARA: ESTUDO DE CASO

TENDÊNCIAS OBSERVADAS EM INDICADORES DE EXTREMOS CLIMÁTICOS DE TEMPERATURA E PRECIPITAÇÃO NO ESTADO DO PARANÁ

ARTIGO COM APRESENTAÇÃO BANNER - CLIMATOLOGIA, UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

EFEITOS DO AUMENTO DA TEMPERATURA NO BALANÇO HÍDRICO CLIMATOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE RIBEIRA DO POMBAL-BA

DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIA DE EVENTOS INTENSOS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE A REGIÃO NORDESTE DO BRASIL.

INFORMATIVO CLIMÁTICO

MODOS DE VARIABILIDADE NA PRECIPITAÇÃO PARA A REGIÃO SUL DO BRASIL NO CLIMA PRESENTE E FUTURO

Boletim do Vale do Paraíba e Litoral Norte de São Paulo Maio de 2018

EPISÓDIOS DE CHUVA INTENSA NA REGIÃO DA GRANDE FLORIANÓPOLIS/SC: ANÁLISE PRELIMINAR DOS EVENTOS E CARACTERIZAÇÃO SINÓTICA

Aumento dos Desastres Naturais na América Latina no Século XX

ANÁLISE DA VARIABILIDADE PLUVIOMÉTRICA DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO-PE

Precipitação Acumulada Mensal

Relação entre a precipitação pluvial no Rio Grande do Sul e a Temperatura da Superfície do Mar do Oceano Atlântico

IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE TENDÊNCIAS EM SÉRIES HISTÓRICAS DE PRECIPITAÇÃO NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS

ESTUDO DA VARIABILIDADE CLIMÁTICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, ATRAVÉS DAS REPETIÇÕES DE ANOMALIAS DE TEMPERATURAS MÍNIMAS DIÁRIAS

PREVISÃO CLIMÁTICA SAZONAL. Ana Maria H. de Avila Cepagri/unicamp

EFEITOS DE UM BLOQUEIO ATMOSFÉRICO NO CAMPO DE PRECIPITAÇÃO E TEMPERATURA NO RIO GRANDE DO SUL

RISCOS CLIMÁTICOS E AMBIENTAIS

EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO DA SERRA DO MAR PARTE I DESCRIÇÕES ESTATÍSTICAS DA PRECIPITAÇÃO DIÁRIA

UFPA- FAMET- Brasil- Belém-

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO EM CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL

ESTUDO DE TENDÊNCIA CLIMÁTICA NA SÉRIE TEMPORAL DE PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA EM ARAGUARI (MG)

INFORMATIVO CLIMÁTICO

ANÁLISES DE TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JAGUARIBE (CEARÁ, BRASIL)

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

INFOCLIMA. BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS Ano 9 13 de janeiro de 2003 Número 01. Sumário Executivo

Mudanças Climáticas Globais e o Impacto no Bioma Caatinga

PROJEÇÕES PARA O AUMENTO DE TEMPERATURA NO NORTE DE MG : UMA ANALISE SOBRE CENARIO FUTURO COM BASE NOS MODELOS DE MUDANÇAS CLIMATICAS DO IPCC

ESTUDO PRELIMINAR DA TEMPERATURA DO AR NA CIDADE DE PELOTAS: VARIAÇÃO CLIMÁTICA. Edeon Sandmann DE DEUS¹, André Becker NUNES²

BOLETIM Nº 05/2016 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS. Núcleo Estadual de Meteorologia e Recursos Hídricos

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE IMPERATRIZ

ANÁLISE DE ÍNDICES CLIMÁTICOS EXTREMOS PARA AS CAPITAIS DA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL. PARTE II: TENDÊNCIAS DE TEMPERATURA

PREVISÃO CLIMÁTICA TRIMESTRAL

Avaliação de previsões de tempo do modelo ETA. para subsidiar pesquisas agrícolas no Brasil

COMPARAÇÃO ENTRE A PRECIPITAÇÃO SIMULADA PELO MCGA DO CPTEC/COLA E A RENÁLISE DO NCEP/NCAR E OBSERVAÇÕES

PROJECÃO FUTURA DO BALANCO HÍDRICO CLIMATOLÓGICO PARA MESORREGIÃO SUL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INFORMATIVO CLIMÁTICO

1246 Fortaleza, CE. Palavras-chave: Circulação de brisa, RAMS, modelagem atmosférica.

BAIXAS TEMPERATURAS OBSERVADAS EM JANEIRO DE 1992 NA REGIÃO DE PELOTAS-RS

Geografia Física. Turmas: T/R Chicão. Aula 2 Dinâmica Climática

Cenários da mudança climática em Portugal. Mariana Bernardino & Fátima Espírito Santo, IPMA 4 de junho de 2015

AMBIENTE SINÓTICO ASSOCIADO A EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITACÃO NA REGIÃO LITORÂNEA DO NORDESTE DO BRASIL: ANÁLISE PRELIMINAR.

Relatório: Estatística mensal de algumas variáveis meteorológicas em Taubaté, São Paulo. Período: dois anos.

MONITORAMENTO ATMOSFÉRICO NOÇÕES SOBRE A ATMOSFERA TERRESTRE

ESTUDO DAS PRECIPITAÇÕES MÁXIMAS PARA O MUNICIPIO DE MOSSORÓ-RN, BRASIL STUDY FOR MAXIMUM RAINFALL ON MUNICIPALITY OF MOSSORÓ- RN, BRAZIL

Transcrição:

Tendências Observadas e Projeções Futuras de Extremos Climáticos na Cidade do Rio de Janeiro Wanderson Luiz Silva 1, Claudine Dereczynski 1, Chou Sin Chan 2 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 2 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) E-mails: wanderweather@gmail.com, claudine@acd.ufrj.br, chou.sinchan@cptec.inpe.br RESUMO: Neste trabalho são analisadas as tendências dos indicadores de extremos climáticos de duas estações meteorológicas do INMET na cidade do Rio de Janeiro, utilizandose temperaturas máxima e mínima e totais pluviométricos diários, com o auxílio do programa RClimDex. Além disso, as integrações do modelo Eta Climático (40 km) aninhado ao modelo global HadCM3 do Hadley Center, elaboradas no CPTEC/INPE, são avaliadas para o município do Rio de Janeiro no clima presente (1961-1990). As projeções das mudanças climáticas para o período de 2010-2100 com o cenário A1B do IPCC são analisadas para os índices climáticos cujas tendências são bem representadas no clima presente. Testes estatísticos foram utilizados para avaliar a magnitude e a significância das tendências. Os resultados associados aos indicadores de extremos de temperatura foram bem representados pelo modelo Eta e apontam para um aumento do número de dias e noites quentes. Os resultados relativos aos índices de extremos de precipitação indicam uma elevação no total pluviométrico de chuvas intensas no clima presente; entretanto, tais tendências não foram adequadamente representadas pelo modelo. Tais resultados são consistentes com uma tendência de um clima mais quente e mais chuvoso na cidade do Rio de Janeiro. ABSTRACT: In this work we investigate the trends in the indices of extreme daily temperature and daily precipitation for two meteorological stations in Rio de Janeiro city, with the support of RClimDex software. In addition, the Eta Model integrations (40 km), multidecadal version, nested in the global model HadCM3 of the Hadley Centre, prepared at CPTEC/INPE, are evaluated for Rio de Janeiro city in the present climate (1961-1990). The projections of climate change for the period 2010-2100 using IPCC A1B scenario are analyzed for climatic indices which trends are well represented in the present climate. Statistical tests were used to assess trends magnitude and significance. The results associated with extreme temperature indicators were well represented by Eta Model and point to an increase of the number of warm days and nights. The results for the extreme precipitation indices show an increase in the number of days with heavy precipitation in the present climate; however, these trends were not adequately represented by the model. These results are consistent with a trend toward a warmer and wetter climate in Rio de Janeiro. Palavras-chave: Mudanças Climáticas; Extremos Climáticos; Rio de Janeiro; RClimDex; Modelo Eta Climático; Mann-Kendall.

1 INTRODUÇÃO Pesquisas recentes sobre detecção de mudanças climáticas identificaram um expressivo aquecimento em várias regiões do Brasil. Vincent et al. (2005) aplicaram índices de extremos climáticos a 19 estações no Brasil e encontraram significantes tendências de aumento (redução) na frequência de noites quentes (frias). Obregón e Marengo (2007) mostraram que a temperatura mínima média anual se elevou em todas as localidades estudadas no Brasil no período de 1961-2000, sendo que no Estado do Rio de Janeiro, nas estações de Resende e Nova Friburgo, houve um aumento de +0,2ºC/década. Sansigolo et al. (1992) analisaram séries de temperaturas médias anuais para 9 cidades brasileiras e em todas ocorre aquecimento. Com relação à chuva, os resultados são variáveis sobre o Brasil. No Estado do Rio de Janeiro, a maior parte dos trabalhos mostra tendências negativas nos índices relacionados à precipitação. Figueiró e Coelho Netto (2003) analisaram os totais pluviométricos anuais da Estação Capela Mayrink, no Alto da Boa Vista, localizada no Maciço da Tijuca (Rio de Janeiro) para o período de 1976 a 2002, encontrando tendências negativas. Contudo, de acordo com Coelho Netto et al. (2008), os totais pluviométricos anuais seriam fortemente controlados pela frequência de chuvas diárias extremas (>100mm/dia), e a frequência de tais eventos sofreu elevação no período de 1977 a 2002 na Estação Capela Mayrink (Alto da Boa Vista) e também na Estação de Resende, no Vale do Rio Paraíba do Sul (Rio de Janeiro), onde a série é mais longa (1937-2000). Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a expectativa é de que os modelos numéricos utilizados para projetar mudanças climáticas futuras consigam reproduzir os aspectos fundamentais do clima presente. Entretanto, os modelos globais, que necessitam cobrir um amplo domínio, não são capazes de representar o grande número de processos de retroalimentação que ocorrem nas escalas sub-grade controlados por aspectos locais, tais como a topografia, os limites terra-mar, a vegetação e outros. Portanto, as projeções de mudanças climáticas futuras regionalizadas, obtidas a partir de modelos regionais aninhados a modelos globais, têm sido elaboradas por diversos centros de meteorologia como, por exemplo, o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O objetivo deste estudo é identificar tendências nos indicadores de extremos climáticos na cidade do Rio de Janeiro e simular, através das integrações climáticas regionalizadas do modelo Eta Climático do INPE (Chou et al., 2011; Marengo et al., 2011), projeções futuras para tais índices a fim de apoiar estudos de vulnerabilidade e adaptação aos cenários de mudanças climáticas no município.

2 MATERIAL E MÉTODOS Neste trabalho, foram utilizadas séries de totais pluviométricos diários e temperaturas máxima e mínima diárias para as estações meteorológicas do Alto da Boa Vista (83007) e de Santa Cruz (83789), do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), nos períodos de 01/01/1967 a 31/12/2007 e 01/01/1964 a 31/12/2009, respectivamente. A seguir, a partir de tais dados observacionais, indicadores de extremos climáticos (Tabela 2.1) foram calculados utilizando-se o programa RClimDex, desenvolvido pelo Serviço Meteorológico Canadense. Tabela 2.1 Alguns dos indicadores de extremos climáticos utilizados no trabalho. Sigla Nome do Índice Definição Unidade PRCPTOT Precipitação total anual dos dias úmidos Precipitação total anual nos dias úmidos (PREC>=1mm) mm R95p Dias muito úmidos Soma da precipitação (a cada ano) nos dias em que a PREC > percentil 95 dos dias úmidos mm SU25 Dias de verão Número de dias no ano quando a Temperatura Máxima diária é superior a 25ºC (Tx > 25ºC) dias TN10p Noites frias Temperatura Mínima Diária inferior ao percentil 10 TN90p Noites quentes Temperatura Mínima Diária superior ao percentil 90 TX10p Dias frios Temperatura Máxima Diária inferior ao percentil 10 TX90p Dias quentes Temperatura Máxima Diária superior ao percentil 90 WSDI Duração de ondas de calor Número de dias no ano com pelo menos 6 dias consecutivos de Tx superior ao percentil 90 dias As projeções das mudanças climáticas futuras para a cidade do Rio de Janeiro foram analisadas utilizando-se as saídas do Modelo Regional Eta Versão Climática para o ponto de grade de latitude 23,0 S, longitude 43,4ºW e altitude de 62,9 m. A Curvatura de Sen, que é um teste estatístico não paramétrico para determinar a magnitude de uma determinada tendência, foi calculada para cada série de dados. Além disso, o teste estatístico de Mann-Kendall (Sneyers, 1975) foi aplicado às séries com o objetivo de determinar se as tendências observadas são significativas ao nível de confiança de 95%.

3 RESULTADOS Os indicadores de extremos climáticos associados à precipitação (Figuras 3.1a e 3.1b) apresentam um aumento pouco significativo no total pluviométrico anual e uma elevação no total pluviométrico de eventos de chuvas intensas no Alto da Boa Vista. Tais tendências não são estatisticamente significativas ao nível de confiança de 95%, exceto para o índice R95p no Alto da Boa Vista, que possui magnitude de +11,8 mm/ano. Os índices de extremos climáticos relacionados à temperatura (Figuras 3.1c a 3.1h) mostram que as tendências são bem representadas pelo modelo Eta e apontam para uma redução de dias frios, um expressivo aumento de dias e noites quentes e uma elevação na duração das ondas de calor. Tais tendências são estatisticamente significativas ao nível de 95%, com destaque para o índice SU25, que possui magnitude de +1 dia/ano para ambas as estações. (a) (b) (c) (d) (e) (f)

(g) (h) Figura 3.1 Gráficos de tendências para os índices climáticos: (a) PRCPTOT, (b) R95p, (c) SU25, (d) WSDI, (e) TN10p, (f) TX10p, (g) TN90p e (h) TX90p. As pequenas diferenças entre as tendências das duas estações meteorológicas (Alto da Boa Vista e Santa Cruz) podem estar associadas tanto com uma mudança na circulação em escala sinótica, quanto com a circulação local devido ao efeito de ilha de calor urbana. O aquecimento extra gerado pela ilha de calor no Rio de Janeiro possivelmente altera a direção e intensidade das brisas marítima e terrestre que, por sua vez, podem alterar os padrões de advecção de umidade no município. 4 CONCLUSÕES Conclui-se que, as projeções do modelo Eta Climático, cenário A1B do IPCC, sugerem que o clima na cidade do Rio de Janeiro deverá ficar mais quente até o final do século XXI, seguindo o padrão que já está sendo observado no município no clima presente. Projeta-se, principalmente, um aumento da maior temperatura máxima anual, aumento (redução) na frequência de ocorrência de dias e noites quentes (frios) e aumento na duração das ondas de calor. 5 AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Instituto Nacional de Meteorologia pela disponibilidade dos dados das estações meteorológicas do Alto da Boa Vista e de Santa Cruz, e ao CNPq pela bolsa PIBIC/UFRJ concedida ao primeiro autor. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Chou, S. C. et al., 2011: Downscaling of South America present climate driven by 4- member HadCM3 runs. Climate Dynamics. DOI 10.1007/s00382-011-1002-8; Coelho Netto, A. L. et al., 2008: Domínio do ecossistema da floresta atlântica de encostas. Em Rio Próximos 100 anos. O Aquecimento Global e a Cidade. Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, Rio de Janeiro;

Figueiró, A. S. e Coelho Netto, A. L., 2003: Do Local ao Regional: análise comparativa de transectos pluviométricos em diferentes escalas. V Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós Graduação em Geografia/ANPEGE, Florianópolis; Marengo, J. A. et al., 2011: Development of regional future climate change scenarios in South America using the Eta CPTEC/HadCM3 climate change projections: climatology and regional analyses for the Amazon, São Francisco and the Parana River Basins. Climate Dynamics; Obregón, G. e Marengo, J. A., 2007: Caracterização do clima do Século XX no Brasil: Tendências de chuvas e temperaturas médias e extremas. Relatório 2, Ministério do Meio Ambiente MMA, Secretaria de Biodiversidade e Florestas SBF, Diretoria de Conservação da Biodiversidade DCBio. Mudanças Climáticas Globais e Efeitos sobre a Biodiversidade Sub projeto: Caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do Século XXI, Brasília; Sansigolo, C. et al., 1992: Tendências nas temperaturas médias no Brasil. Congresso Brasileiro de Meteorologia, v. 1, p. 367 371; Sneyers, R., 1975: Sur L analyse Statistique des Series D observations. Gênevè: Organisation Méteorologique Mondial, p. 192 (OMN, Note technique, 143); Vincent, L. A. et al., 2005: Observed Trends in Indices of Daily Temperature Extremes in South America 1960-2000. Bulletin of the American Meteorological Society, v. 18, p. 5011 5023.