Alívio Aquieta tuas tristezas, medos, angústias de desecrenças, no vasto ombro que ofereço. Hospeda no meu peito suas dores mais íntimas que te alivio com cafuné. As carícias de seu couro cabeludo nas pontas de meus dedos, causam sorrisos incontáveis, como lembro dos suspiros de prazer a aconchego. No ano que passou pensei em ti, neguei mais que Pedro a Cristo mas, por fim, como ao Cristo, aceitei-te.
As Flores Que Você Pintou As flores que você pintou e que, de tão belas não pude fixar os olhos sem esconder inquietude, mostrando a alma que você tocou. Falávamos de Deus, pensamento constante meu, mas, no momento, só pensava nos momentos que fui seu, no contato dos teus lábios, com os meus... Sozinho na sala, da casa de sua amiga, observei as flores. pensando:
Mesmo que minha alma fosse muda, como poderia, sem rio na barriga, eu, poeta, não morrer de amores? Ata-me Não te permito ir-se de mim Não me deixe vendado... de coração vedado. Mata-me, antes de ir-se, Ata-me, antes de amar-me. Ara meu sangue em tuas veias e, nos seios, afoga-me. Mata-me antes de ir-se, ata-me antes de amar-me. Amo-te antes de amar-me,
e morro-me antes que morras em mim. Cactos Prefiro cactos a rosas. Enquanto rosas simbolizam indiretamente a fragilidade do amor Cactus simbolizam diretamente a força da superação da vida, em seu mais profundo significado. Prefiro cactos a rosas. Enquanto rosas simbolizam
diretamente a necessidade de solo fértil Cactus simbolizam indiretamente a necessidade de força interior para crescimento. Que as rosas sejam, para sempre, o símbolo do amor por sua dificultada existência e necessidade de solo fértil. e Cactos o símbolo da vida por vencer a vida e por sua dificultada porém prolífica existência.
Coexistência Acordes dissonantes das vozes de anjos e demônios... angiografias cerebrais... radiografias... ossos como troncos, veias como ramos, cérebros, flores, sangue, rios... a natureza médica,
a medicina natural... palmas... das mãos... plantas... dos pés... batatas... das pernas... um bisturi fende a pele, fazendo brotar um riacho de sangue... temos a composição da natureza... líquidos, sólidos, enérgicos... Isso! Energia! essa é a composição, a mônada... oxigênio processado pelo organismo, vira carbono processado pela fotossítese. Coexistência!
Cortes Com força e precisão desce a lâmina, Cortando a carne, chegando ao osso. Como a língua que passa lânguida, Excitando todo o seu corpo. Os membros são retirados, fácilmente,
Os gritos são abafados pela música. o sangue respingado é limpo da lente, e o som dos violinos invade a cena. Corto os tendões em cada junta, é mais fácil do que serrar ossos. É como se isso finalizasse nosso assunto, e você foi apenas meu esboço. Tento remontar você, num ato desesperado, como se fosse um editor, recriando a perfeição. Mas é tarde demais. Você está morta, e cortada, e de seus osso, agora brancos e limpos vejo a afeição. Dança da Mente a mente dança desvairada perdida num mundo de solidão. a mente dança na estrada longe do corpo, que vive em vão.
como se não precisasse dele, como se soubesse que o corpo é inútil. feito apenas para dor e prazer, serve apenas para se transcender. corpo torpe emprestado por Deus, aos que sabem usar facilitador da vida. cancro infecto aos que não sabem que seus órgãos e fluidos não são seus. a mente dança numa espiral insana, quando se tenta dormir ela dança mais. bendito dom do pensamento, que não nos deixa dormir, e nos separa dos animais. De nada vale De nada me vale ter todo o chão, Se o que eu quero está nos céus;
Porém de nada me vale o céu, Se o que eu tenho, caiu ao chão. Não tenho nada que valha, Pois o que quero já não vale mais. Perdi minha homérica batalha, Como o velho que, ainda novo, perde os pais. Aquele velho, que antes valia qual novo, Viveu perdendo a própria vida, Querendo saber se se pode viver de novo. Querendo reviver... fechar a ferida. Desejava corrigir o erro bobo, Da sua vida que já foi toda perdida. De Uma Vez
Estou cansado dessa felicidade diluída, desses sorrisos em conta gotas. Não aguento mais a amargura da vida, essa música sem tempo nem notas. Eu quero a vida de uma vez, como se tira um band aid. Se for pra doer, que doa uma vez, se for pra prazer, que me deleite. Quero viver com vontade, não descer pelo ralo, quero cantar no meio da rua... Quero sair com os amigos e beber do gargalo, viver minha vida, não a sua.
Dispa-se dispa-se da sua pretensiosidade... dispa-se das suas ambições... dispa-se do que se chama de humanidade... e descubra o quanto ser selvagem é bom! dispa-se para se dissipar, dissipe-se para melhor se encontrar. viva sem esperar nada em troca, pois a esperança é uma droga. o nu nunca é feio! feia é a humilhação de ficar nu para que não merece. o sexo nunca é sujo! sujeira é fazer sexo com quem não satisfaz. a satisfação não é pecado! pecado é não se satisfazer, com medo de pecar. e, finalmente, o bem nunca é bom. bom é o proibido, bom é o feio, o sujo... o nu! dispa-se da sua pele... seja os mais belos ossos!
a beleza não está no pincel, e sim nos olhos, sobre a tela. dispa seu poema de estruturas, elas tornam tudo mais belo, e padronizado. dispa-se dos padrões, eles tornam o mundo, acima de tudo, monótono... dispa-se das cores, mas não caia no monocromatismo. e dispa-se de quantas obrigações puder. o homem não nasceu para ser obrigado.
Do que sou Feito Sou feito de letras e lousas, uma parte é fato, outra em branco. Da parte que é fato, de tempos em tempos, se moldam novos fatos. Da parte que é lousa escreve-se o que se vai... Em carbono baseado, feito para incendiar o mundo.