MÉTODO DE CONTENÇÃO E CONFECÇÃO DE ESFREGAÇO SANGUÍNEO PARA PESQUISA DE HEMOPARASITAS EM RATOS E CAMUNDONGOS CONTENTION AND MAKING METHOD OF BLOOD SCRUBBING FOR THE RESEARCH OF HEMOPARASITES IN MICE AND RATS Aleksandro Schafer da Silva 1, Rovaina Laureano Doyle 2, Silvia Gonzalez Monteiro 3 RESUMO A técnica descrita tem a finalidade de facilitar a coleta de sangue para pesquisa de hemoparasitas em ratos e camundongos. A mesma foi desenvolvida no Laboratório de Parasitologia Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria no decorrer de experimentos realizados com ratos e camundongos, sendo de grande utilidade na pesquisa devido ao grande número de animais avaliados rotineiramente. O método de coleta sangüínea com caixa de isopor facilita a manipulação dos roedores, sendo necessário para o procedimento somente uma pessoa para conter o animal e assim realizar o esfregaço sanguíneo com grande segurança. O esfregaço sanguíneo é realizado com uso da lâmina de vidro diretamente sobre a cauda, isto é, sem uso de extensora, o que após coloração, possibilita a perfeita análise microscópica para diagnóstico. O método de contenção e confecção de esfregaço sanguíneo se destaca pelo baixo custo do material utilizado, rapidez e praticidade. Palavras Chave: hemoparasitas, contenção, ratos, camundongos, esfregaço sanguíneo. ABSTRACT The technique described aims to simplify the blood collection for the research of hemoparasites in mice and rats. The present technique was developed on the Parasitology Laboratory of the Universidade Federal de Santa Maria during the experiments accomplished with mice and rats being thoroughly useful for the research due to the large amount of animals often assessed. The method of blood collection with a thermal box simplifies the handling of 1 Bolsista de Iniciação Científica do Laboratório de Parasitologia Veterinária de Medicina Veterinária da UFSM. 2 Aluna, Pós-graduação, Medicina Veterinária, UFSM, Santa Maria. 3 Dra, Prof. Adj. Depto Microbiologia/Parasitologia, UFSM, E-mail: sgmonteiro@uol.com.br.
Silva, A.S. da et al. 154 these rodents being necessary on this procedure only one person to control the animal in order to accomplish the blood scrubbing with great security. The blood scrubbing is carried out by using the glass sheet straightly over the tail or, in other words, without the extending use allowing after the coloration a perfect microscopic analysis for the diagnosis. The contention and making methods of blood scrubbing are accessible due to the low cost of the material applied, the speed and easiness. Key words: hemoparasites, contention, rats, mice, blood scrubbing Os métodos utilizados para a contenção dos animais de laboratório são dependentes do comportamento, conformação física e tamanho de cada espécie. A maioria dos roedores possui cauda e esta pode ser utilizada para suspender o animal, desde que se trate de uma manobra rápida e cuidadosa, na qual ele seja prontamente colocado em uma superfície de apoio a fim de evitar o desconforto. Quando esse tipo de contenção é adotado, deve ser realizado pela base da cauda para prevenir que ocorram fraturas, divulsão da pele e conseqüentes ferimentos, além disso, tal manobra é dificultada pela agilidade do animal que pode se virar e morder o operador (LUCA et al., 1996; PAIVA et al., 2005). Algumas técnicas utilizam a tampa da gaiola como ponto de apoio para o camundongo o que faz com que o animal se agarre a ela garantindo maior firmeza para a realização de contenção posterior. Filhotes de ratos podem ser manipulados de maneira similar aos camundongos. Ratos maiores devem ser contidos firmemente, porém de forma gentil, colocando-se a mão firmemente sobre o dorso e o tórax. A cabeça pode ser segura com o polegar e o indicador, imediatamente atrás da mandíbula (LUCA et al., 1996; PAIVA et al., 2005). O diagnóstico laboratorial de hemoparasitas como Ehrlichia sp., Babesia sp., Anaplasma sp. e Trypanosoma sp., entre outros é realizado através da observação do esfregaço do sangue periférico (ponta da orelha ou cauda). Os esfregaços devem ser efetuados segundo recomendações de NEITZ & THOMAS (1938) que utilizam apenas a primeira gota de sangue, espalhada por uma extensora, porque esta corresponde verdadeiramente, ao sangue periférico (ALMOSNY, 2002). Na pesquisa de parasitas do sangue, o esfregaço sanguíneo é examinado rotineiramente nos laboratórios veterinários, sendo corado através das colorações de Giemsa, Wright ou por kits de coloração comercial (Diff-Quik, Day Diagnostics, Aguarda, PR 00602) (SLOSS et al., 1999). Trabalhos atuais mostram que o esfregaço
155 Método de contenção... sanguíneo é um método rápido e de baixo custo para diagnóstico de hemoparasitas como o Trypanosoma evansi em infecções naturais (COLPO et al., 2005; CONRADO et al., 2005) e em pesquisas com infecção experimental em ratos e cobaias (OLIVEIRA et al., 1989). Este trabalho tem a finalidade descrever uma técnica para facilitar a pesquisa de hemoparasitas em ratos e camundongos. A técnica foi desenvolvida no Laboratório de Parasitologia Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria no decorrer de experimentos realizados com ratos e camundongos infectados com T. evansi, sendo de grande utilidade na pesquisa devido ao grande número de animais avaliados diariamente. A primeira etapa da técnica consiste na contenção do animal. O mesmo é retirado de sua gaiola pela base da cauda e é colocado sobre uma mesa. Sobre o animal é inserida uma caixa de isopor sem a tampa de dimensões 20 x 15 x 15 cm, previamente adaptada para exposição da cauda do animal por meio da remoção de um retângulo 2 cm de altura por 1cm de largura da sua extremidade superior. As abas da gaiola são importantes, pois seguram e dão firmeza a caixa de isopor, como pode ser observado na FIGURA 1. Este método facilita a manipulação dos roedores, sendo necessário para o procedimento somente uma pessoa para conter o animal e assim realizar o esfregaço sanguíneo com segurança para o operador. FIGURA 1: Método de contenção para realizar o esfregaço sanguíneo. Aba da gaiola (seta) firmando a caixa de isopor. Esta técnica dispensa o uso de sedativos e anestésicos nos animais para coleta do sangue, além de diminuir a possibilidade de lesões ao animal devido à contenção física inadequada realizada por pessoa inexperiente. Sem contato com o corpo do animal, diminuem-se os riscos de morte, principalmente em camundongos que são menores e mais frágeis, necessitando maiores cuidados na manipulação. Após a contenção na caixa de isopor é realizado anti-sepsia da cauda dos animais com algodão embebido em álcool iodado para coleta de sangue da veia caudal (FIGURA 2).
Silva, A.S. da et al. 156 FIGURA 2: Coleta do sangue periférico pela venipunção da veia caudal. A próxima etapa da técnica é a coleta da primeira gota de sangue, que é feita diretamente sobre uma lâmina de vidro deslizada na superfície da própria cauda para formar o esfregaço sangüíneo (FIGURA 3). Após a secagem, este é corado por Panóptico que somente um operador é necessário para realizá-la. A gota de sangue coletada da cauda e deslizada diretamente sobre a lâmina de vidro sem o uso de extensora, possibilita a perfeita análise microscópica do esfregaço sanguíneo após a coloração, sendo possível a observação das células sanguíneas e parasitas presentes no sangue de um animal infectado (FIGURA 4). Comparando vários esfregaços sanguíneos realizados dessa forma, com a técnica de rotina utilizada na maioria dos laboratórios que empregam a lâmina extensora, observou-se que não ocorreu diferença entre as técnicas, visto que ambas estavam legíveis e foram encontrados o mesmo número de hemoparasitos por campo. FIGURA 3: Lâmina deslizando sobre a própria cauda formando o esfregaço sanguíneo no sentido da seta Rápido e posteriormente examinado em microscópio de luz para pesquisa dos hemoparasitas. A metodologia empregada é destinada à pesquisa de hemoparasitas, sendo acessível pelo baixo custo do material utilizado, rapidez e praticidade, já FIGURA 4 Esfregaço sanguíneo corado com Panóptico Rápido, observado em aumento de 1000x em microscópio de luz. REFERÊNCIAS ALMOSNY, N.R.P. Hemoparasitoses em pequenos animais domésticos e como
157 Método de contenção... zoonoses. 1º ed. Rio de Janeiro: L.F. Livros de Veterinaria Ltda. 2002, 135p. COLPO, C.B.; MONTEIRO, S.G.; STAINKI, D.R.; COLPO, E.T.B.; HENRIQUES, G.B. Infecção Natural por Trypanosoma evansi em cão no Rio Grande do Sul. Ciência Rural, v. 35, n. 3, p. 717-719, 2005. CONRADO, A.C.; LOPES, S.T.A.; OLIVEIRA, L.S.S.; MONTEIRO, S.G.; VARGAS, D.L.B.; BUENO, A. Infecção natural por Trypanosoma evansi em cavalos na região Central do Estado do Rio Grande do Sul. Ciência Rural, v35, n.4, p.928-931, 2005. PAIVA, F.P.; MAFFILI, V.V.; SANTOS, A.C.P. Curso de manipulação de animais de laboratório. Fundação Oswaldo Cruz. On line. Capturado em 15 de março de 2006. Disponível: www.cpqgm.fiocruz. br/arquivos/bioterio/bioterio_apostilha.pdf, 2005, 28p. SLOSS, M.W.; ZAJAC, A.M.; KEMP, R.L. Parasitologia Clínica Veterinária. 6a ed., São Paulo: Manole Ltda, 1999, 198p. LUCA, R.R. et al. Manual para Técnicos em Bioterismo. 2 ed. São Paulo: Winner Graph, 1996, p. 259. NEITZ, W.O.; THOMAS, A.D. Rickettsiosis in the Dog. Journal of South African Veterinary Medical Association, v.9, p.166-174, 1938. OLIVEIRA, T.C.G; MENEGUIN, J.M.; PEREIRA, E.A. Comportamento da Trypanosoma evansi (T. equinum) em Animais de Laboratório. Arq. Bras. Med. Veto Zoot., 41(4):271-277, 1989