RECKZIEGEL, E. W.¹ ROBAINA, L. E. de S.²



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ESTUDO DE PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS DO RELEVO E DA REDE DE DRENAGEM DA ÁREA SITUADA ENTRE OS RIOS JAGUARI E IBICUÍ NO MUNICÍPIO DE SÃO VICENTE DO SUL RS RECKZIEGEL, E. W.¹ ROBAINA, L. E. de S.² ¹ Acadêmica do curso de Geografia da UFSM elisawr@yahoo.com.br ²Professor do Departamento de Geociências da UFSM lesro@base.ufsm.br (55) 3220-8639 RESUMO A análise morfométrica é largamente utilizada na obtenção de informações sobre a dinâmica da paisagem, sendo de grande relevância nos estudos geomorfológicos. Este trabalho objetiva uma análise dos parâmetros morfométricos do relevo e da rede de drenagem da área situada entre os rios Jaguari e Ibicuí, no município de São Vicente do Sul, a oeste do estado do Rio Grande do Sul, abrangendo uma área de 49208,30 hectares. Os parâmetros morfométricos analisados foram: magnitude da rede de drenagem, comprimento total dos canais de escoamento, densidade da drenagem (Dd), coeficiente de manutenção (Cm), densidade hidrográfica, altimetria, declividade, comprimento de vertente, formas do relevo e unidades de relevo. A partir dos dados morfométrico obtidos foram individualizadas 3 unidades homogêneas de relevo. A rede de drenagem apresenta magnitude de 5 a ordem, sendo o comprimento total dos canais de 846,17 km. A densidade da drenagem é de 1,43 km/km². Com relação à declividade, predominam declividades inferiores a 2%, correspondendo a 47,5% do total da área. Declives entre 2% e 5% perfazem 21,8%, declives entre 5% e 15% equivalem a 25,01%, e declividades superiores à 15% correspondem a 5,52% do total. O predomínio de declividades baixas deve-se ao fato de a maior parte da área de estudo constituir-se na planície de inundação dos rios Jaguari e Ibicuí. A presença de declividades maiores ocorre associada aos cerros isolados situados entre a planície. Com relação à altitude, 57% do total da área situa-se em altitudes inferiores à 100 metros; 42,8% equivalem a áreas com altitudes entre 100 e 200 metros, e apenas 0,2% do total da área situase em altitudes superiores à 200 metros. O maior comprimento de vertente presente no terreno, corresponde a 2200 metros e o menor equivale a 150 metros. Ocorre o predomínio de vertentes curtas, constituindo 64% do total analisadas. Quanto às unidades do relevo, a unidade I constitui as áreas planas, caracterizadas pelo predomínio de processos de acumulação e depósito de sedimentos recentes. A unidade II constitui as colinas e caracteriza-se pelo predomínio de declives médios, os processos erosivos tornam-se significativos. A unidade III constitui os morros e morrotes isolados, caracterizando-se pela ocorrência de processos erosivos e de movimentos de massa. Dessa forma, a área de estudo possui um relevo predominantemente plano com presença de algumas elevações isoladas. Os processos de dinâmica superficial estão principalmente associados às inundações, ocorrendo movimentos de massa e erosão somente ao longo das vertentes dos morrotes. Palavras-chave: hidrografia, morfometria, unidades de relevo. INTRODUÇÃO Os estudos morfométricos de formas de relevo e da rede de drenagem são instrumentos básicos para o desenvolvimento de planos de gestão que visem a utilização racional do meio ambiente e a compreensão dos processos naturais atuantes neste meio. Este trabalho apresenta um estudo dos parâmetros morfométricos que caracterizam o relevo e a rede de drenagem da área que se situa entre o leito dos rios Ibicuí e Jaguari no município de São Vicente do Sul no estado do Rio Grande do Sul. 1

A área de estudo segue a seqüência de análises já elaboradas na porção oeste do estado do Rio Grande do Sul por pesquisadores do Laboratório de Geologia Ambiental (Lageolam) da Universidade Federal de Santa Maria-RS. A região se constitui em uma área de grande preocupação ambiental devido aos processos erosivos acelerados. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA Geograficamente, a área de estudo localiza-se entre as latitudes 29 38 6 S e 29 51 17 S e entre as longitudes 55 8 25 W e 54 44 33 W. Situada na zona fisiográfica da campanha gaúcha, abrange 49.208,30 hectares no município de São Vicente do Sul, na porção oeste do estado do Rio Grande do Sul. É delimitada, ao norte pelo rio Jaguari e ao sul, pelo rio Ibicuí (Figura 1). Conforme Nimer (1989) devido a sua latitude, o clima da área é subtropical, apresentando quatro estações bem definidas, com invernos frios e verões quentes. As chuvas são abundantes e bem distribuídas todo o ano, na maioria dos meses as precipitações excedem 100mm, registrando médias anuais de 1400 mm. A vegetação natural da área consiste em campos, com predomínio de vegetação rasteira. Nas encostas mais íngremes dos cerros e junto à rede de drenagem ocorre vegetação arbórea. Figura 1 Mapa de Localização da área de estudo no município de São Vicente do Sul. 2

Com relação aos solos, de acordo com o levantamento de solos do estado do Rio Grande do Sul, realizado por Streck et al (2002), predominam latossolos arenosos, em virtude da alteração de arenitos por processos intempéricos e de pedogênese. METODOLOGIA A base cartográfica são as cartas topográficas do exército de São Francisco de Assis, Cacequi, Boa Esperança, e Itapevi, em escala 1:50.000. Os parâmetros morfométricos analisados foram: magnitude da rede de drenagem, comprimento total dos canais de escoamento, densidade da drenagem (Dd), coeficiente de manutenção (Cm), densidade hidrográfica, amplitude altimétrica (H), altimetria, declividade e comprimento de vertente. A ordem de drenagem, a densidade da drenagem e a densidade hidrográfica foram estabelecidas de acordo com Strahler (1952) apud Christofoletti (1974). Para o cálculo da densidade da drenagem foi usada a fórmula: Dd = Lb/A (Dd = densidade da drenagem; Lb = comprimento dos canais em km e A = área estudada em km 2 ). A densidade hidrográfica foi calculada através da fórmula: Dh = N /A (Dh = densidade hidrográfica; N = número total de rios e A = a área de estudo em km 2 ). Segundo Shumm (1956) apud Christofoletti (1974) o coeficiente de manutenção tem a finalidade de fornecer a área mínima necessária para a manutenção de um metro de canal de escoamento, sendo calculado pela expressão, Cm =1/Dd X 1000 (Cm = coeficiente de manutenção e Dd = a densidade da drenagem em m). Para elaboração do mapa hipsométrico a área foi dividida em três classes: áreas com altitudes inferiores a 100 metros, áreas com altitudes entre 100 e 200 metros e áreas com altitudes superiores a 200 metros. A amplitude do relevo foi encontrada através da diferença entre a maior e a menor altitude presente na área de estudo. O mapa de declividade foi elaborado dividindo-se o terreno em quatro classes, utilizando como limite os valores de 2%, 5% e 15%. Os limites foram definidos considerando: áreas com declives inferiores a 2% correspondem às áreas planas onde predominam processos de acumulação. O limite de 5% de declives é considerado como divisor das áreas de acumulação e erosão; áreas com declives superiores a 15%, são susceptíveis a movimentos de massa, além de ser considerado limite para mecanização agrícola. 3

Para análise do comprimento de vertente, foram medidas 127 rampas em diferentes porções da área de estudo. Os comprimentos de vertentes foram classificados em quatro classes: curtas (entre 150 e 700 metros), médias (entre 700 e 1200 metros), alongadas (entre 1200 e 1700 metros) e longas (entre 1700 e 2200 metros). A análise das formas do relevo foi realizada de acordo com a metodologia proposta pelo IPT (1981) apud Moreira e Pires Neto (1998), onde leva-se em consideração o gradiente de declividade (%) e a amplitude (metros) da vertente. Dessa forma, as vertentes foram classificadas em: rampa, onde predominam declives inferiores a 5% e amplitudes inferiores a 100 metros; colina, onde as declividades ficam entre 5% e 15% e a amplitude é inferior a 100 metros; morrote, onde as declividades excedem 15% e as amplitudes são inferiores a 100 metros e; morro onde os declives são superiores a 15% e as amplitudes superiores a 100 metros. O mapeamento de unidades do relevo define áreas com parâmetros morfomértricos semelhantes. A partir dos dados obtidos, a área foi dividida em três unidades. A elaboração cartográfica digital do relevo e da rede de drenagem foi realizada com apoio do software SPRING 4,0, e do Corel Draw 11. RESULTADOS Rede de Drenagem A rede de drenagem da área de estudo está dividida em dois setores: o setor norte correspondente aos afluentes do rio Jaguari e o setor sul correspondente à parte integrante da bacia do rio Ibicuí O setor norte da área possuí magnitude de 4 a ordem. Apresenta 305,67km de extensão da rede de drenagem, distribuídos em seus 241 canais de escoamento. O setor sul do terreno apresenta magnitude de 5 a ordem e 398,69km de extensão da rede de drenagem, distribuídos em 354 canais. A rede de drenagem total da área é composta por 595 canais de escoamento e hierarquia de 5 a ordem. A densidade da drenagem é de 1,43km/km 2, valor este, que indica densidade baixa (Strahler,1960 apud Chistofoletti, 1979). O coeficiente de manutenção da drenagem da área pesquisada equivale a 69.930,06metros e a densidade hidrográfica é de 0,904. Do total de canais, 445, que equivalem 63,1% da rede de drenagem, 406,68km de extensão da rede hidrográfica, são de 1 a ordem. Os canais de 2 a ordem somam 113, e 4

correspondem a 176,13km de extensão, 16,6% da rede hidrográfica. Os 29 canais de 3 a ordem equivalem a 90,89km, cerca de 14,56% da rede hidrográfica, os canais de 4 a ordem são 7 apresentando 25,06km de extensão, apenas 1 canal possui 5 a ordem, este, apresenta 5,625km (Tabela 1). Tabela 1 Dados morfométricos a respeito das principais características da rede de drenagem da área entre os rios Ibicuí e Jaguari no município de São Vicente do Sul. HIERARQUIA N DE CANAIS COMPRIMENTO TOTAL COMPRIMENTO MÉDIO DENSIDADE DA DRENAGEM 1 a ORDEM 445 406,68Km 0,91Km 0,832Km/Km 2 2 a ORDEM 113 176,13Km 1,55Km 0,357Km/Km 2 3 a ORDEM 29 90,89Km 3,13Km 0,184Km/Km 2 4 a ORDEM 7 25,06Km 3,58Km 0,05Km/Km 2 5 a ORDEM 1 5,625Km 5,625Km 0,011Km/Km 2 TOTAL 595 704,38Km 1,18Km 1,43Km/Km 2 Análise do relevo A análise do relevo foi desenvolvida através dos parâmetros de altimetria, declividade, comprimento e forma das vertentes. Altitude O estudo da altitude torna-se relevante na análise de diferentes elementos climáticos e de diferentes áreas de acumulação e erosão. Equivalente importância tem a amplitude na determinação das formas do relevo. Trentin e Robaina (2005) colocam que o mapa hipsométrico tem fundamental importância na análise da energia do relevo, indicando condições mais propícias à dissecação para as áreas de maior altitude e de acumulação para as áreas de menor altitude. A maior altitude apresentada no terreno é de 338 metros, no topo do Cerro Loreto, na porção norte da área, e a menor altitude é de 74 metros nas proximidades do rio Ibicuí, na porção sul da área. Dessa forma, a amplitude altimétrica da área é de 264 metros. As áreas com altitudes inferiores a 100 metros constituem 28.029,91 hectares, 57% do total, estando localizadas principalmente junto ao leito dos rios, caracterizando uma importante área com drenagens limitantes (Figura 2). 5

Figura 2 - Mapa Hipsométrico da área entre os rios Jaguari e Ibicuí, São Vicente do Sul. Áreas que apresentam altitude entre 100 e 200 metros correspondem a 21.064,49 hectares, 42,8% do total, e se localizam, principalmente, na parte central da área. Áreas com altitudes superiores a 200 metros correspondem a 112,54 hectares, 0,22% do total e localizam-se, de maneira geral, na porção centro-leste e centro-oeste da área de abrangência deste estudo, mais afastadas das margens dos rios Ibicuí e Jaguari.(Figura 3a). Declividade A partir da análise das declividades é possível a identificação das inclinações das vertentes de uma bacia hidrográfica. Dos 49.208,30 hectares que compõe a área de abrangência da pesquisa, quase metade, 47,5%, 23.409,82 hectares, apresentam declividades inferiores a 2% (Figura 3b). Estas áreas planas situam-se, em sua maioria, nas margens dos rios Ibicuí e Jaguari. 42,8% 0,2% 57% 25% 6% 47% (a) Inferiores a 100m Entre 100 e 200m superiores a 200m Figura 3- a) Gráfico indicando a distribuição das classes de altitude; b) Gráfico com distribuição das classes de declividade. (b) 22% Inferior a 2% Entre 2 e 5% Entre 5 e 15% superiores a 15% 6

Declives entre 2% e 5% constituem 10.746,07 hectares, 21,8% da área. Os 12.308,46 hectares, que correspondem às declividades entre 5% e 15%, abrangem 25% da área. Apenas 2.716,89 hectares, 5,5% da área possuem declives superiores a 15%. (Figura 4). Figura 4- Mapa de declividade da área entre os rios Jaguari e Ibicuí, São Vicente do Sul. Comprimento de Vertente O comprimento de vertente tem grande influência em algumas características do terreno, tais como capacidade de infiltração, tempo necessário para o escoamento desde o divisor de águas até o talvegue e na capacidade erosiva. Desta forma, constituí-se em um parâmetro morfométrico importante para ser analisado em estudos geomorfológicos. Nesse contexto, Bertoni e Lombardi Neto (1990) apud Vitte (2005) colocam que a topografia do terreno, representada pela declividade e pelo comprimento dos lançantes, exerce acentuada influência sobre a erosão. O tamanho e a quantidade do material em suspensão arrastado pela água dependem da velocidade com que ela escorre e essa velocidade é uma resultante do comprimento do lançante e do grau de declive do terreno. Estas informações reforçam a importância da utilização de análises sobre o comprimento de vertentes para o planejamento territorial. 7

O maior comprimento de vertente presente na área de estudo, corresponde a 2.200 metros, localizado na porção norte da área. O menor comprimento de rampa corresponde a 150 metros, em uma vertente situada na porção sul, próximo ao leito do rio Ibicuí. A partir das análises realizadas, constatou-se que no terreno há o predomínio de vertentes curtas, constituindo 64% do total dos comprimentos analisados. Correspondem a vertentes médias, 26% dos comprimentos de vertente analisados. Já os comprimentos de rampa alongados equivalem a 6%. Os comprimentos de vertente longos entre 1.700 e 2.200m perfazem apenas 4% do total analisado. Formas do relevo As formas do relevo foram classificadas em rampas, colinas, morrotes, e morros considerando a declividade média e a amplitude das vertentes (IPT, 1981 apud Moreira e Pires Neto, 1998). Na área de estudo as rampas caracterizam-se pelo predomínio de declives inferiores a 5% e amplitudes entre 12 e 45 metros. Constatou-se que as rampas localizam-se, em sua maioria, próximo às margens dos rios. A rampa mais longa situa-se na porção norte da área de estudo, apresentando 1.350 metros de comprimento, 15 metros de amplitude altimétrica e declive de 1,1%. As colinas são caracterizadas pelo predomínio de declives entre 5,2 e 13,33% e amplitude altimétrica entre 10 e 78 metros. Correspondem às formas predominantes na área de estudo. Os morrotes são caracterizados pela presença de declives entre 15,5% e 22,6% e amplitudes entre 34 e 68 metros. Estes são pouco freqüentes, e os existentes localizam-se, principalmente, na porção sul da área em estudo. Os morros caracterizam-se pela presença de declives entre 15,04% e 37,7% e amplitude altimétrica entre 158 e 248 metros. Destaca-se o Cerro do Loreto, situado na porção norte da área em estudo.este, possui 248 metros de amplitude altimétrica e declive superior a 19%. Compartimentação do Terreno De acordo com Lollo (1996), landform (Unidades do Relevo), consiste na porção do terreno originada de processos naturais e distinguíveis das porções vizinhas (demais landforms), em pelo menos um dos seguintes elementos de identificação: forma e posição 8

topográfica, freqüência e organização dos canais, inclinação das vertentes e amplitude do relevo. A análise dos parâmetros da drenagem e do relevo permitiram dividir a área de estudo em 3 unidades(figura 5): A unidade I constitui as áreas planas encontradas, principalmente, próximo ao leito dos rios Ibicuí e Jaguari. Caracteriza-se pela baixa declividade (inferiores a 2%), altitudes inferiores a 100 metros e predomínio de rampas. Os processos de dinâmica superficial caracterizam-se pelo predomínio de processos de acumulação e depósito de sedimentos recentes. Esta unidade abrange uma área de 23.310,7 hectares, perfazendo 47,37% do total (Tabela 2). Tabela 2 - Síntese das principais características das 3 unidades do relevo Unidade I II III Relevo Plano Ondulado Íngreme predominante Forma predominante Rampas Colinas Morros e morrotes Declividade Inferiores a 2% Até 15% Superiores a 15% predominante Altitude Até 100m Entre 100 e 160m Superiores a 160m predominante Amplitude Inferiores a 40m Entre 40 e 100m Superiores a 100m altimétrica média Processo de Acumulação Erosão Erosão/ dinâmica superficial Movimentos de Massa (%) 47,37% 50,7% 1,93% A unidade II é constituída por áreas suavemente onduladas localizadas nas proximidades do divisor de águas dos rios Jaguari e Ibicuí, na porção central da área de estudo. Caracteriza-se pelo predomínio de declives médios (de 5% a 15%), altitudes entre 100 e 160 metros e predomínio de colinas. Nestas áreas os processos erosivos passam a ser significativos, podendo surgir ravinas nas cabeceiras de drenagem. Esta unidade abrange 24.977,16 hectares, perfazendo 50,7% da área de estudo. A unidade III é constituída por áreas íngremes situadas em porções isoladas no centro da área de estudo. Caracteriza-se por declividades superiores a 15%, altitudes superiores a 160 metros e formas de morros e morrotes. Nesta unidade ocorrem processos erosivos e os movimentos de massa. Esta unidade abrange 918,9 hectares, apenas 1,93% da área de estudo. 9

Figura 5 - Mapa de Unidades do Relevo da área entre os rios Jaguari e Ibicuí, São Vicente do Sul. CONSIDERAÇÕES FINAIS A área de estudo se caracteriza por um relevo levemente ondulado com forte influência dos rios Jaguari e Ibicuí. A ocorrência de cerros isolados associados às colinas indica processos de erosão diferencial importante. Os cerros representam porções mais resistentes à dissecação. O substrato é composto por rochas com permeabilidade média gerando relativamente poucos canais de drenagem. Os estudos morfométricos servem de base para trabalhos geomorfológicos e ambientais. Portanto o uso da terra deve considerar essas características estabelecendo formas de ocupação que permitem a sustentabilidade do meio. BIBLIOGRAFIA CHRISTOFOLETTI, Antônio. A Análise da Densidade de Drenagem e suas Implicações Geomorfológicas. Geografia, v.4, n.8, 1979, p. 23-41. CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blücher, 1974, 149p. LOLLO, José Augusto de. O Uso da Técnica de Avaliação do Terreno no Processo de Elaboração do Mapeamento Geotécnico: Sistematização e Aplicação na Quadrícula de Campinas. 1996. 250f. Tese(Doutorado em Engenharia) Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 1996. 10

MOREIRA, Ceres Virginia Rennó; PIRES NETO, Antonio Gonçalves. Clima e Relevo. In:OLIVEIRA, Antonio Manoel dos Santos; BRITO, Sérgio Nertan Alves de. Geologia da Engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, 1998, p.69-85. NIMER, Edmon. Climatologia do Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1989, 422p. TRENTIN, Romário. Mapeamento de Unidades de Relevo: Bacia Hidrográfica do Rio Itu/RS. 2004. 74f. Trabalho de Graduação (Graduação em Geografia) Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2004. TRENTIN, Romário; ROBAINA, Luis Eduardo de Souza. Metodologia para mapeamento Geoambiental no Oeste do Rio Grande do Sul. In: XI Congresso Brasileiro de geografia Física Aplicada, 2005, São Paulo. Anais...São Paulo, 2005. P.3606-3615. STRECK, Edemar Valdir; KÄMPF, Nestor; DALMOLIN, Ricardo Simão Diniz; KLAMT, Egon; NASCIMENTO, Paulo César do; SCHNEIDER, Paulo. Solos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EMATER/RS; UFRGS, 2002, 127p. VITTE, Antônio Carlos. Mapeamento das Unidades de Paisagem nos Municípios de Sumaré e Valinhos, Região Metropolitana de Campinas (SP), Por Meio da Morfometria de Bacias de Drenagem. In: XI Congresso Brasileiro de geografia Física Aplicada, 2005, São Paulo. Anais...São Paulo, 2005. P.349-365. 11