45 mm PLANÍCIE INTERLEQUE DO RIO NEGRO, PANTANAL MATO-GROSSENSE

Documentos relacionados
NEOTECTÔNICA, SISMICIDADE NA BACIA DO PANTANAL E SUAS MUDANÇAS AMBIENTAIS

Compartimentação geomorfológica do leque fluvial do rio Negro, borda sudeste da Bacia do Pantanal (MS)

Geomorfologia fluvial do leque do rio Aquidauana, borda sudeste do Pantanal, MS

Compartimentação geomorfológica do rio Paraguai na borda norte do Pantanal, município de Cáceres, MT

Lobos deposicionais na evolução do megaleque do rio Taquari, Pantanal Mato-grossense

CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA/GEOLÓGICA DO MEGALEQUE DO NEGRO, BORDA SUDESTE DA BACIA DO PANTANAL (MS), NO QUATERNÁRIO

Relevo do Brasil APROVAÇÃO 2ªEtapa

Aplicação de geotecnologias na identificação geomorfológica do leque fluvial do rio Negro, borda sudeste da bacia do Pantanal, MS.

GEOMORFOLOGIA DO RIO PARAGUAI. Edinéia Vilanova GRIZIO¹ Edvard Elias de SOUZA FILHO²

Rio Aquidauana antigo afluente do rio Negro: Quaternário do Pantanal Matogrossense

Calcretes: indicação de paleoambientes no leque do Aquidauana na borda sudeste da bacia do Pantanal Matogrossense

Palavras-chave: Geomorfologia, Leque fluvial e Rio Taboco.

Pâmela Tatiane Souza Santos Universidade Federal do Oeste do Pará EIXO TEMÁTICO: GEOGRAFIA FÍSICA E GEOTECNOLOGIAS

FORMAÇÃO DE CANAIS POR COALESCÊNCIA DE LAGOAS: UMA HIPÓTESE PARA A REDE DE DRENAGEM DA REGIÃO DE QUERÊNCIA DO NORTE, PR

MUDANÇAS AMBIENTAIS QUATERNÁRIAS NO MEGALEQUE FLUVIAL DO AQUIDAUANA, BORDA SUDESTE DO PANTANAL MATOGROSSENSE

GSA Tópicos Especiais em Sedimentação Continental Sistema fluvial estilos de canal e cinturões de canais

O rio Paraguai no megaleque do Nabileque, sudoeste do Pantanal Mato-Grossense, MS

O Relevo A rede hidrográfica

Carlos R. Padovani 1 Rosangela C. P. Pontara 2 Joelson G. Pereira 2 RESUMO

CORREDOR FLUVIAL DO RIO PARAGUAI ENTRE A BAÍA DA ILHA ROSA E A BAÍA DO PONTO CERTO, MT

Paleocanais no megaleque do rio Taquari: mapeamento e significado geomorfológico

CLASSIFICAÇÃO E PRINCIPAIS FORMAS DO RELEVO BRASILEIRO MÓDULO 02 GEOGRAFIA II

Taquari: um rio mutante. Mario Luis Assine

COMPARTIMENTAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DO RIO PARAGUAI NA BORDA NORTE DO PANTANAL MATO-GROSSENSE, REGIÃO DE CÁCERES - MT

INFLUÊNCIAS TECTÔNICAS E ESTRUTURAIS NA HIDROGRAFIA E GEOMORFOLOGIA DA FOLHA PITIMBU, LITORAL SUL DA PARAÍBA

Características das Bacias Hidrográficas. Gabriel Rondina Pupo da Silveira

Anais 2º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Corumbá, 7-11 novembro 2009, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p

Geografia do Brasil - Profº Márcio Castelan

MODELAGEM MATEMÁTICA DE UM SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA EM MÉDIA TENSÃO 1. Gabriel Attuati 2, Paulo Sausen 3.

Análise dos Efeitos do Uso da Terra na Qualidade da Água em Micro Bacia: Estudo de Caso Rio Cotia Rondônia Brasil

Anais do Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto - GEONORDESTE 2014 Aracaju, Brasil, novembro 2014

Emprego das Geotecnologias no mapeamento de processos de inundação no megaleque do rio Taquari, Pantanal Mato-grossense

GEOGRAFIA. Observe a escala de tempo geológico para identificar os processos naturais que ocorreram respectivamente nas eras Paleozóica e Cenozóica:

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS UEA INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLIMA E AMBIENTE

CONSIDERAÇÕES HIDROQUÍMICAS DA FORMAÇÃO CAIUÁ NO ESTADO DO PARANÁ

PARTE SUPERIOR DO MEGALEQUE DO TAQUARI: COMPARAÇÃO DE METODOLOGIAS DE MAPEAMENTO GEOLÓGICO E GEOMORFOLÓGICO

ESTILOS FLUVIAIS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DA VILA DOIS RIOS, ILHA GRANDE (RJ)

Análise multitemporal do sistema fluvial do Amazonas entre a ilha do Careiro e a foz do rio Madeira

A nascente do Alviela no Sinclinal de Monsanto

O CONTINENTE AMERICANO A AMÉRICA ANGLOSAXÔNICA

Formas do relevo e a evolução deposicional na porção sul do megaleque fluvial do Taquari, Pantanal Sul-mato-grossense

PREVISÃO HIDROLÓGICA E ALERTA DE ENCHENTES PANTANAL MATO-GROSSENSE

ANÁLISE DOS PROCESSOS ATUANTES NA FORMAÇÃO DOS COMPARTIMENTOS GEOMORFOLÓGICOS DA ILHA COMPRIDA, ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL

PLANO DIRETOR DE DRENAGEM E MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS DA CIDADE RECIFE. Fevereiro 2015

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS GEOMÉTRICOS EM ÁREAS DE CONFLUÊNCIA DO CANAL MACAÉ RJ.

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas corretas a) I, II e III b) I, III e IV c) II, IV e V d) I, II e V e) III, IV e V

ANÁLISE DA ALTERAÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA EM DOIS PERÍODOS NA BACIA DO RIO JAPARATUBA, SE

ESTRUTURAS E FORMAS DE RELEVO

CARTOGRAFIA SISTEMÁTICA CARTA DE DECLIVIDADE OU CLINOGRÁFICA

CONTAMINAÇÃO DE DEPÓSITOS SEDIMENTARES QUATERNÁRIOS PELA EXPLORAÇÃO AURÍFERA HISTÓRICA NO SUDESTE DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MINAS GERAIS

Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ

META Apresentar as principais características, processos deposicionais, morfologia e classifi cação dos leques ou cones aluviais.

ESTRUTURAS E FORMAS DE RELEVO

Recursos Hídricos /// Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos /// Volume 36# 02

AS UNIDADES DE RELEVO COMO BASE PARA A COMPARTIMENTAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITU OESTE DO RIO GRANDE DO SUL

Geoformas deposicionais e feições erosivas reveladas por sensoriamento remoto no relevo do Pantanal Mato-Grossense

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO RIO PARAGUAI SUPERIOR USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO RIO PARAGUAI SUPERIOR. GROSSA

EXERCÍCIOS DE REVISÃO

3 - Bacias Hidrográficas

GEOFORMAS DEPOSICIONAIS E FEIÇÕES EROSIVAS NO PANTANAL MATO-GROSSENSE IDENTIFICADAS POR SENSORIAMENTO REMOTO

TÍTULO: Aumento da Produtividade de Água de Mananciais de Abastecimento

EVIDÊNCIAS DE INFLUÊNCIA TECTÔNICA NO PADRÃO DE DRENAGEM DA APA TAMBABA PB MENESES, L. F 1 PEDROSA, E. C. T 2 FURRIER, M. 3

BACIAS HIDROGRÁFICAS

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro

I ENCONTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DO DESMATAMENTO DO PARQUE NATURAL DE PORTO VELHO/RO, COM O USO DE GEOTECNOLOGIAS.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

As águas: Hidrosfera & Bacias Hidrográficas Cap. 07 (página 142)

Estrutura Geológica e o Relevo Brasileiro

Evidências de inversão da deriva litorânea na barreira holocênica da planície costeira paranaense

PROSUL Programa Sul-Americano de Apoio às s Atividades de Cooperação em Ciência e Tecnologia

Impactos da urbanização na geração de risco a alagamentos na Planície do Recife

ANÁLISE ESPACIAL DE FRAGMENTOS DE CAMPO NATIVO (ESTEPES) NO PARQUE NACIONAL DOS CAMPOS GERAIS, PR, BRASIL

TERCEIRÃO GEOGRAFIA FRENTE 4A AULA 11. Profº André Tomasini

Geografia Geografia Física do Brasil

Figura 07: Arenito Fluvial na baixa vertente formando lajeado Fonte: Corrêa, L. da S. L. trabalho de campo dia

TÉCNICAS DE REALCE DE IMAGENS DO SENSOR LANDSAT 5 PARA IDENTIFICAÇÃO DE PALEOFORMAS NO MEGALEQUE DO RIO CUIABÁ

INTRODUÇÃO E CONCEPÇÃO DE SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Santos, M.L.dos / Revista Brasileira de Geomorfologia, Ano 6, Nº 1 (2005) 85-96

Revista Brasileira de Geomorfologia MUDANÇAS PALEO-HIDROLÓGICAS NA PLANÍCIE DO RIO PARAGUAI, QUATERNÁRIO DO PANTANAL

MONITORAMENTO HIDROLÓGICO

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA

Análise da distribuição espaço-temporal dos focos de incêndio no Pantanal ( )

As áreas e as percentagens de ocupação de cada uma das classes constam do Quadro 7.

Abril de 2011 Sumário

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À GEOLOGIA

Karen Vendramini Itabaraci N. Cavalcante Rafael Mota Aline de Vasconcelos Silva

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JULIO DE MESQUITA FILHO

Imagens MODIS aplicadas ao estudo da subdivisão do Pantanal em áreas geológica e ambientalmente homólogas: resultados preliminares

O LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL: PROPOSTA DE CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DO CONTEÚDO GEOGRAFIA FÍSICA DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

GEOGRAFIA. PRINCIPAIS CONCEITOS: espaço geográfico, território, paisagem e lugar.

OBJETIVOS METODOLOGIA

A ABORDAGEM ECOSSISTÉMI CA NO PLANEAMENT O E GESTÃO DO MEIO MARINHO

ANÁLISE CLIMATOLÓGICA COMPARATIVA DAS ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS DOS AEROPORTOS DE GUARULHOS E CONGONHAS. Edson Cabral

Aquidauana: um rio de saberes desaguando no Pantanal Bruna Gardenal Fina. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Campus de Aquidauana -UFMS / CPAQ

Projeto Nascentes Daniel Augustos Cordeiro Fernandes Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí

DISCIPLINA: GEOMORFOLOGIA ESCULTURAL E APLICADA - GB 060. PROF. DR. LEONARDO JOSÉ CORDEIRO SANTOS

Seminário 2: Análise de livros didáticos de Física para o Ensino Médio

DETERMINAÇÃO DAS PAISAGENS DE FUNDO NAS BAÍAS DE ANTONINA E PARANAGUÁ

Sedimentos e hidrologia Morfologia fluvial. Walter Collischonn IPH UFRGS

Abril de 2011 Sumário

Transcrição:

PLANÍCIE INTERLEQUE DO RIO NEGRO, PANTANAL MATO-GROSSENSE Deborah Mendes 1, 2 ; Mario Luis Assine 2 mendesdh@gmail.com 1 Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais CPRM Rua Costa, 55, Consolação, São Paulo - SP, CEP 01304-010; 2 Universidade Estadual Paulista UNESP / Rio Claro, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Avenida 24-A, 1515, Rio Claro - SP Resumo. A planície do rio Negro, situada na porção sul do Pantanal Mato-Grossense, se caracteriza como uma planície interleque. Comporta-se como um sistema coletor das águas superficiais e subterrâneas que emanam da franja dos leques dos rios Taquari, Aquidauana e Taboco. O rio forma um cinturão de meandros na planície, responsável pela agradação de depósitos holocênicos, em contraposição aos depósitos predominantemente pleistocênicos dos leques adjacentes. Palavras-chave: Pantanal, planície fluvial, sistema deposicional, interleque 1. INTRODUÇÃO O Pantanal Mato-Grossense é uma extensa planície sedimentar, localizada na bacia do Alto Rio Paraguai, composta por trato deposicional dominantemente aluvial (Assine & Soares 2004). O rio constitui sistema coletor das águas de vários megaleques fluviais, cujas bacias de drenagem situam-se nos planaltos circunvizinhos (Parecis, Guimarães, Taquari-Itiquira, Maracajú-Campo Grande, Bodoquena e Urucum-Amolar. O rio Negro, que define o limite sul do megaleque do Taquari, apresenta, ao longo de seu curso, mudanças de estilo fluvial (Mendes & Assine, 2010). Sua bacia de captação, situada a leste da planície, no planalto de Maracajú-Campo Grande, constitui grande anfiteatro de erosão esculpido em rochas paleozoicas da Bacia do Paraná. O rio forma um cinturão de meandros ao adentrar na planície do Pantanal (Figura 1). O cinturão está embutido num vale inciso, entrincheirado em depósitos de um lobo antigo de um sistema deposicional distributário, reconhecido e denominado como leque fluvial do rio Negro por Cordeiro et al. (2010). O leque do Negro está situado a sudeste do leque do Taquari (Assine, 2005) e a norte do leque do Taboco (Facincani et al., 2006). Na confluência com o córrego Anhumas, o rio Negro deflete para SW dando início ao lobo deposicional atual. Para jusante, a sinuosidade diminui, bifurcações tornam o canal mais estreito e o rio perde água para a planície formando o lobo deposicional atual (Cordeiro et al., 2010; Mendes et al. 2010). Este trabalho tem como objetivo caracterizar o trecho da planície do Rio Negro a jusante do seu leque aluvial, ou seja, a jusante da confluência com a vazante Santa Clara, a partir da qual o rio passa a correr no rumo WNW.

Rio Negro Figura 1 Planície do rio Negro, situada entre os leques do Taquari, do Negro, do Taboco e do Aquidauna (imagem Landsat 7, sensor ETM+, resolução de 30 m, de agosto de 2001). Na figura do detalhe está a localização dos megaleques fluviais que compõem o trato deposicional do Pantanal (Zani, 2008): 1 Paraguai; 2 Cuiabá; 3 São Lourenço; 4 Taquari; 5 Taboco; 6 Aquidauana e 7 Nabileque. 2. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Após confluência com a vazante Santa Clara, o rio Negro sofre deflexão para WNW e passa a correr num cinturão de meandros, se comportando como nível de base dos megaleques dos rios Taquari, Taboco e Aquidauana (Mendes & Assine, 2010). Trata-se de uma planície interleques, ou seja, um sistema tributário periférico coletor das águas de grandes sistemas distributários. A existência de rios situados entre os leques Pantanal foi relatada pela primeira vez por Ab Saber (1988), mas não foi ainda objeto de estudos mais detalhados. O conceito de planície interleque foi proposto por Sinha & Friend (1994) para sistemas fluviais provenientes dos Himalaias, que formam grandes megaleques na bacia do Ganges (Índia). De acordo com os referidos autores, as planícies interleques podem ser alimentadas por águas provenientes do sopé das escarpas de planaltos (foothill-fed), da própria planície (plain-fed) ou de ambas as fontes (mixed-fed).

O rio Negro, entre os leques do Taquari e do Negro, corre numa planície topograficamente mais baixa que a superfície dos leques. A planície do rio Negro tem largura aproximada de 1,0 km e o rio tem índice de sinuosidade de aproximadamente 1,7 (Figura 2). Assim, como no caso dos rios interleques indianos, o rio apresenta padrão meandrante. Entretanto, ao mesmo tempo em que a largura da planície aumenta para jusante, chegando a ter cerca de 2,0 km, a sinuosidade diminui (Figura 3). Fig. 3 Rio Negro Vazante Santa Clara Figura 2 Diferentes estilos fluviais caracterizam o rio Negro (mosaico de imagens do satélite Terra, sensor Aster, com resolução de 15 metros, composição feita com imagens obtidas entre 2001 e 2004). O leque distributário do Negro está evidente no centro da imagem. A oeste, o rio corre numa planície interleques, entre os leques o Taquari (norte) e Aquidauana (sul). Figura 3 Cinturão de meandros na planície interleque do rio Negro (detalhe da figura 2).

No trecho interleques, o rio é alimentado por águas dos leques adjacentes (plain-fed), seja pelas águas de escoamento superficial (run-off) ou por águas subterraneas que emanam dos depósitos aluviais dos leques adjacentes. Destaca-se que a vazante Santa Clara representa a continuidade, para leste, da planície interleque do rio Negro. A planície se encontra confinada entre os leques aluviais e o rio não recebe águas e sedimentos de tributários importantes, de forma que a descarga é moderada e a carga suspensa domina sobre a de fundo. As características apresentadas pelo rio Negro são muito semelhantes às dos rios da planície interleques do North Bihar, em especial das planícies entre os leques dos rios Gandak e Kosi (Sinha, 1995), sendo muito comuns a migração de canais e cortes de meandro. O cinturão de meandros que compõe a planície interleque do rio Negro, e da sua continuação para leste (vazante Santa Clara), é sítio de depósitos holocênicos, em contraposição aos depósitos predominantemente pleistocênicos dos leques adjacentes. 3. CONCLUSÃO Planícies interleques são importantes em tratos deposicionais constituídos por leques fluviais, pois constituem sistemas coletores das águas provenientes dos leques, formando rede tributária interleques. Situam-se em áreas mais baixas, no contato entre leques aluviais coalescentes. Outros rios existentes no Pantanal apresentam natureza semelhante, como os que formam a planície do rio Piquiri, situado na porção norte do Pantanal, entre os leques do Taquari e São Lourenço. O entendimento do funciomento destes sistemas é, portanto, fundamental para a compreensão do trato deposicional e do sistema hidrológico do Pantanal. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPESP apoio financeiro (processo 2007/55987-3); ao CNPq pela bolsa de produtividade em pesquisa concedida a Mario Luis Assine; à CPRM pela cessão da pesquisadora Deborah Mendes para realização do doutorado. REFERÊNCIAS Ab'Saber, A. N. 1986. O Pantanal mato-grossense e a teoria dos refúgios. Revista brasileira de Geografia, São Paulo, 50 (2):9-57. Assine, M. L. 2005. River avulsions on the Taquari megafan, Pantanal wetland, Brazil. Geomorphology, 70:257-371.

Assine, M. L. & Soares, P. C. 2004. Quaternary of the Pantanal, west-central Brazil. Quaternary International, 114: 23-24. Cordeiro, B. M.; Facincani, E. M.; Paranhos Filho, A. C.; Bacani, V. M.; Assine, M. L. 2010. Compartimentação geomorfológica do leque fluvial do rio Negro, borda sudeste da Bacia do Pantanal (MS). Revista Brasileira de Geociências, v. 40, n. 2, p. 175-183. Facincani, E. M.; Assine, M. L.; Silva, A.; Zani, H.; Araújo, B. C.; Miranda, G. M. 2006. Geomorfologia fluvial do leque do rio Aquidauana, borda sudeste do Pantanal, MS. In: Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, 1. Anais... Campo Grande: Embrapa, p. 175-181. Mendes, D.; Assine, M. L. 2010. Estilos fluviais do rio Negro no Pantanal Matogrossense. In:Congresso Brasileiro de Geologia, 45. Anais... Belém, CD-ROM. Mendes, D.; Assine, M. L.; Corradini, F. A.; Kuerten, S.; Silva, A. 2010. Aplicação de técnicas de fusão de imagens HSV na interpretação geomorfológica da planície fluvial do rio Negro, Pantanal Mato-Grossense. In: Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, 3. Anais... Cáceres: INPE/Embrapa, 2010. p. 125-132. Sinha, R. and Friend, P. F. 1994. River systems and their sediment flux, Indo-Gangetic plains, northern Bihar, India, Sedimentology, 41, p.825-845. Sinha, R. 1995. Sedimentology of Quaternary alluvial deposits of the Gandak-Kosi interfan, North Bihar plains, Journal of Geological Society of India, 46(5), p.521-532. Sinha, R. 1996. Paleohydrology of Quaternary river systems of north Bihar, India, In: V. P. Singh and B. Kumar (Eds.) Surface Water Hydrology, Kluwer Academic Publishers, Netherlands, p.29-41. Zani, H. 2008. Mudanças morfológicas na evolução do megaleque do Taquari: Uma análise com base em dados orbitais. Dissertação de Mestrado, IGCE/UNESP, Rio Claro, 84 p.