Proc. n.º 06-20/21 Conselho de Justiça. Acordam no Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol. 1. Relatório

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Transcrição:

Proc. n.º 06-20/21 Conselho de Justiça Acordam no Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol 1. Relatório FUTEBOL CLUBE DA FOZ ASSOCIAÇAO RECREATIVA E DESPORTIVA, devidamente identificado nos autos, recorreu para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol da deliberação da Direção da Federação Portuguesa de Futebol tomada em reunião de 06.10.2020 (e comunicada ao Recorrente através de ofício OF- 00090, de 09.10.2020) que indeferiu a pretensão formulada em requerimento de 28.09.2020 no sentido da integração do Recorrente no Campeonato de Portugal, época desportiva 2020/21. Na petição inicial, o Recorrente formulou as conclusões seguidamente transcritas e renumeradas: 1. Lacuna: falha, falta, lapso, omissão. (Léxico- Dicionário de Português online). 2. Inúmera Jurisprudência reconhece a importância e relevância da correção de lacunas quando as mesmas são detetadas no ordenamento jurídico português. A título de exemplo: Existe uma lacuna jurídica (caso omisso) quando uma determinada situação, merecedora de tutela jurídica, não se encontra prevista na lei. Torna-se então necessário fazer aquilo que se chama integração de lacunas, atividade que visa precisamente encontrar solução jurídica para os casos omissos - Acórdão do TRL de 11/03/2010. 1

3. Na pode a Recorrente aceitar a argumentação deduzida pela FPF, negando a existência de uma lacuna regulamentar, quando, ela própria, na sua deliberação afirma que o RCP apenas prevê o preenchimento de vagas até um determinado momento (realização do sorteio) e já não prevê a solução a adotar para a mesma situação, mas num momento diferente (pós sorteio). 4. O argumento aduzido pela FPF de que após o sorteio o clube que desistir é sancionado nos termos previstos no Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol (RDFPF), para negar a existência de lacuna, também não poder colher. 5. Não podemos confundir aquilo que é a sanção imposta a um clube que desiste da competição, com a solução que tem de ser encontrada para o desenrolar da competição, após a desistência de um clube. 6. São, de facto, questões destintas e que obviamente tem de merecer regulamentação e tratamento distintos. 7. Também não pode colher a argumentação da FPF, quando alega que o Recorrente apresenta no seu requerimento erro nos pressupostos de fato, porquanto o Clube Desportivos das Aves Futebol SAD, não tinha formulado qualquer pedido de desistência. 8. Ora, resulta dos princípios gerais de direito, que, quando um fato se torna publico e notário, dispensa qualquer outro meio de prova para se achar demonstrada a sua verificação. 9. A FPF não pode negar, assim como qualquer cidadão, mesmo aqueles que não seguem este desporto e os assuntos com ele relacionados, dada a enfase pública que teve, que o referido clube, comunicou por nos mais diversos órgãos de comunicação social de abrangência nacional e internacional, por quem de direito, que não reunia condições e por isso não iria participar no Campeonato de Portugal (CP). 2

10. A partir daquele momento, a FPF não podia ignorar a mensagem transmitida e considerar que o referido clube não tinha comunicado a decisão de não participar no CP. 11. Posto isto, entende a Recorrente, que face à ausência de norma no respetivo Regulamento de Competições, para situações como as descritas no presente Recurso, é obrigação da FPF suprir a lacuna existente, integrando-a, nos termos e para os efeitos do disposto no número 2 do artigo 16.º do RCP, nos seguintes termos: i. Quando foi confrontada, assim como todos nós, através dos mais variados órgãos de comunicação social (tornando-se um fato público e notório), que o referido clube não iria participar no Campeonato de Portugal, era sua obrigação ter considerado que havia uma vaga por preencher e tê-la preenchido, nos termos previstos no regulamento, ou seja, integrando a lacuna existente, aplicando o regime que está previsto para situações idênticas, mas ocorridas antes da realização do sorteio; ii. Não o tendo feito naquela data, após ser emitido comunicado oficial número 145 de 14.10.2020, que dá a conhecer a decisão de desclassificar o Clube Desportivo Das Aves Futebol SAF do Campeonato de Portugal na presente época desportiva, tendo em consideração que há presente data apenas decorreram duas jornadas da referida competição e não estão completas, deverá proceder ao preenchimento da vaga deixada em aberto, nos termos supra exposto e de acordo com RCP. 12. Estamos certos que a FPF cria regulamentos para serem cumpridos e faz previsões normativas para que as mesmas sejam executadas, quando o facto acautelado em artigo próprio, sucede. 3

13. Não podemos, assim, deixar de apelar para que seja feita justiça, acolhendo-se a pretensão do FC FOZ e determinando à Direção da FPF que proceda de acordo com o regulamentarmente previsto, integrando uma lacuna evidente, em defesa da competição e dos clubes, mas acima de tudo defendendo a verdade desportiva e estimulando a concorrência leal. O Recorrente termina a sua petição formulando o seguinte pedido: «NESTES TERMOS, REQUER a V./ Exa. se digne dar sem efeito a decisão tomada pela Direção da FPF aqui recorrida, determinando-se a reapreciação da lacuna evidente no Regulamento da competição em apreço, aplicando-se o Art. 16º conforme no mesmo previsto.» Na sequência do despacho proferido em 20.10.2020, foi citada a Recorrida Direção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), órgão autor do ato recorrido. Na mesma ocasião, o Recorrente foi ainda notificado para apresentar um exemplar da sua petição em suporte digital editável, nos termos do artigo 37.º do Regimento do Conselho de Justiça (RCJ), junção que foi feita em 21.10.2020. A Recorrida apresentou contestação, concluindo nos termos seguidamente transcritos: 1. O presente recurso tem por objeto a deliberação da Direção da Federação Portuguesa de Futebol, na sua reunião de dia 6 de outubro de 2020, que indeferiu o pedido de integração do FC Foz no Campeonato de Portugal Época 2020/2021 apresentado pelo Recorrente através de requerimento, datado de 28 de setembro de 2020. 2. No dia 9 de outubro de 2020, a Direção da Federação Portuguesa de Futebol remeteu a referida deliberação ao ora Recorrente via carta registada com aviso de receção e correio eletrónico, com o número de ofício OF-00090, à qual fez anexar a fundamentação subjacente àquela. 4

3. Só «[e]xiste uma lacuna jurídica (caso omisso) quando uma determinada situação, merecedora de tutela jurídica, não se encontra prevista na Lei» e só nestes casos será então necessário proceder à sua integração. 4. No presente caso, não existe uma qualquer lacuna uma vez que a situação a que o Recorrente faz referência não é merecedora de tutela jurídica e, sendo-o, nunca seria nestes termos. 5. Depois da realização do sorteio, não está previsto propositadamente - nenhum mecanismo de preenchimento de vagas deixadas em aberto até porque se houve sorteio significa que o formato da competição estará definido, o que, obstará à inclusão de outros clubes ficando o clube, conforme a causa que originou a cessação da sua participação, sujeito à aplicação da sanções correspondente no Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol. 6. Engana-se o Recorrente quando diz que a desistência de um clube após o sorteio, ou já durante a competição, não está regulada, ou que a lei não prevê solução para este caso. 7. Dispõe o artigo 67.º, com a epígrafe Desistência de participação em competição, n.º 2 do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol que «[s]e a desistência se verificar depois da data referida no número anterior (48 horas antes do sorteio da competição), o clube é sancionado com impedimento de participação em competição entre 1 e 3 épocas desportivas e cumulativamente com multa entre 12 e 24 UC». 8. O mesmo artigo prevê, no seu n.º 6, que «[a] desistência do clube implica a aplicação da sanção de desclassificação, nos termos do n.º 7 do artigo 34.º». 5

9. Esta última norma diz-nos que «[a] sanção de impedimento de participação em competição é sempre cumulada materialmente com a sanção de desclassificação». 10. No que respeita às consequências da sanção de desclassificação cumpre observar o disposto no artigo 33.º-A, com a epígrafe Da sanção de desclassificação, n.º 5: «Em competição, ou fase de competição, por pontos, a aplicação da sanção de desclassificação tem as seguintes consequências, sem prejuízo do disposto no artigo 13.º: a) A equipa do clube sancionado fica imediatamente impedida de continuar a competir e perde todos os pontos até aí conquistados na competição em que foi praticada a infração e subsequentes, quando aplicável, os quais não revertem, porém, em favor dos adversários que defrontou até então. b) Para efeitos de classificação na competição em questão e subsequentes, quando aplicável, o clube sancionado fica a constar no último lugar com zero pontos. c) Se a infração tiver lugar durante a primeira volta da competição, ou em competição, ou fase de competição, de uma só volta, os resultados dos jogos disputados pelo clube desclassificado não são considerados para efeitos de classificação dos restantes clubes. d) Se a infração tiver lugar durante a segunda volta da competição não são considerados apenas os resultados dos jogos disputados pelo clube desclassificado durante a segunda volta. e) Sem prejuízo do disposto nas alíneas anteriores, se a decisão se tornar executória após o final da competição em questão, para a classificação da competição subsequente em curso à data não são considerados quaisquer resultados dos jogos disputados pelo clube desclassificado nessa competição». 6

11. Daqui resulta, inter alia, que o clube desclassificado continua a fazer parte do campeonato, não obstante a sua colocação no fim da tabela e a atribuição de 0 pontos. 12. Ao contrário do que parece fazer crer o Recorrente, não nasce, como podemos ver, com a desistência da CLUBE DESPORTIVO AVES FUTEBOL SAD, já depois de inscrita na competição e realizado o sorteio da mesma, uma vaga no Campeonato de Portugal, em específico na Série B, pelo que não há a preencher nenhuma vaga. 13. E mesmo que houvesse o que não se concebe e alega por mero dever de patrocínio que preencher alguma vaga, aplicando-se, para esse efeito o disposto no artigo 14.º, com a epígrafe Preenchimento de Vagas do Regulamento do Campeonato de Portugal, sempre teria de ser uma Associação Distrital a indicar um clube em substituição do clube não participante, indicação essa que poderia não recair no Recorrente. 14. Ao exposto até agora, resta apenas clarificar que nunca, a CLUBE DESPORTIVO AVES FUTEBOL SAD, desistiu formalmente da competição. 15. A sanção de desistência e demais que lhe foram impostas pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, em sede de processo sumários, decorreram da prática da infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 68.º, com a epígrafe Falta de comparência a jogo oficial, à qual é cumulada a sanção de desclassificação ex vi artigo 34.º, com a epígrafe Da sanção de impedimento de participação em competição n.º 7, ambos do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol, conforme Comunicado Oficial n.º 142, de 9 de outubro 2020. 16. Daqui resulta que aquela sociedade anónima nunca apresentou, formalmente, junto da Federação Portuguesa de Futebol, até à data, 7

qualquer pedido de desistência de participação no Campeonato de Portugal, sendo a desistência da competição resultado da prática da infração disciplinar a que nos referimos acima. 17. Mesmo que se tratasse de uma desistência no sentido que o Recorrente lhe pretende atribuir, nunca uma hipotética vaga poderia ser preenchida, pelo facto de, em prol da estabilidade das competições e da consolidação do formato da competição, não ter querido o legislador prever tal situação. 18. Imaginemos o quão surreal seria um clube desistir a meio de uma competição e, por isso, ter-se de proceder ao preenchimento da vaga por si aberta, pondo em causa o normal desenrolar da competição e promovendo a instabilidade competitiva. 19. O mesmo se aplica ao caso sub judice, pelo que deverá o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol negar provimento ao recurso interposto, mantendo a deliberação da Direção da Federação Portuguesa de Futebol. A Recorrida terminou a sua contestação referindo que «[n]estes termos e nos mais de Direito aplicáveis, [d]everá o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol indeferir o pedido do Recorrente, negando provimento ao recurso.» Por despacho de 05.11.2020, foi solicitado ao Conselho de Disciplina da FPF a remessa de uma cópia dos documentos relativos ao processo sumário no âmbito do qual foram aplicadas ao CLUBE DESPORTIVO AVES - FUTEBOL SAD (CD Aves SAD) as sanções referidas no Comunicado Oficial n.º 142, de 09.10.2020, elementos que foram remetidos a este Conselho de Justiça. No mesmo despacho foi ainda determinada a notificação da Recorrida para juntar aos autos o processo instrutor relativo ao ato impugnado ou, caso não existisse, a documentação existente relativamente à formação do referido ato, incluindo, 8

nomeadamente, o requerimento apresentado pelo Recorrente sobre o qual recaiu a decisão impugnada; notificada nestes termos, a Recorrida juntou aos autos o citado requerimento do Recorrente. O Recorrente foi notificado da contestação e respetiva documentação, bem como do referido despacho de 05.11.2020, do documento adicional apresentado pela Recorrida e dos elementos remetidos pelo Conselho de Disciplina da FPF. Notificado para, querendo, se pronunciar no prazo de três dias úteis sobre os documentos juntos pela Recorrida e pelo Conselho de Disciplina, o Recorrente absteve-se de impugnar a documentação apresentada nos termos processualmente admitidos, formulando antes um conjunto de considerações em torno da irrelevância probatória material da documentação junta pela Recorrida, referindo ainda que na tabela classificativa publicada no sítio da internet da FPF o CD Aves SAD surge assinalado com referência a uma desistência (juntando um documento a este respeito), considerações que não serão atendidas por extravasarem os seus poderes processuais. Adicionalmente, o Recorrente pugnou pela improcedência da exceção de ilegitimidade passiva invocada pela Recorrida. A Recorrida também foi notificada dos referidos documentos remetidos pelo Conselho de Disciplina, assim como para, querendo, se pronunciar sobre os elementos em questão, nada tendo dito. 2. Matéria de facto Considerando, designadamente, as alegações das partes e os documentos juntos aos autos, consideram-se provados os seguintes factos com relevância para decisão do presente recurso: 9

1. O sorteio da primeira fase do Campeonato de Portugal 2020/21 teve lugar no dia 04.09.2020, nele tendo sido considerada a participação do CD Aves SAD na respetiva Série B [cf. Comunicado Oficial n.º 56, de 03.09.2020, disponível no sítio na internet da FPF, assim como a notícia de 04.09.2020 publicada no mesmo sítio ( 1 )]. 2. O Recorrente apresentou um requerimento, datado de 28.09.2020, com o teor constante do documento junto aos autos pela Recorrida em 10.11.2020, referindo o seguinte: «FUTEBOL CLUBE DA FOZ [ ], na sequência da verificação das irregularidades no processo de inscrição do CD Aves SAD no Campeonato de Portugal e uma vez que antes de ter sido aceite a inscrição desta equipa e realizado o sorteio da referida competição foram enviadas a V/ Exas. evidências que a referida SAD não reunia as condições para se poder inscrever vem pelo presente meio efectuar o presente requerimento. Assim, tendo em consideração que aquando da desistência o CD Aves SAD informa que não tinham condições logísticas e financeiras para participar na referida prova e ainda a excepcionalidade desta situação, as falhas na validação do processo de inscrição e ainda os prejuízos que estão a causar, dadas as faculdades atribuídas à Direção da Federação Portuguesa de Futebol, ao abrigo do n.º 2 do Artigo 16 do Regulamento da referida competição vimos pelo presente meio requerer a integração do FC Foz no Campeonato de Portugal Época 2020/2021 com efeitos imediatos.» 3. À data do requerimento referido no ponto anterior, já se havia iniciado a competição, designadamente a Série B [cf. Comunicado Oficial n.º 69, de 1 Cf. https://www.fpf.pt/news/todas-as-not%c3%adcias/not%c3%adcia/news/27293; última consulta em 02.12.2020]. 10

09.09.2020, disponível no sítio na internet da FPF, assim como a informação relativa às datas da realização dos jogos e respetivos resultados disponível no mesmo sítio ( 2 )]. 4. Em reunião de 06.10.2020, a Direção da FPF tomou uma deliberação com o teor constante do documento junto pelo Recorrente com a petição a fls. 14 e 15, contendo as seguintes considerações: «Por requerimento apresentado, via correio eletrônico, em 29 de Setembro de 2020, veio o Futebol Clube da Foz requerer, a esta Direção, a integração do FC Foz no Campeonato de Portugal Época 2020/2021 com efeitos imediatos. Para tal, sustenta o Clube no seu requerimento que [...] na sequência da verificação das irregularidades no processo de inscrição do CD Aves SAD no Campeonato de Portugal e uma vez que antes de ter sido aceite a inscrição desta equipa e realizado o sorteio da referida competição foram enviadas a V/ Exas. evidências que a referida SAD não reunia as condições para se poder inscrever vem pelo presente meio efectuar o presente requerimento. Assim, tendo em consideração que aquando da desistência o CD Aves SAD informa que não tinham condições logísticas e financeiras para participar na referida prova e ainda a excepcionalidade desta situação, as falhas na validação do processo de inscrição e ainda os prejuízos que estão a causar, dadas as faculdades atribuídas à Direção da Federação Portuguesa de Futebol, ao abrigo do n.º 2 do artigo 16.º do Regulamento da referida competição vimos pelo presente meio 2 Cf. https://resultados.fpf.pt/competition/details?competitionid=19509&seasonid=100; última consulta em 02.12.2020]. 11

requerer a integração do FC Foz no Campeonato de Portugal Época 2020/2021 com efeitos imediatos. Cumpre apreciar. O Requerente invoca a aplicação do n.º 2 do artigo 16.º do Regulamento do Campeonato de Portugal que, sob a epígrafe Integração de lacunas refere o seguinte: 2. As lacunas existentes no presente Regulamento são integradas pela Direção da FPF. Em primeiro lugar, cumpre referir que o Requerente não evidencia a existência de nenhuma lacuna no Regulamento que careça de ser preenchida por esta Direção. Em segundo lugar, o requerimento apresenta um erro nos pressupostos de facto, porquanto o Clube Desportivo das Aves Futebol SAD não apresentou, formalmente, junto da Federação Portuguesa de Futebol, até à data, qualquer pedido de desistência de participação no Campeonato de Portugal. Por fim, esclareça-se que o Campeonato de Portugal já se iniciou e que o Regulamento do Campeonato de Portugal apenas prevê o preenchimento de vagas resultantes da falta de inscrição / confirmação de participação de clubes qualificados desportivamente para disputar a prova, antes da realização do sorteio. Depois da realização do sorteio, não está previsto nenhum mecanismo de preenchimento de vagas deixadas em aberto seja qual for a razão subjacente, ficando o clube, conforme a causa que originou a cessação da sua participação, sujeito à aplicação da sanção correspondente no Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol. 12

Esta solução bem se compreende, atento o princípio da estabilidade das competições. Em todo o caso, ainda que, por mera hipótese académica que não se concede, se quisesse aplicar analogicamente o critério de preenchimento de vagas previsto no artigo 14.º do Regulamento do Campeonato de Portugal, sempre teria de ser uma Associação Distrital a indicar um clube em substituição do clube não participante.» 5. A deliberação referida no ponto anterior foi comunicada e remetida ao Recorrente, na pessoa do seu Presidente, por ofício da FPF datado de 09.10.2020. 6. Em 09.10.2020, o Conselho de Disciplina da FPF (Secção Não Profissional) aplicou ao CD Aves SAD uma sanção de desclassificação em virtude da não comparência no jogo com o código 260.02.009.0, agendado para 04.10.2020 e enquadrado na 2.ª jornada do Campeonato de Portugal [cf. Comunicado Oficial n.º 142, de 09.10.2020, disponível no sítio na internet da FPF ( 3 ), assim como a documentação remetida pelo Conselho de Disciplina na sequência da solicitação de 05.11.2020]. 7. Foi emitido pela FPF o Comunicado Oficial n.º 145, de 14.10.2020, com o teor contante do documento junto pelo Recorrente na sua petição, a fls. 16, no qual é referido, designadamente, o seguinte: «Para conhecimento dos Sócios da FPF e demais interessados, informa-se que o CLUBE DESPORTIVO AVES FUTEBOL SAD, da SÉRIE B, se encontra desclassificado da competição em epígrafe, na presente época desportiva. 3 Cf. https://www.fpf.pt/institucional/disciplina/sec%c3%a7%c3%a3o-n%c3%a3o- Profissional/Processos-Sum%C3%A1rios; última consulta em 02.12.2020). 13

Assim sendo, os Clubes participantes na série acima referida, FOLGAM nas datas agendadas para a realização dos seus jogos com a equipa em apreço.» 3. Questões prévias Na sua contestação, a Recorrida suscitou duas questões prévias. Em primeiro lugar, alega que o Recorrente deveria ter indicado como contrainteressados «pelo menos, os clubes alocados na Série B do Campeonato de Portugal», posição que sustenta com base nas seguintes considerações: De acordo com o formato da prova em questão, os 4 últimos classificados de cada série descerão aos campeonatos distritais. O Conselho de Disciplina da FPF aplicou à CD Aves, SAD uma sanção de desclassificação, circunstância que, nos termos do artigo 33.º-A, n.º 5, alínea b), do Regulamento Disciplinar da FPF (RDFPF), implica que, «[p]ara efeitos de classificação na competição em questão e subsequentes, quando aplicável, o clube sancionado fica a constar no último lugar com zero pontos». Ficando a CD Aves, SAD a constar do último lugar em virtude da referida sanção disciplinar, esta seria necessariamente despromovida às competições inferiores, ficando o lote dos clubes a despromover reduzido a 3. Caso o ato em crise fosse anulado e o Recorrente fosse integrado na competição em questão, ficaria prejudicada a posição dos demais 11 clubes da Série B, pois voltaria a existir um lote de 4 clubes a despromover (em vez de apenas 3 clubes). 14

Ora, é certo que, nos termos do n.º 1 do artigo 37.º do RCJ, o requerimento inicial deve conter «a identificação dos interessados a quem a procedência do recurso possa diretamente prejudicar». No entanto, as circunstâncias invocadas pela Recorrida não conduzem à conclusão de que da anulação do ato recorrido e da eventual integração do Recorrente na Série B do Campeonato de Portugal resultaria, para cada um dos demais clubes presentes na competição, um prejuízo de caráter direto, como exige a citada norma regulamentar. À produção deste efeito obsta a impossibilidade, verificada no momento da apresentação da petição, de identificação do terceiro que seria efetivamente prejudicado pela eventual procedência do recurso. Nesta conformidade, improcede a exceção invocada. Em segundo lugar, a Recorrida considera que, ao não ter instruído a sua petição com o requerimento no qual fora formulada a pretensão indeferida através do ato recorrido, o Recorrente não observou o disposto no n.º 2 do artigo 37.º do RCJ, nos termos do qual «[a]s petições de recurso devem ser acompanhadas de todos os documentos [ ]». Impor-se-ia, assim, segundo a Recorrida, que o Recorrente fosse notificado para sanar esta falta sob pena de absolvição da instância nos termos do n.º 5 do artigo 37.º e do n.º 2 do artigo 25.º, ambos do RCJ. Ora, a norma contida no n.º 2 do artigo 37.º onera o recorrente com a incumbência de juntar, logo com o articulado inicial, os documentos que pretenda utilizar para prova dos factos alegados. No entanto, a norma não tem o alcance de impor ao recorrente a junção de documentos específicos, mantendo a liberdade deste na escolha dos elementos probatórios que entenda convenientes à pretensão. Assim, improcede também a segunda questão prévia suscitada pela Recorrida. 4. Quanto ao mérito do recurso 15

Como vimos, o presente recurso dirige-se contra a decisão pela qual a Direção da FPF indeferiu o requerimento apresentado pelo Recorrente com vista à sua «integração [ ] no Campeonato de Portugal Época 2020/2021 com efeitos imediatos». O Recorrente considera que o CD Aves SAD desistiu de participar no Campeonato de Portugal em momento posterior à realização do sorteio (cf. artigo 11.º da petição), diligência que precede o início da competição e pela qual é determinada a ordem dos respetivos jogos. Esta desistência teria criado uma vaga na competição que seria de preencher através da integração do Recorrente. A tese central que alicerça esta pretensão é a de que o Regulamento do Campeonato de Portugal (RCP) padece de uma lacuna a respeito do preenchimento de vagas surgidas em momento posterior ao sorteio. Por conseguinte, entende o Recorrente que a Recorrida deveria ter feito uso do poder previsto no n.º 2 do artigo 16.º do RCP, segundo o qual «[a]s lacunas existentes no presente Regulamento são integradas pela Direção da FPF», mobilizando para o efeito as regras que disciplinam o preenchimento de vagas ocorridas anteriormente ao sorteio. Segundo o Recorrente, inexistiram razões que, no caso de um preenchimento operado após o sorteio (ou mesmo após o início da prova desportiva), impusessem uma solução distinta daquela que se encontra prevista no citado artigo 14.º do RCP. Vejamos, então. Sob a epígrafe preenchimento de vagas, o artigo 14.º do RCP (preceito que, como vimos, o Recorrente pretende convocar no caso dos autos) reza o seguinte: «1. As vagas resultantes das subidas e descidas previstas nos números anteriores são preenchidas pelos Clubes que forem despromovidos da II Liga e promovidos dos Campeonatos Distritais e Regionais, sendo tal informação comunicada à FPF, respetivamente, pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional e pelas Associações Distritais e Regionais de Futebol. 2. A falta de inscrição de um Clube que tenha obtido qualificação que lhe permita subir ao Campeonato de Portugal, determina a sua substituição por 16

outro clube inserido na mesma associação distrital ou regional, que se tenha classificado até ao 4º lugar da principal competição distrital, tendo este que cumprir os pressupostos de acesso à prova. 3. Se não for indicado um clube pela associação referida no número anterior, é convidada a indicar um outro clube, que se tenha classificado até ao 4º lugar da principal competição distrital, a associação distrital ou regional com maior número de clubes a disputarem provas seniores de futebol de onze masculino distrital ou ainda, em situação de igualdade, o maior número de clubes em todas as provas de futebol masculino distrital. 4. No caso da vaga a ser preenchida dizer respeito a clube que se tenha mantido ou descido ao Campeonato de Portugal, é convidada a indicar um outro clube, que se tenha classificado até ao 4º lugar da principal competição distrital, a associação distrital ou regional do clube que deu origem a preenchimento da vaga. Se a respetiva associação distrital ou regional não indicar nenhum clube nos termos deste ponto, aplicar-se-á o critério do número 3. 5. Quando seja necessário aplicar mais do que uma vez o critério referido no número 3, não pode a mesma associação indicar mais do que um clube, devendo-se convidar a segunda melhor classificada no ranking e assim sucessivamente. 6. O Regime referente às equipas B encontra-se previsto nos termos do Regulamento de Clubes Satélites e Equipas B.» Começaremos por assinalar que o Recorrente e a Recorrida estão de acordo no seguinte: as citadas regras do RCP referem-se ao preenchimento de vagas em momento anterior ao sorteio, inexistindo no regulamento quaisquer regras que incidam diretamente sobre um preenchimento de vagas posteriormente à realização da referida diligência. 17

Onde a posição das partes diverge é na questão de saber se esta omissão corresponde a uma lacuna que careça de ser integrada. Como é sabido, apenas estamos perante uma verdadeira lacuna jurídica quando a falta de regulamentação corresponde a uma falha imprevista contrária ao plano ordenador do sistema jurídico ou seja, uma incompletude contrária a um plano, recorrendo à conhecida fórmula utilizada pelos autores alemães. Ora, não se afigura que o caso presente configure uma situação deste tipo. Conforme a Recorrida salienta na sua contestação, o ordenamento jurídico contém, fora do RCP, normas diretamente aplicáveis à hipótese de um clube desistir da competição após a realização do sorteio. Com efeito, nos termos do artigo 67.º do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol (RDFPF), um clube que desista de participar em competição organizada pela FPF para a qual se encontra qualificado é sancionado com impedimento de participação em competição entre 1 e 3 épocas desportivas e, cumulativamente, com uma multa de moldura variável, consoante a desistência ocorra até 48 horas antes do sorteio ou após este momento (cf. n. os 1 e 2). Adicionalmente, o n.º 6 do citado artigo 67.º determina que «[a] desistência do clube implica a aplicação da sanção de desclassificação, nos termos do n.º 7 do artigo 34.º» (norma segundo a qual «[a] sanção de impedimento de participação em competição é sempre cumulada materialmente com a sanção de desclassificação»). Sobre os contornos concretos desta sanção de desclassificação (aplicada ao clube desistente) dispõe o artigo 33.º-A do RDFPF que, ao configurar as suas consequências, determina nomeadamente o seguinte (n.º 5): 18

«5. Em competição, ou fase de competição, por pontos, a aplicação da sanção de desclassificação tem as seguintes consequências, sem prejuízo do disposto no artigo 13.º: a) A equipa do clube sancionado fica imediatamente impedida de continuar a competir e perde todos os pontos até aí conquistados na competição em que foi praticada a infração e subsequentes, quando aplicável, os quais não revertem, porém, em favor dos adversários que defrontou até então. b) Para efeitos de classificação na competição em questão e subsequentes, quando aplicável, o clube sancionado fica a constar no último lugar com zero pontos. c) Se a infração tiver lugar durante a primeira volta da competição, ou em competição, ou fase de competição, de uma só volta, os resultados dos jogos disputados pelo clube desclassificado não são considerados para efeitos de classificação dos restantes clubes. d) Se a infração tiver lugar durante a segunda volta da competição não são considerados apenas os resultados dos jogos disputados pelo clube desclassificado durante a segunda volta. e) Sem prejuízo do disposto nas alíneas anteriores, se a decisão se tornar executória após o final da competição em questão, para a classificação da competição subsequente em curso à data não são considerados quaisquer resultados dos jogos disputados pelo clube desclassificado nessa competição.» Não se ignora que as citadas regras se inscrevem num regime de cariz sancionatório, ao passo que a lacuna alegada pelo Recorrente situar-se-ia no plano da disciplina primária de um aspeto do funcionamento da competição (o preenchimento de vagas) aliás, terá sido esta circunstância que levou o Recorrente a afirmar nas conclusões da petição que «[n]ão podemos confundir aquilo que é a sanção imposta a 19

um clube que desiste da competição, com a solução que tem de ser encontrada para o desenrolar da competição, após a desistência de um clube». Contudo, apesar de o regime disciplinar não ter como escopo primeiro a conformação do modelo e do funcionamento das provas organizadas pela FPF, a verdade é que as normas acima transcritas, ao definirem o conteúdo da sanção de desclassificação, acabam por disciplinar diretamente a forma como a desistência de um clube (ou melhor, a sanção associada a essa desistência) se reflete no funcionamento da prova. Essa disciplina, plasmada essencialmente no citado n.º 5 do artigo 33.º-A do RDFPF, não envolve substituição do clube desistente por um clube que se encontre no exterior da competição. Conforme resulta da citada alínea b), o clube desistente (e desclassificado) «fica a constar no último lugar com zero pontos» o que, como sublinha a Recorrida, significa que, embora impedido de competir [alínea a)], o clube desistente continua a ocupar um lugar na prova. Conclui-se, assim, pela ausência de uma lacuna jurídica a integrar. Naufragando, com efeito, a tese central do Recorrente, fica prejudicada uma outra questão controvertida entre as partes: a de saber se alguma das circunstâncias alegadas pelo Recorrente consubstanciava de algum modo uma desistência da competição por parte do CD Aves SAD (como o Recorrente alega, por exemplo, nos parágrafos 6, 11 e 14 da petição). Perante o exposto, é de concluir que o ato recorrido não padece dos vícios que lhe são imputados pelo Recorrente, não tendo a Recorrida errado, designadamente, na interpretação que fez do disposto no n.º 2 do artigo 16.º do RCP. 20

5. Decisão Face ao exposto, os membros do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol acordam em julgar o presente recurso improcedente. Custas pelo Recorrente. Cidade do Futebol, 2 de dezembro de 2020. 21