Acórdão do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Rugby

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1 Acórdão do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Rugby Processo CJ n.º: 06/2017 Recorrente: Relator: Rugby Clube de Elvas Pedro Pardal Goulão Data: 18 de Maio de 2017 Sumário: I. A aceitação, por parte da Federação Portuguesa de Rugby, da inscrição de uma equipa no Campeonato da II Divisão não afasta a aplicação do previsto no artigo 41.º/4, alínea b), do actual Regulamento Geral de Competições II. O objectivo do referido artigo 41.º/4, alínea b), do Regulamento Geral de Competições é penalizar as equipas que tenham sido objecto de desclassificação em determinada época para que estas, na primeira época em que regressem à competição, tenham que recomeçar a competir na última divisão ou, caso aquelas equipas já estivessem nesta última divisão à data da desclassificação, apenas possam competir na fase regional daquela competição I. DO OBJECTO DO RECURSO 1. Mediante correio electrónico enviado em 24 de Abril de 2017, o Departamento de Competições da Federação Portuguesa de Rugby comunicou ao Rugby Clube de Elvas que devido à desistência do RC Elvas no Campeonato Nacional da II Divisão da época desportiva 2013/2014 que resultou na sua desclassificação, não poderá participar na fase final do respectivo campeonato na presente época. 2. Inconformado, o Rugby Clube de Elvas apresentou, em 30 de Abril de 2017, um requerimento dirigido ao Presidente da Direcção Administrativa da Federação Portuguesa de Rugby que designou por reclamação e interposição de recurso para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Rugby. 3. Em 3 de Maio de 2017, o Conselho de Justiça solicitou à Direção da Federação Portuguesa de Rugby que se pronunciasse sobre a referida reclamação e interposição de recurso. 4. Em 8 de Maio de 2017, o Presidente do Conselho de Justiça proferiu despacho em que, para além do mais, fixou efeito suspensivo ao recurso atento o objecto do mesmo que implica participação nas competições nacionais. 5. Mediante deliberação tomada em reunião da Direção da Federação Portuguesa de Rugby datada de 15 de Maio de 2017, e em resposta à solicitação referida no 3 supra, foi deliberado que não [se] vislumbra fundamento que permita concluir a participação do Rugby Clube de Elvas na Fase Final/Nacional do CN II Divisão, assim confirmando o sentido da decisão referida em 1 supra.

2 6. Assim sendo, e tendo a decisão de recusa de participação da equipa sénior do Rugby Clube de Elvas na fase final (nacional) do Campeonato Nacional da II Divisão referente à época 2016/2017 sido objecto de deliberação da Direção, entende-se que, ao abrigo do artigo 30.º/1, alínea b) dos Estatutos da Federação Portuguesa de Rugby, o Conselho de Justiça é competente para conhecer o presente recurso. 7. No recurso interposto, o Rugby Clube de Elvas alega, em suma: a) Que inscreveu a sua equipa sénior para a disputa do Campeonato Nacional da II Divisão, fase regular, zona Lisboa/Sul, sendo que tal inscrição foi aceite sem reservas por parte da Federação Portuguesa de Rugby e que esta criou em todo o RCE justas e legais expectativas de poderem iniciar a competição e terminá-la na posição, vulgo, classificação final que por mérito próprio alcançasse cfr. artigos 1.º a 12.º. b) Que o artigo 41º, ponto 4, alínea b) do Regulamento Geral de Competições não pode, jamais, ter a interpretação e o efeito referido em 1 supra, sendo que tal Regulamento aplica-se apenas subsidiariamente ao Regulamento Nacional da II Divisão. Defende ainda que, à luz do artigo 69.º/3 do Regulamento Geral das Competições, se deve adoptar um juízo de prognose menos rígido e mais adequada à correcta e adequada resolução do diferendo cfr. artigos 13.º a 16.º. c) Que quer as meias finais quer a final a que aludem os artigos 5.º e 6.º do Regulamento Geral das Competições se inserem dentro do mesmo último escalão de competição, não havendo por isso nenhuma violação do supra aludido artigo 41º, ponto 4, alínea b) cfr. artigos 17.º e 18.º. 8. O Rugby Clube de Elvas conclui o seu recurso pedindo que deve continuar a disputar a competição para cujas fases finais foi apurada, revogando-se a decisão do Departamento de Competições cfr. artigo 19.º. II. ENQUADRAMENTO FACTUAL 9. Compulsados os autos, verifica-se os seguintes factos relevantes na economia do presente recurso: a) no dia 11 de Janeiro de 2014, a equipa sénior do Rugby Clube de Elvas não compareceu ao jogo com o CRI Sobredense, a contar para a 5ª Jornada do Campeonato Nacional da II Divisão referente à época 2013/2014; b) em 17 de Janeiro de 2014, o Rugby Clube de Elvas enviou correio electrónico à Federação Portuguesa de Rugby comunicando a desistência da participação da sua equipa sénior no Campeonato Nacional da II Divisão referente à época 2013/2014; c) em 27 de Janeiro de 2014, a Direção da Federação Portuguesa de Rugby ratificou a decisão de falta de comparência ao RC Elvas que não se apresentou no jogo com o Sobredense, a contar para o CN II Divisão, Lisboa/Sul (cfr. acta da reunião 02/2014, Ponto 4);

3 d) em 7 de Julho de 2014, a Federação Portuguesa de Rugby divulgou aos clubes a Homologação das Classificações da época desportiva 2013/2014, onde consta a desclassificação por desistência do Rugby Clube de Elvas do Campeonato Nacional da II Divisão; e) o Rugby Clube de Elvas não recorreu das decisões referidas nas duas alíneas anteriores; f) durante as épocas 2014/15 e 2015/2015, a equipa sénior do Rugby Clube de Elvas não participou no Campeonato Nacional da II Divisão (cfr. e g) O Rugby Clube de Elvas voltou a inscrever-se para participação no Campeonato Nacional da II Divisão apenas na época 2016/17. III. ENQUADRAMENTO REGULAMENTAR E ANÁLISE 10. Nos termos do artigo 41.º/1 do actual Regulamento Geral de Competições, será desclassificada de qualquer competição a equipa cujo Clube, após a sua inscrição, desista da sua participação ( ) (sendo que o artigo 42.º/1 do Regulamento Geral de Competições da época 2013/14 continha a mesma provisão). 11. Acresce que, nos termos do artigo 41.º/4, alínea b) do mesmo Regulamento para a época 2016/17, a desclassificação de uma equipa implica que na primeira época em que o Clube pretenda inscrever uma equipa que foi desclassificada só poderá fazê-lo na Divisão correspondente ao último escalão de competições a nível nacional, ou apenas nas fases regionais do respectivo escalão, se não houver Divisão inferior. 12. Importa igualmente ter presente que o Regulamento Geral de Competições da época 2013/14 dispunha de disposição idêntica: a desclassificação de uma equipa implica o impedimento de continuar a disputar essa competição ou qualquer outra na época em causa e a sanção, cujos efeitos se produzem na primeira época em que o clube se pretenda inscrever após a desclassificação, de inscrição na Divisão correspondente ao último escalão de competições a nível nacional, ou apenas nas fases regionais do respectivo escalão, se não houver Divisão inferior (cfr. artigo 42.º/3). 13. Por outro lado, o Campeonato Nacional da II Divisão é a divisão inferior do escalão sénior, sendo que aquele campeonato compreende duas fases: uma primeira fase de âmbito regional (com duas zonas geográficas: Norte/Centro e Lisboa/Sul) e uma segunda fase de âmbito nacional (que inclui as meias-finais e final) [cfr. artigos 3.º a 7.º do actual Regulamento do Campeonato Nacional da II Divisão]. 14. Relativamente ao primeiro conjunto de argumentos invocados pelo Rugby Clube de Elvas (cfr. 7, alínea a) supra), entendemos que a aceitação, por parte da Federação Portuguesa de Rugby, da inscrição da equipa sénior do ora Recorrente do Campeonato da II Divisão não afasta a aplicação da consequência prevista no artigo 42.º/3 do Regulamento de Competições da época 2013/14 e que continua a existir no artigo 41.º/4, alínea b), do Regulamento Geral de Competições da época 2016/17.

4 15. Poder-se-ia equacionar se à Federação Portuguesa de Rugby caberia in casu um especial encargo de informar o Rugby Clube de Elvas, no momento da sua inscrição, relativamente à aplicação da referida consequência. 16. No entanto, consideramos que, ainda que tal particular encargo de prestação de informação fosse justificável e não tenha sido observado (o que, em bom rigor, não está demonstrado nos autos), tal não seria apto a isentar o Rugby Clube de Elvas das consequências previstas nos regulamentos que regem a competição, cujo conteúdo tem a obrigação de conhecer. 17. De igual modo, não está demonstrado que a Federação tenha criado justas e legais expectativas de que a participação do Rugby Clube de Elvas pudesse incluir a fase nacional do Campeonato Nacional da II Divisão. 18. Quanto ao segundo conjunto de argumentos alegados pelo Recorrente (cfr. 7, alínea b) supra), e contrariamente à posição aí defendida, consideramos que é efectivamente aplicável o regime previsto no artigo 42.º/3 do Regulamento Geral de Competições da época 2013/14 que, como vimos, continua a existir em termos idênticos no artigo 41.º/4, alínea b), do Regulamento Geral de Competições da época 2016/ É certo que, como nota o Recorrente, o actual Regulamento Geral de Competições prevê que nas competições da II Divisão sénior ( ) poderão ser adoptados nos respectivos regulamentos específicos, normas menos rígidas do que as previstas no presente Regulamento Geral (cfr. artigo 69.º/3, sendo que o Regulamento aplicável na época 2013/14 previa hipótese idêntica no seu artigo 69.º/3), 20. Mas a verdade é que do Regulamento do Campeonato Nacional da II Divisão (tanto na versão aplicável na época 2013/14 como na versão da actual época 2016/17) não constam quaisquer normas menos rígidas relativamente a esta matéria e, como tal, entendemos ser aqui aplicável o Regulamento Geral de Competições (cfr. artigo 17.º do Regulamento do Campeonato Nacional da II Divisão da época 2013/14 e artigo 1.º do Regulamento do Campeonato Nacional da II Divisão da época 2016/ Importa ainda abordar o terceiro conjunto de argumentos alegados pelo Recorrente (cfr. 7, alínea c) supra). 22. A este propósito, há que reconhecer que as redacções utilizadas nos Regulamentos Gerais de Competições (tanto no artigo 42.º/3 da versão referente à época 2013/14, como no artigo 41.º/4, alínea b), da versão referente à época 2016/17) não se afiguram ser totalmente felizes. 23. Sem prejuízo, parece claro a este Conselho que o objectivo é penalizar as equipas que tenham sido objecto de desclassificação em determinada época para que estas, na primeira época em que regressem à competição, tenham que recomeçar a competir na última divisão ou, caso aquelas equipas já estivessem nesta última divisão à data da desclassificação, apenas possam competir na fase regional daquela competição. 24. Atento o referido supra - e tendo presente que a época 2016/17 é a primeira em que equipa sénior do Recorrente se volta a inscrever na competição após ser desclassificada da divisão inferior na época desportiva 2013/ o efeito útil das normas regulamentares referidas no

5 22 supra, no presente caso, é o de impedir que o Recorrente possa disputar, durante a época em curso, a fase nacional do Campeonato Nacional da II Divisão. IV. Decisão Pelo exposto, decide o Conselho de Justiça julgar improcedente o recurso interposto pelo Recorrente e manter a decisão recorrida que impede a participação do Rugby Clube de Elvas na Fase Final/Nacional do CN II Divisão Notifique. 18 de Maio de 2017 Pedro Pardal Goulão (Relator) José Guilherme Aguiar (Presidente) António Folgado Pedro Eiró