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Transcrição:

Por vontade expressa do autor, a presente edição não segue a grafia do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa info@marcador.pt www.marcador.pt facebook.com/marcadoreditora 2016 Direitos reservados para Marcador Editora uma empresa Editorial Presença Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo 2730-132 Barcarena Título: Ou É Tudo ou não Vale Nada Autor: Pedro Chagas Freitas Revisão: Silvina de Sousa Pré-impressão: Fotocompográfica, Lda. Capa: Ideias com Peso / Marcador Editora Imagem da capa: Maia Flore Fotografia do autor: Pau Storch magma.pt Impressão e acabamento: Multitipo Artes Gráficas, Lda. ISBN: 978-989-754-208-4 Depósito legal: 402 672/15 1. a edição: Janeiro de 2016

1. Olhou uma vez. Depois outra. Tirou os óculos, limpou-os com pressa (o suor a cair, as mãos a tremer, a boca aberta de espanto), voltou a colocá-los. E olhou novamente. Não podia ser mas era. Era mesmo. Retirou o lenço de papel do bolso, passou-o pelas têmporas, pela testa: pelo rosto todo. Nada parava o suor. E, pior ainda, nada tirava da sua frente aquela imagem, aquela imagem que parecia impossível, saída dos mais esconsos espaços da sua imaginação. Dos espaços mais imaginativos da sua imaginação. Estava lá. Ainda estava lá. Fechou os olhos, apertou-os com força. Um, dois, três, quatro. Quatro (escolhera aquele número de forma instintiva: talvez um dia entendesse a escolha que a alma faz antes de deixar a mente entrar no jogo) segundos bem contados. E depois mais quatro (com os olhos sempre fechados). Um, dois, três, quatro. E abrir. Nada. Ou melhor: tudo. Tudo na mesma. Ainda lá estava o que não devia estar, o que não podia estar, o que nunca imaginou que ali estivesse. Mas estava. Continuava a estar. Passou mais duas ou três vezes o lenço pela face. 7

PEDRO CHAGAS FREITAS Olhou, por uns segundos, para as suas próprias mãos. Sentiu-as a tremer. A tremer mais do que nunca: mais do que sempre. Olhou à volta, com cuidado (não queria dar nas vistas), e, lentamente, saiu dali. Não sabia para onde, não sabia para quê, não sabia sequer porquê. Sair dali. Sair dali antes que fosse tarde demais ou antes que fosse cedo demais. Antes que aquela imagem lhe mudasse a vida. Não sabia de onde viera, como viera e com que intenções viera. Sabia que estava ali, estranhamente ali. Pior ainda: poderia mesmo nem estar só ali; poderia estar por outros lados, por outros locais como aquele (a cidade corria normalmente, pacífica dentro do seu tumulto, alheia à realidade de alguém que não sabe o que fazer). Abandonou o local, a imagem. Mas continuou com a certeza de que aquela imagem jamais iria abandoná-lo. E tinha razão. Tens a certeza? Tenho. O pior é que tenho. Foda-se. Foda-se. Eu e tu? Como é possível? Como? Pois. Como? E de onde veio aquilo?... E está lá? Viste alguém a olhar para lá? Notaste alguém atento àquilo ou às reacções das pessoas a verem aquilo? Está lá. E parece normal. Parece que ninguém repara. Parece que é apenas mais do mesmo. E é. Bem vistas as coisas é. Só não é para ti. E para ti. E para mim. 8

OU É TUDO OU NÃO VALE NADA... E para a tua mulher, e para os teus filhos, e para o meu marido, e para os meus filhos, e para toda a gente. Foda-se. Mas eu não tenho filhos. Nem vais ter depois disto. Pelo menos com ela. Foda-se. Ela já te disse alguma coisa? Nada. Ainda não viu.... Temos de fazer qualquer coisa. Pois. Mas o quê? Dá-me o telemóvel. Eo pior é que nem sequer é verdade. E o pior é que nunca na minha vida fiz o que quer que fosse. Se pensei? Pensei. Pensei muitas vezes, vezes demais. Talvez isto seja um castigo. Um castigo antes do tempo. Um pré-castigo pelo que cheguei a pensar fazer. Mas não fiz. E agora ali está: a prova de que o fiz mesmo apesar de eu nunca o ter feito. E por momentos só penso que o deveria mesmo ter feito que o tinha mesmo de ter feito. Eu merecia tê-lo feito. Se vou pagar por fazê-lo, ao menos que o tivesse feito. Burro, burro, burro. E burro. O casamento é um lugar-comum. Tentei habitá-lo como se habita uma casa: no começo com aventura, com adrenalina, com a necessidade de fazer de cada espaço um espaço de valer a pena: um espaço com prazer dentro. Mas depois a casa perde espaço: há cada vez mais móveis, há cada vez mais espaço ocupado e cada vez menos espaço por ocupar. Mas depois a casa perde-se espaço. Eo espaço que sobra é um espaço pequeno, diminuto, asfixiante. 9

PEDRO CHAGAS FREITAS Eo espaço ocupado é o que já foi, o que não consegues deixar de ver nele: o que um dia foi espaço livre e que agora é apenas um espaço ocupado. Só o espaço livre por conquistar me ocupa verdadeiramente. É a tarefa de ocupar, de ir aos poucos ocupando, conquistando, colonizando, fazendo meu o que me fascina. Não é, nunca é, o próprio espaço ocupado, e a forma como é ocupado, que me faz querer ocupá-lo. O caminho é o único fim possível. O meio é o único meio possível. O casamento é um lugar estranho. Um lugar que estranho. Um lugar que quis fazer meu. E fiz. E é por isso que, agora, estou feito. E nada há a fazer. Aquilo está lá e eu estou lá e ela está lá. Está tudo lá. Uma simples imagem. Uma simples fotografia. Eu e uma mulher que nunca amei de corpo. Não porque não quisesse. Não porque não pudesse. Apenas porque não tive coragem. E agora alguém teve a coragem que eu não tive e deu o passo que eu não dei. E agora é real: eu e outra mulher. Aos olhos do mundo. Para toda a gente ver. Para me fazer ver. Burro. Burro. E burro. Olá, meu amor. (ele: com um beijo nela) Olá. (ela: olhar cansado, dois sacos de compras nos braços) Correu tudo bem? (ele: ansiedade disfarçada de preocupação) Sim. (ela: mais preocupada em olhar para as suas próprias unhas do que em responder) Sinto-te estranha. 10

OU É TUDO OU NÃO VALE NADA (ele: cada vez mais suado, cada vez menos disfarçado de preocupado) Cansada. Só isso. (ela: mão no rosto dele, condescendência assumida) De certeza? Não se passa nada? Está mesmo tudo bem? (ele: o medo a contornar cada palavra) Sim. Óptimo. Assunto resolvido. Ou nem por isso. Mas porque perguntas? Havia algum motivo para eu não estar bem? (ela: ao ataque depois de alguns instantes na defensiva) Não. Claro que não. (ele: no limiar da paragem cardíaca) Sinto-te estranho. (ela: a jogar com as mesmas armas, a procurar os mesmos caminhos) Cansado. Só isso. (ele: a oferecer os mesmos destinos) Tens a certeza? (ela: a esticar a corda) Claro. Relaxa. (ele: a falar para si usando o outro) Óptimo. (ela: a desistir de esticar a corda, a preferir o recanto seguro do desconhecimento) Óptimo. 11

PEDRO CHAGAS FREITAS (ele: sem saber se acreditar no que acabou de ouvir se acreditar no que acabou de sentir) Vamos. (ela: um ligeiro sorriso maroto no rosto) Amo-te. (ele: derrotado, esvaído pela pressão, comprimido pela necessidade de não mostrar nada o que neste momento é tudo) Amo-te. (ela: um beijo leve na boca dele; e depois o sorriso, outra vez o sorriso, por debaixo dos lábios) O casamento é uma casa estranha. 12