Redes Sociais - Desafios e considerações na definição de ferramentas digitais que auxiliam o processo de ensino e aprendizagem.



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Transcrição:

1 Redes Sociais - Desafios e considerações na definição de ferramentas digitais que auxiliam o processo de ensino e aprendizagem. São Paulo SP, Maio 2011. Cristina Monaco CTAE/FGV Online cristina.monaco@fgv.br Tatiana Soster - CTAE/FGV Online Tatiana.soster@fgv.br Setor Educacional Educação Universitária Classificação das Áreas de Pesquisa em Tecnologia Educacional Relatório de Pesquisa Classe Investigação Científica Resumo Este artigo é fruto de uma pesquisa realizada pela Coordenadoria de Tecnologia Aplicada à Educação (CTAE - FGV Online), junto a terceira turma de alunos da disciplina eletiva Formação Integrada para a Sustentabilidade - FIS, coordenada pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes) e oferecida aos cursos de graduação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo EAESP, da Fundação Getulio Vargas. O presente estudo teve como propósito investigar a maneira pela qual as tecnologias de informação e comunicação (TICs) foram incorporadas no processo de ensino e aprendizagem da disciplina, para tanto procurou-se responder a seguinte questão: por que a rede social Ning, disponibilizada como ferramenta de apoio à disciplina, não estava atendendo as expectativas dos coordenadores e coaching em relação à adesão e uso pelos alunos? O modelo teórico baseouse no modelo adaptado de Albertin (2010), o qual estabelece a relação entre os componentes fundamentais do processo de educação: conteúdo, metodologia e tecnologia. Para as finalidades da pesquisa optou-se pela abordagem qualitativa, fundamentada na metodologia etnográfica, a partir da qual foram explorados temas relacionados à identidade, comportamento e consumo. Palavras-chave: Educação Sustentável, Tecnologia da Informação e Comunicação, Redes Sociais; Ensino e Aprendizagem, Comportamento.

2 1 - Introdução A disciplina eletiva Formação Integrada para a Sustentabilidade (FIS), coordenada pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes) e oferecida aos cursos de graduação em Administração Empresas, Administração Pública, Economia e Direito, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo EAESP, da Fundação Getulio Vargas, foi idealizada como estratégia de ação e mudança consonante a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DEDS) e, como decorrência da adesão da EAESP aos Princípios para a Educação Empresarial Responsável PRME. Em 2002 foi estabelecida pelas Nações Unidas, em assembléia, a DEDS, período este compreendido entre 2005 e 2014. A DEDS é, portanto, o conjunto de parcerias entre governos, órgãos internacionais, sociedade civil e setor privado, com o propósito de promover mudanças de consciência, atitudes e comportamentos na sociedade mundial, em relação ao uso dos recursos naturais do planeta e o estabelecimento de uma vida sustentável (UNESCO, 2005). À educação atribuiu-se papel-chave no que concerne a estas mudanças e a promoção de valores como, a dignidade, o respeito pelos direitos humanos, pela diversidade cultural, o compromisso com a justiça social, a tolerância, a cultura de paz, a proteção e restauração dos ecossistemas da Terra, entre outros valores necessários para o alcance do desenvolvimento sustentável. Deste modo, conforme a UNESCO (2005), uma educação para o desenvolvimento sustentável deve compreender as seguintes características: ser interdisciplinar e holística; visar à aquisição de valores; desenvolver o pensamento crítico e a capacidade de encontrar solução para os problemas; recorrer à multiplicidade de métodos; estimular o processo participativo de tomada de decisão; ser aplicável; estar estreitamente relacionado com a vida local.

3 Já os PRME, elaborados em 2007 por um grupo força-tarefa, composto pelo Global Compact das Nações Unidas e pelas principais instituições acadêmicas relacionadas às áreas de gestão e negócios, tem como intuito estabelecer as bases para uma formação de valores e competências em responsabilidade empresarial e sustentabilidade nos futuros gestores; fomentar pesquisas que contribuam na compreensão sobre o papel, a dinâmica e o impacto de corporações na criação de valor social, ambiental e econômico sustentável; interagir e facilitar o diálogo entre educadores, estudantes, empresas, governo, consumidores, mídia, organizações da sociedade civil e outros grupos interessados, sobre questões relacionadas à responsabilidade social e a sustentabilidade global. O presente estudo teve como propósito investigar a maneira pela qual as tecnologias de informação e comunicação foram incorporadas neste processo inovador de ensino e aprendizagem do FIS 2011. Como objetivo específico procurou-se responder a questão: Por que a rede social Ning, disponibilizada como ferramenta de apoio à disciplina, não atendeu as expectativas da equipe de coordenadores, em relação à adesão e uso pelos alunos? 2. A Disciplina FIS Elaborada a partir dos referenciais e diretrizes supracitados, o FIS privilegia a visão multidimensional da realidade na formação do indivíduo e constitui-se enquanto modelo inovador de educação para a Sustentabilidade. Modelo este que tem como mote a mudança do paradigma de percepção de alunos e educadores, além da formação teórica necessária para o desenvolvimento das competências profissionais dos futuros líderes empresariais. A disciplina eletiva, com duração de um semestre, e dois encontros semanais, de 2 horas cada, é oferecida para até 20 alunos da graduação, escolhidos a partir de um processo seletivo. A condução do processo é realizada através do coaching e equipe de coordenação ao invés da tradicional figura do professor, ressaltando com isso o papel de facilitador e orientador deste profissional, no processo de ensino e aprendizagem.

4 Especialistas também são convidados durante o curso para trabalhar temáticas especificas junto aos alunos. Tanto a escolha dos temas e conteúdos, quanto a forma como eles acontecem são determinados conforme o desencadeamento das reflexões e as necessidades dos alunos, emergidas durante o processo. A disciplina é estruturada a partir de dois projetos paralelos Projeto Referência e Projeto Si mesmo: Projeto Referência Consiste em um desafio real que envolve temáticas relacionadas à sustentabilidade (economia, meio-ambiente e sociedade). O tema proposto difere a cada semestre, e é determinado conjuntamente pela coordenação do curso, coaching e empresas parceiras, a partir de uma questão-problema relevante para a sustentabilidade, na atualidade. Os alunos são, assim, orientados a apresentar, ao final do semestre, um projeto coletivo onde são delineadas soluções inovadoras para a questão-problema definida. Para as finalidades do projeto são realizadas visitas de campo, incluindo uma viagem, com duração média de dez dias, onde os alunos podem, de fato, mergulhar no contexto relacionado ao objeto de estudo (questão-problema), e explorar as diversas facetas que o envolvem (SCHARMER, 2005). Para esta imersão conta-se com o referencial da Teoria U, concebida por Otto Scharmer, pesquisador do MIT. Projeto Si Mesmo O Projeto Si mesmo acontece simultaneamente ao Projeto Referência e tem como escopo proporcionar a mudança de paradigma do aluno e, por conseguinte novos parâmetros para a compreensão do mundo. Para este intuito são realizadas práticas e vivências amparadas pela metodologia transdiciplinar. A transdisciplinariedade opera a partir da integração das três razões inerentes ao conhecimento: sensível, experiencial e formal. Segundo Nicolescu (1999), a transdiciplinariedade é o que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. De acordo com esta abordagem faz-se necessário restabelecer o equilíbrio entre: a pessoa exterior e interior; o intelecto e a sensibilidade do corpo; efetividade e afetividade; para que então possa desenvolver-se e emergir um ser pleno e criativo.

5 Enquanto fundamentação teórico-metodológica da disciplina como um todo encontram-se: a Teoria Transdisciplinar, Teoria U, Teoria Sistêmica; Teoria da Resiliência e Fenomenologia. 3. As redes sociais no processo de aprendizagem do FIS O conceito de redes sociais vem sendo empregado de maneiras muito distintas para definir organizações ou sistemas que apresentam uma estrutura cujos elementos estão todos em comunicação. Para Recuero (2009) uma rede serve como metáfora para apreender padrões de conexão de um grupo social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem as relações (conexões) estabelecidas. Já para Franco (2009) redes sociais são pessoas interagindo segundo um padrão de organização de rede distribuída, ao invés de centralizada e hierárquica, e apresenta o maior número de conexões possíveis (CTAE, 2010). Primo (2007) acrescenta que uma rede social online não se forma pela simples conexão de terminais. Trata-se de um processo emergente que mantêm existência através de interações entre os envolvidos. Enfatiza com isso, que uma rede social não se consolida pelo simples add de perfis e, sim, pelos efetivos processos estabelecidos entre os atores (ou nodos). As diversas metodologias utilizadas na disciplina requeriam a interface com uma ferramenta que viabilizasse a integração e comunicação dos alunos, e ao mesmo tempo fosse um espaço para organização e construção social do conhecimento e referências adquiridas, no desenvolvimento da disciplina. Optou-se, assim, fazer uso do Ning, por se tratar de uma rede social utilizada desde 2009, pela Fundação Getulio Vargas, no auxilio pedagógico a outras disciplinas da graduação e pós-graduação, e principalmente, por conciliar uma série de recursos úteis no processo de ensino e aprendizagem, tais como: fórum, blog, grupos, chat, compartilhamento de fotos e vídeos, integração com Flicker, Twitter, Facebook entre outros. Ademais, vislumbrava-se que esta plataforma de rede social poderia potencializar o desenvolvimento do trabalho coletivo e caminhar em direção ao que Levy (1999) denomina como inteligência coletiva. Assim, integram esta rede social: alunos, coordenadores e coaching da disciplina.

6 Uma vez que estimular o processo participativo de tomada de decisão é uma diretriz valorizada pela metodologia da disciplina, o Ning não costuma ser entregue pronto aos alunos, de modo que eles são orientados a formar um grupo de trabalho para definir recursos e a identidade visual da ferramenta junto à equipe técnica da Coordenadoria de Tecnologia Aplicada à Educação CTAE, departamento da FGV Online responsável pelo apoio e suporte técnico ao uso desta e outras TICs para educação. A proposta de uso do Ning nesta disciplina não foi obrigatório e tampouco envolveu a avaliação de participação do aluno, como freqüentemente tem ocorrido em determinadas práticas pedagógicas presenciais que fazem são apoiadas pelas tecnologias da informação e comunicação. Durante a viagem de campo (imersão), realizada conforme a programação do FIS, os alunos da disciplina criaram um grupo secreto na plataforma de rede social digital Facebook, o qual será explorado em uma etapa posterior a esta pesquisa. 4. Modelo Teórico Para identificar como a tecnologia da informação e comunicação foi utilizada no processo de ensino e aprendizagem, e a relação entre os objetivos pedagógicos e as estratégias de ensino, foi utilizado como referência o modelo adaptado por Albertin (2010) apresentado no Esquema 1. Esquema 1 - Componentes da Educação Fonte: adaptado de ALBERTIN, 2010, p.168.

7 Conforme Soster (2011) cada um dos componentes da educação podem ser descritos da seguinte maneira: objetivo da disciplina: o que a disciplina se propõe a ensinar; objetivo pedagógico: expressam as expectativas do professor, sobre o que deseja obter dos alunos no decorrer do processo de ensino e aprendizagem, ou seja, quais habilidades e competências serão fomentadas no aluno durante a disciplina; público: público ao qual disciplina se destina; conteúdo: conteúdo a ser trabalhado durante a disciplina. metodologia: são determinadas pela relação objetivo-conteúdo e referem-se aos meios para alcançar objetivos gerais e específicos do ensino e aprendizagem. tecnologia: refere-se a todo o aparato tecnológico necessário para apoiar qualquer atividade dentro e fora de sala de aula. Os componentes centrais deste modelo são o objetivo da disciplina, objetivo pedagógico e público a que se destina a disciplina. A partir destes componentes centrais, o desenvolvimento do conteúdo, da metodologia e a tecnologia utilizada devem estar alinhados e comprometidos. 5. Metodologia Para as finalidades da pesquisa optou-se pela abordagem qualitativa, fundamentada em uma linha da antropologia, a etnografia. A natureza da questão/problema a ser investigada sugeriu a observação participante do pesquisador, de modo que o olhar fosse de perto e de dentro, conforme propõe Magnani (2002), na compreensão dos fenômenos sociais do mundo contemporâneo. Desta maneira, a coleta de dados foi realizada a partir do acompanhamento integral das aulas e atividades de campo, programadas pela disciplina; através de entrevistas abertas, com foco no uso das TICs e comunicação e, especialmente, da rede social Ning.

8 6. Dados Coletados e Análise A partir do trabalho etnográfico, sobretudo, do acompanhamento da viagem de campo, pode-se obter informações relacionadas ao perfil dos alunos, posse e uso das tecnologias de informação e comunicação. Observou-se que a maior parte dos alunos do FIS utilizam celulares ou smart phone, tipo Blackberry para acessar a internet. Na opinião destes alunos o computador/notebook ficou secundário em relação ao acesso à internet. A1. Ainda mais hoje muita gente tem Blackberry, e o Blackberry tem e-mail, Facebook e BBM... o computador ficou secundário assim, você chega em casa nem precisa ligá-lo porque já sabe todos os e-mails que recebeu. Pôde-se também constatar que os alunos não tinham interesse em criar um novo login de rede social a ser utilizado por apenas um semestre, período relativo à duração do FIS. Ademais, os alunos não se sentiram motivados para participar de uma rede social por obrigação, onde não se identificam ou gostam de mais da metade das pessoas. Conforme podemos vislumbrar no relato abaixo: A1. Fazer uma rede social, com pessoas da sua sala que vão ficar só 6 meses, para que fazer uma rede para apenas 6 meses? E outra, se você não gosta das pessoas que estão lá...uma rede social onde do universo, mais da metade você não curte e você tem que aceitar estar no mesmo lugar, então... Outro aspecto considerado pela maioria dos alunos foi a relação com o tempo. Muitos expressaram ter um tempo escasso durante a semana, entre faculdade e estágio, até mesmo para acessar os e-mails, o que é comumente feito via celular ou smart phone. A5. Um monte de coisa pra fazer o dia inteiro, hoje você nem acessa mais, nem o e-mail durante a semana, de segunda a sexta só vê o que recebeu por telefone, até facebook só por telefone. A familiaridade no uso da ferramenta foi algo bastante considerado pelos alunos quando indagados sobre a facilidade ou dificuldade em utilizar o Ning para as finalidades do FIS. A5. Quanto mais fácil do aluno usar a plataforma, e quanto mais ele estiver acostumado maior comunicação vai ter do que uma plataforma que ele não esta acostumado, e vai ter que usar apenas uma vez.

9 No decorrer da pesquisa etnográfica observou-se, por iniciativa dos próprios alunos do FIS, a criação de um grupo secreto na rede social Facebook, com as mesmas finalidades propostas no Ning. O uso desta plataforma foi justificado pelo fato de todos os participantes da disciplina já terem perfil ativo nesta rede e, principalmente, por ela oferecer aplicativo de integração ao smart phone. 7. Considerações finais Com esta pesquisa pretendemos levantar algumas considerações necessárias quando se propõem o uso das TICs no processo de ensino e aprendizagem presencial. Conforme o modelo adaptado de Albertin (2010), os componentes centrais objetivo da disciplina, objetivo pedagógico e público a que se destina a disciplina devem estar alinhados ao desenvolvimento do conteúdo, da metodologia e à tecnologia utilizada. Nos termos do FIS, a baixa adesão a ferramenta formalmente proposta pela disciplina - o Ning, se explica pela não adequação da ferramenta ao perfil e comportamento do público (alunos), principalmente no que diz respeito à posse e uso de TICs. Neste caso especifico pôde ser verificado que consumo, comportamento, identificação, e familiaridade com a ferramenta, são elementos relevantes na hora de se considerar a definição da TIC a ser utilizada no processo letivo. Consumo, representado pela posse expressiva de aparelhos tipo smarth phone; comportamento, revelado na preferência de uso destes aparatos para acesso constante a internet, em detrimento ao computador, propiciando maior praticidade e otimização de tempo; identificação, evidenciada pelo incomodo e até resistência, dos alunos, em criar um login (identidade) exclusivo para os propósitos da disciplina, que a princípio é composta por pessoas que não se conhecem, ou ainda, que não se identificam; familiaridade com a ferramenta, considerada um fator de relevância quando se tem em conta o tempo necessário para o aluno operar organicamente a plataforma, de modo a melhor aproveitar os recursos oferecidos pela plataforma versus o tempo de duração da disciplina.

10 A opção metodológica por não estabelecer uma relação de obrigatoriedade ao uso da plataforma Ning, bem como não associá-lo a qualquer tipo de controle ou avaliação de participação dos alunos, permitiu que emergisse um novo grupo apoiado por outra plataforma de rede social. O grupo secreto na rede social Facebook, criado pelos próprios alunos para finalidades semelhantes às propostas no Ning, reforça a natureza espontânea e distribuída das redes sociais, defendidas por Franco (2009) e Recuero (2009). A presente pesquisa também contribuiu para uma reflexão mais geral acerca dos pressupostos, comumente construídos por nós educadores, de que a significativa adesão as redes sociais digitais, pelo público jovem, garante o seu sucesso quando incorporadas em processos de ensino e aprendizagem, sem com isso considerar os diversos fatores relevantes. Referência Bibliográfica: ALBERTIN, A. L. Comércio eletrônico: modelo, aspectos e contribuições de sua aplicação. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2010. CTAE (2011). Redes Sociais. Disponível em: http://saladosprofessores.ning.com/page/redes-sociais-1 Acesso em: 13/04/2011. FRANCO, Augusto de, (2009). O Poder nas Redes Sociais. Disponível em: http://escoladeredes.ning.com/group/bibliotecaaugustodefranco. Acesso em 15/08/2010. LEVY. Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. MAGNANI, J. G. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Rev. bras. Ci. Soc. [online]. 2002, vol.17, n.49, pp. 11-29. PRIMO, Alex. O aspecto relacional das interações na Web 2.0. E- Compós (Brasília), v. 9, p. 1-21, 2007. RECUERO, Raquel. (2009). Redes Sociais na Internet. Porto Alegre, Sulina. SOSTER, T. S. O uso da tecnologia da informação e comunicação no processo de ensino e aprendizagem: estudo de um curso superior na área de administração. 2011. 133 f. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), São Paulo, 2011. UNESCO. Década da Educação das Nações Unidas para um Desenvolvimento Sustentável, 2005-2014: UNESCO, 2005.