Capítulo 1 Contribuição Previdenciária da Empresa sobre a Folha de Pagamento Composição do Salário-de-Contribuição Verbas Não-Incluídas Alexandre Marcos Ferreira Advogado em São Paulo Andrea Hitelman Advogada em São Paulo Pedro Anan Jr.p65 21
22 - CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA DA EMPRESA SOBRE A FOLHA DE PAGAMENTO 1. INTRODUÇÃO Nos tempos atuais, muito se discute a respeito do custo do trabalho, que impacta diretamente no número de empregos disponíveis. Para alguns, o custo do trabalho no Brasil é muito alto, por conta dos diversos encargos sociais que incidem sobre este, em especial, as contribuições previdenciárias. Para outros, a escassez de empregos não encontra justificativa no custo de trabalho, mas na ausência de políticas públicas que incentivem seu desenvolvimento. Não obstante a ausência de políticas públicas que incentivem o desenvolvimento do trabalho e a criação de novos postos, entendemos que o custo não apenas do trabalho como, também, da atividade econômica em si, são demasiadamente elevados no País. A carga tributária incidente sobre a produção, bem como os encargos sociais que recaem sobre o trabalho acabam por inibir o desenvolvimento econômico. Neste sentido, um dos mais relevantes custos sobre o trabalho é a contribuição previdenciária. E o legislador, com o intuito de evitar os artifícios que poderiam ser utilizados pelos contribuintes para diminuir a arrecadação previdenciária, editou normas de grande alcance, com o objetivo de evitar a evasão fiscal. Entretanto, não obstante a descrição legal da base de incidência das contribuições sociais, é certo que diversas parcelas concedidas aos empregados em função da relação de emprego, não devem ser incluídas, conforme a seguir se demonstra. Sem nenhuma pretensão de esgotar a matéria, este artigo visa aprofundar um pouco mais a discussão a respeito da natureza jurídica de algumas verbas entregues aos empregados, para fins de integração ao salário-de-contribuição, base de cálculo da contribuição previdenciária. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. NATUREZA JURÍDICA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA De acordo com o que dispõe o artigo 195 da C.F., o financiamento da Seguridade Social é responsabilidade de toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante recursos provenientes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e das contribuições sociais. Pedro Anan Jr.p65 22
ALEXANDRE MARCOS FERREIRA/ANDREA HITELMAN - 23 Discussão já superada, seja pela doutrina quanto pela jurisprudência, é a natureza jurídica tributária das contribuições sociais. Isso diante do seu enquadramento ao conceito constante do art. 3º do Código Tributário Nacional e do regime jurídico atribuído às contribuições sociais, previstas no Capítulo referente ao Sistema Tributário Nacional (art. 149 e seguintes da Constituição Federal). Partindo do entendimento de que a contribuição social deve ser considerada como tributo, a ela se aplica o princípio da legalidade. Diversos autores ressaltam que o princípio da legalidade tem ampla aplicação no Direito Previdenciário, já que a necessidade de cumprimento à norma é o ponto de partida para a definição do arcabouço jurídico que se presta a dar segurança aos que lidam com esse ramo do direito. O Prof. Wladimir Martinez, tratando do princípio da legalidade na esfera previdenciária, assevera o seguinte: Em Direito Previdenciário, ramo nascente e em substanciação, a legalidade assume relevância. Quase sempre o Poder Legislativo deixa a critério da administração matéria que é de sua atribuição; daí decretos comuns e decretos regulamentadores extrapolarem a lei. O seguro social é fenômeno científico, matemático e financeiro; a lei deve ser menos genérica e dispor sobre esses aspectos. Do contrário, dá-se que o administrador fica aquém da mens legis ou, ou que é pior, vai além dela. Isso é relativamente comum e propicia divergências, altamente indesejáveis na esfera do Direito Social. 1 Assim, o princípio da legalidade obrigatoriamente deve ser respeitado no Direito Previdenciário, à luz do que dispõem os artigos 150, inciso I, e art. 195 5º da Constituição Federal. Entretanto, o respeito ao princípio da legalidade não pode ser utilizado indevidamente, seja como obstáculo à evolução social e ao desenvolvimento do país ou como justificativa para o aumento da arrecadação do governo, conforme adiante se tratará com maior profundidade. A contribuição previdenciária, portanto, deve plena obediência ao princípio da legalidade, estabelecido no artigo 5º, inciso II, da C.F. 1 MARTINEZ, WLADIMIR N. in Princípios de Direito Previdenciário. Editora LTr, Edição Especial em homenagem à Profa. Dra. Nair Lemos Gonçalves, São Paulo, 1982. Pedro Anan Jr.p65 23
24 - CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA DA EMPRESA SOBRE A FOLHA DE PAGAMENTO Assim, de acordo com Sergio Pinto Martins, só haverá a obrigação de pagar determinada contribuição previdenciária ou a concessão de determinado beneficio da Seguridade Social, se houver previsão em lei. Inexistindo esta, não há obrigação de contribuir, nem direito a certo benefício. Levando em consideração os dispositivos mencionados e o princípio da legalidade, trataremos da contribuição previdenciária devida pela empresa, no tocante a sua base de cálculo. 2.2. BASE DE CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA VERBAS REMUNERATÓRIAS E VERBAS INDENIZATÓRIAS De acordo com Ives Gandra Martins, a base de cálculo e toda remuneração destinada a retribuir o trabalho, qualquer que seja sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo a disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho. Uma empresa, quando recolhe a parcela correspondente a folha salarial, embora não seja beneficiária direta do recolhimento, tem nos seus empregados o benefício indireto, posto que são eles os destinatários da tríplice atuação da seguridade social, na saúde, previdência e assistência social 2. Fábio Zambitte Ibrahim também faz considerações sobre a contribuição previdenciária devida pelo empregador: Esta contribuição é de 20% sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, ao segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinado a retribuir o trabalho. (...) A partir do momento em que há a prestação de serviço, tendo-se remuneração devida, há o fato gerador. O que interessa e o credito jurídico não o efetivo pagamento. (...) Ao contrário da contribuição dos segurados, a qual incide sobre o saláriode-contribuição, a cota patrimonial incide sobre a remuneração. Isso é fundamental pelo seguinte: a base de incidência da contribuição patronal não possui limite máximo, como a dos segurados 3. 2 MARTINS, Ives Gandra in As Contribuições Especiais numa Visão Quinquipartida dos Tributos. São Paulo: Resenha Tributária, 1976. 3 IBRAHIM, Fabio Zambitte in Curso de Direito Previdenciário,, 2004, Rio de Janeiro: Impetus, p. 184/1825. Pedro Anan Jr.p65 24
ALEXANDRE MARCOS FERREIRA/ANDREA HITELMAN - 25 Verifica-se, portanto, que se entende que o caráter retributivo da parcela paga pelo empregador ao empregado é a característica importante para se perquirir se a verba deve integrar a base de cálculo da contribuição previdenciária devida pelo empregador. Trata-se de conceito que o Direito Previdenciário deve buscar no Direito do Trabalho. 2.3. CARÁTER RETRIBUTIVO DOUTRINA TRABALHISTA De acordo com o artigo 22, inciso I da Lei nº 8.212/91, a contribuição previdenciária devida pela empresa é de vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. (destacamos). Para interpretar referido artigo, é importante analisar os artigos 457 e 458 da CLT, que tratam do conceito de remuneração. Dispõe o artigo 457 da CLT o seguinte: Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, alem do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. O dispositivo legal, em seus parágrafos, trata, ainda, de comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagem, abonos e ajudas de custo. A maior parte da doutrina trabalhista interpreta o art. 457 da CLT de forma a entender que, em regra, tudo o que o empregador paga ao empregado em virtude do contrato de trabalho deve ser integrada à remuneração, para os efeitos legais, inclusive para fins de definição de base de cálculo da contribuição previdenciária e dos depósitos no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. A doutrina mais moderna continua tratando a remuneração, como o somatório de todas as parcelas de natureza salarial recebidas pelos empregados em razão dos serviços prestados ao empregador. Por outro lado, cada vez mais ganha mais força o caráter de retribuição ou de contraprestação da parcela concedida ao empregado. Ou seja, em vez de se determinar de forma simpló- Pedro Anan Jr.p65 25
26 - CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA DA EMPRESA SOBRE A FOLHA DE PAGAMENTO ria e atrasada que é salário tudo que o empregado recebe do empregador em decorrência da relação de emprego, procura-se identificar o caráter de efetiva contraprestação pelos serviços prestados, para fins de identificação da natureza jurídica do que está sendo creditado ao empregado. Maurício Godinho Delgado analisa a questão e destaca a importância do caráter retributivo da prestação: A onerosidade consiste em um dos elementos fático-jurídicos componentes da relação empregatícia. Ela se manifesta no contrato de trabalho através do recebimento pelo empregado de um conjunto de parcelas econômicas retributivas da prestação de serviços ou, mesmo, da simples existência da relação de emprego. Trata-se de parcelas que evidenciam que a relação jurídica de trabalho formou-se com intuito oneroso por parte do empregado, com intuito contraprestativo, com a intenção obreira de receber retribuição econômica em virtude da relação laboral estabelecida. A esse conjunto de parcelas retributivas conferem-se, regra geral, os epítetos de remuneração ou de salário. 4 Sergio Pinto Martins também trata do tema, salientando o caráter retributivo da parcela de natureza remuneratória: Remuneração e o conjunto de prestações recebidas habitualmente pelo empregado pela prestação de serviços, seja em dinheiro ou em utilidades, provenientes do empregador ou de terceiro, mas decorrentes do contrato de trabalho, de modo a satisfazer suas necessidades básicas e de sua família. Caracteriza-se a remuneração como uma prestação obrigacional de dar. Não se trata de obrigação de fazer, mas de dar, em retribuição pelos serviços prestados pelo empregado ao empregador, revelando a existência do sinalagma que e encontrado no contrato de trabalho. Essa remuneração tanto pode ser em dinheiro como em utilidades, de maneira que o empregado não necessite comprá-las, fornecendo o empregador tais coisas. O art. 458 admite o pagamento do salário em utilidades. O Estatuto dos Trabalhadores da Espanha também admite o pagamento em utilidades (art. 26). 5 4 DELGADO, Mauricio Godinho in Curso de Direito do Trabalho, Editora LTr, São Paulo, 2004, p. 681. 5 MARTINS, Sérgio Pinto in Direito da Seguridade Social, Editora Atlas, 16ª Edição, São Paulo, 2001. Pedro Anan Jr.p65 26
ALEXANDRE MARCOS FERREIRA/ANDREA HITELMAN - 27 A Lei 10.243, de 19.06.2001, em sua dicção, exclui do conceito de salário as horas prestadas, além da jornada normal de trabalho desde que não excedentes a dez minutos diários, bem como o tempo despendido pelos empregados no deslocamento de casa para o trabalho e vice-versa, salvo no caso de ser o local de trabalho de difícil acesso ou não servido por transporte público, nem prestado pelo empregador, como já consolidado pela jurisprudência nos Tribunais Regionais Trabalhistas. A Lei 10.243/01 não considera salário algumas utilidades concedidas pelo empregador, tais como vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço. Também não é considerado salário o valor gasto pelo empregador com os empregados para educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os valores relativos à matrícula, mensalidade, anuidade, livros e material didático, sem mencionar se o benefício deverá ser extensivo a todos os empregados. A assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada pelo empregador a seus funcionários, diretamente ou mediante seguro-saúde e, ainda, os seguros de vida e de acidentes pessoais e a previdência privada não são considerados como salário pela lei trabalhista, em decorrência de alteração da redação do 2º do artigo 458 da CLT, modificado pela Lei 10.243/01. A Lei 8.212/91, no artigo 28 define o salário de contribuição para o empregado como sendo a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais, sob a forma de utilidades, e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. O mesmo artigo 28 exclui do conceito de salário de contribuição e, em conseqüência, dos valores devidos ao FGTS e à Previdência Social os seguintes benefícios ou utilidades, desde que extensivos a todos os empregados, conforme expresso abaixo: Pedro Anan Jr.p65 27
28 - CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA DA EMPRESA SOBRE A FOLHA DE PAGAMENTO Ganhos eventuais e abonos expressamente desvinculados do salário por força de lei; Vale transporte, recebido na forma da legislação própria; Os valores correspondentes a alimentação, habitação e transporte, fornecidos pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distante da de sua residência, em canteiro de obras ou local que, por força da atividade, exija deslocamento e estada, observadas as normas de proteção estabelecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego; Previdência complementar, aberta ou fechada valor da contribuição efetivamente paga pela pessoa jurídica, desde que disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes, observados, no que couberem, os arts. 9º e 468 da CLT; Os valores correspondentes a serviço médico ou odontológico, próprio da empresa ou por ela conveniado, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, despesas médico-hospitalares e outras similares, desde que a cobertura abranja a totalidade dos empregados e dirigentes da empresa; Vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos ao empregado e utilizados no local do trabalho para prestação dos respectivos serviços; Ressarcimento de despesas pelo uso de veículo do empregado, quando devidamente comprovadas; Plano educacional que vise à educação básica e a cursos de capacitação e qualificação profissionais vinculados às atividades desenvolvidas pela empresa, desde que este não seja utilizado em substituição de parcela salarial e que todos os empregados e dirigentes tenham acesso ao mesmo; A importância recebida a título de bolsa de aprendizagem garantida ao adolescente até quatorze anos de idade, de acordo com o disposto no artigo 64 da Lei 8.069, de 13/07/1990; As hipóteses elencadas já constavam da redação dada ao 9º do artigo 28 da Lei 8.212/91, e se repetem na Lei 10.243/2001. A Lei 10.243/01, ao contrário da Lei previdenciária, não exige que a utilidade seja colocada à disposição de todos os empregados, limitando-se a dizer que não é salário o(s): Pedro Anan Jr.p65 28
ALEXANDRE MARCOS FERREIRA/ANDREA HITELMAN - 29 Valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a prêmio de seguro de vida em grupo, desde que previsto em acordo ou convenção coletiva de trabalho e disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes, observados, no que couberem, os arts. 9º e 468 da Consolidação das Leis do Trabalho; Valores gastos com educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os valores relativos à matrícula, mensalidade, anuidade, livros e material didático, sem vinculação à atividade desenvolvida pela empresa e sem menção à obrigatoriedade de extensão a todos os empregados; As horas prestadas além da jornada normal de trabalho, desde que não excedentes a dez minutos diários; O tempo despendido pelos empregados no deslocamento de casa para o trabalho e vice-versa, salvo no caso de local de difícil acesso ou não servido por transporte público; Além das hipóteses acima, em razão do disposto na Lei nº 10.170, de 29/12/2000, o valor despendido por entidade religiosa ou instituição de ensino vocacional com ministro de confissão religiosa, membro de instituição consagrada, de congregação ou de ordem religiosa em razão do seu mister religioso ou para sua subsistência, desde que fornecido em condições que independam da natureza e da quantidade do trabalho executado, também não é considerado salário, não sendo passível de tributação previdenciária. A indenização recebida a título de incentivo à demissão, desde que prevista em acordo ou convenção coletiva de trabalho, também não dá ensejo à incidência de contribuição previdenciária. As parcelas acima relacionadas, quando pagas ou creditadas em desacordo com a legislação pertinente, integram a remuneração para todos os fins e efeitos, ensejando autuação por parte do INSS. Questão comum nos tribunais vem sendo a discussão da forma de pagamento do vale-transporte aos empregados. Algumas empresas vem sendo autuadas pelo INSS, sob alegação de pagamento em desacordo com a lei. Autuações que não se sustentam, tendo em vista o entendimento majoritário nos Tribunais Regionais Federais, conforme se depreende das ementas abaixo: Pedro Anan Jr.p65 29
30 - CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA DA EMPRESA SOBRE A FOLHA DE PAGAMENTO PROCESSO CIVIL MANDADO DE SEGURANÇA VALE- TRANSPORTE NÃO INTEGRA A REMUNERAÇÃO DOS EMPREGADOS INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA OU FGTS INOCORRÊNCIA A Lei nº 7.418/85, regulamentada pelo Decreto nº 95.247/87, de 17/ 11/87, instituiu o Vale-Transporte que o empregador, pessoa física ou jurídica, antecipará ao empregado para utilização efetiva em despesas de deslocamento residência-trabalho e vice-versa. O Vale-Transporte, no que se refere à contribuição do empregador, não tem natureza salarial, nem se incorpora à remuneração do beneficiário para quaisquer efeitos. Não constitui base de incidência de contribuição previdenciária ou do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, e tampouco é considerado para efeito de pagamento da Gratificação de Natal. Não configura rendimento tributável do beneficiário. Apelação provida. (TRF 2ª Região Apelação em MS 16692; Relator Juiz Wanderley de Andrade Monteiro; votação unânime; DJU 04/10/2002) TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. VALE- TRANSPORTE. NATUREZA JURÍDICA. NÃO INCIDÊNCIA. 1) O vale-transporte é uma ajuda de custo destinada ao custeio do deslocamento do empregado de casa ao trabalho e vice-versa (Lei n º 7.418/ 85). 2) Ao regulamentar essa lei, o Decreto nº 95.247/87 restringiu a concessão do benefício ao fornecimento de passes, sendo proibido o seu pagamento em dinheiro ao empregado. 3) Ofensa ao princípio da legalidade, vez que decreto não pode alterar a abrangência da lei. 4) Remessa oficial improvida. (TRF TERCEIRA REGIÃO; REO REMESSA EX OFFICIO 179928; Processo: 97030310710 UF: SP Órgão Julgador: PRIMEIRA TURMA; Documento: TRF300054170 Fonte DJU ATA: 15/03/2001 PÁGINA: 494 Relator(a) JUIZ OLIVEIRA LIMA; Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento à remessa oficial). Pedro Anan Jr.p65 30
ALEXANDRE MARCOS FERREIRA/ANDREA HITELMAN - 31 CONTRIBUIÇÃO SOCIAL. VALE-TRANSPORTE. PARCE- LA PAGA CONFORME A LEGISLAÇÃO. LEI N. º 7.418/85. DECRETO N. º 95.6247/87. CARÁTER INDENIZATÓRIO. O vale-transporte, quando pago de acordo com a legislação pertinente, não tem caráter remuneratório e não integra a base de cálculo da contribuição previdenciária. Indexação CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. DESCABIMENTO, INCIDÊNCIA, PAGAMENTO, DINHEIRO, VALE-TRANSPORTE, DES- CONTO, SALÁRIO-BASE, EMPREGADO. CARACTERI- ZAÇÃO, INDENIZAÇÃO. Data Publicação 02/10/2002 Referência Legislativa LEG-FED DEC-95247 ANO1987 ART.9º LEG. FED. LEI-8212 ANO 1991 ART. 28 PAR. 9º LET-F??? LEG. FED. LEI 7418 ANO1985 ART.-5º PAR. ÚNICO (TRF-QUARTA REGIÃO Apelação Cível 376914) Processo: 200004011296586 UF: RS Órgão Julgador: PRIMEIRA TUR- MA Data da decisão: 05/09/2002 Documento: TRF 400085463 Fonte DJU DATA: 02/10/2002 Relator(a) JUIZA MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA votação unânime). 2. negaram provimento à apelação e remessa oficial. O fato de a Lei 10.243/01, não considerar como salário algumas utilidades concedidas pelas empresas ou empregadores não os fazem livres da interpretação dos fiscais do INSS no momento da fiscalização, que lhes impõem autuações descabidas. Tomemos como exemplo o auxílio-doença. O auxílio-doença é um benefício previdenciário, previsto na Constituição Federal de 1988, como risco social que merece proteção (art. 201, CF). É concedido aos segurados do sistema da previdência, quando acometidos do risco social incapacidade laborativa em decorrência de doença, seja comum, seja acidentária. A Fazenda Nacional entende que a verba do auxílio-doença tem natureza salarial o que justificaria sua inclusão na base de cálculo da contribuição previdenciária. Ou seja, o empregador é responsável pelo pagamento do auxílio previdenciária nos primeiros quinze dias e, também, pela contribuição previdenciária do mesmo benefício, posto que teria natureza salarial. Tal situação é comum. Pedro Anan Jr.p65 31
32 - CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA DA EMPRESA SOBRE A FOLHA DE PAGAMENTO No entanto, os Tribunais Federais do país vem decidindo pelo reconhecimento do direito, das empresas, desde que solicitantes, de não se incluir, na base de cálculo das contribuições previdenciárias, o auxíliodoença de seus empregados, suportado por elas nos quinze primeiros dias de salários daqueles empregados afastados por doença. Seguindo precedentes do Superior Tribunal de Justiça (STJ), conclui-se que a retribuição recebida pelo empregado doente, nos primeiros 15 dias de afastamento do trabalho, tem caráter previdenciário, sobre ele não incidindo a contribuição previdenciária. As contribuições previdenciárias não são devidas sobre as quantias relativas ao auxílio-doença pago pelo próprio empregador, nos primeiros quinze dias de afastamento do trabalho. Os rendimentos percebidos pelo empregado nos primeiros quinze dias de afastamento de trabalho, por motivo de doença, não constituem salários, caracterizando-se como prestação de natureza previdenciária. A diferença, paga pelo empregador, nos casos de auxílio doença não tem razão remuneratória. Não incide, portanto, sobre o seu valor, contribuição previdenciária! A verba paga pela empresa aos funcionários durante os 15 primeiros dias de afastamento do trabalho por motivo de doença não tem natureza salarial. Por isso, não incide sobre ela a contribuição à Previdência Social. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) já afirmou que o auxíliodoença não tem natureza salarial e que, por isso, não deve incidir a contribuição previdenciária. De acordo com aquele tribunal, o mesmo ocorre com o salário-maternidade, pois se trata apenas de benefício sem contraprestação de serviço! A diferença paga pelo empregador nesses casos não tem natureza remuneratória, portanto não incide sobre ela a contribuição previdenciária. Conclui-se no sentido de que o empregado afastado por motivo de doença não presta serviço e, por isso, não recebe salário, mas apenas uma verba de caráter previdenciário de seu empregador, durante os primeiros 15 (quinze) dias. A descaracterização da natureza salarial da citada verba afasta a incidência da contribuição previdenciária. Pedro Anan Jr.p65 32
ALEXANDRE MARCOS FERREIRA/ANDREA HITELMAN - 33 3. CONCLUSÃO Na apuração da composição da base de cálculo das contribuições previdenciárias deve ter-se muito cuidado para não incluir as verbas que não sejam exclusivamente remuneratórias. Assim, deve-se evitar o recolhimento previdenciário incidente sobre verbas que claramente não componham o salário-de-contribuição. Trata-se de providência que a empresa deve adotar, sob pena de contribuir com valor demasiadamente elevado sobre valores que não deveriam sequer ser inclusos na base de cálculo da contribuição social. Pedro Anan Jr.p65 33