História do Brasil. 1. O Período Colonial



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Transcrição:

História do Brasil 1. O Período Colonial O português Pedro Alvares Cabral e sua esquadra chegam ao litoral da Bahia em 22 de Abril de 1500. É o descobrimento do Brasil. Segundo a maioria dos historiadores, trata se mais de uma tomada de posse do que de um descobrimento em si, pois a existência do território dividido seis anos antes entre portugueses e espanhóis pelo Tratado de Tordesilhas já era sabida por Portugal. Em 1534, a mando do rei João III, Portugal dividiu o território da colônia do Brasil em 15 lotes de terra, as Capitanias Hereditárias com a intenção de explorar e defender o território. Cada faixa de terra seria entregue a um donatário que se comprometia a arcar com os custos da capitania e repassar parte dos ganhos a Coroa Portuguesa. O direito de administrar a terra era vitalício e hereditário e regido pelo regulamento feito em dois documentos: a Carta de Doação e o Foral. Esses documentos estabeleciam o comportamento e as obrigações dos donatários e da Coroa. O primeiro deveria aplicar a Justiça e podia cobrar impostos pelo uso da terra e dos rios. A Coroa se encarregava de tributar a exploração do pau brasil, das especiarias e dos metais preciosos. Apesar de ter apresentado duas capitanias prósperas São Vicente, por desenvolvido uma significativa economia de subsistência, e Pernambuco, pela produção açucareira esse sistema fracassou por diversos motivos. Algumas capitanias sequer chegaram a ser ocupadas, outras sofreram com a falta de investimento, má administração, isolamento e ataques dos indígenas. Em 1548, os portugueses decidiram ampliar o poder da metrópole na colônia e dificultar as investidas estrangeiras. Implantou se o Governo Geral, com sede na capitania da Bahia e capital em Salvador. Ao governador geral cabia coordenar a defesa, cobrar os impostos e incentivar a economia. Para isso teria a ajuda do provedor mor (tesoureiro), do ouvidor mor (juiz) e capitão mor (a cargo da defesa). A ideia de centralização de poder do Governo Geral funcionou militarmente, mas não politicamente por falta de infraestrutura, de transporte e comunicação. As Câmaras Municipais de cada vila acabaram sendo as instituições políticas de maior poder desse sistema de governo. Os governadores gerais foram: Tomé de Souza Mem de Sá

Em 1572 Portugal voltou a dividir o Brasil, agora nos governos do Norte e do Sul, mas reunificou seis anos mais tarde. Em 1621 houve uma nova divisão, foram criados os Estado do Brasil, com capital em Salvador e o Estado do Maranhão, com capital em São Luiz, este passaria a se chamar Estado do Grão Pará e Maranhão em 1751, e sua sede transferida para Belém. Economia Colonial A colônia era regida economicamente pelo Pacto Colonial que obrigava o Brasil a comercializar exclusivamente com a Metrópole portuguesa. Desde de cedo a produção colonial foi voltada para o abastecimento do mercado externo, todas as atividades desenvolvidas em solo brasileiro tiveram como destino o mercado europeu, da extração de pau brasil a atividade mineradora. A extração de pau brasil foi a primeira atividade colonial brasileira pela abundância de madeira no litoral. A extração era feita pelos índios que trocavam a madeira por quinquilharias (escambo). O produto era armazenado em feitorias ao longo da costa litorânea. Apesar de ser uma atividade lucrativa, extração da madeira não obrigava o assentamento dos mercadores no território. Os comerciantes só precisavam atracar, encher os navios de mercadorias e seguir viagem. Essa falta de assentamento facilitava os ataques estrangeiros. Por isso, Portugal decidiu implantar uma atividade lucrativa e duradoura na colônia que facilitasse a fixação do mercador e fosse possível o povoamento do território. A plantação de cana de açúcar foi a principal atividade econômica da colônia do século XVI ao século XVIII, e foi escolhida por se adaptar bem ao solo e ao clima do Brasil, além disso, Portugal já possuía experiência na produção de cana nos Açores e Ilha da Madeira. No entanto, faltava ao Estado português capital inicial e uma infra estrutura de distribuição, o que foi resolvido com uma parceria com os holandeses, que já fretevam o açúcar produzido por Portugal nas Ilhas do Atlântico. A cana era produzida no sistema de plantation, com base nas grandes propriedades (latifúndios) e monoculturas (apenas um produto) os engenhos; usava mão de obra escrava (primeiro dos índios, depois da negra); produção voltada para o mercado externo, o que provocou um atrofiamento da economia interna. Grande parte dos lucros eram remetidos para a Metrópole, os lucros que ficavam no Brasil estavam concentrados com os senhores de engenho. A pecuária colonial era a única atividade econômica voltada para o mercado interno, os animais serviam como tração, alimento e meio de transporte para os engenhos. Inicialmente foi desenvolvida em Pernambuco e na Bahia no século XVI, e foi responsável pelo povoamento do interior do território, principalmente os sertões brasileiros e as pastagens naturais dos pampas no Sul, já que o litoral se dedicava a atividade canavieira. Também eram

realizadas feiras de comércio de animais e os vaqueiros eram livres, recebiam salários e cabeças de gado como pagamento pelos serviços. A pecuária ganhou novo impulso como forma de abastecimento das regiões mineradoras no século XVIII. Em 1693, abundantes jazidas de ouro foram descobertas na região hoje ocupada por Minas Gerais. Assim, iniciou se a atividade extrativista mineradora e milhares de pessoas migraram para a região das Minas em busca de riquezas e melhores condições sociais. Já em 1702, a Coroa portuguesa decidiu impor uma administração mais rígida e tirar sua parte nos lucros e publicou o Regimento Aurífero que regulamentava a extração de minérios. O documento estabelecia ainda a criação das intendências das minas, que eram governos autônomos que prestavam conta ao Rei. Em 1711 é fundada Vila Rica, atual Ouro Preto (MG), símbolo da sociedade urbanizada no contexto da mineração. Por conta do desenvolvimento da região, a Coroa transformou, em 1720, a região mineradora na nova capitania das Minas Gerais, antes a região era parte da capitania de São Vincente, neste mesmo ano Filipe dos Santos inicia a Rebelião de Vila Rica. A extração de minérios foram organizados em dois tipos: as lavras, que eram amplas regiões e demandavam muito capital e grande quantidade de escravos; e as faiscações, menores, portanto, mais numerosas. O Quinto era o principal imposto que extrativista minerador deveria pagar a Coroa, 20% de todo ouro encontrado. Por conta da alta sonegação, foram criadas, em 1725, as Casas de Fundição que transformavam o ouro em pó em barras e daí extraiam o quinto. Para coibir ainda mais a sonegação só se permitia a exportação de ouro fundido. Em 1735, a Coroa criou um novo imposto que incidia sobre o número de escravos utilizados na extração, a capitação. A mineração modificou o cenário geográfico e econômico da colônia, surgiram núcleos urbanos e houve o crescimento populacional. Houve uma maior integração do mercado interno do país para abastecer a região mineradora, o Sudeste comprava gado da região Sul e escravos do Nordeste. Com o esgotamento das jazidas por volta de 1800 houve um rápido esvaziamento empobrecimento da região. Sociedade Colonial Qualquer que fosse a atividade econômica desenvolvida nas diferentes regiões do Brasil teve a escravidão como ponto em comum. Desde a sociedade açucareira no Nordeste à sociedade mineradora do Sudeste. Sociedade Açucareira era além de escravista, agrária e estratificada. Baseada em latifúndios e com pouca ou nenhuma mobilidade social. A elite social, política e econômica eram os senhores de engenhos, sendo o símbolo maior do poder do senhor a casa grande. Na base social estavam os escravos, negros

africanos em maioria, mas também indígenas. Os escravos eram considerados verdadeiras mercadorias, insumo de produção, no auge da produtividade do engenho chegavam a trabalhar 18h. Entre os extremos da sociedade estavam os trabalhadores livres, alguns assalariados que prestavam serviços aos engenhos, como o feitor mor (administrador do engenho), feitor, alfaiate, pedreiro, pescador, etc. E alguns comerciantes, de escravos, animais, carne, trigo, etc. Sociedade Aurífera (1693 1800) diferente da sociedade açucareira se desenvolveu a partir da migração de pessoas de diversas origens para a região das Minas em busca de riquezas. Não havia o latifúndio e, portanto, a população se organizava em centros urbanos com uso do trabalho livre, isto acrescentou a essa sociedade maior mobilidade social e pela primeira vez se formou uma classe média no Brasil, que ficava acima dos escravos e abaixo dos grandes comerciantes e donos das minas, e se constituía por artesãos, médicos, barbeiros, advogados, soldados, etc. Escravidão No Brasil, o uso do trabalho compulsório foi a base ds atividade economica do país, tendo início com a atividade açucareira em 1530 e só foi oficialmente extinto em 1888. Inicialmente foram escravizados os índios na extracao de pau brasil. Na verdade, os índios eram livres, mas explorados no escambo da madeira por quinquilharias. Além disso, o aprisionamento indígena não vigorou como um bom negócio para Portugal, que por se tratar de uma atividade interna não gerava lucros a Coroa. Os indígenas também não estavam habituados ao trabalho em grandes propriedades e não se adaptaram a produção açucareira de larga escala. Com o início da produção açucareira em 1530, a solução de mão de obra encontrada pelos portugueses foi a escravidão africana, após a inadaptação indígena e a limitação da mão de obra portugesa. A população de Portugal se encontrava reduzida no século XVI e havia ainda a recusa de trabalho por parte dos europeus. Estima se que 4 milhões de negros foram trazidos do continente africano entre 1550 e 1850, vinham especialmente de Benin, Guiné, da Costa do Marfim, do Congo, de Angola e Moçambique. Para aprisiona los, inicialmente os portugueses invandiram as aldeias. Mais tarde passaram a incentivar a luta entre tribos rivais para depois negociar com os vencedores a troca dos derrotados por panos, alimentos, cavalos e munições. Os escravos eram transportados em porões superlotados dos navios negreiros conhecidos como tumbeiros, as más condições como maus tratos, má alimentação e a sujeira matavam até a metade dos negros durante o transporte. Eram vendidos em praça pública e se tornavam propriedade do senhor e ficavam sujeitos as punições frequentes. Os castigos mais comumns eram o açoite, a palmatória e o chicote.

A escravidão atravessou o Império e a expansão da atividade cafeeira aumentou a demanda por mão de obra a partir de 1830. Ao mesmo que tempo que aumentava as pressões externas contra o tráfico de escravos, sobretudo da Inglaterra que já vivia a muito a Revolução Industrial e estava preocupada com a concorrência. As colônias inglesas do Caribe já haviam abolido a escravidão e os produtos haviam ficado mais caros. Em 1831, o governo brasileiro, cumprindo acordos com a Inglaterra, declarou o tráfico ilegal no território nacional, mas não cumpriu nem fiscalizou o acordo. Diante disso, o Parlamento britânico aprovou, em 1845, a Bill Aberdeen, lei que dava à Marinha inglesa o direito de perseguir e aprisionar tumbeiros em qualquer ponto do Atlântico. A Inglaterra continuou com pressões cada vez mais fortes, e em 1850 o governo brasileiro promulgou a Lei Eusébio de Queiroz, que proibia a entrada de escravos no Brasil, mas desta vez preocupou se em cumprir. Com o fim do tráfico, a escravidão declinou, mas não acabou. Os ainda escravos geravam mais escravos e continuavam a alimentar a economia com mão de obra compulsória. Somente em 1871 foi promulgada a Lei do Ventre Livre, que libertava os filhos de escravos nascidos a partir da lei, apesar de mantê los sob a tutela do senhor. A partir de 1880 se intensificou o movimento pró abolição, que contava com importantes pensadores da época. Jornalistas, políticos, artistas, dentre eles Joaquim Nabuco, que juntamente com outros políticos, como José do Patrocínio, criou a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Nabuco foi ainda bastante atuante na Câmara dos Deputados e suas obras apontavam para os aspectos negativos que a escravidão trouxe a sociedade brasileira e aos perigos da demora para a abolição, particularmente em O Abolicionismo. Em 1885, foi promulgada a Lei do Sexagenário que libertava os raros escravos que conseguiam passar dos 65 anos. Em 1888, foi assinada a Lei Áurea pela Princesa Isabel substituindo o Imperador Dom Pedro II, em viagem a Europa que proibiu a escravidão definitivamente no país. 1.2 O Tratado de Madri (1750) Tratado firmado em 1750 entre os então reis de Portugal e Espanha para definir os limites das respectivas colônias na América, substituindo o acordo anterior do Tratado de Tordesilhas, que ambas as partes reconheceram ter violado tanto no continente sul americano quanto nas colônias da África e Ásia. No Brasil, na prática, as 370 léguas que o Tratado de Tordesilhas (1494) definia como fronteira, não eram claras pelo centro do território, assim as partes interpretavam os limites como fossem convenientes. A União Ibérica que vigorou até 1640 equivaleu a uma anexação de Portugal pela Espanha, no Brasil, uma das consequências foi a livre movimentação entre os

dominios portugueses e espanhóis na America, o que facilitou a penetração dos lusos brasileiros além do limite do tratado de Tordesilhas. Depois de recuperar o título de Reino Independente, Portugal iniciou a extensão de seus domínios até a região do Prata, onde hoje é o território paraguaio. A região do Prata era uma região estratégica para os espanhóis de controle do comércio e da navegação da prata vinda do Peru que dava segurança ao Império Espanhol já ameaçado pela Inglaterra. Pelo Tratado de Madri foram definidas parte das fronteiras do Brasil na América pelo sucesso do acordo intermediado por Alexandre de Gusmão, favorecendo os portugueses em detrimento dos espanhóis. Como parte das negociações, Portugal teve de devolver o domínio da Colônia de Sacramento aos espanhóis, mas a Espanha teve de conceder o domínio da margem setentrional do rio Prata aos portugueses, que seria definido como o limite sul do Brasil. Além da área dos Sete Povos das Missões, no atual Rio Grande do Sul, e dos territórios dos atuais estados de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, a Amazônia, e mais algumas áreas abandonadas. Também foi definido que o Rio Uruguai seria o limite entre Argentina e Brasil. O Tratado ainda tratava do estado de paz que as colônias se comprometiam a manter mesmo quando as metrópoles estivessem em guerra. Em 1777 é acordado no Tratado de Santo Ildefonso a restituição do domínio dos Sete Povos das Missões aos espanhóis, mas as fronteiras atuais do Rio Grande do Sul só foram definidas pelo Tratado de Badajoz, em 1801. 1.2.1 Alexandre de Gusmão Diplomata português, nascido na colônia do Brasil, notável pelo desempenho das negociações do Tratado de Madri, que duraram entre 1746 a 1750, o qual definiu as fronteiras entre as colônias portuguesas e espanhola na América do Sul. Gusmão negociou sob o princípio do "utis possedetis" (posse efetiva da terra/ocupação e considerando os acidentes geográficos como limites naturais) que passou a ser largamente utilizado pela diplomacia brasileira para solucionar as questões das fronteiras do Brasil. 2. O processo de independência A separação política entre a colônia brasileira e a metrópole portuguesa foi declarada oficialmente em 7 de Setembro de 1822 e resultou de um processo interno iniciado décadas antes, com os movimentos emancipacionistas do final do século XVIII, a vinda da Corte portuguesa ao Brasil em 1808 e a crise do sistema colonial fatores sociais, políticos e econômicos. Fatores externos, como a independência dos Estados Unidos, a Revolução

Francesa, as guerras napoleônicas e a pressão da Inglaterra pela liberação dos mercados consumidores americanos aos quais queria vender seus produtos industrializados também influenciaram e ajudaram a apressar a emancipação. 2.1 Movimentos emancipacionistas. Durante o período colonial, ocorreram várias revoltas da população brasileira contra os portugueses. As primeiras, chamadas de nativistas, exprimiam rebeldia em relação ao domínio estrangeiro, mas ainda não propunham a independência. Dentre estas se destacam a Aclamação de Amador Bueno (1641), a Revolta dos Beckman (1684), a Guerra dos Emboabas (1708 1709), a Guerra dos Mascates (1710 1711) e a Revolta de Filipe dos Santos (1720). Só a partir do século XVIII aconteceram movimentos do tipo emancipacionista: o primeiro deles foi a Inconfidência Mineira, em 1789, pela insatisfação dos mineiros com os impostos cobrados pela Coroa, que atingiu seu auge com a decretação da derrama, a cobrança forçada de tributos. Um grupo da elite local decidiu apressar os preparativos para a revolta separatista. Traídos, porém, foram todos presos, mas só um foi executado: o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, único que não pertencia a uma classe previlegiada. Em 1798, ocorreu a Conjuração Baiana, chamada de Revolta dos Alfaiates, foi organizada por negros e mulatos que propunham a independência da colônia, o fim da escravidão e a instalação de uma sociedade baseada nos ideais da Revolução Francesa. Eles distribuíram folhetos anunciando a República Baiense, mas logo foram presos. No começo de 1799, os líderes foram mortos. A Revolução Pernambucana, ocorrida em 1817, foi impulsionada pela falta de autonomia da província e do domínio do comércio pelos portugueses. A elite pernambucana rebelou se, e em março tomou o Recife, organizando o primeiro governo independente e republicano no Brasil. Sem o apoio das demais províncias nordestinas, acabaram derrotados em junho do mesmo ano. 2.2 A situação política e econômica européia. O Brasil sede do Estado monárquico português. Em 1806, o bloqueio continental à Inglaterra imposto na Europa continental por Napoleão Bonaparte foi desrespeitado por Portugal, que dependia economicamente dos britânicos. A invasão francesa no território lusitano, como retaliação, tornou se iminente, e, em 1807, o príncipe regente português Dom João VI e sua corte fugiram para o Brasil. Assim que chegou à colônia, em 1808, o monarca decretou a abertura dos portos às nações amigas. Com a possibilidade de comercializar com outros países quenaoa metrópole, o Brasil ficou praticamente livre do pacto colonial. A

novidade fez a elite econômica brasileira compreender melhor a necessidade da independência como uma maneira de aumentar lucros. Ao mesmo tempo, a Inglaterra, que passou a dominar o mercado brasileiro após a abertura dos portos, percebeu que o fim do controle lusitano sobre o Brasil não causaria impacto nas relações entre britânicos e brasileiros. Formou se uma espécie de aliança entre as elites brasileira e inglesa, que contribuiria muito para a independência. A família real instalou se no Rio de Janeiro, que foi transformado em capital do reino português. Em 1815, o governo joanino elevou o Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves. Em sua política externa, Dom João VI dominou a Guiana Francesa, entre 1808 e 1817, em represália a Napoleão, e ocupou a Cisplatina (atual Uruguai) entre 1821 e 1828. 2.3 O Constitucionalismo português e a Independência do Brasil Em 1820, em Portugal, a burguesia local, influenciada pela Revolução Francesa, tomou o poder mo país por meio da Revolução do Porto. Foi instalada uma monarquia constitucional baseada nas Cortes Constituintes, que funcionavam como Parlamento. Elas obrigaram Dom João VI a retornar imediatamente a Portugal e a jurar lealdade à Constituição que haviam promulgado. Ele foi, deixando em seu lugar, seu filho Dom Pedro como regente do Brasil, o qual deveria conduzir a separação política, caso fosse inevitável. A Constituição portuguesa deixava claras as intenções do novo governo lusitano em recolonizar o Brasil. Também era de exigência das Cortes que Dom Pedro voltasse à Europa. O príncipe regente, entretanto, resistiu às pressões, as quais considerava uma tentativa de esvaziar o poder da monarquia. Formou se em torno dele um grupo de políticos brasileiros que defendiam a manutenção do status do Brasil de Reino Unido a Portugal. Em 29 de dezembro de 1821, do Pedro recebeu um abaixo assinado de representantes da elite nacional pedindo que não deixasse o Brasil e lhe oferecendo a possibilidade de reinar sobre um império na América. Sua decisão de ficar foi anunciada em 9 de Janeiro de 1822, no episódio conhecido como Dia do Fico. Entre os políticos que cercavam o regente estava José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu, e os irmãos Antônio Carlos e José Bonifácio de Andrada e Silva. Principal ministro e conselheiro de Dom Pedro, José Bonifácio lutou num primeiro momento pela manutenção dos vínculos com a antiga metrópole. Porém, ao se convencer de que o rompimento era necessário, passou a ser o principal ideólogo da independência política do Brasil, entrando para a história como o Patriarca da Independência. Fora do círculo da corte, líderes liberais como Joaquim Gonçalves Ledo e Januário da Cunha Barbosa atuaram nos jornais e nas lojas maçônicas criticando pesadamente o colonialismo português e defendendo a total separação da metrópole.

Em 3 de junho de 1822, Dom Pedro recusou fidelidade a Constituição de Portugal e convocou a primeira Assembléia Constituinte brasileira. Em 1º de Agosto, baixou um decreto declarando inimigas as tropas portuguesas que desembarcassem no país. Cinco dias depois, assinou o Manifesto às Nações Amigas, redigido por José Bonifácio. Nele, justificou o rompimento com a Corte Constituinte de Lisboa e defendeu a independência do Brasil. Em protesto, os portugueses anularam a convocação da Assembléia Constituinte brasileira, ameaçaram o envio de tropas e exigiram o retorno imediato do príncipe regente. Ao receber as cartas com as exigências das Cortes, em 7 de setembro, Dom Pedro proclamou a independência do Brasil. Em 12 de outubro foi proclamado imperador e, em 1º de dezembro, coroado pelo bispo do Rio de Janeiro, recebendo o título de Dom Pedro I. No início de 1823, realizaram se eleições para a Assembléia Constituinte, encarregada de elaborar e aprovar a Carta Constitucional do Império Brasileiro. Entretanto, o órgão entrou em divergência com Dom Pedro I e o texto acabou sendo elaborado pelo Conselho de Estado instituição nomeada pelo imperador e foi outorgado em março de 1824. Com a Constituição em vigor e vencidas as últimas resistências portuguesas nas províncias, o processo de separação entre a colônia e metrópole estava concluído. O reconhecimento oficial da independência brasileira pelo governo português, porém só viria em 1825, quando Dom João VI assinou o Tratado de Paz e Aliança entre Portugal e Brasil. A independência do Brasil representou o triunfo do espírito conservador e centralizador de José Bonifácio. Ele conseguiu promover a emancipação do país mantendo o regime político a monarquia e o caráter agrário, latifundiário, escravocrata e exportador da nossa economia, o que favorecia os interesses das elites locais. Apesar da soberania política, o Brasil continuou economicamente dependente, se não mais de Portugal, agora da poderosa Inglaterra. Era dos ingleses que o Brasil comprava quase tudo que precisasse principalmente os caros produtos industrializados e era a eles que vendíamos praticamente a totalidade de nossa produção restrita a produtos primários, mais baratos. Além disso, para alavancar nossa economia, recém emancipada, o governo brasileiro contraiu volumosos empréstimos dos britânicos o que nos deixou ainda mais submissos ao seu poder econômico.

Bibliografia 1 Apostila de História do Guia do Estudante; Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado; 1808, Laurentino Gomes; 1 Compilação de dados tiradas como referências diretas das obras listadas, o intuito desse texto é ser um resumo que sirva de guia para estudos de História do Brasil, por isso foi escrito igualmente como está nos livros, sem tentativas de fazer paráfrases ou resenhas críticas do assunto.