TRATAMENTO DE ÁGUA DE ABASTECIMENTO UTILIZANDO FILTRO DE PEDREGULHO COM ESCOAMENTO ASCENDENTE COMO PRÉ-TRATAMENTO À FILTRAÇÃO RÁPIDA DESCENDENTE



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Transcrição:

TRATAMENTO DE ÁGUA DE ABASTECIMENTO UTILIZANDO FILTRO DE PEDREGULHO COM ESCOAMENTO ASCENDENTE COMO PRÉ-TRATAMENTO À FILTRAÇÃO RÁPIDA DESCENDENTE Emília Kiyomi Kuroda Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo Luiz Di Bernardo (*) Professor Titular do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo Endereço (*): Departamento de Hidráulica e Saneamento - Escola de Engenharia de São Carlos - USP Av. Trabalhador São-Carlense, no. 400 - São Carlos - SP - Brasil - CEP : 13 566-570 Fone: +55(16) 273 9528 - Fax: +55(16) 273 9550. e-mail : bernardo@sc.usp.br RESUMO Pesquisas recentes sobre a Dupla Filtração - DF para tratamento de águas para consumo humano utilizando a Filtração Direta Ascendente em Pedregulho, como pré-tratamento à Filtração Rápida Descendente, têm mostrado resultados satisfatórios porém, em situações específicas, especialmente com relação à qualidade da água afluente e taxa de filtração empregada. Diante desse fato, pretendeu-se neste trabalho avaliar o desempenho de uma instalação piloto, variando-se a taxa de filtração no filtro ascendente em pedregulho - FAP (60, 120, 180, 240 m 3 / m 2 d) e filtro rápido descendente - FRD (, 120, 180, 240 m 3 / m 2 d), com e sem execução de descargas de fundo intermediárias - DFIs no ascendente. A água bruta foi proveniente de um manancial superficial com ph entre 6,5 a 7,5, valores de turbidez compreendidos entre 8,5 e 21 ut, cor verdadeira entre 19 e 50 uh e alcalinidade entre 6,7 e 10 mg CaCO 3 /L. Após receber sulfato de alumínio, a água coagulada foi submetida à filtração ascendente, com material granular constituído por quatro subcamadas de pedregulho de 30 cm de altura, e granulometria variando de 1,41 a 25,4 mm em ordem decrescente no sentido do escoamento. Em seguida, a água pré-filtrada foi encaminhada ao FRD, com camada de areia de espessura igual a 0,7 m, tamanho dos grãos entre 0,297 a 1,41 mm, tamanho efetivo de 0,42 a 0,45 mm e coeficiente de desuniformidade entre 1,5 a 1,7. Em função do trabalho realizado foi possível: a) avaliar as condições de ocorrência dos fenômenos observados durante as carreiras no FAP, como desprendimento/carreamento contínuo de flocos e formação de fissuras; b) constatar a influência da execução de DFIs na qualidade do efluente produzido, na duração das carreiras de filtração, na recuperação da carga hidráulica disponível para retenção de impurezas no meio granular e na obtenção de índices de produção efetiva de água mais elevados; c) obter resultados satisfatórios com a aplicação da tecnologia de DF com FAP, tendo produzido efluente final com qualidade condizente com o padrão de potabilidade. Palavras-chave: filtração ascendente em pedregulho; dupla filtração; filtração direta ascendente; tratamento de águas de abastecimento. INTRODUCÃO Devido ao aumento da demanda de água e conseqüente poluição dos mananciais superficiais decorrente da urbanização desordenada e crescimento populacional, é de fundamental importância o desenvolvimento e domínio de tecnologias alternativas de tratamento de água para consumo humano ou combinações destas, apropriadas às condições locais sob os aspectos econômico, social, político e ambiental. A análise prévia das condições locais é importante pois, a necessidade 1

de mão-de-obra especializada e proximidade aos fornecedores de produtos químicos, além de elevado custo operacional, etc, podem introduzir dificuldades operacionais e acarretar sérios prejuízos à qualidade da água produzida, especialmente em países em desenvolvimento nos quais os recursos financeiros são limitados, e os problemas decorrentes de uma escolha inadequada de tecnologia são mais dificilmente contornados. Nesse contexto, a Filtração Direta Ascendente em Pedregulho seguida da Filtração Rápida Descendente compõe uma variação do Sistema de Dupla Filtração e tem demonstrado grande potencial como tecnologia alternativa ao tratamento por ciclo completo, principalmente em pequenas e médias comunidades, pois reúne as vantagens inerentes à filtração direta ascendente tais como possibilidade de filtração no sentido decrescente da granulometria, emprego de menor dosagem de coagulante, área e custos para implantação, operação e manutenção reduzidos, e a simplicidade operacional e robustez ou capacidade de tratar águas que apresentam variações bruscas de qualidade, da filtração em pedregulho. Considerando os aspectos citados, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar em instalação piloto, o comportamento da Filtração Direta Ascendente em Pedregulho como pré-tratamento à Filtração Rápida Descendente, variando-se as taxas de filtração e execução de descargas de fundo no filtro ascendente. MATERIAIS E MÉTODOS A Instalação Piloto de Dupla Filtração - IPDF (Figura 1) foi montada nas dependências da ETA2 de São Carlos, que capta água bruta do Ribeirão do Feijão, um dos mananciais que abastece a cidade. A bomba para recalque de água bruta à caixa de nível constante foi instalada no próprio poço de sucção de água bruta da ETA2. A caixa de nível constante foi constituída por uma tubulação de entrada de água bruta, um extravasor adaptado a um tubo excêntrico (redução de 150 para mm), o que contribuiu para que as variações de nível de água fossem mínimas, além da tubulação de saída de água bruta para Unidade de Mistura Rápida e visor para controle de nível. A tubulação de saída de água bruta continha na extremidade afogada, um cap com orifício central de 12,5 mm e corpo roscável, o que permitiu a realização de ajustes da lâmina líquida sobre o orifício de forma a obter as vazões requeridas pelo sistema. Da caixa de nível constante, a água bruta (com vazão ligeiramente maior que a requerida pelo sistema), era encaminhada à unidade de mistura rápida na qual recebia solução de coagulante. A unidade de mistura rápida dispunha de um agitador para garantir a mistura do coagulante com a água bruta, uma placa com orifícios distribuídos na parte superior com o objetivo de diminuir a turbulência na região próxima ao dispositivo de sifonamento, através do qual eram efetuados o controle e ajuste da vazão requerida pelo sistema, variando-se a altura e o diâmetro da mangueira flexível de silicone. Como coagulante químico foi utilizado solução comercial de sulfato de alumínio ferroso com massa específica igual a 1,32 g/cm 3, concentração igual a 42,4 % em massa Al 2 (SO 4 ) 3 14,3 H 2 0 / massa de solução e teor de Al 2 O 3 igual a 7,215 % (em massa), diluído em água filtrada de forma a se obter concentrações adequadas à duração da carreira, precisão desejada para realização de ajustes de dosagens, e vazões correspondentes ao bom desempenho da bomba dosadora. A determinação da dosagem de coagulante e respectivo ph de coagulação foi realizada em função da turbidez do filtrado ( 0,5 ut), por meio de ensaios de coagulação em reatores estáticos e de filtração direta, utilizando-se filtros de laboratório de areia - FLA, com taxa de filtração aproximadamente constante e igual a 80 m 3 /m 2 d. e coletas após 10, 20 e 30 min. de filtração. Em seguida, esses parâmetros eram então testados em FLAs com água coagulada na própria IPDF. Somente após ser constatada a condição desejável de coagulação, a água coagulada era encaminhada ao FAP. O FAP e o FRD foram construídos em acrílico transparente, com diâmetros internos iguais a 141 mm e 92 mm, respectivamente. O FAP possuiu altura total de 1,97 m e foi apoiado sobre outro segmento de tubo de 1,5 m de altura. O FRD possuiu altura total de 3,42 m e dispunha de uma tela metálica com abertura de malha de, aproximadamente, # 0,2 mm apoiada sobre a placa perfurada, o que possibilitou a disposição do material filtrante, constituído unicamente de areia diretamente sobre a mesma, dispensando assim, o uso de camada suporte. Apresentam-se na Tabela 1, as características do material granular utilizado. 2

O sistema de dupla filtração foi provido de derivações nas tubulações de água bruta e de saída dos filtros ascendente e descendente, a fim de conduzir continuamente água aos turbidímetros de escoamento contínuo com vazões previamente ajustadas por pinças reguláveis. A vazão afluente ao filtro descendente era medida por meio de rotâmetros e ajustada através de registros de agulha em desvios previamente instalados nas tubulações. Tanto os filtros ascendentes quanto os descendentes possuíam piezômetros, que permitiam verificar a penetração de impurezas no meio granular para a programação das operações de descargas de fundo intermediárias - DFIs e lavagens. extravasor CNC 3 agitador extravasor de água coagulada CMR sifão dist ribuição de água coagulada 4 Piezômetros FAP Piezômetros FRD 2 Tanque/ bomba dosadorade suspensão de argila extravasor de água bruta φ38 φ50 φ 25,4 FAP água pré - filtrada 6 7 FRD Turbidímetros Tanque/ bomba dosadorade produtos químicos 1 água bruta φ19 extravasor de água coagulada φ50 5 desvio água lavagem de 9 FLA desvio Poço de chegada de água bruta água de DF compressor de ar 8 água filtrada água p/ lavagem Sistema de lavagem FIGURA 1: Esquema da Instalação Piloto de Dupla Filtração TABELA 1: Características do material granular FAP Tamanho dos grãos (mm) Espessura da Subcam. (mm) 19,0 a 25,4 300 9,6 a 15,9 300 3,2 a 6,4 300 1,41 a 2,4 300 FRD Tamanho dos grãos = 0,3 a 1,41 mm Tamanho efetivo = 0,42 a 0,45 mm Coef. de desuniformidade = 1,7 Coef. de esfericidade = 0,75 a 0,8 Espessura da camada = 0,7 m 3

As DFIs (e finais) no FAP foram realizadas com esvaziamento total do filtro, empregando-se taxas entre 800 e 1200 m 3 /m 2.d.. A limpeza do FAP foi efetuada primeiramente com execução de 1 DF final, seguida da introdução simultânea de ar com taxa de aplicação da ordem de 10 L/s.m 2, e água com velocidade ascensional de 0,5 m/min durante 5 min, com posterior aplicação de água somente, com velocidade ascensional de aproximadamente 1,4 m/min por 5 min. A lavagem no FRD foi realizada por meio de insuflação de ar durante 3 minutos, com taxa de aplicação da ordem de 15 L/s.m 2, seguida de água para promover expansão de aproximadamente 30 % na camada de areia (velocidade ascensional de aproximadamente 0,6 m/min) durante cerca de 7 min. ou período necessário para que a turbidez do efluente resultasse inferior a 5 ut O encerramento da carreira dos filtros foi determinado pelo critério de perda de carga limite no meio granular no FAP, de 0,5 a 0,6 m e no FRD igual a 2,1 m, ou por ocorrência de transpasse quando a turbidez do efluente do filtro descendente superasse 1 ut. O encerramento do ensaio, por sua vez, foi condicionado à conclusão de pelo menos uma carreira do filtro FAP e duas do FRD, permitindo a realização de uma avaliação mais adequada. Para avaliação do desempenho do sistema proposto foi programado o monitoramento em ensaios específicos e com freqüência pré-estabelecida dos seguintes parâmetros: vazão, perda de carga, turbidez, temperatura, alcalinidade, potencial zeta, ph, cor aparente e verdadeira, COD, absorvância, coliformes fecais e E. coli.. Os ensaios foram realizados com e sem execução de DFIs para as condições selecionadas de taxas de filtração segundo a Tabela 2. TABELA 2: Programação dos ensaios e respectivas taxas de filtração (m3/m2.d) Ensaio Taxa FAP Taxa FRD Nº. DFI Ensaio Taxa FAP Taxa FRD Nº. DFI I 60 S/ VII 240 120 S/ II 120 120 S/ VIII 240 180 S/ III 120 180 S/ IX 240 240 S/ IV 180 120 S/ X 180 240 C/ 3 V 180 180 S/ XI 240 240 C/ 4 VI 180 240 S/ RESULTADOS OBTIDOS E DISCUSSÃO Durante a realização dos ensaios I a XI, a água bruta apresentou valores de turbidez entre 8,5 e 21,0 ut, cor verdadeira entre 19 e 50 uh, alcalinidade entre 6,7 e 10 mg CaCO3/L, potencial zeta entre - 22,9 e - 10,1 mv e ph entre 6,5 e 7,5. A solução de coagulante foi preparada com concentração igual a 766,4 mg/l de Al e as dosagens de alumínio - DAl variaram entre 0,38 a 0,53 mgal/l e os valores de ph de coagulação resultaram entre 6,2 e 7,1. Em alguns ensaios, a aplicação dos resultados obtidos nos ensaios de laboratório em função da turbidez do filtrado ( 0,5 ut), para água bruta com valores de potecial zeta entre 10,1 e -21 mv, produziram valores negativos de potencial zeta para água coagulada ( 8,2 a 15,5 mv) porém, sem prejuízo à qualidade dos efluentes e com produção de carreiras de duração mais prolongadas. Estes resultados revelam a real necessidade da realização de ensaios de filtração em FLAs ou filtro de papel - FLP, para a determinação dos parâmetros de coagulação. Foi observada a ocorrência de alguns fenômenos de instabilidade no FAP, dependendo do grau de colmatação do meio granular, da taxa de filtração empregada e qualidade da água bruta tais como carreamento contínuo de flocos, desprendimento de flocos, formação de fissuras ao longo da última subcamada granular e ruptura no plano transversal médio entre as duas últimas subcamadas. Em geral, foi observada a ocorrência de desprendimentos de flocos para todas as taxas de filtração empregadas, sendo variável o tempo de operação de início da ocorrência desse fenômeno. No ensaio I em que foi empregada a taxa de 60 m 3 /m 2.d, o primeiro desprendimento de flocos ocorreu após 21,4 h de operação, com valor máximo dos picos de turbidez decorrentes desses desprendimentos da ordem de 2,5 ut. Já no ensaio IV, V e VI, em que foi empregada maior taxa de filtração (180 m 3 /m 2.d), foi constatada a ocorrência de desprendimento de flocos a partir de aproximadamente 19 h, com valor máximo dos picos de turbidez de 7,4 ut. Constatou-se que, quanto 4

maior a taxa de filtração empregada, mais elevados resultaram os picos de turbidez decorrentes do desprendimento de flocos. Nos ensaios realizados sem execução de DFIs, o FAP foi capaz de produzir efluentes com valores de turbidez adequados ao tratamento complementar com a FRD para taxas de filtração inferiores ou iguais a 180 m3/m2.d.. Desconsiderando os períodos iniciais das carreiras de filtração, foram produzidos efluentes com valores de turbidez inferiores a 1,5 ut para a taxa de filtração igual a 60 m3/m2.d.; inferiores a 5,0 ut para a taxa de filtração igual a 120 m3/m2.d. e inferiores a 3,0 ut para a taxa de filtração igual a 180 m3/m2.d.. O menor valor de turbidez para a taxa de filtração de 180 m3/m2.d., pode ser resultado da qualidade de água bruta no período em que foi realizado o ensaio. Para a taxa de filtração de 240 m3/m2.d. no FAP, embora o FRD tenha sido capaz de absorver os picos de turbidez decorrentes da ocorrência desprendimento de flocos no FAP, as carreiras de filtração resultaram curtas e seu desempenho foi considerado insatisfatório. De maneira geral, o sistema de dupla filtração composto por FAP-FRD garantiu a produção de efluente final com qualidade condizente com o padrão de potabilidade, inclusive atendendo ao valor de turbidez (0,5 ut), enfaticamente, recomendado quando o tratamento é realizado por filtração direta. Os valores de cor aparente nos efluentes variaram no FAP entre 3 e 54 uh e no FRD, entre <1 e 7 uh, não sendo expressiva a variação desses valores, com o aumento da taxa de filtração empregada, nem com a execução de DFIs nos ensaios realizados. Assim como constatado no monitoramento contínuo da turbidez dos efluentes produzidos, a ocorrência de carreamento contínuo e ou desprendimento de flocos no FAP provoca de uma maneira geral, a deterioração da qualidade dos efluentes, especialmente do pré-filtrado, tendo os resultados dos exames e análises realizados apresentado grande variabilidade. Os valores de cor verdadeira, absorvância 254 nm e carbono orgânico dissolvido nos efluentes variaram respectivamente, no FAP entre 1 e 14 uh; 0,001 e 0,026 e 0,0476 e 2,137 mgc/l, e no FRD, entre <1 e 7 uh; 0,001 e 0,025 e 0,098 e 2,74 mgc/l. Foram produzidos efluentes com concentrações de coliformes totais e E. coli que variaram respectivamente de <1 a 235,9 NMP/mL e <1 a 24,3 NMP/mL no FAP e de <1 a 41,6 NMP/mL e <1 a 4,1 NMP/mL no FRD, facilmente eliminados pela desinfecção com uso de cloro ou outro desinfetante. O número de DFIs executadas no FAP foram insuficientes, dada a ocorrência de início de carreamento contínuo de flocos antecedendo as DFs. Mesmo assim, comparando-se os resultados obtidos nos ensaios X (com 3 DFIs) e VI (sem execução de DFIs), e os obtidos no ensaio XI (com 4 DFIs) e IX (sem DFIs) foram obtidos efluentes com melhor qualidade, durações de carreiras mais prolongadas e índices de produção efetiva de água mais elevados nos ensaios com a execução de DFIs. As somas das cargas hidráulicas parciais recuperadas com a execução de 3 e 4 DFIs, resultaram em 56,9 cm e 70,4 cm respectivamente, valores que corresponderam em até 1,4 vezes o valor estabelecido para carga hidráulica disponível limite (50 cm) para essas taxas de filtração. O índice de produção efetiva de água de um sistema representa a eficiência da produção de água filtrada, considerando essencialmente o aspecto quantitativo, num determinado período de funcionamento sendo portanto, calculado pela razão entre o volume de água filtrada efetivamente produzido, e o obtido através da multiplicação da taxa de filtração pelo tempo de operação. Este índice foi calculado considerando aspectos operacionais condizentes com o que acontece nas ETAs em escala real, uma vez que a realização de investigações é fundamentada na aplicabilidade dos resultados adquiridos. Assim, foram assumidas as seguintes hipóteses: i) o sistema era constituído por unidades de DF funcionando em paralelo e portanto, por ocasião da execução de DFI (ou final) ou lavagem de um filtro, a vazão correspondente à unidade que foi retirada de operação, era igualmente distribuída às demais unidades mantendo desta forma, aproximadamente constante a produção de água durante este período; ii) o número de lavagens executadas em um filtro durante um determinado período, era calculado dividindo-se o período considerado pela duração de uma carreira do filtro, desde que a qualidade da água bruta não apresentasse significativas variações. Apresentam-se na Tabela 3, os parâmetros utilizados na lavagem e os resultados dos cálculos efetuados para obtenção dos valores do índice de produção efetiva de água, de onde pode-se verificar a influência da execução das DFIs com 5

valores superiores aos obtidos nos ensaios sem a execução de DFIs, devido à produção de carreiras de durações mais longas. TABELA 3: Índices de produção efetiva de água Dados operacionais Taxa de aplicação Duração/operação Consumo/operação (m 3 /m 2.d) (min) (m 3 /m 2 ) Lavagem com ar e água no FAP 720 5 2,5 Lavagem com água no FAP 2057 5 7,1 Lavagem com água no FRD 864 7 4,2 Ensaio I II III IV V VI VII VIII IX X XI Taxa de filtração FAP (m 3 /m 2.d) 60 120 120 180 180 180 240 240 240 180 240 Taxa de filtração FRD (m 3 /m 2.d) 120 180 120 180 240 120 180 240 240 240 Duração da carreira de filtração considerada (h) 81,8 50,0 38,0 48,7 63,7 51,3 11,3 22 17,5 71,4 43 Número de lavagens do FAP 1,00 1,23 1,00 0,76 1,00 0,81 0,51 1,00 0,80 1,27 0,86 Número de lavagens do FRD 1,76 1,00 1,21 2,00 2,00 2,00 1,00 1,32 1,30 2,00 1,05 Prod. total de água filtrada (m 3 /m 2.d) 204,5 250,0 190,0 365,3 477,8 384,8 112,5 220,0 175,0 535,5 430,0 Prod. efetiva de água filtrada (m 3 /m 2.d) 187,5 233,9 175,3 349,5 459,7 368,6 103,4 204,8 161,9 514,9 417,3 Índice de produção efetiva de água (%) 91,7 93,6 92,3 95,7 96,2* 95,8* 91,9 93,1 92,5 96,2 97,0 * : Valores superestimados devido ao não encerramento da carreira de filtração mesmo após ter atingido a perda de carga máxima prevista No ensaio XI, ocorreram problemas com a bomba dosadora a partir das 33 h de operação, chegando a comprometer a produção de água com qualidade satisfatória, o que resultou no encerramento da carreira por transpasse do FRD Vale ressaltar que nesta ocasião, foi realizado o teste em FLA com água coagulada na própria IPDF, não tendo atendido ao critério estabelecido para controle da coagulação. Apresentam-se nas Figuras 2 a 5 os gráficos da variação dos valores de turbidez e perda de carga no meio granular em função do tempo de operação para os ensaios com e sem execução de DFIs: VI e X, IX e XI.,00 Água Bruta FAP / Tf=180m/d FRD / Tf=240m/d Lavagem,00 Água bruta Eflu.FAP / Tf=180m/d Eflu. FRD / Tf=240 m/d Lavagem Descarga de Fundo FAP 10,00 1,00 0,10 10,00 1,00 0,10 2,141 DFI1 DFI2 2,602 DFI3 2,946 0,072 0,058 0,058 1 0,074 1 3,7 0,183 1,8 DFI1 LA V 2 0,054 0,01 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 0,01 0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54 57 60 63 66 69 72 250 200 LA V 250 200 LA V 1 LA V 2 150 150 50 50 DFI1 DFI2 DFI3 DFI1' 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 Tempo de operação (h) Figura 2 - Variação da turbidez e perda de carga em função do tempo de operação. Ensaio VI (s/ DFIs) / Taxas:FAP=180 e FRD=240 m 3 /m 2.d./ DAl=0,38 mgal/l 0 0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54 57 60 63 66 69 72 Tempo de operação (h) Figura 3 - Variação da turbidez e perda de carga em função do tempo de operação. Ensaio X (c/ 3 DFIs) / Taxas:FAP=180 e FRD=240 m 3 /m 2.d. / DAl=0,38 mgal/l 6

Água Bruta Eflu.FAP / Tf=240m/d Eflu.FRD / Tf=240m/d Lavagem Água bruta Eflu.FAP / Tf=240m/d Eflu. FRD / Tf=240 m/d Lavagem Descarga de Fundo FAP 10 1 9,52 8,1 10 1 DFI1 1,586 DFI3 DFI2 3,18 3,146 DFI4 7,692 0,1 0,01 0,21 0,13 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 0,1 0,01 0,053 0,052 0,056 Problemas na coagulação química 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 0,201 250 200 250 200 150 150 50 50 FRD FAP DFI1 DFI2 DFI3 DFI4 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Tempo de operação (h) Figura 4 - Variação da turbidez e perda de carga em função do tempo de operação. Ensaio IX (s/ DFIs) / Taxas:FAP=240 e FRD=240 m 3 /m 2.d. / DAl=0,53 mgal/l 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 Tempo de operação (h) Figura 5 - Variação da turbidez e perda de carga em função do tempo de operação. Ensaio XI (c/ 4 DFIs) / Taxas:FAP=240 e FRD=240 m 3 /m 2.d. / DAl=0,38 mgal/l CONCLUSÕES Em função dos resultados obtidos, concluiu-se que: A determinação das condições de coagulação em função da qualidade do filtrado em FLP e ou FLA resultaram, para alguns ensaios, em água coagulada com valores negativos de potencial zeta, produzindo porém, ótimos resultados com relação à qualidade dos efluentes filtrados e duração da carreira de filtração, sugerindo desta forma, que a escolha dos parâmetros de coagulação baseada somente no critério da medida do potencial zeta da água coagulada próxima de zero apresenta restrições, sendo fundamental a realização de ensaios de filtração direta em FLP ou FLA, adequados às características da água bruta em questão. A adaptação do dispositivo para a realização de testes em FLAs, no extravasor de água coagulada, apresenta a vantagem de utilizar água coagulada com as condições reais de mistura rápida empregadas, e devido à simplicidade e facilidade de operação, este dispositivo pode, na ausência de instalação piloto de escoamento contínuo, ser empregado em ETAs para a determinação e controle das condições de coagulação química. Baseado na grande variabilidade dos resultados dos exames e análises realizados, foi constatado que o desempenho do sistema FAP FRD, com relação à qualidade dos efluentes produzidos e durações das carreiras de filtração obtidas, é fortemente influenciado pelos efeitos dos fenômenos observados no filtro FAP, uma vez que a ocorrência de carreamento contínuo e ou desprendimento de flocos no FAP foi acompanhada de crescente deterioração da qualidade dos efluentes produzidos; 7

Em geral, foi observada a ocorrência de desprendimentos de flocos para todas as taxas de filtração empregadas, sendo variável o tempo de operação de início da ocorrência deste fenômeno, em função da taxa de filtração empregada, do grau de colmatação do FAP, da dosagem de coagulante empregada e qualidade da água bruta; O método de DFI empregado (com esvaziamento total do filtro), apresentou recuperação de carga hidráulica e qualidade dos efluentes logo após a DFI, superiores ao método com esvaziamento até o topo do meio granular; Nos ensaios X e XI, realizados com execução de 3 e 4 DFIs e taxas de filtração de 180 m3/m2.d. e 240 m3/m2.d. respectivamente, os números de DFIs executadas no FAP mostraram-se insuficientes devido à ocorrência de carreamento contínuo de flocos antecedendo a execução de cada DFI porém, mesmo com o número de DFIs menor que o requerido, foi constatado que: a qualidade do efluente produzido resultou significativamente superior; a ocorrência de desprendimentos de flocos e os valores dos picos de turbidez decorrentes desses desprendimentos foram significativamente reduzidos; as durações das carreiras do FAP resultaram mais longas, apresentando somas das cargas hidráulicas parciais recuperadas com a execução de 3 e 4 DFIs, iguais a 56,9 cm e 70,4 cm, respectivamente, valores que correspondem em até 1,4 vezes, a carga hidráulica disponível (50 cm) estabelecida para o FAP; as durações das carreiras do FRD resultaram mais longas, devido à qualidade dos efluentes pré-filtrados; os índices de produção efetiva de água resultaram superiores aos obtidos nos ensaios sem a execução de DFIs, devido principalmente, à produção de carreiras de durações mais longas; Nos ensaios sem execução de DFIs, o FAP foi capaz de produzir efluentes com valores de turbidez adequados ao tratamento complementar com a FRD, para taxas de filtração iguais ou inferiores a 180 m3/m2.d., tendo resultado em carreiras de durações entre 38 e 83 h. A eficiência global do sistema de DF com FAP foi satisfatória, tendo o FRD sido capaz de absorver as variações de qualidade da água pré-filtrada devido às execuções das DFIs, lavagens e ocorrências de desprendimentos de flocos, com produção de efluente final com valores de turbidez durante a maior parte do tempo inferiores a 0,1 ut e de cor verdadeira inferiores a 1 uh, independentemente da qualidade da água bruta e da taxa empregada; garantindo a produção de água com qualidade condizente com o padrão de potabilidade, após a desinfecção. Com a realização deste trabalho, verificou-se a necessidade de estudos adicionais com relação: à granulometria do pedregulho a ser utilizada no FAP, especialmente da última subcamada; ao método de limpeza e lavagem do FAP e à freqüência da execução de DFIs; às condições diferenciadas de qualidade da água bruta, tais como cor e turbidez, presença de algas e outros compostos. Agradecimentos: Os autores desejam expressar seus agradecimentos à FINEP pelo auxílio financeiro que possibilitou a construção da instalação piloto (PROSAB 3 TEMA 1), à FAPESP pela concessão da bolsa de Mestrado ao primeiro autor e ao SAAE de São Carlos por permitir a montagem da instalação piloto nas dependências da ETA2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Di Bernardo, L.; Isaac R. L. (2001) Upflow Direct Filtration A Review. International Conference on Advances in Rapid Granular Filtration in Water and Wastewater Treatment. Imperial College, London, UK, 4-6 April. Gusmão, P. T. R. (2001) Utilização de Filtração direta ascendente como pré-tratamento para tratamento de água de abastecimento. São Carlos. 335 p. Tese de doutorado Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. Megda, C. R (1999) Filtração direta ascendente em pedregulho como pré-tratamento à filtração rápida descendente. São Carlos. 170 p. Dissertação (mestrado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. Kuroda, E. K. (2002) Avaliação da Filtração Direta Ascendente em Pedregulho como Pré-tratamento em Sistemas de Dupla Filtração São Carlos. 217 p. Dissertação (mestrado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 8