Nº 16.170/CS HABEAS CORPUS Nº 111.300 RS IMPETRANTE: DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO IMPETRADO: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PACIENTE: VALMOR DANIELLI RELATOR: MINISTRO AYRES BRITTO HABEAS CORPUS. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306 DO CTB). TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL POR FALTA DE JUSTA CAUSA. EXCEPCIONALIDADE DA MEDIDA NA VIA ELEITA. ATIPICIDADE DA CONDUTA NÃO CONFIGURADA DE PLANO. INEXIGIBILIDADE DO EXAME DE SANGUE COMO ÚNICO MEIO DE COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE DELITIVA. PREVISÃO LEGAL DE OUTROS ELEMENTOS DE PROVA. REALIZAÇÃO, NO CASO, DO TESTE COM ETILÔMETRO ( BAFÔMETRO ) E AFERIÇÃO DE DOSAGEM DE ÁLCOOL SUPERIOR AO PERMITIDO. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PARECER PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de Valmor Danielli contra o v. acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça no HC n.º 172.206/RS, assim ementado: HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. EXAME DE ALCOOLEMIA REALIZADO. TESTE EM APARELHO DE AR ALVEOLAR PULMONAR (ETILÔMETRO). AFERIÇÃO DE DOSAGEM SUPERIOR AO MÍNIMO LEGAL. MATERIALIDADE CONFIGURADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INEXISTÊNCIA. 1. Com a edição da Lei nº 11.705/08, para configuração do crime descrito no art. 306 da Lei nº 9.503, faz-se necessária a comprovação da concentração de álcool no organismo do condutor, seja através de do exame de sangue ou do teste no
MPF/PGR Nº 16.170/CS 2 etilômetro (também conhecido como bafômetro), o que antes não era exigido. 2. Para que seja verificada a materialidade do crime, importante a demonstração da quantidade de álcool por litro de sangue ou por litro de ar expelido dos pulmões - critério objetivo que passou a integrar o tipo penal. 3. O art. 2º do Decreto nº 6.488/08 descreve em seus incisos as seguintes concentrações mínimas de álcool para ocorrência de crime: seis decigramas de álcool por litro de sangue (exame de sangue) ou igual ou três décimos de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões (teste em aparelho de ar alveolar pulmonar - etilômetro). 4. No presente caso, o paciente se submeteu a teste no etilômetro, que detectou a presença de 0,80 mg/l (oito décimos de miligrama) de álcool por litro de ar expelido pelos pulmões, ou seja, quantidade superior à permitida (art. 2º, II, segunda parte, do Decreto nº 6.488/08). 5. Assim, a materialidade do fato descrito no art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro ficou devidamente demonstrada pela prova técnica constante dos autos. 6. Ordem denegada. 2. Reitera o impetrante, nestes autos, o pedido de trancamento da ação penal por falta de justa causa, por ausência da comprovação nítida da materialidade do delito imputado ao Assistido. Argumenta, para tanto, que a precisão do legislador na redação de tal tipo penal, demarcando, em decigramas, o volume de álcool no sangue, exigido para a tipificação do delito, tem por consequência restringir ao exame de sangue os meios de prova admissíveis à comprovação de tal elementar. 3. O parecer é pela denegação da ordem. 4. O paciente foi denunciado pelo crime de embriaguez ao volante, praticado em 10 de janeiro de 2009 e previsto pelo art. 306 da Lei nº 9.503/1997. Eis a descrição do tipo penal, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 11.705/2008: Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando
MPF/PGR Nº 16.170/CS 3 com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo (grifo nosso). 5. O Juízo de primeiro grau rejeitou a denúncia, por ausência de prova quanto à materialidade do delito, sobrevindo a reforma da sentença em sede de apelação do Parquet, sob o fundamento de que a materialidade delitiva está devidamente comprovada pelo teste do etilômetro ( bafômetro ), em consonância com as disposições do art. 306, parágrafo único, do CTB e com do art. 2º do Decreto Presidencial n.º 6.488/08. Tal entendimento, como visto, foi mantido no âmbito do Superior Tribunal de Justiça e não merece reparos. 6. De fato, o art. 306 do CTB estabelece como crime o ato de conduzir veículo automotor em via pública, com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas. Contudo, é igualmente expresso em conferir ao Poder Executivo federal a competência para estipular a equivalência entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do delito. Tal equivalência foi normatizada pelo Decreto n.º 6.488/08, que, em consonância com o art. 277 do CTB, 1 assim dispõe em seu art. 2º: Art. 2º Para os fins criminais de que trata o art. 306 da Lei nº 1 Art. 277. Todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de dirigir sob a influência de álcool será submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que, por meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados pelo CONTRAN, permitam certificar seu estado (Código de Trânsito Brasileiro).
MPF/PGR Nº 16.170/CS 4 9.503, de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro, a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia é a seguinte: I - exame de sangue: concentração igual ou superior a seis decigramas de álcool por litro de sangue; ou II - teste em aparelho de ar alveolar pulmonar (etilômetro): concentração de álcool igual ou superior a três décimos de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões. 7. Assim, contrariamente ao alegado pela defesa, a conduta atribuída ao paciente é típica, não havendo respaldo legal para a tese de que o exame de sangue é único meio de prova do crime em questão. Em caso análogo ao dos autos, não foi outro o entendimento firmado por esse Pretório Excelso, no julgamento do HC n.º 107.768/RS: No caso, submetido o paciente a teste de teor alcoólico pelo etilômetro, este acusou a presença de 1,22 miligramas de álcool por litro de ar expelido pelos pulmões, enquanto o máximo permitido é de 0,30 mg/l, confirmando-se, portanto, a embriaguez. Desse modo, irrepreensível o acórdão atacado, que assim consignou: (...) no caso, a materialidade do crime se encontra demonstrada, tendo em vista que o art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro não exige expressamente o exame toxicológico de sangue. O fato de como salientou o acórdão local o Decreto nº 6.488/08 estabelecer a equivalência entre os diferentes testes de alcoolemia, bem assim que o teste de etilômetro acusou o índice de 1,22 miligramas de álcool por litro de ar expelido (HC 107768, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 31/05/2011, DJe-113 DIVULG 13-06- 2011 PUBLIC 14-06-2011). 8. Incabível, portanto, o trancamento da ação penal, medida admitida na via estreita do habeas corpus apenas nas hipóteses de manifesta atipicidade da conduta, incidência de causa extintiva da punibilidade, ou ausência de indícios mínimos de autoria ou materialidade do delito, não configuradas no caso. 9. Ante o exposto, o Ministério Público Federal opina pela denegação da
MPF/PGR Nº 16.170/CS 5 ordem. Brasília, 16 de março de 2012. CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES Subprocuradora-Geral da República