Anatomia Topográfica I Conteúdo teórico



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Transcrição:

Universidade Paulista UNIP Medicina Veterinária Anatomia Topográfica I Conteúdo teórico Professores responsáveis: Ana Grabner Marcelo Castro

Universidade Paulista UNIP Medicina Veterinária Disciplina de Anatomia Topográfica São José dos Campos, segundo semestre de 2012 Aulas proferidas pelo Prof. Msc. Marcelo Fernandes de Souza Castro no primeiro semestre de 2011, nesta Universidade Transcrição: Profª. Ana Paula Grabner *** Fatores que interferem com o estudo da Anatomia Topográfica Neste tópico, são estudadas as condições que modificam o estudo de uma determinada região, quando comparamos um animal em relação ao outro. São as principais: - Espécie: muitas vezes a anatomia varia grandemente entre as diversas espécies de animais domésticos. Por exemplo, o acesso ao rim esquerdo: na grande maioria dos animais, este órgão se localiza no antímero esquerdo; grandes ruminantes, porém, o têm deslocado para o plano mediano (por vezes até antímero direito) devido ao imenso volume do rumem ocupando todo o antímero esquerdo do animal, e deslocando o restante em direção ao antímero direito. - Raça: diferença entre profundidade torácica, quando comparamos um bulldog a um whippet (galgo). Outro exemplo pode ser constatado nos cavalos de raça árabe, que têm uma vértebra lombar a menos que os demais cavalos. - Individualidade: cada animal é próprio e particular, podendo apresentar variações que não interferem em sua fisiologia normal. Vale lembrar que poucos animais apresentam grande variação de musculatura quando comparados a outro animal de mesma espécie; variações nervosas também são raras, mas variações de vascularização, especialmente veias, são extremamente comuns.

- Sexo: além da genitália, onde a diferença é óbvia, outros órgãos podem sofrer alteração hormônio-dependente (por exemplo, a hipófise de fêmeas gestantes, que é aumentada em relação à das fêmeas não prenhes, devido à produção da prolactina durante o período da gestação). Outro exemplo pode ser constatado observando-se ossos de machos e fêmeas não castrados e submetidos a manejo semelhante: os ossos dos machos serão sempre mais desenvolvidos. - Idade: há redução da mobilidade em animais mais velhos (calcificação de cartilagens...), filhotes tendem a ter o crânio mais arredondado (uma vez que filhotes não têm os seios paranasais formados), ossos de animais jovens possuem cartilagem interposta entre a diáfise e as epífises, que podem parecer fraturas em radiografias, por aparecerem no exame como linhas radiotransparentes. - Manejo (nutricional, de exercício...): certas vísceras são extremamente mais desenvolvidas em animais atletas (coração, traquéia...). - Processos patológicos: além da alteração local causada pela doença, há diversas alterações sistêmicas (e anatômicas) que são decorrentes da causa primária. Por exemplo, uma luxação de patela mal tratada que leva o animal, com o passar dos anos, a forçar o apoio do corpo em direção aos membros torácicos, levando também a alterações de coluna decorrentes, compondo um grande quadro de alterações anatômicas sistêmicas. ***

Relações entre os componentes do corpo dos animais: Relações gerais: comparam um órgão ou componente com outro órgão, ou mesmo com qualquer outra parte do corpo. São: Holotopia (holo = todo): é a relação que cada componente anatômico possui com o corpo do animal, quando observado como um todo. Ex: o coração se localiza no plano mediano, ligeiramente deslocado para a esquerda do tórax do animal, na região do mediastino. Sintopia: é a relação de cada componente anatômico com seu vizinho imediato (tem que haver contato entre eles). Descartamos, neste conceito, a presença de tecido conjuntivo entre as estruturas, exceto no amplo tecido conjuntivo subcutâneo que é capaz de estabelecer uma entidade anatômica própria. Exemplo de sintopia: a veia cefálica tem sintopia com a musculatura extensora localizada na região do antebraço e com a pele. Esqueletopia: é a relação de um determinado componente anatômico com as partes ósseas do esqueleto. Este conceito nos permite saber a exata localização do coração quando contamos as costelas (entre a terceira à sétima costela), sendo de fundamental importância para acesso cirúrgico ou mesmo correta auscultação. Relações específicas: comparam partes de um mesmo órgão ou componente. São: Histotopia: é a relação entre os tecidos formadores de um determinado órgão. Por exemplo, a seqüência de tecidos que constituem o jejuno de um cão, de dentro para fora: mucosa (tecido epitelial), submucosa (tecido conjuntivo + glândulas + vasos sanguíneos), muscular (tecido muscular) e, por fim, serosa (tecido conjuntivo + mesotélio). Idiotopia: é a relação existente entre as partes (geralmente microscópicas) de um determinado órgão, independentemente dos tecidos que constituem as tais partes. Ex: rins possuem, como unidade funcional, o néfron; dentro deste conceito, podemos estabelecer a relação de que a alça de Henle se localiza na região anatômica conhecida como medula renal. ***

Variação, Anomalia e Monstruosidade Variação Anatômica: É uma variação morfológica em um determinado componente anatômico, que acomete no máximo 30% da população. Variações anatômicas não levam a alterações deletérias para a vida do animal e não interferem com o manejo. Qualquer componente anatômico pode apresentar variação (ossos, músculos, nervos...), e se enquadrará neste conceito desde que não cause prejuízo à vida do animal. Anomalia: É uma variação anatômica que interfere com o funcionamento do organismo, seja dele como um todo, ou de apenas uma parte específica. Este prejuízo à vida, contudo, não leva o animal à morte (é compatível com a vida). Um exemplo é a estenose de traquéia que pode ser observada em animais braquicefálicos, interferindo negativamente no processo da respiração. A persistência do ducto arterioso ao nascimento, o pseudo hermafroditismo, a persistência da cloaca ao nascimento (comunicação entre os tratos urinário e digestório, de forma que urina e fezes saiam por um orifício único), são outros exemplos de anomalias. Monstruosidade: É uma alteração anatômica que interfere de modo irreversível no funcionamento do organismo, sendo, portanto, incompatível com a vida. Um exemplo clássico de monstruosidade é a anencefalia (ausência do encéfalo ao nascimento). Muitos dos animais portadores de monstruosidades já nascem mortos; quando não, vão a óbito no decorrer das primeiras 48 de vida. ***

Posição Anatômica O conceito de posição anatômica nos permite nomear de forma padronizada o corpo de um animal, comparando os componentes que o compõem. Todo animal em posição anatômica tem os quatro membros tocando o solo, alinhados e paralelos entre si, e a cabeça erguida (pescoço em média de 45 a 60 em relação ao solo), mirando o horizonte. Planos de Delimitação A partir do conceito de posição anatômica, conseguimos determinar os planos de delimitação do corpo deste animal. Se compararmos o corpo do animal a um aquário (onde o vidro da frente corresponde à cabeça do animal, o vidro de trás corresponde à cauda, os vidros laterais equivalem às laterais do corpo do animal, a tampa corresponde à região da coluna e o fundo equivale à região do ventre do animal), conseguiremos delimitar seis planos, respectivamente: cranial (vidro da frente), caudal (vidro de trás), planos laterais direito e esquerdo (vidros laterais), plano dorsal (tampa do aquário) e plano ventral (fundo).

Eixos de Construção São barras imaginárias que atravessam o centro do corpo do animal. Estas barras têm início e fim em planos de delimitação opostos; portanto, usando tais planos aos pares, conseguimos traçar três eixos de construção. Para traçar tais eixos, é necessário, primeiramente, localizar os pontos centrais dos planos opostos que serão utilizados para a construção do eixo. Como exemplo, utilizaremos os planos cranial e caudal. Traçamos as diagonais de cada um desses planos e localizamos o ponto de intersecção. Unimos então, com uma reta, o ponto de intersecção do plano cranial com o ponto de intersecção do plano caudal. A linha resultante é o eixo crânio-caudal. De forma semelhante, utilizamos os planos de delimitação lateral direito e lateral esquerdo para a construção do eixo latero-lateral. Os planos dorsal e ventral são utilizados na construção do eixo dorso-ventral. Eixo crânio-caudal Eixo latero-lateral Eixo dorso-ventral Planos de Construção Foram idealizados pelos embriologistas, que observaram que a formação (construção) do corpo dos animais se dava seguindo sempre uma mesma lógica, que é representada pelos planos de construção. Tais planos são obtidos com o deslizamento de dois dos eixos de construção, um sobre o outro. Considerando que temos três eixos de construção, quando os combinamos aos pares conseguimos obter três planos de construção: O deslizamento do eixo crânio-caudal sobre o eixo dorso-ventral constitui o plano mediano, que divide o corpo do animal em duas metades aparentemente iguais (os antímeros). Planos paralelos ao plano mediano são ditos planos sagitais.

O deslizamento do eixo latero-lateral sobre o eixo dorso-ventral constitui o plano transversal, que divide o corpo do animal em duas partes completamente distintas (uma representada pelo tórax, membros torácicos, pescoço e cabeça, e a outra representada pelo abdome, membros pélvicos e cauda). Planos traçados paralelamente ao plano mediano, em sequência (como as fatias de um pão pullman), constituem os metâmeros. Se observarmos o corpo dos animais, conseguimos perceber a metameria presente durante sua constituição: costela após costela, vértebra após vértebra... O deslizamento do eixo latero-lateral sobre o eixo crânio-caudal constitui o plano dorsal ou plano horizontal (o termo dorsal é o termo adotado pela Nomina Anatômica Veterinária, mas pode causar confusão com o plano de delimitação dorsal; assim, preferimos adotar o termo plano horizontal ). Este plano divide o corpo do animal em dois segmentos completamente distintos, (dorso + cabeça e ventre + membros), e nos remete ao conceito de sobreposição de camadas, que é a maneira básica pela qual são constituídas todas as vísceras tubulares. Estas camadas, ou planos paralelos traçados em relação ao plano horizontal, são chamadas paquímeros. Plano mediano Plano transversal Plano horizontal Tendo em mente estes conceitos oriundos dos planos de construção, podemos estudar com muito mais detalhes a antimeria, metameria e paquimeria. Mas este é assunto para a próxima aula! ***

Plano mediano antimeria simetria bilateral Quando traçamos o plano mediano de construção do corpo dos vertebrados, percebemos que o corpo é constituído por dois antímeros (o direito e o esquerdo), aparentemente iguais. O princípio estabelecido pela antimeria é o princípio de simetria bilateral. A aparente simetria externa (de massa) tenta equilibrar a desigualdade de simetria interna (de construção). Por este motivo, aparentemente, os animais apresentam uma simetria externa. Fique claro que esta simetria é apenas aparente, encobrindo as assimetrias existentes. Existem assimetrias normais, bem como patológicas (formadas por crescimento desigual e deslocamentos de componentes anatômicos). As assimetrias normais, estudadas na Anatomia Topográfica, podem ser decorrentes de tamanho, forma, posição, associações (dos tipos de assimetrias anteriormente citados) e função. Os rins eqüinos, por exemplo, possuem assimetrias de tamanho (esquerdo maior), forma (direito em forma de coração, esquerdo mais alongado) e posição (direito mais cranial). Dizemos, portanto, que este órgão possui uma assimetria de associação. Para os demais mamíferos domésticos, exceto os suínos, os rins possuem apenas assimetria considerável de posição (rim direito mais cranial). Outro exemplo clássico de assimetria (tamanho, forma e posição) é visto nos pulmões. O pulmão direito é tão grande, que seu lobo acessório desloca-se em direção ao mediastino, abandonando o antímero direito do tórax, localizando-se caudalmente ao coração. Assimetrias de função são decorrentes da maior utilização de uma parte do organismo em relação a outra. Por exemplo, o braço com que um tenista utiliza a raquete acaba se desenvolvendo mais que o contralateral. Outro exemplo é observado no coração, cujo lado esquerdo desenvolve-se muito mais (aproximadamente três vezes) que o direito, devido à necessidade deste lado bombear sangue para o corpo todo, enquanto o coração direito bombeia apenas para os pulmões. Assimetrias anormais podem ser decorrentes de forma e posição, neste último caso sendo chamadas de distopias. São foco de estudo da disciplina de Patologia.

Como exemplo de assimetria de forma, consideremos uma estenose de tronco pulmonar. Assimetrias de posição podem ser exemplificadas pela dextroposição da aorta observada na tetralogia de Falot. O grau máximo de assimetria de posição é observado no caso denominado situs inversus viscerum, onde todas as vísceras encontram-se localizadas no antímero oposto ao esperado. Plano transversal metameria segmentação Quando traçamos o plano transversal de construção do corpo dos vertebrados, percebemos que o corpo é constituído por duas partes completamente distintas, representadas 1) pela cabeça, membros torácicos e tórax e 2) pelo abdome, membros pélvicos e cauda. Ao traçarmos planos paralelos a este plano transversal, estabelecemos os chamado metâmeros. O princípio estabelecido pela metameria é o princípio de segmentação. Quando observamos um esqueleto adulto, vemos as costelas representando adequadamente o conceito de segmentação. As vértebras, que podem causar esta falsa impressão, são decorrentes, cada uma, da união de dois somitos, não representando, portanto, o conceito de segmentação originário da construção do corpo dos vertebrados. Não podem ser ditas, portanto, segmentares. Estes somitos são responsáveis pela construção do corpo em faixas (ósseas, musculares e de pele), cada uma delas inervada por um único nervo, independente. Este estudo é o responsável pelo reflexo de dor que observamos ao estimular uma área cutânea que corresponda a uma área muscular acometida por processo patológico, quando ambas têm a inervação originária em uma mesma raiz. Quando fazemos este estudo na coluna, observamos áreas onde a metameria é oculta (plexos braquial e lombossacro, onde as raízes se misturam antes de se distribuir finalmente à região que inervam), e outras onde é mais evidente (demais áreas excetuando-se os plexos). Um fator complicante no estudo da metameria é o menor desenvolvimento da medula espinal em relação à coluna que a contém. Na maioria dos animais (e no homem), o menor tamanho da medula faz com que os nervos mais caudais sigam um trajeto inclinado em direção caudoventral, originando a cauda eqüina. Os eqüinos, que têm a medula mais longa, terminando em região sacral, não sofrem tanto este efeito.

Outro exemplo de complicação decorrente deste conceito de segmentação pode ser observado no trajeto do nervo frênico, que inerva o diafragma: no feto em formação, curvado, o diafragma está em proximidade com a região cervical, onde se origina o nervo frênico; com o desenvolvimento do animal, observa-se, no adulto, o nervo frênico iniciando-se no pescoço, cruzando todo o tórax para, por fim, chegar ao diafragma. Situação semelhante ocorre com o nervo laríngeo caudal, que se origina no pescoço, segue até o coração e se curva novamente em direção cranial, para inervar grande parte dos músculos da laringe. Os segmentos observados na pele, decorrentes desse estudo da metameria, são chamados de dermátomos (ou dermatômeros). A segmentação para os músculos gera os miótomos (ou miômeros). A segmentação dos ossos gera os esclerótomos, e, dos nervos, os neurótomos. Campo radicular motor: é a área de músculos que uma única raiz ventral (motora) da medula comanda. No tronco este estudo é mais facilmente visualizado que nos membros, onde a inervação advém dos plexos, gerando a metameria oculta. Por exemplo, cada músculo intercostal é inervado pela raiz motora correspondente. Músculos mais amplos, como por exemplo o oblíquo externo do abdome, são inervados em faixas transversais, cada uma inervada por uma raiz motora diferente. Há uma sobreposição, porém, de faixas contíguas na região limítrofe. O estudo da metameria explica também o mecanismo de dor referida, onde a estimulação de determinada região cutânea reflete a sensibilidade de uma víscera específica. Por exemplo, quando a estimulação da cernelha gera resposta dolorosa exacerbada, está refletindo alterações patológicas dolorosas em retículo (compartimento do estômago). Os neurônios que seguem este padrão metamérico são os neurônios motores inferiores, estando estes associados aos processos cujo aspecto clínico é de paralisia flácida. Paralisia espástica está associada a lesão de neurônio motor superior, que não se distribui em padrão metamérico.

Plano horizontal paquimeria estratificação Quando traçamos o plano horizontal de construção do corpo dos vertebrados, percebemos que o corpo é constituído por duas partes completamente distintas, os paquímeros. O paquímero ventral fica representado, então, pela parte ventral do tronco e pelos membros (englobando as vísceras do animal, o tubo esplâncnico), enquanto o paquímero dorsal engloba a metade dorsal do tronco (e o sistema nervoso central, representado pelo tubo neural). O estudo da paquimeria leva a dois princípios da construção do corpo dos vertebrados: tubulação e estratificação. O princípio de tubulação demonstra que o organismo é composto de uma série de tubos, podendo estes tubos serem exemplificados pelas artérias, veias, traquéia, esôfago e assim por diante. É importante definir, sempre, os dois tubos principais: esplâncnico (que é fino em região de cabeça, e espesso na região do tronco devido à dilatação para formação dos pulmões, estômago, intestinos...) e neural (espesso na região da cabeça e fino em região de coluna lembrando que a medula é menos espessa que o encéfalo). O princípio da estratificação evidencia que o corpo é construído em camadas (estratos), que podem ser definidos tanto na composição de um único órgão, quanto ao observarmos o corpo do animal como um todo. Estes estratos existem desde a vida embrionária do animal (endoderma, mesoderma e ectoderma), e dão origem aos estratos observados no animal adulto. A estratificação das vísceras pode ser representada pelas camadas constituintes, especialmente, das vísceras ocas. Tomando uma víscera típica como exemplo, a camada mais interna é, na maioria dos casos, a mucosa, constituída por tecido epitelial (não sangra e não dói!) e oriunda do endoderma; a segunda camada nesta seqüência é a submucosa (ricamente vascularizada e inervada, dói muito quando estirada!), formada por tecido conjuntivo e presente na maioria das vísceras ocas, sendo derivada do mesoderma, juntamente com a próxima camada, a muscular; a terceira camada, portanto, é a camada muscular, podendo ser distribuída em diversos estratos de fibras musculares orientadas em diferentes sentidos; a última camada, externamente, é então representada por uma serosa (para todas as vísceras localizadas dentro das cavidades torácica e abdominal) ou adventícia (nas vísceras cervicais ou pélvicas). Vale lembrar que os testículos dos machos, originalmente localizados dentro da cavidade abdominal,

ao descerem para os testículos arrastam consigo o peritônio, que passa a ser chamado de túnica vaginal. Toda serosa (pleura, peritônio, pericárdio) possui duas lâminas (ou folhetos): uma visceral (aderida à parede das vísceras) e uma parietal (aderida na parede das cavidades). Estas serosas são, contudo, contínuas, sendo que o crescimento das vísceras durante a vida embrionária faz com que estas últimas se invaginem para dentro da serosa, originando assim os dois estratos descritos. O pequeno espaço existente entre estas lâminas é chamado de espaço pleural, peritoneal, pericárdico (dependendo da localização), e possui em seu interior pequena quantidade de líquido, que evita aderências indesejadas entre as lâminas serosas. Uma víscera parenquimatosa tem seus estratos representados pelo parênquima (tecido funcional, a massa celular que desempenha a função do órgão) e pelo estroma (tecido de sustentação, representado por tecido conjuntivo, e por onde passam os vasos, nervos e ductos que porventura a víscera possua). Os órgãos parenquimatosos, localizados fora das cavidades torácica ou abdominal, têm seu revestimento externo de tecido conjuntivo denominado cápsula fibrosa; é o caso, por exemplo, da glândula salivar mandibular, localizada junto ao ângulo da mandíbula. Se fizermos uma extrapolação destes conceitos viscerais para o corpo como um todo, veremos que há uma correspondência entre as camadas viscerais e aquelas existentes até que se encontre a pele do animal. Neste conceito, se partirmos da serosa, veremos que profundamente a ela, em direção à víscera, encontraremos uma camada muscular; o mesmo acontece quando observamos o tecido externo à serosa, também constituído por musculatura. A camada submucosa poderia ser comparada ao tecido subcutâneo, enquanto a mucosa (epitélio), poderia ser comparada à pele (também epitélio); Observe a seqüência a seguir: Pele Subcutâneo Musculatura Serosa Camada muscular Submucosa Mucosa ***

Sintopia geral dos órgãos O conceito de sintopia enquadra-se nas relações gerais dos órgãos. É definida como a relação de um órgão com o seu vizinho imediato, sem considerarmos os estratos destes componentes. Em relação aos ossos, podemos considerar como componentes anatômicos que fazem sintopia: - Outros ossos - Sinostoses (junção de osso com osso, por osso animais idosos, após ossificação de cartilagens ou mesmo do tecido conjuntivo); - Suturas (junções entre ossos da cabeça; há uma mínima quantidade de tecido conjuntivo interposto, mas podemos considerar); - Articulações - Cartilagens (nas epífises dos ossos longos); - Músculos - Vasos e nervos (que passam junto aos ossos. Importantíssimos para o cirurgião ortopedista, por exemplo, ao manipular um foco de fratura. Manipulação óssea grosseira e traumas ósseos também podem lesionar estas estruturas adjacentes); - Vísceras (podemos considerar que os pulmões têm sintopia com as costelas, mas não podemos esquecer-nos da pleura parietal interposta. Há também os ossos da cabeça em contato com estruturas da cavidade nasal, assim como o aparelho hióide que faz contato com língua e laringe. Na pelve há outros exemplos). Em relação às cartilagens (especialmente articular), podemos considerar como componentes anatômicos que fazem sintopia: - Ligamentos (por exemplo, os cruzados do joelho, que passam em proximidade, mas não se inserem nela); - Cápsula articular (passa em proximidade, mas também não se insere na cartilagem) - Líquido sinovial - Ossos - Fibrocartilagem (discos e meniscos, existentes em algumas articulações. Nestes casos, pode haver inserção ligamentosa na fibrocartilagem).

Em relação aos músculos, podemos considerar como componentes anatômicos que fazem sintopia: - Ossos - Articulações (cápsula e ligamentos, principalmente); - Outros músculos - Vasos e nervos - Bolsas e bainhas sinoviais, bainhas fibrosas (estruturas presentes no trajeto de alguns tendões, e que quando inflamadas levam à bursite); - Vísceras (na cabeça em região de faringe, laringe; na pelve onde o diafragma pélvico e o diafragma urogenital têm contato direto com a bexiga, com o reto, etc). Em relação aos vasos, nevos e vísceras específicas, devemos avaliar individualmente cada caso. Assim, o assunto será melhor abordado na aula de topografia e estática geral das vísceras. As aulas práticas são muito construtivas quanto a este tipo de observação!!! ***

Topografia Cavidade Torácica: Com o tórax aberto lateralmente, deverá ser observado: - Pulmão: Esquerdo - parte cranial do lobo cranial - parte caudal do lobo cranial - lobo caudal Direito - lobo cranial - lobo médio - lobo caudal - lobo acessório (direciona-se para o antímero esquerdo, caudalmente ao coração). - Coração envolto pelo pericárdio. - Ligamento frênico-pericárdico, que fixa a extremidade mais caudal do pericárdio ao diafragma e parte do esterno. - Nervo frênico sobre o pericárdio, indo em direção ao diafragma (existe tanto do lado esquerdo quanto do lado direito). - Nervo vago junto à lateral do esôfago, tanto à direita quanto à esquerda. Antes de o esôfago perfurar o diafragma, o nervo vago se ramifica, em ambos os lados, formando um ramo dorsal e um ramo ventral. Desta maneira, o nervo adentra o abdome dividido da seguinte maneira: ramo dorsal esquerdo, ramo ventral esquerdo, ramo dorsal direito e ramo ventral direito. - Tronco simpático (cadeia nervosa que passa rente ao teto da cavidade, tanto do lado direito quanto do lado esquerdo). - Traquéia deve ser dissecada dorsalmente à base do coração para exposição dos brônquios principais. - Esôfago é visto dorsalmente à traquéia, e no tórax assume uma posição ligeiramente à direita do plano mediano. - Aorta torácica, saindo do coração e curvada em direção caudal, desce em direção ao abdome pelo teto da cavidade torácica, deslocada ligeiramente à esquerda. - Veia áziga ou azigus, ímpar, acompanha o trajeto da aorta à direita desta, vindo desembocar na veia cava cranial.

- Veia cava caudal, deve ser procurada entre o diafragma e o coração, a meio caminho entre as vértebras e o esterno. - Timo: procurar resquícios dele cranialmente ao coração, a região pode estar amplamente preenchida por gordura. - Ducto torácico: item não obrigatório na dissecção, pode ser visualizado aderido dorsalmente à aorta, geralmente com coloração amarronzada - Vasos da base: sua dissecção também não é obrigatória. São eles: aorta saindo do VE, tronco pulmonar saindo do VD, veias cavas caudal e cranial chegando no AD e veias pulmonares chegando no AE. Cavidade abdominal: Deve ser aberta pela linha branca (alba) desde a cartilagem xifóide até o púbis. A incisão pode ser ampliada cranial e caudalmente por incisões laterais. Deve-se visualizar: - Omento maior recobrindo as vísceras abdominais. Este omento é inserido na curvatura ventricular maior e parte dele (ligamento gastroesplênico ou gastrolienal) fixa o baço ao estômago. - Fígado: localizado bem cranialmente, envolto pelo diafragma. Observar a vesícula biliar. Não é recoberto pelo omento maior. - Bexiga urinária: também não é recoberta pelo omento maior. - Baço deve ser procurado à esquerda, fixado à curvatura ventricular maior pelo ligamento gastroesplênico ou gastrolienal (parte do omento maior). Não é recoberto pelo omento maior. - Estômago (ventrículo é o nome anatômico) localiza-se logo caudalmente ao fígado, sua maior parte (fundo e corpo) localiza-se no antímero esquerdo. - Intestinos: - duodeno descendente é visualizado junto à parede direita do abdome, quando se afasta o jejuno para a esquerda. Curva-se (flexura caudal do duodeno) e volta-se para o antímero esquerdo, onde está situada a porção ascendente. - jejuno possui grande extensão e o mesentério associado a ele (mesojejuno) é muito amplo, permitindo maior manipulação e movimentação desta alça intestinal.

- íleo é a continuação natural do jejuno, sendo diferenciado deste pela prega íleo-cecal, onde também é vista a artéria ileal antimesentérica. - ceco é a primeira porção do intestino grosso. Nos carnívoros, ele fica perpendicular à transição entre íleo e cólon. É localizado à direita, logo medialmente ao duodeno, quando se afasta o jejuno para a esquerda. - cólon é dividido em ascendente à direita, transverso e descendente (maior porção) à esquerda. - reto assume uma posição mediana na cavidade pélvica. - Pâncreas: localizado junto ao duodeno descendente (no mesoduodeno) e ao estômago - Rins (o direito é preso ao processo caudado do lobo caudado do fígado pelo ligamento hepato-renal) ficam bem dorsais na cavidade, o direito mais cranial que o esquerdo. - Ureteres saem do hilo renal e assumem um trajeto quase mediano, acompanhando a aorta abdominal em direção caudal, até chegarem dorsamente na bexiga urinária. - Em fêmeas, procurar útero e ovários (estes logo caudalmente aos rins). - Em machos, observar o trajeto da artéria testicular e da veia testicular, que juntamente com o ducto deferente perfuram a musculatura do abdome. O orifício visto internamente na parede da cavidade é chamado de anel (ânulo) inguinal interno. - Finalizar observando a aorta abdominal passando rente ao teto da cavidade, à esquerda da veia cava caudal, paralela a ela. *** - Estática das vísceras - e os fatores que atuam sobre esta estática No estudo da anatomia, estática define a posição dos órgãos no corpo dos vertebrados. Este posicionamento pode ser alterado por fatores como o grau de repleção de uma víscera oca, entre outros, mas em geral a estática se mantém relativamente constante. Tecidos ou componentes que mantêm um órgão em posição: - Tecido conjuntivo, na forma de fáscias, lâminas ou ligamentos. - Serosas (pleura e pericárdio no tórax, peritônio no abdome e túnica vaginal no escroto).

- Vasos obliterados (dando origem ao ligamento redondo do fígado, que pouco interfere na estática deste órgão; ligamentos redondos da bexiga urinária, importantes à estática da bexiga; ligamento arterioso entre o tronco pulmonar e a aorta). - Vasos sanguíneos, associados à pressão do sangue circulante no seu interior. - Nervos, como o nervo óptico atuando possivelmente na estática do globo ocular (quanto a este item, há discordância entre os autores). - Músculos, por exemplo atuando na estática de vísceras cervicais ou pélvicas. - Ossos e cartilagens (tecido conjuntivo diferenciado) atuam em menor proporção sobre a estática de algumas vísceras específicas. - Líquidos corporais como o líquor, que atua na estática do sistema nervoso central. O mesmo ocorre com relação ao líquido pleural, criando uma tensão superficial que atua favorecendo a dilatação do pulmão durante o movimento respiratório. - Pressão visceral observada principalmente no abdome, o que mantém uma víscera corretamente pressionada à adjacente, favorecendo assim sua estática. A maior ou menor fixação de cada víscera específica deve-se a diversos fatores: - Vísceras ocas, com grande capacidade de dilatação (para armazenamento, como estômago ou bexiga urinária, por exemplo) têm maior amplitude de movimento que vísceras parenquimatosas, como fígado ou rins. - Vísceras podem sofrer alteração em sua topografia por estarem relacionadas a outras com grande capacidade de distensão ou movimentação. É o caso, por exemplo, do baço, associado ao estômago e cuja estática depende da repleção deste último. Estática dos principais órgãos: Cabeça - Encéfalo: Pressão intracraniana, líquido cérebro-espinhal (líquido cefaloraquidiano, LCR ou líquor são sinônimos aceitos), e meninges (dura-máter, que se adere à face interna dos ossos do crânio, aracnóide e pia-máter). Nervos e vasos não devem ser considerados. - Globo ocular: Periórbita (camadas de conjuntivo que fixam o olho à órbita) e músculos extrínsecos do olho. O nervo óptico evita a protrusão do globo ocular, mas sua atuação na estática é discutível.

Pescoço e sua transição com a cabeça - Faringe: tem uma união (tecido conjuntivo e músculos) com os ossos da base do crânio. A mucosa contínua com a da cavidade nasal e cavidade oral, juntamente com tecido conjuntivo, também tem importância na estática deste órgão. - Laringe: músculos extrínsecos da laringe (que a fixam à faringe, ao aparelho hióide e até mesmo ao esterno), cartilagem que a fixa à traquéia, tecido conjuntivo e mucosa fixam-na à faringe e aparelho hióide. - Glândulas salivares e glândulas endócrinas: glândulas salivares não têm grande fixação, mas ainda assim são mais fixadas que as glândulas endócrinas. A estática é feita por tecido conjuntivo, que pode ser mais ou menos fibroso de acordo com a glândula em questão (a glândula mandibular é envolta por uma cápsula muito mais fibrosa que o tecido conjuntivo associado à glândula parótida, por exemplo). As glândulas endócrinas estão associadas a um tecido conjuntivo muito pobre e frouxo, mas há uma rede de vasos sanguíneos importantes que auxiliam em sua estática. - Esôfago e traquéia: sua estática é muito semelhante: a principal fixação se dá nos órgãos mais craniais (traquéia presa à laringe, esôfago preso à faringe), e há tecido conjuntivo, na forma de uma túnica adventícia que os fixa à parede da região cervical. Tórax - Coração: o principal fator são os vasos da base (principalmente aorta, tronco pulmonar e veias cavas), que impedem que o coração se apóie sobre o esterno. O ligamento arterioso auxilia os vasos da base, tendo também grande importância. O pericárdio e o ligamento que dele sai (frênico-pericárdico ou esterno pericárdico, cujas extensões dependem da espécie) atua na estática do coração fixando-o caudal e ventralmente, mas não suspende o coração (tarefa esta realizada pelos vasos da base). - Pulmões: assim como o coração, possui estruturas que atuam como tirantes: vasos relacionados ao hilo pulmonar e, principalmente, as ramificações da árvore traqueobrônquica. Há ainda a pressão negativa torácica, bem como a tensão superficial gerada pelo líquido pleural, que adere o pulmão às paredes da cavidade. - Timo: sustentado principalmente pela serosa que o envolve, conta com o auxílio de pequenos vasos. Lembrando que a massa celular do timo tende a desaparecer com o passar da idade, havendo substituição do tecido por tecido adiposo.

- Esôfago: o esôfago torácico tem sua estática semelhante ao esôfago cervical, com a diferença que, após penetrar no tórax, passa a ter associação com a serosa desta cavidade, que o envolve, substituindo a adventícia. Abdome Independentemente da víscera em questão, a pressão visceral sempre atua! - Fígado: o principal fator é o ligamento coronário (localizado no centro da víscera, prendendo-a firmemente ao diafragma de forma que, para separá-los, é necessário o rompimento deste ligamento, que se fixa ao centro tendíneo do diafragma), auxiliado pelos ligamentos triangulares (que fixam os lobos esquerdo e direito ao diafragma, lateral e dorsalmente. Os outros dois ligamentos encontrados no fígado (falsiforme, que se dirige ao umbigo, e redondo, resquício da veia umbilical, também em direção ao umbigo) têm pouca importância na estática do fígado, pois se dirigem ventral e caudalmente. A veia cava caudal atua na sustentação dorsal do fígado, por estar aderida ao teto da cavidade e unida de forma indissociável ao forame pelo qual perfura o diafragma. Há autores que relatem que esta veia sofre alterações na estrutura de sua parede, que assumiria um caráter semelhante ao das artérias no trecho em que passa dorsalmente ao fígado. - Estômago: é uma víscera que possui ampla movimentação devido à dilatação pelo alimento, mas ainda assim tem que ser fixada. A união com o esôfago é um importante ponto na estática do estômago, e além dele atuam as pregas de peritônio denominadas omentos. O omento menor proporciona maior fixação, pois o prende ao teto da cavidade e, principalmente, ao fígado. O omento maior tem pequena fixação, ao teto da cavidade, mas é importante na estática do baço junto ao estômago: a torção do estômago tende a levar o baço juntamente o baço não impede uma torção de estômago! - Intestinos: exceto o reto, situado na cavidade pélvica, têm sua estática devida ao mesentério, uma lâmina de peritônio que fixa o conjunto dos intestinos ao teto da cavidade. Algumas alças podem contar com a participação de vasos em sua estática, já que os vasos chegam ao intestino através do mesos. Inda assim, esta participação possui pequena importância. - Baço: Omento maior, que o fixa ao estômago, e os vasos relacionados ao baço: artéria e veia lienais (ou esplênicas, se considerarmos a origem grega do nome). A participação dos vasos tem importância variável de acordo com a espécie.

- Rins: a serosa tem menor importância na estática destas vísceras, que são retroperitoniais, isto é, possuem parte de sua extensão envolta pelo peritônio, e parte livre: a superfície ventral tem contato com o peritônio, mas este não recobre os rins dorsalmente. Para complementar a estática dos rins, há tecido conjuntivo e tecido adiposo (cápsulas adiposa e fibrosa) e os vasos renais (artéria, principalmente, mas também veia renal). O rim direito, exceto nos suínos, é fixado ao processo caudado do lobo caudado do fígado pelo ligamento hepato-renal, sendo mais estável que o rim esquerdo. - Ureteres: seu principal ponto de estática se dá na sua origem, dentro do rim: pelve renal ou cálices renais. Conforme o ureter avança em seu trajeto caudal, o peritônio participa de sua estática. - Bexiga urinária: o peritônio a envolve e forma ligamentos importantes que atuam em sua estática: ligamentos vesicais laterais esquerdo e direito (que fixam a bexiga às laterais e até ao teto da cavidade) e, com menor participação, o ligamento vesical mediano, que a fixa à linha alba, mas possui ampla movimentação. Existem ainda os ligamentos redondos da bexiga urinária (artérias umbilicais obliteradas) e vasos sanguíneos funcionais que auxiliam na estática da bexiga. Finalizando, a uretra, com sua parede muscular espessa, auxilia na estática da bexiga, especialmente quando esta se encontra repleta e se projeta em sentido cranial. - Uretra: não tem muita mobilidade. Nos machos, localiza-se no interior do pênis, e nas fêmeas é muito curta e sustentada por tecido conjuntivo ao teto da cavidade. - Genital feminino: Ovários, tubas uterinas e útero têm mesos associados: mesovário, mesossalpinge e mesométrio, respectivamente, que os fixam ao teto da cavidade. Todo este conjunto pode ser chamado de ligamento largo do útero. Interposto no ligamento largo do útero, localiza-se o ligamento redondo do útero, formado por vasos sanguíneos funcionais (como artéria e veia uterinas) e um reforço de tecido conjuntivo. O ovário possui ainda ligamentos próprios que o fixam ao teto da cavidade, como o ligamento suspensor do ovário. - Genital masculino: os testículos estão localizados no escroto e envoltos por suas fáscias (espermáticas externa e interna), e lâminas da túnica vaginal (parietal e visceral). - Órgãos pélvicos: sua estática se dá por tecido conjuntivo não muito fibroso, que as fixam à parede da pelve. Devido a essa frouxidão, o principal fator relacionado à estática destas vísceras é representado pelos músculos do períneo, divididos em dois grupos: diafragma pélvico, mais dorsal, e diafragma urogenital, mais ventral. A

frouxidão desta musculatura ocasiona a protrusão das vísceras através dela, nas chamadas hérnias perineais. ***