Avaliação do Comportamento do Ligante Asfalto-Borracha e de Fibras Naturais em Misturas Asfálticas Descontínuas



Documentos relacionados
Avaliação do Emprego de Misturas Asfálticas a Frio em Serviços de Manutenção de Pavimentos

REUTILIZAÇÃO DE BORRACHA DE PNEUS INSERVÍVEIS EM OBRAS DE PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA

EN Betumes e ligantes betuminosos. Especificações para betumes de pavimentação

Misturas 6betuminosas a frio

Dosagem para concreto

Construção de um trecho experimental em SMA usando bagaço de cana-de-açúcar como aditivo

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE MISTURAS ASFÁLTICAS CONTÍNUAS E DESCONTÍNUAS COM DIFERENTES LIGANTES ASFÁLTICOS

EFEITO DO PÓ DE PEDRA EM ARGAMASSA PARA ALVENARIA ESTRUTURAL

e a parcela não linear ser a resposta do sistema não linear com memória finita. Isto é, a

AVALIAÇÃO LABORATORIAL DE MISTURAS ASFÁLTICAS SMA PRODUZIDAS COM LIGANTE ASFALTO-BORRACHA

COMPARATIVO ENTRE O DIMENSIONAMENTO DO PAVIMENTO RÍGIDO E FLEXÍVEL PARA A AVENIDA FERNANDO FERRARI

CONTROLE TECNOLÓGICO DO CONCRETO

Argamassas Térmicas Sustentáveis: O Contributo dos Materiais de Mudança de Fase

ESCOPO DA ACREDITAÇÃO ABNT NBR ISO/IEC ENSAIO. Preparação de amostras para ensaios de compactação, caracterização e teor de umidade

REVESTIMENTO ASFÁLTICO TIPO SMA PARA ALTO DESEMPENHO EM VIAS DE TRÁFEGO PESADO

DIRETRIZES PARA A EXECUÇÃO DE PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA

Materiais de Construção Civil. Aula 04. Rochas e Minerais

Steel Cord. Introdução

ANÁLISE DO DESEMPENHO DE MISTURAS ASFÁLTICAS COM A INCORPORAÇÃO DE MATERIAL FRESADO E CAL 1

ANÁLISE DAS CINZAS DE CARVÃO MINERAL COMO ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL PARA APLICAÇÃO NA PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA

REDUÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS POR RESÍDUOS SÓLIDOS ORIUNDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL PELO USO EM PAVIMENTAÇÃO

Reabilitação e Reforço de Estruturas

Construção Civil. Lajes Nervuradas com EPS / Fachadas e Rodatetos em EPS. A leveza do EPS, gerando economia

III APLICAÇÃO DE RESÍDUOS DE GIRASSOL NA CONSTRUÇÃO DE PLACAS PARA ISOLAMENTO ACÚSTICO

ESPECIFICAÇÃO DE SERVIÇO

Materiais de Construção Civil. Aula 09 parte 2. Concreto

E o que estamos fazendo sobre os pneus?

OS ETICS COMO SISTEMAS MULTIFUNCIONAIS MARIA DO ROSÁRIO VEIGA SOFIA MALANHO

ESPECIFICAÇÕES GERAIS PARA OBRAS RODOVIÁRIAS

Avaliação dos equipamentos a serem utilizados; Análise de riscos para execução das atividades; Análise da qualificação dos líderes operacionais;

Estaca Escavada Circular

Apresentação da Disciplina

APLICABILIDADE DE FIBRAS DE COCO EM MISTURAS ASFÁLTICAS TIPO SMA

tipos, características, execução e função estética Concreta, 29 de Outubro de 2004 José Severo

ESTRUTURAS DE MADEIRA

Navarro, n.º1, Lisboa, Portugal

Aço Inoxidável Ferrítico ACE P410D

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL. Casa de plástico reciclado - Affresol Reino Unido

Guia Linear. Tamanho. Curso Patins. Características Técnicas Material das guias DIN 58 CrMoV4 Material dos patins DIN 16 MnCr5

Bibliografia referência para esta aula. Propriedades dos materiais. Propriedades. Solicitações. Propriedades mecânicas. Carga X deformação

Resumo. QM - propriedades mecânicas 1

ANÁLISE DA ADIÇÃO DE FIBRAS DE VIDRO EM MISTURAS ASFÁLTICAS

As argamassas podem ser classificadas com relação à vários critérios, alguns dos quais são propostos no Quadro 1.

Briquetes produzidos com resíduos

PRODUÇÃO DE GRAFITA COM A UTILIZAÇÃO DE CARVÃO VEGETAL COMO MATÉRIA-PRIMA

lubrificação. A extrusora de plástico de uma empresa Propriedades dos lubrificantes

MÉTODO DE CONFECÇÃO DE CORPOS-DE-PROVA ASFÁLTICOS EM ESCALA REDUZIDA UTILIZANDO MATERIAIS ECOLÓGICOS

A QUALIDADE DOS ASFALTOS PARA CBUQ. José Carlos Moura Massaranduba Engenheiro Civil

RELATÓRIO MENSAL CONCESSIONÁRIA: RODOVIA: TRECHO: EXTENSÃO: BR-116/RS E BR-392/RS 457,30 KM PELOTAS RS ECOSUL POLO RODOVIÁRIO DE PELOTAS

APLICAÇÕES DE MISTURAS BETUMINOSAS DE ELEVADO DESEMPENHO EM REDES VIÁRIAS URBANAS

REABILITAÇÃO DE PAVIMENTOS UTILIZANDO MISTURAS BETUMINOSAS A FRIO

Aula de Laboratório de Materiais de Construção Civil Professora: Larissa Camporez Araújo

Hugo Sérgio Sousa Vieira. 1. Coordenação de Química Industrial UFPB. Campus I, João Pessoa PB.

A respeito do cimento asfáltico de petróleo (CAP), suas propriedades e ensaios físicos, julgue o próximo item.

Ar de combustão. Água condensada. Balanço da energia. Câmara de mistura. Convecção. Combustível. Curva de aquecimento

Materiais de Construção Civil. Aula 08. Cimento Portland

DETERMINAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DE GOTEJAMENTO DE MISTURAS ASFÁLTICAS NÃO COMPACTADAS

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DA RECICLAGEM DO PAVIMENTO DA RODOVIA SC 303

CARACTERIZAÇÃO DO RESÍDUO DE PÓ DE PEDRA ORNAMENTAL ADICIONADO À ARGAMASSA EM SUBSTITUIÇÃO PARCIAL AO CIMENTO

TELAS DE SOMBREAMENTO NO CULTIVO DE HORTALIÇAS FOLHOSAS

APLICAÇÃO DE ASFALTO-BORRACHA NA BAHIA

Fábrica de Artefatos de Cimento

Estudo sobre o Aumento do teor de etanol na gasolina para 27,5% Abril / 2015

sistema construtivo Steel Frame

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Faculdade de Engenharia FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO SISTEMAS ESTRUTURAIS II

5 - Tipos de Defeitos em Estradas Nãopavimentadas

CONTROLE TECNOLÓGICO DA CAMADA DE REVESTIMENTO EM CAUQ DE ACORDO COM DEINFRA SC-ES-P-05/92 ESTUDO DE CASO

Caracterização do estado dos pavimentos Inspecção visual

O que é energia solar?

Metodologia Para Avaliação da Vida Útil Remanescente dos Cabos Tipo PILC MT da AES Eletropaulo

Notas de aulas de Pavimentação (parte 4)

Universidade do Estado de Mato Grosso Engenharia Civil Estradas II

COMPORTAMENTO E DURABILIDADE DE TELHAS CERÂMICAS EM AMBIENTE MARÍTIMO ÍNDICE DO TEXTO

CURSO ENGENHARIA CIVIL

GESTÃO DA MANUTENÇÃO

Técnicas de construção Profa. Keila Bento TIJOLOS CERÂMICOS

LABORATÓRIO CENTRAL DER/PR MONITORAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO DE MATERIAIS ASFÁLTICOS CORP / COPPA - SAM 2009/2010

MACADAME BETUMINOSO TRAÇADO- MBT Especificação Particular

IP- 05/2004 DIMENSIONAMENTO DE PAVIMENTOS FLEXÍVEIS TRÁFEGO MEIO PESADO, PESADO, MUITO PESADO E FAIXA EXCLUSIVA DE ÔNIBUS

Certificação do Controlo da Produção das Centrais de Betão

Como devo utilizar a Gama Cimpor

IMPLANTAÇÃO DE PISO INTERTRAVADO REFLETIVO: PROJETO DE UTILIZAÇÃO EM FAIXAS DE PEDESTRE NA CIDADE DE MARINGÁ VISANDO À MELHORIA DA SINALIZAÇÃO NOTURNA

Painéis de Concreto Armado

PROGRAMA SETORIAL DA QUALIDADE DOS COMPONENTES DO SISTEMA DRYWALL (PSQ-Drywall)

3 - Características das Estradas Não- Pavimentadas

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE LÂMPADAS FLUORESCENTES E LED APLICADO NO IFC CAMPUS LUZERNA

ESTUDO DE FADIGA EM LABORATÓRIO DE MISTURAS ASFÁLTICAS MORNAS COM UTILIZAÇÃO DE ENSAIOS DE TRAÇÃO INDIRETA POR COMPRESSÃO DIAMETRAL

Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Civil da URI Santo Ângelo. 2

ISF 213: PROJETO DE SUPERESTRUTURA DA VIA PERMANENTE CONJUNTO TRILHO E DORMENTE

Resistência mecânica Isolamento térmico e acústico Resistência ao fogo Estanqueidade Durabilidade

ESTRADAS E AEROPORTOS. Prof. Vinícius C. Patrizzi

Introdução ao Projeto de Aeronaves. Aula 34 Cálculo Estrutural da Fuselagem

Comparativos entre diferentes folhas de PTFE para fabricação de juntas de vedação suas vantagens, características e diferenças

Avaliação de ecoeficiência da construção de estrada utilizando pavimento rígido (concreto) versus flexível (asfalto)

ANÁLISE DE MISTURAS ASFÁLTICAS REALIZADAS COM LIGANTE ASFÁLTICO CONVENCIONAL E COM O MODIFICADO COM BORRACHA APLICANDO O MÉTODO MARSHALL

ANÁLISE DE FALHAS DE COMPUTADORES

Tópicos laboratoriais e/ou exercícios (6. o Parte) Dosagem de misturas asfálticas (2. o Parte)

Pré-moldados industriais para sistemas de drenagem pluvial (tubos e aduelas) Alírio Brasil Gimenez

1. DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE FORMA PELO MÉTODO DO PAQUÍMETRO NORMA: NBR 7809:2006

Agregados - análise granulométrica

Transcrição:

Avaliação do Comportamento do Ligante Asfalto-Borracha e de Fibras Naturais em Misturas Asfálticas Descontínuas Autores: Litercílio Queiroz Barreto Júnior* Luiz Augusto Borges de Moraes* Anderson dos Santos Serra** Rogério da Silva Félix** Orientadora: Sandra Oda*** RESUMO Este trabalho faz parte de estudo sobre utilização de resíduos em materiais para pavimentação asfáltica. O tráfego e a falta de recursos para manutenção periódica exigem cada vez mais pavimentos com alta durabilidade e segurança aos usuários. Uma das soluções adotadas nos países desenvolvidos é a mistura com graduação descontínua, que requer um alto teor de asfalto e a adição de fibra. As fibras disponíveis no mercado são importadas e caras, acarretando num custo final mais elevado. Para reduzir o custo da mistura pretende-se aproveitar resíduos disponíveis na região (coco e sisal). O objetivo deste trabalho é avaliar o comportamento de misturas descontínuas com ligante asfalto-borracha e fibras naturais. 1 - INTRODUÇÃO Nos pavimentos flexíveis, o revestimento, também conhecido como capa de rolamento, é a camada que está diretamente em contato com as rodas dos veículos. Por esse motivo, o revestimento tem a função de receber as cargas do tráfego e transmiti-las para a camada inferior, a base, além de proporcionar segurança e conforto para os usuários. Para desempenhar essas funções, o revestimento, composto por uma mistura asfáltica, deve ser resistente e flexível durante toda sua vida útil, uma vez que quando submetido à pressão das cargas, o pavimento deverá se deformar (deformação recuperável), retornando ao seu estado original após a retirada de carga. * Bolsistas do Programa de Iniciação Científica (PIBIC-UNIFACS/FAPESB) ** Bolsistas de Apoio Técnico do Programa de Bolsas da FAPESB (AT/FAPESB) *** Doutora em Infra-Estrutura de Transportes - Bolsista POS-DOC da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB)

As misturas asfálticas são constituídas pela combinação de ligante asfáltico e agregado mineral (mistura asfáltica), podendo conter ainda material de preenchimento (fíler mineral), aditivos etc. O desempenho das misturas asfálticas depende tanto das propriedades de seus componentes individuais quanto da relação entre agregados e ligante (NEVES, 2004). As misturas asfálticas podem ser contínuas e densas ou descontínuas, dependendo da granulometria dos agregados. O tipo de mistura contínua mais empregado é o CBUQ (concreto betuminoso usinado a quente), enquanto a mistura descontínua mais utilizada é o SMA (stone matrix asphalt). No Estado da Bahia, a maioria dos pavimentos (95%) é composta por revestimento com granulometria densa, como o concreto asfáltico usinado a quente, o CAUQ, mais conhecido como CBUQ. Apesar de apresentar algumas características físicas (mais liso e aparência de menor índice de vazios) que fazem do CBUQ a mistura mais empregada, quando o pavimento está molhado pode proporcionar menor segurança, uma vez que a água da chuva pode ficar acumulada, formando uma película de água que poderá causar a aquaplanagem. Além disso, quando ocorre o acúmulo de água, a tendência é que os defeitos apareçam mais rapidamente. Segundo Fernandes Jr et al. (1999), os principais feitos que surgem nos pavimentos asfálticos são as trincas por fadiga (causadas pelas solicitações repetidas do tráfego) e a deformações permanentes nas trilhas de rodas. Quando comparada com o CBUQ, a mistura descontínua apresenta características diferentes de granulometria, do teor asfáltico, além da necessidade de uso de fibras. Quando utilizado um ligante modificado por borracha em misturas descontínuas, os resultados obtidos são melhores ainda, pois a borracha proporciona um aumento da flexibilidade e da resistência aos raios ultravioleta, tornando a mistura asfáltica mais resistente ao envelhecimento, ao aparecimento e propagação de trincas e à deformação permanente (EDEL, 2005). Em função do aumento do volume de tráfego e, principalmente, da evolução tecnológica que permite que caminhões trafeguem com maiores cargas por eixo, a

deformação permanente deve ser considerada com mais atenção durante o projeto de dosagem de misturas asfálticas. A superfície de rolamento também deve proporcionar segurança aos usuários e contribuir para redução do índice de acidentes, crítico em condições de pista molhada, quando há a diminuição da aderência (atrito) e da visibilidade (reflexão da luz e spray de água). O objetivo deste trabalho é comparar as misturas asfálticas descontínuas (SMA) produzidas com agregados, ligante asfáltico e fibras e misturas produzidas com asfaltos modificados por borracha (CAPFLEX B), mas sem fibras. 2 MISTURAS ASFÁLTICAS DESCONTÍNUAS Geralmente, o revestimento de pavimentos flexíveis é composto por uma mistura de agregados e ligante asfáltico, denominada de mistura asfáltica, que pode ser produzida a quente ou a frio, em função do tipo de ligante asfáltico empregado e da temperatura de mistura. Em função da granulometria dos agregados, as misturas asfálticas podem ser: descontínua (densa ou aberta) ou contínua (densa). A mistura mais aplicada em pavimentos asfálticos no Brasil é o CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente), uma mistura contínua densa executada em usina apropriada, constituída de agregados minerais graduados (de graúdo a fino), material de enchimento (fíler) e cimento asfáltico, espalhada e comprimida a quente. Atualmente, em função do aumento das cargas transportadas pelos veículos pesados e da carência de recursos para a realização de serviços de manutenção e reabilitação dos pavimentos, alguns estados das regiões Sul e Sudeste têm adotado misturas descontínuas. Misturas asfálticas descontínuas tendem a apresentar melhor desempenho quanto à resistência à deformação permanente (devido a granulometria dos agregados), ao aparecimento de trincas por fadiga e ao desgaste (por causa da maior

espessura da película de asfalto), quando comparadas às misturas asfálticas convencionais (NEVES, 2004). Em relação a um CBUQ (concreto betuminoso usinado a quente) convencional, uma mistura asfáltica descontínua apresenta características diferentes de granulometria, teor de ligante asfáltico e aditivos estabilizadores. Além disso, nas misturas descontínuas, o teor de asfalto tende a ser superior ao das misturas densas (CBUQ) em cerca de 1 a 1,5%, o que pode provocar o escorrimento do ligante asfáltico. Para evitar esse tipo de problema, alguns países da Europa estão utilizando fibras. O principal tipo de mistura descontínua é o SMA (Stone Matrix Asphalt), que apresenta granulometria composta por uma maior fração de agregados graúdos britados, uma massa de ligante e fíler (cerca de 10% passando na peneira #200), chamada de mastique e aproximadamente 4% de volume de vazios. Essas misturas formam um esqueleto de alta estabilidade devido ao contato pedra-pedra (NEVES FILHO, 2004). O SMA foi desenvolvido na Alemanha no final da década de 60 para ser usada como revestimento de pavimentos rodoviários e de aeroportos. No Brasil, ainda não é comum o uso de misturas descontínuas. Isso acontece porque as fibras que têm proporcionado melhores resultados nas misturas descontínuas são importadas, tornando o custo do pavimento muito elevado. Algumas alternativas foram adotadas para reduzir o custo total, como utilização de fibras naturais no lugar das importadas e a substituição do ligante asfáltico convencional por um ligante mais viscoso. As fibras são adicionadas às misturas asfálticas descontínuas para evitar que ocorra o escorrimento do ligante durante o armazenamento, transporte e aplicação do SMA. O uso de fibra possibilita um maior teor de ligante, o que gera uma película mais espessa ao redor do agregado, retardando a oxidação, a penetração de umidade e a separação e fissuração dos agregados. Essas vantagens servem para proteger o concreto asfáltico do desgaste (NEVES FILHO, 2004).

No processo de produção de uma mistura asfáltica, as fibras são adicionadas aos agregados quentes antes da adição do ligante asfáltico. Com a colocação do ligante e início do processo de mistura, as fibras se abrem e se espalham por toda a mistura. A determinação do teor de fibras se baseia na experiência, sendo que várias publicações sugerem o teor de 0,3% a 0,5%. Existem ensaios que verificam se as fibras são suficientes para inibir o escorrimento do ligante, como o AASHTO T-305/97 (Draindown Sensivity). 3 - MATERIAIS Os materiais empregados na produção das misturas asfálticas descontínuas são: agregados, ligante asfáltico (CAP 50/70 e CAPFLEX B) e fibras. A seleção dos agregados foi realizada em função de suas propriedades, principalmente em função da resistência ao desgaste por Abrasão Los Angeles, uma vez que para misturas descontínuas a especificação DNIT ME 035/94 exige que seja inferior a 30%. Os agregados (brita 5/8 e brita 3/8 ) foram obtidos da Pedreira Valéria e o pó de pedra foi obtido da Pedreira Omacio. O fíler (material de enchimento que passa na peneira #200) utilizado foi o pó calcário. A Tabela 1 apresenta os resultados da caracterização dos agregados. Tabela 1: Caracterização dos agregados Ensaios Resultados Especificação Método Desgaste por Abrasão Los Angeles (%) 20 máx 30% DNIT ME 035/94 Densidade aparente dos grãos (g/cm 3 ) 2,737 - DNIT ME 043/95 Densidade efetiva (g/cm 3 ) 2,747 - ASTM D2041

O material asfáltico utilizado é o asfalto-borracha, CAPFLEX B, fornecido pela Petrobras Distribuidora. Tem como base o cimento asfáltico de petróleo (CAP) e borracha moída de pneus inservíveis. As propriedades do ligante encontram-se na Tabela 2. Tabela 2: Propriedades do ligante asfalto-borracha utilizado Ensaio Resultados Método Penetração (100g, 25ºC, 5 seg) (dmm) 55 ASTM D 5 Ponto de amolecimento (ºC) 62 ASTM D 36 Recuperação elástica (%) 62,5 ASTM D 6084 Viscosidade Brookfield (sp 31, 6 rpm) (cp) @ 175 ºC 2.900 ASTM D 4402 Os ligantes modificados com borracha de pneu têm viscosidade bem mais elevada que a de ligantes convencionais, que aliada à sua excelente coesão e flexibilidade, permite a sua utilização em misturas asfálticas especiais, tais como camada porosa de atrito (CPA), Stone Mastic Asphalt (SMA) e gap-graded. Tais misturas proporcionam superfícies de pavimento com excelente macro-textura, o que se traduz em ganhos no atrito pneu-pavimento e na drenabilidade superficial, melhorando a visibilidade (anti-spray) e reduzindo os riscos de aquaplanagem. Um ganho que tem sido bastante considerado, também, é a redução do ruído gerado pelo tráfego de veículos quando são utilizadas essas misturas com asfalto-borracha. Em relação à influência da borracha no comportamento do ligante modificado, os resultados obtidos mostram que a borracha interfere nas propriedades do ligante asfalto-borracha, aumentando a resistência do material. Quando analisados a viscosidade e o ponto de amolecimento pode-se verificar que o ligante asfaltoborracha apresenta valores mais altos do que o do CAP50/70 (sem borracha), tendo mais elasticidade quando solicitado pela variação de temperatura. Dessa forma, podese verificar que o asfalto-borracha (CAPFLEX B) apresenta maior resistência à

formação de defeitos (deformação permanente e de trincas por fadiga) do que o CAP50/70. 4 AVALIAÇÃO DAS MISTURAS ASFÁLTICAS A dosagem das misturas asfálticas (a quente e a frio) foi feita empregando-se o método Marshall (DNIT-ME 043/95; DNIT-ME 053/94 e DNIT-ME 117/94). A avaliação das misturas asfálticas foi feita através de ensaios mecânicos: resistência à tração estática por compressão diametral, RT (DNIT-ME 138/94) e módulo de resiliência, MR (DNIT-ME 133/94). A Tabela 1 apresenta um resumo dos resultados obtidos pelos ensaios mecânicos. Tabela 1: Parâmetros mecânicos das misturas avaliadas Misturas MR (MPa) RT (MPa) MR/RT CBUQ (Faixa C) 2.616 0,77 3.397 SMA (AASHTO) 3.077 1,10 2.797 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS Inicialmente foram produzidas misturas asfálticas sem fibras e realizadas dosagens com os diferentes tipos de fibras (sisal e coco), onde foram adotados (de acordo com a literatura) os teores de 0,3%, 0,4% e 0,5%. Foram produzidos 5 corposde-prova com cada teor de fibra. Os resultados obtidos nos ensaios realizados mostraram que as misturas com a fibra de sisal apresentam melhores resultados, quando comparadas com as fibras sintéticas (de poliéster) e as fibras de coco. No entanto, os ensaios precisam ser mais aprofundados, por isso ainda não permitem conclusões concretas a respeito do comportamento da fibra de sisal nas misturas asfálticas, pois visivelmente verificou-se que as fibras ficaram aparentes nos corposde-prova, não ficando bem homogênea como era esperado. Isso pode ter acontecido

devido ao tamanho das fibras, pois as mesmas foram cortadas manualmente com tesouras comuns, e no momento da mistura percebe-se que as fibras ficam grudadas nas colheres que são utilizadas para misturar os materiais, gerando perda das mesmas. Por esse motivo, o estudo continua em andamento, onde serão produzidas novas misturas asfálticas com fibras de sisal, onde os corpos-de-prova serão submetidos ao ensaio de resistência do tipo Cantabro, que irá avaliar a estabilidade da mistura. 6 - CONCLUSÕES Apesar da necessidade de ensaios complementares, as evidências da pesquisa são de que a mistura asfáltica descontínua com fibras naturais e a mistura descontínua com ligante modificado podem ser alternativas para a melhoria da qualidade dos pavimentos, melhorando as propriedades de resistência ao acúmulo de deformação permanente (maior rigidez a elevadas temperaturas), de resistência à formação de trincas por fadiga (maior elasticidade). Além disso, deve-se considerar que, além de utilizar materiais naturais, renováveis e de fácil aquisição no nosso estado, também está se empregando um material produzido com resíduos sólidos, que é o caso dos pneus inservíveis utilizados na fabricação do ligante asfalto-borracha. 7 - NOTAS O desenvolvimento deste trabalho só foi possível porque conta com o apoio da Petrobras Distribuidora, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), dos bolsistas Rigner Reis de Castro, João Paulo Ribeiro de Vasconcelos e Roseana Borges Mota e do técnico do Laboratório de Pavimentação da UNIFACS, Eliton Pereira Leal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AASHTO American Association of State Highways Transportation Officials. MP8 Specification for Designing SMA. 2000. EDEL, G. Novas tecnologias - Asfalto borracha. Partilha de Conhecimento. Construção Civil na Prática, ANCOVAP - 1ºEdição, São José dos Campos, SP. 2005. FERNANDES, JR., J. L.; ODA, S.; ZERBINI, L. F. Defeitos e Atividades de Manutenção e Reabilitação de Pavimentos Asfálticos. Apostila. EESC/USP - São Carlos, SP, 1999. NEVES FILHO, C. L. D. Avaliação Laboratorial de Misturas Asfálticas SMA Produzidas com Ligante Asfalto-Borracha. Dissertação (Mestrado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, SP, 2004.