BALANÇO HÍDRICO NO ECOSSISTEMA FLORESTAL E SUA IMPORTÂNCIA CONSERVACIONISTA NA REGIÃO OCIDENTAL DOS ANDES VENEZUELANOS



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Transcrição:

BALANÇO HÍDRICO NO ECOSSISTEMA FLORESTAL E SUA IMPORTÂNCIA CONSERVACIONISTA NA REGIÃO OCIDENTAL DOS ANDES VENEZUELANOS Ricardo Valcarcel. RESUMO O presente trabalho consiste na análise de vários estudos realizados na região ocidental dos Andes Venezuelanos, zona de ocorrência de Bosque Pluvial Montano Bajo Tropical, segundo a classificação de HOLDRIDGE (1978). A importância desta vegetação, para efeito de Manejo de Bacias Hidrográficas, concentra-se no fato de que é característica de zonas montanhosas e, mais precisamente, das partes mais altas das bacias, exercendo uma grande influência no comportamento hidrológico de muitos rios do país. A floresta influi no balanço hídrico da região desde a precipitação até a regularização do regime hídrico dos rios; passando pela interceptação (19% da precipitação total anual), infiltração e percolação (37%), evapotranspiração (62%), escoamento superficial (0,95%) e minimizando o impacto da gota de chuva em aproximadamente 80,7% do total da precipitação no local. Atua como fator estabilizador dos solos, que são de textura argilosos, pouco profundos e localizados em zonas de relevo acidentados, melhorando suas propriedades físico-hidrológicas. 1. INTRODUÇÃO O estudo e a compreensão da distribuição da água na vegetação, principalmente a florestal, podem gerar formas de manejo tecnicamente viáveis, facilitando a tomada de decisões importantes para o uso integrado das bacias hidrográficas. O balanço hídrico em um ecossistema florestal é muito importante, pois a água é um fator determinante para as propriedades quantitativas e qualitativas da vegetação e da fauna, influindo também na formação do próprio solo. Em muitas bacias, o balanço hídrico é de vital importância para o homem, devido às diferentes formas de uso que este lhe confere. O presente trabalho versa sobre a distribuição da água na floresta classificada, segundo HOLDRIDGE (1978), em "Bosque Pluvial Montano Bajo Tropical", formação freqüente nos vales úmidos dos Andes, ocorrendo entre as altitudes de 1.600 a 2.600 m.s.n.m. A importância deste ecossistema reside no fato de ele se localizar em zonas montanhosas, precisamente nas partes altas das bacias hidrográficas, exercendo uma grande influência no comportamento hidrológico dos rios da região. A região é caracterizada por possuir solos com predominância de textura fina, pouco profundo e relevo acidentado, o que a torna altamente susceptível aos processos erosivos. 2. MATERIAL E MÉTODOS A descrição completa do balanço hídrico em ecossistemas florestais localizados nos trópicos tem sido pouco estudada. Os estudos não apresentam metodologias padronizadas, tornando difícil comparações com outras regiões, mesmo que apresentem características climáticas parecidas. Algumas dificuldades encontradas são: alto custo dos equipamentos, longo período de coleta dos dados submetendo os

aparelhos às intempéries, falta de local seguro para instalar os aparelhos, grande diversidade climática entre regiões e até um certo desinteresse das autoridades competentes em estimular estes estudos. Neste trabalho, foram utilizados os dados disponíveis de pesquisas já realizadas na Estação Experimental de San Eusébio, da Universidade de Los Andes, bem como observações registradas na mesma área. A precipitação predominante é do tipo orográfica, com uma média anual de 1.576 mm, sendo fevereiro e março os meses mais secos, e maio e setembro, os mais chuvosos. Contudo, a diferença não é muito grande; praticamente, chove durante todos os meses do ano. STEINHARDT e FASSBENDER (1979) registraram, no período de um ano de estudos, 21 eventos maiores de 5 mm, sendo que os valores extremos foram 34,7 e 39,8 mm por dia. A precipitação dentro da floresta foi medida através de 30 pluviômetros distribuídos em três linhas distanciadas de 5 m entre si. O escoamento pelo tronco foi observadas pelos autores com auxílio de canaletas de borracha, colocadas nas árvores com DAP superior a 10 cm em quatro parcelas de 100 m 2. A interceptação foi calculada pela diferença entre a chuva a campo aberto e a precipitação dentro da floresta. O escoamento superficial foi registrado em seis sub-parcelas de 10 m 2 por GRIMM e FASSBENDER (1981). Foram realizados medições adicionais, visando determinar a capacidade de infiltração da água no solo, com auxílio de infiltrômetros de cilindro. O conteúdo de água no solo foi estimado através de observações da drenagem interna no perfil do solo e medido com auxílio de tensiômetros colocados em três profundidades distintas por GRIMM e FASSBENDER (1981). A evapotranspiração dentro da floresta foi calculada por GRIMM e FASSBENDER (1981), utilizando uma balança de registro semanal contínuo e, a campo aberto, através das fórmulas de thornwaite, turc e em função da radiação líquida. A água no solo foi calculada indiretamente pela diferença entre a que ingressou no solo mineral e a absorvida pela floresta (armazenada no solo + transpiração). Foram feitas observações das características físicas dos solos de áreas com diferentes usos na mesma região (principalmente floresta e pastagens), visando uma comparação com a finalidade de evidenciar a importância conservacionista deste ecossistema estudado. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O estudo da floresta sob o enfoque de sua participação no ciclo hidrológico é de grande importância, pois ela participa na condensação da chuva, evaporação e regularização do regime hidrológico dos rios. Os dados coletados por GRIMM e FASSBENDER (1981) podem ser expressos em função do total de chuva precipitada sobre a estação, contribuindo para evidenciar a magnitude da importância hidrológica e conservacionista da floresta dentro da bacia hidrográfica. Da precipitação total anual, 19% ficou retido na cobertura florestal (interceptação); aproximadamente 0,7% escorreu pelo tronco e 80% precipitou sobre o solo florestal. Sendo que, parte desta água fica retida no folhedo, parte infiltra (37%) e parte (0,95%) escoa superficialmente (Figura 1).

Estes dados apresentaram alta correlação com a chuva medida a campo aberto, porém, nos períodos de chuvas mais intensas, o comportamento não foi o mesmo. Para efeito deste estudo, estes valores foram tidos como médios, portanto, representativos da floresta estudada, podendo ser estendido para toda a região com esta cobertura florestal e mesmas características climáticas. Os valores obtidos do escoamento superficial ratificam as características da floresta, de melhorar as propriedades físico-hidrológicas dos solos. VALCARCEL & FRANCO (1981) registraram com infiltrômetro de cilindro os seguintes valores médios de infiltração: 111 cm/h, 75 cm/h e 68 cm/h em três zonas com desenvolvimento estrutural e declividade distintas dentro da mesma área de estudo, confirmando a alta taxa de infiltração da água no solo e a pouca oportunidade para que a água escoe superficialmente. Os valores baixos do escoamento pelo tronco coincidem com os estudos de ZAMBRANA (1975) e NANOKARAN (1975). São justificados pela grande ocorrência de epífitas, musgos e bromélias, que crescem nos galhos, retendo quantidade significativa de água. A água que infiltra no solo pode ser transpirada, evaporada, escoada e pode também percolar, abastecendo o fluxo básico, que fornecerá água para os rios da região. A eliminação da cobertura florestal de uma bacia hidrográfica pode aumentar a vazão momentânea dos rios, pois analisado sob o ponto de vista de economia d'água, esta diminui as perdas por evapotranspiração e infiltração do sistema. Porém, uma mudança nas características fisionômicas da vegetação deverá causar uma modificação nas etapas do ciclo hidrológico, que envolvem a floresta e, conseqüentemente, os processos hidrológicos dentro da bacia hidrográfica. 4. CONCLUSÕES A floresta é um componente de grande importância no balanço hídrico das bacias hidrográficas, podendo auxiliar na conservação dos solos, abastecimento e estabilização do ciclo hidrológico. O folhedo e as raízes propiciam condições ecológicas para o estabelecimento de fauna, que atua no desenvolvimento estrutural do solo, facilitando a infiltração, diminuindo o escoamento superficial e estabilizando os solos da bacia hidrográfica. Nas áreas localizadas em elevações onde predominam chuvas orográficas, as florestas podem funcionar como condensadores de umidade, através da interceptação vertical, aumentando a quantidade de água disponível. Os solos onde se encontram estas florestas são pouco profundos e possuem uma capa superficial bem estruturada. O relevo é acidentado facilitando o movimento sub-superficial e o fluxo básico, diminuindo as perdas por percolação. 5. REFERÊNCIAS DE VERGNETTE, B. et alii. Conservación de suelos en regiones tropicales: África y Madagascar.Mérida, CIDIAT, 1977. 120p. FERNANDEZ DE LA PAZ, N. Medición de pérdidas por intercepción bajo dos tipos de cobertura. Trabalho especial apresentado ao Centro de Postgrado Forestal da Facultad de Ciencias Forestales-ULA, Mérida, 1981. 54p.

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FIGURA 1 - Representação do Balanço Hídrico no BPMBT em função da precipitação anual (em porcentagem). PP - Precipitação IV - Interceptação Vertical PDF - Precipitação Dentro da Floresta ET - Escoamento pelo Tronco ES - Escoamento Superficial ETR - Evapotranspiração Real IH - Interceptação Horizontal P - Percolação MO - Matéria Orgânica VALCARCEL,R.(1985). Balanço hídrico no ecossistema florestal e sua importância conservacionista na região ocidental dos Andes Venezuelanos. Anais do XI Seminário sobre Atualidades e Perspectivas Florestais: "A importância das florestas no manejo das bacias hidrográficas", Anais..., Curitiba, PR. (EMBRAPA /CNPF. Documentos 16). 142p, p32-35.