M I N I S T É R I O P Ú B L I C O F E D E R A L Procuradoria da República no Amazonas PORTARIA Nº 045, DE 5 DE ABRIL DE 2013. O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República signatário, com base no art. 129, II, da Constituição Federal, o art. 6º, VII, alíneas a a d, da Lei Complementar n. 75/93, o art. 5º da Resolução CSMPF n. 87/2006, de 03 de agosto de 2006, do Conselho Superior do Ministério Público Federal, bem como o art. 4º da Resolução n. 23, de 17 de setembro de 2007, do Conselho Nacional do Ministério Público, e CONSIDERANDO que são funções institucionais do Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e dos interesses individuais indisponíveis; zelar pela observância dos princípios constitucionais relativos ao meio ambiente, zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos da União e dos serviços de relevância pública quanto aos direitos assegurados na Constituição Federal relativos às ações e aos serviços de saúde; CONSIDERANDO que compete ao Ministério Público a defesa dos interesses difusos e coletivos envolvendo o meio ambiente e, especificamente, a propositura das ações de responsabilidade por danos morais e materiais causados ao meio ambiente (art. 129, III, da Constituição Federal e art. 1º, I, da Lei nº. 7.347/1985); CONSIDERANDO a função institucional do Ministério Público de promover o inquérito civil público e a ação civil pública para a defesa de interesses difusos e coletivos, dentre os quais o meio ambiente e o direito do consumidor, conforme reconhecido, expressamente, na Lei Orgânica do Ministério Público da União (LC nº. 75 de 20.5.93, art. 6º, inc. VII, alínea b e d ); CONSIDERANDO que a Constituição Federal preconiza em seus artigos 196 e 225, que A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação e que Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações ; CONSIDERANDO que para assegurar os direito à saúde e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, a Constituição Federal, em seu artigo 225, 1º, IV e V,
garante ao Poder Público a incumbência de exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade e controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente ; CONSIDERANDO o disposto na Lei nº 8078/90, em seu art. 6º, incisos I e III, que são direitos básicos do consumidor a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos e a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem ; CONSIDERANDO que o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal RIISPOA, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, estabelece em seu art. 116, a proibição da matança em comum de animais que, no ato de inspeção "ante-mortem", sejam suspeitos das seguintes zoonoses: 1 - Artrite infecciosa; 2 - Babesioses; 3 - Bruceloses; 4 - Carbúnculo hemático; 5 - Carbúnculo sintomático; 6 - Coriza gangrenosa; 7 - Encéfalomielites infecciosas; 8 - Enterites septicêmicas; 9 - Febre aftosa; 10 - Gangrena gasosa; 11 - Linfangite ulcerosa; 12 - Metro-peritonite; 13 - Mormo; 13-A Para tuberculose 14 - Pasteureloses; 15 - Pneumoenterite; 16 - Peripneumonia contagiosa (não constatada no país); 17 - Doença de Newcastle; 18 - Peste bovina (não existente no pais); 19 - Peste suína; 20 - Raiva e pseudo-raiva (doença de Aujezsky); 2
21 - Ruiva; 22 - Tétano; 23 - Tularemia (não existente no país); 24 - Tripanossamíases; 25 Tuberculose CONSIDERANDO que a Coordenação de Fiscalização de Produtos para Alimentação Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento relacionou as substâncias proibidas na alimentação animal com a finalidade de aditivo, quais sejam: 1 - Avoparcina - Ofício Circular DFPA nº 047/1998; 2 - Arsenicais e antimoniais - Portaria nº 31, 29/01/2002; 3 - Cloranfenicol e nitrofuranos Instrução Normativa nº 09, 27/06/2003; 4 - Hormônios como aditivos alimentares em aves - Instrução Normativa nº 17, 18/06/2004; 5 - Olaquindox - Instrução Normativa nº 11, 24/11/2004 6 - Carbadox - Instrução Normativa nº 35, 14/11/2005 7 - Violeta Genciana - Instrução Normativa nº 34, 13/09/2007 8 - Anfenicóis, tetraciclinas,beta lactâmicos (benzilpenicilâmicos e cefalosporinas), quinolonas e sulfonamidas sistêmicas - Instrução Normativa nº 26, 9/07/2009(revoga Portaria 193/1998) 9 - Anabolizantes hormonais para bovinos - Instrução Normativa nº 55, 01/12/2011 (revoga Instrução Normativa nº 10/2001) 10 - Espiramicina e eritromicina - Instrução Normativa nº 14, 17/05/2012. CONSIDERANDO que há um sistema informatizado desenvolvido pelo Centro Pan- Americano de Febre Aftosa (PANAFTOSA) Sistema Continental de Vigilância Epidemiológica (SivCont) - visando o registro de dados sobre atendimentos a suspeitas de síndromes vesicular, hemorrágica dos suídeos, nervosa, e respiratória e nervosa das aves com vistas a demonstrar as atividades de vigilância dos países da América do Sul, Central e México na detecção das doenças alvo de cada síndrome. CONSIDERANDO que a Divisão de Epidemiologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estabeleceu no Manual de Operação do Sistema Continental de Vigilância Epidemiológica (SivCont) que, Para síndrome vesicular, as doenças alvo são: febre aftosa e estomatite vesicular; para hemorrágica dos suídeos: peste suína clássica e peste suína africana; para síndrome nervosa: raiva, encefalomielite eqüina, encefalopatia espongiforme bovina (exótica no país); e para síndrome respiratória e nervosa das aves: doença de Newcastle e influenza aviária. 3
CONSIDERANDO o que consta das matérias jornalísticas em anexo, sobre o abate clandestino de animais (gado bovino) no Estado do Amazonas, com risco de contaminação da carne consumida pela população, além da ocorrência de focos de doenças como a brucelose no rebanho bovino do Estado; CONSIDERANDO o que consta da anexa ata de reunião, realizada nesta Procuradoria da República em 3 de abril de 2013, com a participação de representantes do IBAMA/AM, Conselho Regional de Medicina Veterinária, Agência de Defesa Animal e Florestal do Amazonas ADAF, Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento de Manaus SEMPAB, Ministério de Agricultura e Pecuária MAPA, Federação da Agropecuária do Amazonas FAEA, Fundação de Vigilância Sanitária FVS, Promotoria de Defesa do Consumidor do Ministério Público do Estado do Amazonas MPE, e Ministério Público do Trabalho MPT; CONSIDERANDO que, nos termos da ata de reunião, os referidos órgãos manifestaram interesse na celebração de um Termo de Cooperação Técnica, visando a implantação no Estado do Amazonas de um Programa de Proteção Jurídico- Sanitária dos Consumidores de Produtos de Origem Animal, nos moldes adotados no Estado de Santa Catarina; RESOLVE instaurar INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO para apurar o abate clandestino de gado bovino no Estado do Amazonas e investigar os danos causados à saúde pública, ao consumidor e ao meio ambiente, com o aperfeiçoamento dos mecanismos de fiscalização e combate desses ilícitos. Para isso, DETERMINA: I Autue-se e registre-se no âmbito da PR/AM; II - Envie-se cópia da Portaria, por meio digital, à Assessoria de Comunicação da PR/AM (Ascom), para afixação no quadro de avisos desta Procuradoria, pelo prazo de 10 (dez) dias e divulgação no site da PR-AM; III Comunique-se a instauração à douta 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, por meio eletrônico, inclusive com encaminhamento desta portaria em arquivo digital; IV Requisite-se as seguintes informações, no prazo de 30 (trinta) dias: 4
(a) ao Governo do Estado do Amazonas SEPROR/ADAF: fiscalizações efetuadas nos frigoríficos existentes no Estado do Amazonas e cumprimento pelos serviços de inspeção municipal e estadual da legislação federal (Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal RIISPOA do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento MAPA); (b) à Superintendência da Receita Federal do Brasil no Amazonas: processos de investigação encerradas sobre sonegação previdenciária e fiscal em frigoríficos no Estado do Amazonas; (c) à Superintendência no Estado do Amazonas do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento MAPA: medidas empreendidas e os recursos orçamentários previstos e efetivamente despendidos nos últimos cinco anos para fiscalização e combate a abates clandestinos no Estado do Amazonas, bem como informações sobre o pleno cumprimento pelos serviços de inspeção municipal, estadual e federal da legislação federal do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal RIISPOA nesses estabelecimentos; (d) à Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANVISA: medidas empreendidas e os recursos orçamentários previstos e efetivamente despendidos nos últimos cinco anos para fiscalização e combate a abates clandestinos no Estado do Amazonas, bem como informações sobre o pleno cumprimento pelos serviços de inspeção municipal, estadual e federal da legislação federal do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal RIISPOA nesses estabelecimentos; (e) ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Recursos IBAMA: informações sobre a regularidade ambiental (vigência de licença ambiental de operação e cumprimento de suas condicionantes) dos frigoríficos sob inspeção federal existentes no Estado do Amazonas; (f) ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas IPAAM: informações sobre a regularidade ambiental (vigência de licença ambiental de operação e cumprimento de suas condicionantes) dos frigoríficos sob inspeção municipal e federal existentes no Estado do Amazonas; (g) Conselho Federal de Medicina Veterinária: informações sobre ações de fiscalização efetivadas em frigoríficos no Estado do Amazonas nos últimos cinco anos; (h) MAPA e ADAF: informações sobre as notícias de abate e comercialização de gado bovino com brucelose nos Municípios de Envira e Eirunepé; V - Junte-se aos autos as Portarias nº 89/1996 e nº 304/1996, do MAPA; 5
VI - Apense-se o manual de legislação sobre sanidade animal (disponível no link:http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/aniamal/manual %20d20LegislaC3%A7%C3%A3o%20-%20Sa%C3%BAde%20Animal%20- %20low.pdf) e o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal RIISPOA do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento MAPA; VII Encaminhe-se, por e-mail, a ata da reunião a todos os participantes (conforme lista de presença em anexo), assim como a minuta do Termo de Cooperação Técnica, para que, no prazo de 30 (trinta) dias, enviem suas contribuições, ao final do qual o MPF elaborará a versão definitiva do acordo e agendará reunião entre todos os envolvidos, para celebração do instrumento. LEONARDO ANDRADE MACEDO Procurador da República 6