LESÕES CARIOSAS, RESTAURAÇÕES E EXTRAÇÕES POR PROCESSO CARIOSO DE PRIMEIROS MOLARES PERMANENTES. ESTUDO CLÍNICO E RADIOGRÁFICO*



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Transcrição:

LESÕES CARIOSAS, RESTAURAÇÕES E EXTRAÇÕES POR PROCESSO CARIOSO DE PRIMEIROS MOLARES PERMANENTES. ESTUDO CLÍNICO E RADIOGRÁFICO* Sandra Maria H. C. Ávila de AGUIAR** Ruy dos SANTOS PINTO*** RESUMO: O presente estudo analisa, clinica e radiograficamente, lesões cariosas, restaurações e extrações por cáries, em 1.600 molares permanentes de 400 crianças, de ambos os sexos, com idades de 5 a 13 anos, assistidas na clinica de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia do Campus de Araçatuba - UNESP, no ano de 1994. PALAVRA-CHAVE: Cárie dentária; restauração dentária; extração dentária; primeiro molar permanente. Introdução o primeiro molar permanente é o elemento dental que deve merecer toda atenção e cuidados, não só por sua importância funcional e necessidade de preservação como, também, por sua alta susceptibilidade à lesão de cárie e suas graves conseqüências. 15 Ao longo dos anos, este elemento dental tem sido a grande preocupação de profissionais e pesquisadores da Odontologia, 17 principalmente após Angle Z considerá-lo o "dente chave de oclusão", ao formular sua classificação de má oclusão, baseando-se em seu posicionamento na arcada dental. * Resumo da Dissertação de Mestrado - Área de Odontopediatria - Faculdade de Odontologia UNESP -16015-050 - Araçatuba - SP. ** Odontopediatra, Mestre em Odontologia, Área de Odontopediatria, Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Odontopediatria e Cirurgiã-Dentista do CAOE - Faculdade de Odontologia - UNESP - 16015-050 - Araçatuba SP. *** Professor Titular da Disciplina de Cirurgia - Buco-Maxilo-Facial. Orientador desta Tese. Fundador e Consultor do CAOE - Faculdade de Odontologia - UNESP - 16015-050 - Araçatuba - SP. Rev. Odontol. UNESP, São Paulo, 25(2): 345-355, 1996 345

Com a erupção do primeiro molar permanente, pode-se esperar o envolvimento carioso freqüente de fossetas, fissuras e de defeitos morfológicos odusais que devem ser restaurados para evitar o desenvolvimento de lesões cariosas extensas. lo Pelo fato de a erupção dos primeiros molares permanentes preceder à dos demais dentes permanentes, a incidência da lesão cariosa nestes dentes pode ocorrer com maior freqüência. 15 Na perda de um molar permanente podem ocorrer alterações como distúrbios na oclusão; distúrbios na articulação têmporo-mandibular; redução da capacidade mastigatória em até 50%; gengivite; destruição dos tecidos de suporte e migração mesialdos segundos molares permanentes, do mesmo lado daperdadental; extrusão, retração gengival e hipersensibilidade do primeiro molar superior permanente com a perda de seu antagonista e, ainda, inúmeras outras alterações. ll A manutenção dos primeiros molares permanentes, na arcada dental, é fundamental para o estabelecimento de uma oclusão estável, pois eles constituem, de forma específica, parte essencial do sistema estomatognático. Proposição o propósito do presente trabalho é analisar, clínica e radiograficamente, em primeiros molares permanentes, as lesões cariosas, restaurações e extrações por processo carioso, em crianças de ambos os sexos, assistidas na Clínica de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia do Campus de Araçatuba - FOA - UNESP. Material e método Para o presente estudo foram analisados 1.600 primeiros molares permanentes, a partir de 400 fichas clínicas de crianças de ambos os sexos, com idades de 5 a 13 anos, examinadas, clínica e radiograficamente, na Clínica de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia do Campus de Araçatuba FOA - UNESP, no ano de 1994 (Tabela 2). As idades destas crianças foram consideradas segundo três faixas etárias (Tabela 1). Estas três faixas etárias foram baseadas nas observações de Viegas,21 ao considerar que mais de 80% das lesões cariosas, em crianças com 7 anos de idade, e cerca de 50% nas com 12 anos, ocorriam em primeiros molares permanentes. Baseamo-nos, ainda, nas observações de Sagretti et a1.,17 ao afirmarem a ocorrência de aumento no risco de cárie com o avançar da idade. 346 Rev. Odontol. UNESP, São Paulo, 25(2): 345-355, 1996

Os dentes dessas crianças, foram examinados e diagnosticados visual e radiograficamente, por meio de radiografias periapicais, segundo orientação e supervisão dos docentes da Disciplina de Odontopediatria, da Faculdade de Odontologia de Araçatuba. Tabela 1 - Faixa etária e idade correspondente em anos Faixa etária Idade (anos) 5a7 II III 8 a 10 11 a 13 Para a tomada radiográfica da região dos molares, segundo orientação desta disciplina, foi utilizado um filme periapical dobrado em ângulo reto e colocado sob a parte do filme que o paciente morde, um pedaço de rolo de algodão, preso com fita adesiva. Em seguida, o filme foi colocado na boca da criança, sendo ela orientada para morder a parte do filme com o rolo de algodão, de tal maneira que a outra face do filme ficasse paralela ao longo eixo do dente. Os raios X sempre dirigidos para a região apical dos dentes a meio centímetro sobre a borda da mandíbula, semelhante à técnica da bissetriz ou cone curto, possibilitando, assim, a posterior visualização dos germes dentais, durante a dentição mista. Para a região dos molares superiores, as tomadas radiográficas foram realizadas utilizando-se o mesmo recurso ora citado. Previamente ao exame clínico, foram realizadas profilaxias dentais com o auxílio de escovas Robinson e pedra-pomes, para remoção de placas e resíduos alimentares das superfícies oclusais, e taças de borracha para as demais superfícies. Para o exame clínico visual, os dentes foram secados com ar comprimido da seringa do equipo odontológico e cada superfície dental foi examinada com o auxílio de espelho clínico plano e luz artificial do refletor odontológico. Foram considerados apenas os primeiros molares permanentes que já estivessem com suas coroas clínicas totalmente irrompidas, não importando se haviam ou não atingido o plano oclusai. As informações colhidas na análise dos exames clínico e radiográfico foram levadas a fichas de transferência de dados,20 para posteriores análises (Figura 1), de acordo com os seguintes critérios: Rev. Odontol. UNESP, São Paulo, 25(2): 345-355, 1996 347

1 Dente íntegro - aquele com sua integridade não comprometida por processo carioso ou por restaurações; 2 Dente com lesão cariosa - o que apresentava descalcificação, ao longo das fissuras oclusais; linha escura ao longo de suas fissuras, acompanhada por descalcificação ao longo desta linha escurecida, denotando cárie ativa; esmalte socavado com destruição de dentina, e esmalte opaco com alteração de sua translucidez. 16 Foram considerados, ainda, como dentes cariados, os restaurados com recidiva de cárie e os com coroas totalmente destruídas por cárie. 3 Dente restaurado - aquele que apresentava uma ou mais restaurações em sua coroa, sem recidiva de cárie. 4 Dente extraído - desde que, por processo carioso. Ficha ITIJ Nome(IL[J Dente 16 D 26 D 36 D 46 D I. Prontuário ITIITI SexoD M/F Idade ITJ Integro C Com lesão carlosa R - Restaurado E Extraído por processo carioso FIGURA 1 - Ficha de transferência de dados ao computador. Os números obedecem á codificação da Federação Dentária Internacional (FOI). Para o arquivamento dos dados, eles foram levados a um computador e, a seguir, cadastrados, processados e recuperados por meio de um gerenciador de banco de dados Dbase. O processamento de dados foi realizado segundo o sistema EPI 6,* e os gráficos através do programa Word 6.** Os dados obtidos, relativos às análises comparativas entre sexos, foram submetidos à análise estatística pela aplicação da estimativa de intervalo de confiança a 95%. * EPI 6 - A word-processing, database and statistic program for health or IBM - compatible microcomputers Sistema divulgado pela OMS. ** MICROSOFT (Programa Editor de Texto). 348 Rev. Odontol. UNESP, São Paulo, 25(2): 345-355, 1996

Resultado Tabela 2 - Valores numéricos de primeiros molares superiores e inferiores de crianças de ambos os sexos, nas faixas etárias 1, II, III, íntegros (1), com lesão cariosa ( C ), restaurados (R), e extraídos (E), por processo carioso Primeiros molares Sup. lnf. Sup. lnf. Sup. lnf. Condição Faixa etária II III I 42 42 43 26 7 3 Masc. C 53 52 125 133 49 50 R 7 8 50 55 24 26 E O O O 4 O 1 I 72 45 46 33 11 6 Fem. C 48 75 123 127 38 44 R 4 4 35 42 23 21 E O O O 2 O 1 Tabela 3 - Valores numéricos, relativos à média (x), desvio padrão (8) e intervalo de confiança a 95%, limite inferior (Li) e limite superior (Ls), de primeiros molares permanentes superiores e inferiores íntegros (1), com lesão cariosa (C), e restaurados (R), de ambos os sexos, nas faixas etárias consideradas Primeiros molares permanentes Faixa etária I Faixa etária II Faixa etáriam x S Li Ls x S Li Ls x S Li Ls Masc. S 0,824 0,974 0,557 1.091 0,394 0,733 0,256 0,532 0,175 0,549 0,005 0,345 0,824 0,910 0,574 1.074 0,239 0,592 0,128 0,350 0.ü75 0,768 0,512 0,988 Fem. S 1,161 0,834 0,954 1.368 0,451 0,606 0,300 0,602 0,306 0,633 0,099 0,513 I 0,726 0,872 0,509 0,943 0,324 0,692 0,190 0,458 0,167 0,561 0,016 0,350 Masc. S 1,039 0,979 0,770 1,308 1.147 0,914 0,975 1,319 1,225 0,862 0,958 1,492 C 1,020 0,927 0,766 1,274 1.220 0,854 1,060 1,380 1,250 0,768 1,012 1,488 Fem. S 0,774 0,678 0,669 0,879 0,206 0,728 1,040 1,372 1,056 0,868 0,773 1,339 1,210 0,890 0,989 1,431 1.245 0,870 1,076 1,414 1,222 0,841 0,947 1,497 Masc. S 0,137 0,491 0,002 0,271 0,459 0,752 0,318 0,600 0,600 0,810 0,349 0,851 R 0,157 0,505 0,018 0,296 0,505 0,777 0,359 0,651 0,650 0,736 0,422 0,878 Fem. S 0,065 0,356 0,020 0,110 0,343 0,605 0,226 0,460 0,639 0,792 0,380 0,898 0,065 0,307 0,011 0,141 0,412 0,694 0,277 0,547 0,583 0,823 0,314 0,852 Rev. Odontol. UNESP, São Paulo, 25(2): 345-355, 1996 349

2.00 1.76 B -. LS (Limite Superior) -. X (Média) -. LI ( Limite Inferior) 1.60 1.00 0.76 0.60 I Soxo Masculino I Sexo Feminino 1.26 0.26 o S I s II s III I Arcadas I ( Faixas etárias I FIGURA 2 - Primeiros molares permanentes superiores (S) e inferiores (I) integras, de ambos os sexos, nas faixas etárias consideradas. 2.00 1.76 B -. LS ( Limite Superior) -. x (Média) -. LI ( Limite Inferior) 1.60 1.26 1.00 I Sexo Masculino 0.76 0.60 msexo Feminino 0.26 o S I S I II S I III (Arcadas I I Faixas etárias FIGURA 3 - Primeiros molares permanentes superiores (S) e inferiores (I) com lesão cariosa, de ambos os sexos, nas faixas etárias consideradas. 2.00 1.76 LS (Limite Superior) X ( Média) LI ( Limite Inferior) 1.60 1.26 1.00 I Sexo Masculino 0.76 0.60 msexo Feminino 0.26 o S I S I II S I III (Arcadas I ( Faixas etárias FIGURA 4 - Primeiros molares permanentes superiores (S) e inferiores (I) restaurados, de ambos os sexos, nas faixas etárias consideradas. 350 Rev. Odontol. UNESP, São Paulo, 25(2): 345-355, 1996

Discussão É indiscutível a importância de que se reveste a presença dos primeiros molares permanentes, evidenciada pelos inúmeros trabalhos a respeito, razão pela qual este trabalho foi realizado. Mais importante, ainda, é a avaliação da presença de lesões cariosas nestes dentes, cujos reflexos danosos foram considerados por vários autores (Area de Cabezudo,3 Cheloti,5 Freitas et ai} Magalhães & Neves,lO Moraes et al.,13 Ortega,14 Santos & Rummer,18 Santos1 9 ). A avaliação dos primeiros molares permanentes, não só quanto à presença de lesões cariosas, como de restaurações dentais e suas extrações decorrentes de processos cariosos, foi realizada com o objetivo de detectá-las e de avaliar sua presença anterior, e posterior restauração, além de assinalar a perda do elemento dental pelo referido processo. Foram propostas, neste trabalho, três faixas etárias relativas às crianças de ambos os sexos, individualmente, com o objetivo de avaliar se, com o avançar da idade, representada pelas faixas etárias l, II e III, ocorreria um maior número de cáries, restaurações e extrações devido a este processo. O estabelecimento destas três faixas etárias foi baseado nas observações de Viegas,21 que apontava o primeiro molar permanente como responsável por mais de 80% das lesões cariasas, em crianças com 7 anos de idade, e cerca de 50%, nas com 12 anos. E, também, nos dados de Sagretti et al.,17 ao afirmarem a ocorrência de um aumento no risco de cárie com o avançar da idade. Tanto para os primeiros molares superiores quanto para os inferiores, de ambos os sexos, pôde-se verificar um aumento progressivo do processo carioso, nas faixas etárias consideradas, 'confirmando as observações de Sagretti et al.,17 ao relatarem que o risco de cárie aumenta com a idade. Os autores consultados não têm analisado a relação intrínseca que ocorre entre os dentes com lesão cariosa, os restaurados ou extraídos em sua decorrência. As restaurações dentais não têm sido consideradas por muitos autores, igualmente, como resultantes de um processo carioso que deve ser levado em conta. Na análise da lesão cariosa, nos primeiros molares superiores permanentes, nas três faixas etárias consideradas, foi possível verificar-se que não houve diferença, estatisticamente significativa, entre o número de lesões cariosas em primeiros molares superiores permanentes, de crianças do sexo masculino, quando comparado com estes mesmos dentes, de crianças do sexo feminino (Figura 3). Quanto à análise dos primeiros molares inferiores permanentes, de acordo com as faixas etárias consideradas, pôde-se verificar, tal qual o encontrado nos primeiros molares superiores, a não ocorrência de diferenças, estatisticamente significativa, quanto ao número de lesões cariosas na comparação entre os sexos, nas faixas etárias consideradas (Figura 3). Rev. Odontol. UNESP, São Paulo, 25(2): 345-355, 1996 351

Estes resultados diferem dos encontrados pelos autores pesquisados Adler, 1 Bruckner et al.,4 Horodyski & Jackowska,8 Legler & Menaker,9 e Magnussem & Perslinden12 e ao afirmarem que as crianças do sexo feminino apresentavam incidência de lesões cariasas um pouco mais elevada, pelo fato de seus dentes erupcionarem mais precocemente, quando comparadas com as do sexo masculino. No entanto, nossos resultados estão de acordo com o verificado por Herrera,7 ao observar a não ocorrência de diferença, estatisticamente significante, quanto à prevalência de lesões cariosas, em todos os primeiros molares permanentes, à análise comparativa entre os sexos e nas faixas etárias consideradas (Figura 2). Não ocorreram diferenças estatisticamente significantes entre o número de primeiros molares permanentes, superiores e inferiores restaurados, de ambos os sexos e nas faixas etárias consideradas (Figura 4). Os primeiros molares permanentes extraídos, de ambos os sexos, apresentaram um percentual de 0,5%, significando que, de um total estimado de 1.600 primeiros molares permanentes, apenas 8 deles foram extraídos, em decorrência de extensas lesões cariosas, não restauradas em tempo hábil. Por outro lado, pudemos verificar que os métodos atualmente empregados na prevenção da cárie dental, bem como a motivação da população em geral, principalmente a infantil para a conservação dental, freqüentando mais assiduamente os serviços odontológicos, mostraram-se altamente satisfatórios, uma vez que o número de primeiros molares permanentes extraídos se apresentou extremamente baixo (Tabela 3). Este resultado difere dos apresentados por Moraes et al.,13 ao citarem que os primeiros molares permanentes apresentavam de 75% a 80% de perdas dentais, em ambos os sexos, por volta dos 12 anos de idade. Ao analisarmos a integridade dos primeiros molares permanentes superiores, observamos que a do sexo masculino, quando comparada à dos superiores do sexo feminino, nas três faixas etárias consideradas, não apresentou diferença estatisticamente significante (Figura 2). Quanto à integridade dos primeiros molares inferiores, notamos que os dentes das crianças do sexo masculino, quando comparados aos das crianças do sexo feminino, nas faixas etárias I e II, não exibiram diferenças estatisticamente significantes (Figura 2 ). Entretanto, quando estes dentes foram comparados, na faixa etária III, pudemos observar uma diferença estatisticamente significante, as crianças do sexo masculino apresentaram média de primeiros molares permanentes inferiores íntegros, pouco mais elevada que a apresentada pelas crianças do sexo feminino (Figura 3). Este trabalho sugere-nos que outras pesquisas devam ser realizadas enfatizando as relações entre a prevenção e a possível redução da doença cárie, não apenas nos primeiros molares permanentes, como nos demais dentes. 352 Rev. Odontol. UNESP, São Paulo, 25(2): 345-355, 1996

Conclusão que: Em face da metodologia adotada neste trabalho e de seus resultados, conclui-se os primeiros molares permanentes superiores não exibiram diferenças estatisticamente significantes, quanto à integridade, à análise comparativa entre os sexos, nas faixas etárias consideradas; os primeiros molares permanentes inferiores, comparativamente entre os sexos, quanto à integridade, não exibiram diferenças estatisticamente significantes, nas faixas etárias I e II; diferença estatisticamente significante foi observada na faixa etária III, entre os sexos, quanto à integridade dos primeiros molares permanentes inferiores; não ocorreram diferenças estatisticamente significantes entre os sexos, relativas aos primeiros molares permanentes superiores e inferiores com lesões cariosas, nas faixas etárias consideradas; não ocorreram diferenças estatisticamente significantes entre os sexos, relativas aos primeiros molares permanentes superiores e inferiores restaurados, nas faixas etárias consideradas; o percentual de primeiros molares permanentes extraídos, de ambos os sexos, nas faixas etárias consideradas, apresentou-se extremamente baixo: 0,5%. AGUIAR, S. M. H. C. A. de, SANTOS PINTO, R. dos. Dental caries, restorations and extractions by dental caries in first permanent molars. Clinical and radiographic study. Rev. Odontol. UNESP (São Paulo), v.25, n.2, p.345-355, 1996. ABSTRACT: This research analyse by clinical and radiographic study, dental caries, restorations and extractions in 1.600 first permanents molars, from 400 children, both sexes, aged 5 to 13 years old, assisted in the Children 's Clinic, Faculdade de Odontologia de Araçatuba - FOA - UNESP, in 1994. KEYWORDS: Dental caries; tooth restoration; tooth extraction; first permanent molar Referências bibliográficas 1 ADLER, P. Caries increment in permanent molars. Caries Res., v.6, p.69-70, 1972. 2 ANGLE, E. H. Treatment ofmalocclusion ofthe teeth. 7.ed. Philadelphia: S. S. White Dental, 1907. p.17. 3 AREA DE CABEZUDO, E. Primeiros molares permanentes. Rev. Asoc. Odontol. Argent., v.61, p.305-10, 1973. Rev. Odontol. UNESP, São Paulo, 25(2): 345-355, 1996 353

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