PARECER Nº, DE 2008 Da COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS, sobre o Projeto de Lei do Senado nº 364, de 2008, que altera o art. 8º da Lei n 9.250, de 26 de dezembro de 1995, para permitir a dedução de despesa com prótese auditiva da base de cálculo do imposto de renda da pessoa física. RELATORA: Senadora ADA MELLO I RELATÓRIO O Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 364, de 2008, de autoria do Senador Expedito Júnior, visa a permitir a dedução, da base de cálculo do imposto de renda das pessoas físicas (IRPF), das despesas efetuadas pelo contribuinte com a aquisição de próteses e aparelhos auditivos, desde que o déficit auditivo a ser corrigido tenha sido causado por doença profissional ou acidente em serviço. Para isso, a proposição promove, por meio de seu art. 1º, a inclusão desses equipamentos na alínea a do inciso II do art. 8º da Lei n 9.250, de 26 de dezembro de 1995, que altera a legislação do imposto de renda das pessoas físicas e dá outras providências. Outrossim, a redação do inciso V do parágrafo 2º desse mesmo artigo é alterada com a finalidade de estender a exigência de nota fiscal e de receituário médico para a dedução das despesas com a aquisição dos aparelhos auditivos, e de restringir as hipóteses de dedução aos casos de doença profissional e de acidente em serviço.
2 O art. 2º da proposição determina que o Poder Executivo estime o montante da renúncia de receita decorrente das medidas propostas, incluindo a estimativa em demonstrativo que acompanha o projeto de lei orçamentária, para fim de dar cumprimento ao disposto no art. 14 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. O art. 3º determina que a norma passe a viger a partir da data de sua publicação, estabelecendo, porém, que ela produzirá efeitos somente após a implementação das disposições do art. 2º. O projeto foi distribuído a esta Comissão de Assuntos Sociais onde, no prazo regulamentar, não foram apresentadas emendas. Em seguida, a proposição será apreciada pela Comissão de Assuntos Econômicos, que abordará os aspectos financeiros e tributários e deliberará, em caráter terminativo, sobre a matéria. O autor ressalta, na justificação do PLS, o caráter injusto e iníquo da legislação sobre IRPF, no que concerne às deduções de despesas médicas, visto que o contribuinte pode deduzir despesas com próteses ortopédicas e dentárias, mas não pode fazer o mesmo com relação aos aparelhos auditivos. O Senador acrescenta que o uso desses aparelhos implica grande melhoria na qualidade de vida das pessoas com deficiência auditiva. II ANÁLISE Segundo trabalho publicado pela pesquisadora Gabriella Miranda, da Universidade Federal de Pernambuco, estima-se que 1,5% da população brasileira, ou seja, cerca de 2.800.000 habitantes, são portadores de algum grau de déficit auditivo. A deficiência auditiva, ou hipoacusia, pode ser dividida em dois tipos básicos: a) hipoacusia condutiva, ocasionada por lesões no ouvido médio ou externo que impedem que a vibração sonora seja captada pelo ouvido interno, geralmente secundária a infecções, alterações ósseas e perfurações no tímpano;
3 b) hipoacusia neuro-sensorial, provocada por lesões no ouvido interno, nervos ou córtex cerebral, podendo ser derivada de causas genéticas, do processo de envelhecimento, de doenças neurológicas e de exposição a ruídos ou agentes ototóxicos. De todas essas condições patológicas, merece destaque a perda auditiva decorrente do processo de envelhecimento, denominada presbiacusia. Estudos científicos apontam que o sistema auditivo senescente apresenta perda no limiar da sensibilidade e diminuição da habilidade de compreender a fala em intensidade confortável. Dessa forma, o idoso tem seu processo de comunicação verbal comprometido, em função da redução da sensibilidade auditiva e da inteligibilidade da fala, gerando grande frustração para o indivíduo. No outro extremo da vida, temos a disfunção auditiva em crianças. Estima-se que a incidência de deficiência auditiva congênita seja de aproximadamente 1,8 caso a cada 1000 nascidos vivos. A prevalência de perda auditiva na infância eleva-se até atingir 2,7 casos por mil crianças de até cinco anos de idade, progredindo para 3,5 casos por mil adolescentes. Vê-se que aproximadamente metade dos casos de deficiência auditiva nos adolescentes decorre de causas adquiridas, não-congênitas. Perdas auditivas, mesmo discretas, podem representar sério risco ao desenvolvimento da linguagem. Grande parte dos déficits auditivos, sejam congênitos ou adquiridos, podem ser corrigidos ou mitigados por meio de aparelhos de amplificação sonora individual. Eles representam um recurso tecnológico fundamental para o portador de perda auditiva não passível de correção por métodos clínicos ou cirúrgicos. Abrem a possibilidade de habilitar ou reabilitar a comunicação verbal do indivíduo, fazendo com que receba o estímulo sonoro amplificado e modulado. Não resta dúvida, portanto, que as órteses e próteses auditivas constituem importante recurso terapêutico para os portadores de doenças auditivas. Outrossim, de acordo com diversos dispositivos da Lei Orgânica da Saúde (Lei n 8.080, de 19 de setembro de 1990), o Sistema Único de Saúde (SUS) deve fornecer gratuitamente esses aparelhos a todo cidadão que deles necessitar.
4 Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS:... III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas. Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): I - a execução de ações:... d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;... Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;... A despeito dessas garantias legais, é, muitas vezes, grande a dificuldade de os pacientes obterem os equipamentos auditivos do SUS, sendo estes forçados a adquiri-los por conta própria. Por isso, a proposição sob análise reveste-se de grande mérito, pois permite que aqueles que não conseguiram obter gratuitamente o aparelho pelo SUS possam, ao menos, ter direito a um pequeno benefício tributário. No entanto, julgamos que não é justo restringir o direito à dedução apenas àqueles que apresentam déficit auditivo secundário a doença profissional ou acidente em serviço. Conforme salientamos anteriormente, os déficits auditivos acometem desde crianças recém-nascidas até idosos, sendo que todas as faixas etárias podem ser beneficiadas pelo uso de equipamentos de amplificação sonora. Se o Poder Público, por meio do SUS, tem o dever de fornecer as órteses e próteses auditivas a todo e qualquer brasileiro que delas necessitar, nada justifica que se permita a dedução da base de cálculo do IRPF apenas nos casos relacionados a acidentes e doenças do trabalho.
5 Destarte, com o objetivo de aprimorar a excelente iniciativa do Senador Expedito Júnior, apresentamos emendas no sentido de promover ajustes na ementa do projeto, corrigir a nomenclatura empregada (substituindo o termo aparelhos por órteses ) e de estender o benefício a qualquer pessoa que necessite de órteses ou próteses auditivas, independentemente da origem de sua doença. III VOTO Em vista do exposto, o voto é pela aprovação do Projeto de Lei do Senado nº 364, de 2008, com as seguintes emendas: EMENDA Nº CAS Dê-se a seguinte redação à ementa do Projeto de Lei do Senado nº 364, de 2008: Altera a Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995, para permitir a dedução de despesas com órteses e próteses auditivas da base de cálculo do imposto de renda das pessoas físicas. EMENDA Nº CAS Dê-se a seguinte redação ao art. 1º do Projeto de Lei do Senado nº 364, de 2008: Art. 1º O art. 8º da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 8º...... II...
6 a) aos pagamentos efetuados, no ano-calendário, a médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, bem como as despesas com exames laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos ortopédicos, próteses ortopédicas e dentárias e órteses e próteses auditivas;... 2º...... V no caso de despesas com aparelhos ortopédicos, órteses e próteses de que trata a alínea a do inciso II do caput deste artigo, exige-se sua comprovação com receituário médico e nota fiscal em nome do beneficiário.... (NR) Sala da Comissão,, Presidente, Relatora