O SR. INOCÊNCIO OLIVEIRA (PL/PE pronuncia o seguinte discurso.) Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados: Relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), organismo da ONU, revela que cerca de seis milhões de crianças morrem a cada ano no mundo pela fraqueza de seus sistemas imunológicos, em conseqüência da fome e desnutrição. O documento foi apresentado em Roma durante a 33ª. Conferência bienal da FAO, ao estimar que 852 milhões de pessoas padecem dos males da desnutrição e são vítimas de doenças infecciosas curáveis como a diarréia, o sarampo e a malária. Reduzir a fome e a pobreza extrema até 2015 é o objetivo proclamado pelo Organismo das Nações Unidas como parte dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, nesta alvorada de uma nova revolução tecnológica e a construção de uma sociedade global cujos bens materiais e serviços sejam compartilhados de modo mais eqüitativo ou menos injusto. O relatório da FAO faz este parlamentar evocar a figura emblemática do médico e geógrafo pernambucano Josué de Castro, embaixador do Brasil nas Nações Unidas de 1962 a 1964 e presidente desta Organização de Alimentação de Agricultura de 1952 a 1956. Autor dos clássicos Geografia da Fome e Geopolítica da Fome, traduzidos em vários países das Américas e da Europa, há mais de 50 anos o visionário Josué de Castro já preconizava um mundo sem fome. Na sua visão, a fome era um fenômeno relacionado à má distribuição de renda e à falta de justiça social, Agricultura e Alimentação (JA)
2 mais que uma questão meramente econômica. A imagem do homem anfíbio, misturado aos caranguejos no mangue, traduz sua concepção de luta pela sobrevivência em meio à pobreza. O legado de Josué de Castro está presente no acervo de realizações e nas novas pesquisas da FAO. Chefes de Estado, chefes de Governo, líderes de 189 países com assento na FAO e que participaram de reunião de Cúpula Mundial subscreveram documento sob o compromisso de adotar providências objetivas em seus países na luta contra a mortalidade infantil, em defesa do acesso à educação e escolaridade, pela melhoria da saúde materna, sustentabilidade do meio-ambiente, combate a doenças endêmicas e epidêmicas e no controle da Aids e outras enfermidades infecto-contagiosas. Estas são as premissas para se alcançar o objetivo de reduzir a fome a pobreza extrema até o ano de 2015. Notícias encorajadoras, segundo o relatório da FAO, são os progressos registrados na América da Latina e no Caribe. Esta foi a única região em desenvolvimento onde a fome foi reduzida gradualmente desde 1990, de modo a alcançar a meta estabelecida nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Políticas públicas compensatórias e de transferência de renda adotadas no Brasil desde a década passada evoluem de modo alentador como prenúncio de que o nosso País caminha numa trilha promissora. A região da Ásia situada na costa do Pacífico também apresenta boas possibilidades de evolução.
3 Os registros negativos ficam por conta da situação na África subsaarina, onde a fome diminui muito lentamente. Conflitos tribais, violência e má governança infelizmente agravam esta triste realidade. A incidência da fome no Oriente Médio e no norte da África é considerada baixa em termos percentuais, mas ao invés de diminuir a tendência tem sido de agravar-se, em razão de conflitos fratricidas. A luta para eliminar a fome, segundo o diagnóstico da FAO, será decidida nas zonas rurais, sobretudo nos 13 países mais pobres da África subsaarina e no Haiti, onde vivem três de cada quatro pessoas com fome no mundo, a mortalidade infantil atingem recordes mundiais, cerca de 530 mil mulheres falecem durante a gravidez ou o parto e os casos de malária aguda atingem níveis epidêmicos. O combate eficaz para vencer a fome requer, além de investimentos públicos e privados para aumentar a produção agrícola, em termos de infra-estrutura e custeio, boa governança, estabilidade política e manutenção da paz ao invés de guerras e corridas armamentistas, acesso à educação para as crianças e melhoria das condições de vida para as mulheres gestantes, adolescentes ou idosas, o que significa políticas públicas de amparo à infância e à velhice. Boa governança é sinônimo de justiça social. Estes são pontos de convergência com o pensamento de Josué de Castro. Ao contrário de outros países onde a maioria da população vegeta em condições de vida abaixo da linha da pobreza, o Brasil,
4 felizmente, não apresenta índices estarrecedores de fome ou percentuais alarmantes de miséria. É verdade que nosso País apresenta grandes bolsões de pobreza, nas periferias dos centros urbanos e no Interior. O dado positivo é que a fome, a desnutrição, os índices de mortalidade infantil e de qualidade de vida das populações registram melhorias gradativas, segundo as estatísticas. Neste sentido, os governantes, a sociedade e entidades não-governamentais operam de modo solidário. De outra parte, documento intitulado Panorama Social da América Latina, produzido pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), revela que entre 2003 e 2005 nada menos que 13 milhões de latino-americanos e caribenhos saíram da pobreza. Mesmo assim, a pobreza continua elevada: afeta 213milhões de pessoas no Continente, das quais 88 milhões vivem na indigência. Aumento dos gastos sociais nas áreas governamentais e condições econômicas favoráveis determinaram a variante positiva na redução da pobreza desde 1990, segundo o órgão ligado às Nações Unidas. Saneamento básico é condição essencial no Brasil para a evolução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das populações. Esta é a grande carência de que se ressentem as populações de nossas cidades. Sem saneamento básico reina a poluição, degrada-se o meio ambiente e disseminam-se as doenças nas camadas mais pobres da população. Inadmissível nos tempos atuais, quando as técnicas de reciclagem e de aproveitamento de matérias orgânicas para a produção de
5 fertilizantes, inadmissível é admitir a existência dos chamados lixões nas periferias de nossas cidades. Além de degradar o meio ambiente, degradem também as condições de cidadania. No exercício do mandato eletivo como representante da sociedade e com formação acadêmica em Medicina, registro nesta tribuna parlamentar o valioso relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), para que se constitua em fonte de reflexão, conscientização e adoção de políticas públicas concretas no bom combate à fome, à desnutrição e às mazelas decorrentes da pobreza e da indigência social. Muito obrigado! Sala das Sessões, em 29 de novembro de 2005. Deputado INOCÊNCIO OLIVEIRA Primeiro Secretário