NARRATIVAS DO JUDÔ FEMININO BRASILEIRO: CONSTRUÇÃO DA HISTORIOGRAFIA DE 1979 A 1992



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Transcrição:

Anpuh Rio de Janeiro Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro APERJ Praia de Botafogo, 480 2º andar - Rio de Janeiro RJ CEP 22250-040 Tel.: (21) 9317-5380 NARRATIVAS DO JUDÔ FEMININO BRASILEIRO: CONSTRUÇÃO DA HISTORIOGRAFIA DE 1979 A 1992 Gabriela C. de Souza orientada pela Profª Drª Ludmila Mourão - DPPGEF/ UGF INTRODUÇÃO Acredita-se que o judô feminino brasileiro teve inicio na década de 1920, segundo Gama (1986), logo após a chegada de imigrantes japoneses. Contudo, na década de 1940 criou-se o Decreto- Lei 3.199 que impedia a prática de esportes de combate, assim como outras atividades físicas que pudessem causar danos à integridade física da mulher, tanto quanto sua masculinização e, sobretudo, colocar em risco a possibilidade de ser mãe ou as condições físicas necessárias para criar seus filhos, como foi relatado em artigos publicados na Revista de Educação Física do Exército na década de 1930 a 1940. No final da década de 1970 e início dos anos 1980, as transformações sociais, culturais e políticas eram evidentes. O final da ditadura e a sedimentação da emancipação feminina que já vinha ganhando espaço com o direito ao voto, com o advento das pílulas anticoncepcionais e, principalmente, após a CPI da mulher i, fez com que o esporte também ganhasse força e conseqüentemente seu espaço na sociedade. Foi então no ano de 1979 que quatro atletas foram ao Sul-Americano de judô, no Uruguai, com nomes de homens para que fosse possível a obtenção de passagens aéreas, resultando na substituição da deliberação que impede as mulheres de praticarem esportes ditos viris. Consolidou-se, assim, em 1980, o surgimento do judô feminino legalizado junto ao Conselho Nacional de Desporto para que pudessem lutar em campeonatos nacionais e internacionais com ajuda dos órgãos responsáveis pela modalidade. Sendo assim, nos perguntamos como a historiografia destas judocas contribuiu para a legitimação da participação feminina neste esporte? Embora sejam recentes a iniciação e participação da mulher brasileira na prática esportiva do judô de alto rendimento, na atualidade, as qualidades físicas, técnicas e táticas das judocas estão muito aquém das dos judocas. Basta observarmos que após cinco Olimpíadas (1988, 1992, 1996, 2000 e

Usos do Passado XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006: 2 2004) o judô feminino brasileiro não obteve medalha alguma, ao passo que o masculino, somente em Olimpíadas, já obteve duas medalhas de ouro, três de prata e sete de bronze em nove edições dos Jogos Olímpicos (1972, 1976, 1980, 1984, 1988, 1992, 1996, 2000 e 2004). Este estudo originou-se do histórico de preconceitos acerca dos esportes ditos viris, no qual o judô feminino brasileiro está envolvido, e da necessidade de minimizar as lacunas existentes nas abordagens sociológicas, históricas e culturais que envolvem as mulheres atletas no Brasil. Compreender como se configurou este esporte como um dos vieses da crise paradigmática em torno da legalização da prática esportiva feminina na sociedade brasileira é um dos nossos interesses. Para analisarmos o porquê deste fato, não nos sentimos confortáveis em pesquisar o presente, sem antes nos atermos, também, ao passado. Propomos investigar neste estudo quais eram as narrativas das judocas e dos dirigentes sobre as práticas judoísticas femininas no período entre os anos de 1979 a 1992; em que contexto sóciohistórico, cultural e psicossocial estavam inseridos as mulheres que praticavam esportes ditos viris neste período; quais as estratégias utilizadas pelas judocas e dirigentes para competirem no Sul- Americano de 1979, período em que o esporte ainda era proibido no Brasil e quais as representações das atletas sobre as dificuldades e contribuições de fatores familiares, sócio-históricos e culturais, que permitiram que as práticas dessas atletas se configurassem como um dos vieses da crise paradigmática acerca da prática dos esportes pelas mulheres. Desta forma, propomos historicizar o judô feminino brasileiro entre os anos de 1979 a 1992 e analisar a representação do judô feminino brasileiro na sociedade brasileira, através da história oral (FREITAS, 2002), narrada por 12 atletas, que protagonizaram o cenário judoístico deste período, bem como de dirigentes e técnicos que estiveram presentes nos mesmos momentos; e consultas a materiais bibliográficos, da mídia impressa, com o intuito de investigar como ocorreu o processo de reconhecimento do judô feminino brasileiro e a subversão de barreiras pelas mulheres para legitimação deste esporte no Brasil. Este estudo tem como importância o desvendamento do processo historiográfico do judô feminino brasileiro; a contextualização e visibilidade sócio-históricos e culturais, acerca da prática dos esportes ditos viris; a identificação e analise das estratégias utilizadas pelas judocas e dirigentes para a participação do campeonato Sul-Americano de 1979; a analise das representações das atletas sobre as dificuldades e contribuições de fatores familiares, sócio-histórico e cultural que permitiram que as práticas dessas atletas se configurassem como um dos vieses da crise paradigmática acerca da prática dos esportes pelas mulheres; as fundamentações e embasamentos de novos estudos quanto à

Usos do Passado XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006: 3 representação feminina no judô brasileiro; a discussão de Incentivos a investimentos e suportes em esportes amadores praticados por mulheres e a criação de políticas que incluam as mulheres em esportes de luta. REFERENCIAL TEÓRICO Para melhor compreensão de como iniciou o judô feminino e como autores vêm desenvolvendo o tema ao logo dos anos, faremos um resgate de como Jigoro Kano, idealizador do judô, adaptou-o às mulheres e como Chuno Mesquita (1996) e Edmundo Drummond (2001) abordam as discussões referentes às mulheres nas lutas. Depois de ter idealizado o judô, em 1882, Jigoro Kano aproveitou que sua irmã mais velha havia se interessado pela prática, e ensinou-lhe golpes de fácil aplicabilidade até que adquirisse mais destreza. Foi desta forma que o judô teve inicio para as mulheres ii. Contudo, trinta e um anos depois é que o instituto Kodokan inaugurou um departamento experimental de judô feminino. Somente em 1923 oficializou-se a prática do judô por mulheres no Japão. Por outro lado, existem relatos de esposas ou irmãs de pessoas ligadas a Jigoro Kano que já praticavam a luta. Em 1934, começaram a ser ministrados cursos especiais para mulheres judocas pelos mestres Honda e Uzawa. Estes preservavam o carater não competitivo do judô. Em 1952 o judô da Kodokan contava com mais de trezentas judocas. Em estudos já realizados na área do judô feminino no Brasil, como o de Chuno Mesquita (1996) sobre o Judô feminino e a quebra de preconceitos e mitos iii percebemos que muitos mitos da feminilidade que vieram à tona, como a beleza, a fragilidade física e a maternidade aparecem como deveres intrínsecos da mulher, servindo de âncora para a restrição da prática esportiva feminina em décadas passadas. Esses valores arraigados na cultura brasileira estimulavam a mulher a rejeitar a possibilidade de melhor desenvolver algumas valências físicas, como a força muscular. Nos estudos de Edmundo Drummond (2001) O Judô na Universidade: discutindo questões de gênero e idade iv, observamos que durante algum tempo também utilizava-se como argumento para restringir a prática feminina do judô a preocupação de se preservar o corpo da mulher para a fertilidade e posterior maternidade e que, no caso de atividades com grande possibilidades de contato corporal, como é a condição das lutas, poderiam comprometer seus órgãos reprodutores. Fazendo uma breve análise de como o judô feminino se difundiu no Japão e como os autores vêm descrevendo de que forma as mulheres lutadoras eram vistas no Brasil, percebemos que existiam preconceitos fundamentados em estereótipos e crenças nos mitos da feminilidade, bem como havia uma

Usos do Passado XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006: 4 preocupação com a integridade física da mulher lutadora, que poderia colocar em risco sua principal vocação: a maternidade. O judô feminino teve inicio no Brasil na década de 1920 (GAMA, 1986) e não existe uma história oficial que relate com precisão como o judô chegou ao Brasil. Sabe-se apenas que imigrantes japoneses recém chegados em Porto Alegre, na primeira década do século XX, já inauguravam suas academias de judô, que, rapidamente, disseminou-se pelo país. Acredita-se que as esposas e filhas destes descendentes também praticavam o judô. Porém, como não havia respaldo legal, somente em 1980 as mulheres judocas deram inicio aos torneios nacionais e internacionais. Percebemos que havia interesse de que as mulheres participassem de torneios, contudo, após o Decreto-Lei que impedia as mulheres de praticar o judô, tornavam-se inviáveis os campeonatos. Somente depois do Sul-Americano de judô de 1979, que contou com a participação de quatro atletas: Patrícia Maria de Carvalho e Silva, Ana Maria de Carvalho e Silva, Cristina Maria de Carvalho e Silva e Kasue Ueda é que tal Decreto-Lei foi revogado e no ano seguinte as mulheres puderam fazer parte da seleção brasileira e conseqüentemente de torneios e treinamentos por todo o mundo. Em 1980, o primeiro Campeonato Brasileiro de Judô Feminino, realizou-se no Rio de Janeiro, promovido pela CBJ, classificando a primeira equipe feminina que representaria o Brasil oficialmente no primeiro Campeonato Mundial de Judô Feminino, que aconteceu em Nova Iorque, no mesmo ano, no ginásio do Madison Square Garden. Entretanto, mesmo depois de selecionadas, as atletas não compareceriam ao Mundial, alegando que: A SEED não havia liberado a verba e a CBJ não poderia arcar com as despesas de hospedagem e alimentação da delegação feminina (Jornal dos Sports 27/11/80, p.7). Ultrapassada mais uma barreira, desta vez burocrática, confirmou-se a participação destas no I Campeonato Mundial de Judô nos EUA, com uma equipe composta por suas seis categorias de peso: abaixo de 48 kg, abaixo de 52 kg, abaixo de 61 kg, abaixo de 66 kg, abaixo de 72 kg e acima de 72 kg. Em 1988, o judô foi apresentado nas Olimpíadas de Seul, tendo Soraia André e Mônica Angelucci como representantes, esta ultima tendo se classificado em quinto lugar. Em 1992, nas Olimpíadas de Barcelona, o Brasil contou com a participação de sete atletas na equipe feminina: Andréa Berti, Patrícia Bevilacqua Dias, Jemima Alves, Tânia Ishi, Rosicléia Campos, Soraia André e Edilene Andrade. Para contextualizarmos esta pesquisa sobre os estudos da mulher no esporte na sociedade brasileira, utilizamos como referenciais iniciais alguns números da Revista de Educação Física do Exército (REFE) dos anos de 1933 a 1945 v, e Mourão (2003).

Usos do Passado XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006: 5 Podemos recordar que o próprio Barão de Coubertin, criador dos Jogos Olímpicos modernos, era contra a participação das mulheres nos Jogos Olímpicos como atletas. O compromisso com a maternidade e a imagem de fragilidade eram fatores preponderantes na exclusão da mulher do esporte. Segundo Mourão (2003), diversos foram os fatores que contribuíam no contexto sociocultural brasileiro, ainda nas décadas de 1950, 1960 e 1970, caracterizando-se por serem desfavoráveis a prática de esportes pelas mulheres. Entretanto elas vieram superando as barreiras, transformando suas trajetórias, entre avanços e recuos, contando cada vez mais com maior contingente de mulheres nesta prática. A representação da mulher no esporte brasileiro sempre teve um lugar à sombra do homem, principalmente se compararmos nos esportes ditos viris. Desde a década de 1920, mulheres vêm conquistando um pequeno espaço na mídia. Porém, não é o caso do judô que, além de não ser um esporte com ampla divulgação, ainda era proibido para as mulheres. Através de uma breve análise da REFE dos anos de 1938 e 1939 nos temas referentes às mulheres no esporte, percebemos uma preocupação de diversos autores, como Ramos (1937) e Areno, (1938), em adequarem os esportes às condições frágeis das mulheres para que não ocorra o processo de masculinização vi destas, bem como relatam que as atividades físico-desportivas para as mulheres devem remeter a graciosidade e leveza dos movimentos, ressaltando o caráter preconceituoso e estereotipado da sociedade da época. O que nos leva a crer que as práticas esportivas ditas viris, eram de fato desaconselháveis às mulheres e, portanto deveriam ser proibidas. Pretendemos dar continuidade as pesquisas que nos permitam mergulhar no imaginário da época da pesquisa, mas também um pouco antes e um pouco depois do período em foco, pois acreditamos que não só a cronologia nos revela a história mas também eventos que antecedem e que se sucedem aos recortes temporais dos estudos históricos. Como vamos estudar o período de 1979 a 1992, o que vem antes de e depois deste período também nos interesse, sobretudo envolvendo a mulher esportista. Buscamos compreender, com Azevedo (1997, p 113-135), como os processos sexistas ocorreram nas áreas desportivas. Este trabalho vem nos mostrar que papéis sexuais são antes de tudo aquisições culturais e não unicamente resultante de fatores orgânicos. Desta forma, pretendemos resgatar porque se acreditava que a prática de esportes viris não só prejudicavam a integridade física da mulher, como também poderia colocar em questão a masculinização destas. Guiada por uma gama de autores vii específicos da área de fisiologia do exercício, a autora relata que algumas valências físicas podem aparecer nas justificativas deste sexismo.

Usos do Passado XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006: 6 Para entendermos qual foi o processo desencadeador da legalização do judô feminino brasileiro em 1979, devemos relembrar o que levou Joaquim Mamede de Carvalho e Silva (JMCS) a inscrever quatro atletas com nomes de homens no Conselho Nacional de Desportos (CND). Para isso analisaremos uma entrevista viii realizada com o próprio Mamede contrastando-a com os documentos oficiais pesquisados até o momento. No início da década de 1950, JMCS, após se casar, tornou-se morador da Ilha do Governador, seguindo carreira como atleta de levantamento de peso. Contudo, assim como outros esportes amadores, a verba era restrita, o que o levou a procurar novas modalidades. Uma vez apresentado ao judô, JMCS envolveu-se inteiramente com esta filosofia de luta. Neste período em que se envolveu com o esporte em meados da década de 1960, teve cinco filhas e um filho: Beatriz Maria de Carvalho e Silva, Cristina Maria de Carvalho e Silva, Margarida Maria de Carvalho e Silva, Ana Maria de Carvalho e Silva, Patrícia Maria de Carvalho e Silva, e, posteriormente, um filho Joaquim Mamede de Carvalho e Silva Junior. Levando em conta que ainda naquele período era proibida a prática de esportes de luta para mulheres, JMCS ignorou tais regras e iniciou suas cinco filhas na prática do judô. Após anos de atuação com o judô, fez amizades no meio e participou de eventos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Estes contatos lhe renderam o cargo de presidente da Federação Guanabarina de Judô em 1974 (fundada desde 1964). Motivado por uma cena que tivera visto vinte anos antes no antigo Circo Dudu (atual Escola Nacional de Circo), na Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro, onde uma das atrações eram mulheres lutando luta-livre, JMCS pôde observar que uma das lutadoras saía após os combates para amamentar seu filho de aproximadamente um ano de idade. Desde então, fez-se a associação de que o judô, esporte muito menos violento que a luta-livre, pois não conta com chutes e socos, poderia ser feito sem comprometer em nada a integridade física da mulher e que estaria, para ele, comprovado que em nada afetaria os órgãos reprodutores femininos, uma vez que observara mãe e filho saudáveis naquele evento. Neste momento deu-se início então, a luta de JMCS, como presidente da Federação Ganabarina de Judô, em incluir as mulheres nos torneios da Federação e, dessa forma, pressionar a legalização do esporte. Desta época em diante, juntamente com representantes de São Paulo como o mestre Ogawa, e do Rio de Janeiro, como seu amigo Takeshi Ueda, que também tinha uma filha judoca, Kasue Ueda, deu-se inicio a torneios femininos extra-oficiais de judô. Segundo JMCS os torneios amistosos contavam com a participação de mais de 200 mulheres em meados da década de 1970. Contudo, duas de suas filhas não tinham inclinações competitivas, mas, logo foram adaptadas para que participassem

Usos do Passado XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006: 7 de uma forma ou de outra do judô feminino brasileiro. Isto ocorreu quando o próprio Mamede viajou para o Japão em 1977. Ao chegar a Kodokan contratou um especialista em Ju no kata ix que lhe ensinou tais técnicas. De volta ao Brasil, JMCS se uniu ao mestre Ueda e repassaram o aprendizado as suas filhas que passaram a disseminar por todo o Brasil esta técnica coreográfica. Estas técnicas exigem graciosidade e leveza dos movimentos, reforçando que mesmo dentro de uma luta, a feminilidade tem seu espaço, principalmente porque são técnicas de golpes como na própria luta de judô, contudo não há competição e confronto direto. O judô brasileiro não tinha uma boa classificação dentre os países da América.Isso era devido ao foto de ser o único país que não contava com a participação das mulheres. Para o resultado geral de um torneio, é necessária a soma de resultados do masculino e feminino. Desta forma, foi no campeonato Sul-Americano de 1979 que JMCS decidiu burlar a Lei e solicitou ao CND passagens aéreas para o Campeonato Sul-Americano de Judô, a ser realizado em outubro, na cidade de Montevidéu, no Uruguai. Contudo, além dos atletas masculinos, quatro nomes constaram na lista de forma peculiar, como os nomes de Patrício Mário de Carvalho e Silva, Amel Mário de Carvalho e Silva, Cristiano Mário de Carvalho e Silva e Ueda Kasue, e entregues ao CND, e que na inscrição x do próprio Sul-Americano constou como o nome original, ou seja, suas versões femininas dos nomes: Patrícia Maria de Carvalho e Silva, Ana Maria de Carvalho e Silva, Cristina Maria de Carvalho e Silva e Kasue Ueda. Foi desta forma que as atletas conseguiram subverter as regras e lutaram no Uruguai, sob o comando técnico do professor Paulo Wanderlei, trazendo duas medalhas de ouro e uma de bronze, bem como se sagraram campeões gerais do torneio já que tais pontos foram fundamentais para serem somados ao masculino, que também havia conquistado medalhas. Ao retornarem do Uruguai, houve imediata solicitação de ida do Presidente da Federação de Judô do Estado do Rio de Janeiro (FJERJ - antiga Federação Guanabarina de Judô) ao CND, com o intuito de adverti-lo por sua ousadia. Uma vez aceita a solicitação, houve o comparecimento de toda a delegação de judô presente no torneio em Montevidéu, inclusive uniformizados e com suas medalhas, para que houvesse sensibilização e posterior reflexão sobre a Lei em vigor considerada absurda por todas as atletas tolhidas de competirem em suas respectivas modalidades, e que, segundo ele, seria revogada por uma questão de tempo. Esta nova tática surtiu seu efeito. Aproximadamente dois meses depois deste torneio, no mês de dezembro, o Decreto-Lei foi revogado e no ano de 1980 houve o primeiro campeonato brasileiro feminino na cidade do Rio de Janeiro, na Universidade Gama Filho,

Usos do Passado XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006: 8 posteriormente a participação das brasileiras no primeiro campeonato mundial feminino de judô, realizado em Nova Iorque. No ano de legitimação do judô feminino brasileiro, JMCS usou a seu favor o episódio do Sul- Americano de 1979 para fazer sua plataforma política, e, unindo-se às demais federações, alcançou o cargo de presidente da CBJ, deixando com Emmanoel Andrade Maranhão o cargo de Presidente da FJERJ. Desde então, até o ano de 2001, JMCS assumiu, dentre conturbados e polêmicos episódios em sua gestão, o cargo de presidente da CBJ. Curiosamente, o atual (2006) presidente da CBJ é o professor Paulo Wanderlei, ex-técnico da seleção brasileira de judô que acompanhou a delegação no Sul- Americano de 1979 ao Uruguai, e que também vamos entrevistar para esta pesquisa. Fazendo uma analise desta breve biografia, podemos perceber que JMCS não se ateve aos estereótipos dos anos de 1950 e, segundo ele, julgou como machista a atuação de alguns membros da FJERJ e CBJ, fazendo atrasar o desenvolvimento do judô feminino brasileiro. Da mesma forma, podemos observar que no período de vinte e sete anos de gestão do professor Mamede (FJERJ e CBJ), a realidade política da época, ditadura e pós-ditadura, contribuíram para que houvesse um comando a mão de ferro diante da CBJ, como era veiculada na mídia. Tais fatores sócio-políticos alimentavam uma característica incontestável de como era conduzida a presidência da CBJ, que levou a um grande sucesso nos resultados internacionais. METODOLOGIA Ao optar pela história oral buscamos algumas fontes bibliográficas como a de Freitas (2002) e Thompson (2002). Optamos por adotar a história oral como aquela que privilegia a voz dos indivíduos, não apenas dos grandes homens, como tem ocorrido, mas dando a palavra aos esquecidos ou vencidos da história (FREITAS, 2002, p 50). Com o propósito de conhecer como essas mulheres tiveram a experiência com a atividade física durante sua vida iremos utilizar a metodologia da história oral para reconstruir a história de vida de algumas dessas mulheres. Para isso iremos resgatar em suas lembranças, digo, na sua memória, como esteve presente em sua vida o judô. Ao reconstruir o passado estaremos nos baseando na memória dessas mulheres. A técnica da entrevista xi prevalecerá na obtenção das histórias de vidas das doze atletas que foram protagonistas da historiografia que se deseja construir, através da história de vida delas no judô feminino brasileiro de 1979 (período do fim da proibição) a 1992 (período de oficialização da participação feminina em Jogos Olímpicos). Entretanto, outras fontes de pesquisa nos auxiliarão no

Usos do Passado XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006: 9 levantamento do material para a pesquisa como: a) as documentais; b) diários, álbuns das atletas, fotos e recortes de jornais; c) periódicos da época; e d) mídia impressa (jornais e revistas) referentes a este período, bem como e) depoimentos do técnico que esteve junto a seleção brasileira no Sul-Americano de 1979, no Uruguai; do ex-presidente da Confederação Brasileira de Judô, e pessoas ligadas ao esporte nacional que coadjuvaram na oficialização do judô feminino brasileiro. Procuraremos confrontar esses dados com a história oficial, material de arquivos oficiais e particulares, registros em geral e imprensa, sobretudo Jornal dos Sports, Folha de São Paulo. ESTUDO PILOTO Realizamos, preliminarmente, entrevistas, com o ex-presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Joaquim Mamede de Carvalho e Silva, e com três (3) atletas que estiveram presentes nas Olimpíadas de Barcelona em 1992, bem como foi feita a aquisição de registros disponíveis na internet e periódicos na Biblioteca Nacional. Entretanto este material ainda não foi analisado. Podemos perceber que estratégias foram adotadas pelo ex-presidente da CBJ para que fosse legitimado o judô feminino no Brasil. Após anos de ilegalidade, a troca de nomes das atletas para que fossem adquiridas as passagens para o Sul-Americano de judô no Uruguai, se tornou altamente relevante para que o Conselho Nacional de Desporto refletisse e substituísse a Deliberação 7 pelo Artigo 10º. Entretanto ainda vamos pesquisar junto aos dirigentes do CND na época com a intenção de desvendar esses fatos. Fez-se necessário, também, treinamentos mais longos para as mulheres, no intuito de provar que elas seriam capazes de treinar tanto, ou mais que os homens. Identificamos que as despesas das delegações femininas eram custeadas pelas próprias atletas ou pelos clubes a que eram filiadas, mesmo quando em competições que representavam o país. Segundo Rosicléia Campos, judoca Olímpica em Barcelona e atual técnica da seleção brasileira feminina de judô, somente a partir de 1992, houve uma maior conscientização de que o judô feminino teria condições de disputar campeonatos no mesmo nível dos homens, caracterizando o período aqui estudado como o mais crítico do judô feminino, que durou 13 anos. Em se tratando de um estudo piloto, temos assistido como a historiografia do judô feminino nos anos de 1979 a 1992 fez mostrar a representação destas na sociedade judoística brasileira se tornando referência para as atuais judocas. Analisamos até o momento qual era o quadro psicossocial em que se apresentavam as mulheres, sobretudo atletas, nos anos de 1979 a 1992. Pudemos perceber que, para cada contexto social, uma nova realidade se apresentava, como por exemplo, as atletas que já vinham convivendo com judocas

Usos do Passado XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006: 10 mais experientes não sofreram qualquer preconceito, ao passo que outras, tiveram que transpor barreiras em suas famílias e com colegas de treinamento, que, no inicio tiveram dificuldade de associar o judô às mulheres. Levando-se em consideração os estereótipos que o judô feminino tem na representação da sociedade, observamos que houve uma conscientização crescente de que o judô feminino não se relaciona com a masculinização. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, T. A mulher na educação física e no esporte. In: ROMERO, E. (org.) Mulheres em movimento. Vitória: Edufes,1997. FREITAS, S. M. de História oral: possibilidades e procedimentos. São Paulo:Humanitas, 2002. GAMA, R.J. Manual da iniciação do judô. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 1986. GUEDES, O.C. (org). Judô evolução técnica e competição. João Pessoa: Idéia, 2001. pg 73-91. Jornal dos Sports, Rio de Janeiro, 1979 e 1980 microfilmadas, Biblioteca Nacional. KNIJNIK, J. Dorfman. Mulheres no esporte: uma nova roupa velha. Revista Digital - Buenos Aires, N 42,2001. PESAVENTO, S.J. História e história cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. SILVA, M.M. Suicídio - Trama da comunicação. Dissertação de Mestrado, 1992, Psicologia Social, PUC-SP. THOMPSON, P. A voz do passado. História Oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. MOURÃO, L. Exclusão e inserção da mulher brasiliera em atividades físico-desportivas. In: Simões, C. Mulher e Esporte: mitos e verdades. São Paulo: Manole, 2003. VOTRE, S. (org). A representação social da mulher na educação física e no esporte. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1996.. Imaginário e representação social em educação física, esporte e lazer. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2001. i Em abril de 1977 houve a instauração de uma CPI para investigar a situação da mulher no mercado de trabalho e demais atividades, que ficou conhecida como a CPI da Mulher. Essa Comissão Parlamentar de Inquérito teve como objetivo apurar questões que vinham sendo polemizadas por pequenos grupos, como, por exemplo: mulheres, no meio rural, que recebiam apenas um quinto do salário pago ao homem por igual trabalho; o não cumprimento da legislação que obrigava

Usos do Passado XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006: 11 empresas com mais de trinta trabalhadoras a manter berçários; empresas estatais impediam o acesso à mulher em determinados setores e que tais impedimentos não tinham apoio legal; mulheres grávidas eram despedidas sumariamente; agências com verbas vindas do estrangeiro estavam promovendo a esterilização indiscriminada de mulheres; e inúmeras outras denúncias que foram feitas ao longo dos depoimentos. Este movimento político teve o apoio de duas mulheres Íris de Carvalho e Maria Lenk que sugeriram a revogação da Lei e reivindicaram o direito de escolha das mulheres em exporem-se ou não às periculosidades dos esportes de contato e alto impacto. ii WIKIPÉDIA. A enciclopédia livre. Judô Feminino, 2006 iii <http://www.judorio.org.br/fique_ligado/artigos/artigo7_chuno%20mesquita.doc>. iv In: GUEDES,O.C. (org). Judô evolução técnica e competição, João Pessoa: Idéia, 2001. pg 73-91. v Revista de Educação Física do Exército (REFE)<http://www.revistadeeducacaofisica.com.br/artigos> (1933, 1937, 1938,1945) vi http://www.revistadeeducacaofisica.com.br/artigos/1938/40_amulher.pdf <http://www.revistadeeducacaofisica.com.br/artigos/1937/37_edfisfeminina.pdf> vii Mathews (1976); Campos (1980); Wilmore (1982, 1974); Hudson (1982); Inner (1984); Katch et al. (1985); Araújo (1988) e Drinkwater (1973) apud AZEVEDO,1997. viii Roteiro de entrevista ao ex-presidente da Confederação de Judô Joaquim Mamede de Carvalho e Silva no anexo 1 ix Ju no kata significa Formas de gentileza. Iniciou no Japão em 1887, poucos anos após o início do judô (1882) e é um kata desenvolvido basicamente por mulheres já que representa graciosidade e leveza nos movimentos e consiste em movimentos coreografados de golpes de judô em uma seqüência ensaiada. A própria vestimenta é característica de mulheres, como, por exemplo, o uso de leques. Atualmente existem campeonatos mundiais desta modalidade do judô, assim como dos outros tipos de kata, mas no Brasil não é muito difundido. O ju no kata também é utilizado como forma de aprendizado da luta em si, assim como as outras formas de kata (nage no kata, katame no kata, e outros feitos por homens e mulheres) x No judô as inscrições dos atletas são feitas na hora da competição, apenas a inscrição do país é feita antecipadamente, tornando possível modificar atletas até o exato momento da competição xi Roteiro de entrevista às atletas no anexo 2