COMPOSTOS FENÓLICOS, ANTOCIANINAS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE EM CHÁ DE HIBISCO (Hibiscus sabdariffa L.) SAMANTHA PEREIRA NUNES¹; ARIELA BETSY THOMAS²; LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA LIMA³ RESUMO: O chá de hibisco é uma bebida rica em substâncias antioxidantes como flavonoides e ácidos orgânicos, que contribuem ativamente para a saúde e vem sendo utilizado no auxílio ao emagrecimento. O objetivo deste trabalho foi quantificar alguns compostos bioativos e avaliar o potencial antioxidante do chá de hibisco (Hibiscus sabdariffa L). Para tanto, foi utilizada uma amostra de chá de hibisco comercial na qual foram feitas análises de quantificação de compostos fenólicos totais e antocianinas monoméricas. Para avaliação do potencial antioxidante foram realizadas análises pelos métodos DPPH e ABTS. Os resultados encontrados foram de de 672,97±2,82 mg EAG/100g de chá para compostos fenólicos, 193,69±16,43mg/100 g de chá para antocianinas. A atividade antioxidante pelo método DPPH foi de 88,39%±0,13 de inibição e pelo método ABTS o resultado foi de 70,26±16,64µM trolox/g polpa. O chá de hibisco se mostrou consideravelmente superior à outros chás encontrados na literatura no que diz respeito aos parâmetros avaliados. Palavras-chave: hibisco; compostos bioativos; antioxidante. INTRODUÇÃO Desde a pré-história, as plantas têm sido utilizadas como produtos terapêuticos. O chá é utilizado por infusão, que é a forma mais popular dos diferentes produtos de origem vegetal. Existem dados que dão suporte à idéia de que beber chá de hibisco em quantidades prontamente incorporadas à dieta pode desempenhar papel no controle da pressão sanguínea e auxiliar no emagrecimento devido ao grande poder antioxidante dessa planta. Nos últimos anos, um grande interesse no estudo de compostos bioativos e de antioxidantes tem ocorrido devido, principalmente, às descobertas sobre o efeito indesejável dos radicais livres e outros agentes oxidantes no organismo. Diante disto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar uma amostra de chá de hibisco seco comercial quanto ao teor de compostos fenólicos, antocianinas e capacidade antioxidante por dois métodos. REFERENCIAL TEÓRICO Originário da China, o chá é cultivado e consumido pelas suas características de aroma e sabor e propriedades medicinais em mais de 160 países, especialmente asiáticos (KUMUDAVALLY et al., 2008; SAITO; MIYATA, 2000). O chá é uma bebida preparada por meio da infusão de raízes, folhas e flores, consumido há milênios pela humanidade que conquista novos apreciadores a cada dia devido à sua versatilidade. O consumo de chá no Brasil vem crescendo nos últimos anos e atualmente encontram-se, no mercado nacional, chás das mais variadas espécies de plantas. O hibisco (Hibiscus sabdariffa L.), conhecido também como vinagreira, é uma planta pertencente à família das Malváceas (SOUZA, 2010). A medicina tradicional tem atribuído às
flores do hibisco propriedades diuréticas, anti-hipertensivas e antioxidantes. Seus extratos são ricos em flavonóides e antocianinas que contribuem ativamente para esses efeitos (HERNÁNDEZ et al., 2009). Dentre as substâncias bioativas mais estudadas atualmente, está a categoria dos flavonóides, que constituem o mais importante grupo de compostos fenólicos. Os flavonóides estão divididos nos seguintes subgrupos: antocianinas, flavanas, flavononas, flavonas, flavonóis e isoflavonóides (PIMENTEL; FRANCKI; GOLLUCKE, 2005). Os compostos fenólicos no hibisco consistem principalmente de antocianinas glicosiladas e têm sido consideradas como um dos principais constituintes biologicamente ativos (ALI, 2005). Antocianinas são pigmentos importantes em plantas e são encontradas principalmente nas flores e frutos. Devido à alta atividade biológica que apresentam há um interesse considerável em seu estudo (NETZEL et al., 2007). MATERIAL E MÉTODOS Para determinação dos compostos fenólicos, antocianinas e capacidade antioxidante foi utilizada uma amostra comercial de chá da flor de hibisco seco, indicado para preparo por meio de infusão. Os compostos fenólicos totais foram determinados pelo método colorimétrico de Folin-Ciocalteau (WATERHOUSE, 2002) e os resultados foram expressos em mg de equivalentes de ácido gálico por 100 g da amostra (mg EAG. 100g -1 ). Os teores de antocianinas totais foram quantificados seguindo-se o método do ph diferencial, proposto por Giusti e Wrolstad (2001), que segue a fórmula: A = (A 510nm A 700nm ) ph = 1,0 (A 510nm A 700nm ) ph = 4,5 O conteúdo de antocianinas monoméricas (AM) foi calculado como cianidina-3- glicosídeo (PM = 449,2) através da fórmula abaixo: AM (mg.100 ml -1 ) = A x PM x fator de diluição ε (22900) x 1 Onde: A= Absorbância e ε = Absortividade Molar A atividade antioxidante foi avaliada por meio dos métodos de captura do radical DPPH, descrito por Rufino et. al. (2007) que expressa os resultados em porcentagem de sequestro de radicais livres (%SRL) e do método de captura do radical ABTS, descrito por Rufino et al. (2007b) que expressa os resultados em µm trolox/g polpa. RESULTADOS E DISCUSSÃO O teor de compostos fenólicos no chá de hibisco analisado foi de 672,97±2,82 mg EAG/100g de chá, como pode-se observar na Figura 1. Dependendo da parte da planta da qual o chá é originado, os teores de fenólicos podem variar. Vizzoto, Castilho e Pereira (2009) encontraram teores de 478,7 ± 17,4 para compostos fenólicos totais no cálice de hibisco, o que mostra que possivelmente esses compostos estão mais concentrados nas flores. Oh et al., 2013 trabalhando com diferentes tipos de chás em infusão encontraram um total de fenólicos de 82.21±1.76 mg EAG. 100g -1 para infusão de chá verde, que mesmo considerando a possível diluição, é bastante inferior ao encontrado para o chá de hibisco. Os
mesmos autores também encontraram um valor de 38.66 ± 0.11 mg EAG. 100g -1 para fenólicos em chá vermelho, que possivelmente possui altos teores de antocianinas que contribuem para o total de compostos fenólicos. Ainda assim o valor encontrado para o chá de hibisco seco é superior. O teor de antocianinas encontrado na amostra analisada foi de 193,69mg/100 g de chá, com erro padrão de 16,43 (Figura 1). Este resultado é particularmente interessante, pois se assemelha à quantidade normalmente encontrada em mirtilos (113,55mg/100g) (SELLAPPAN et al., 2002), fruta que hoje é considerada uma das mais ricas nesse composto. Entre as antocianinas encontradas nas flores de Hibiscus sabdariffa L, destacam-se a delfinidina-3-glcosídeo, delfinidina-3-sambubiosídeo e cianidina-3- sambubiosídeo (ALI et al., 2005), que contribuem para este alto valor encontrado. Além das propriedades antioxidantes que as antocianinas apresentam, alguns autores como Chao & Yin (2009), relatam uma possível relação entre a quantidade de antocianinas e a atividade antimicrobiana do hibisco. Figura 1. Teor de fenólicos e antocianinas em chá de hibisco A atividade antioxidante obtida pelo método DPPH mostrou um resultado de 88,39% ± 0,13 de % de inibição de radicais livres, como pode-se observar na Figura 2a. Ramos, Samara e Formagio (2011) estudando a atividade antioxidante de Hibiscus sabdariffa L. encontraram uma porcentagem de inibição de aproximadamente 63%, valor menor do que o encontrado neste trabalho. Mohd-Esa et al. (2010) avaliaram a atividade antioxidante de diferentes partes da planta Hibiscus sabdariffa L. e encontraram nas flores o segundo maior teor, que foi inferior apenas as das semente, evidenciando o poder da flor no combate aos radicais livres. O método ABTS mostrou um teor de antioxidantes de 70,26±16,64 µm trolox/g. Comparando este resultado com o obtido por Vizzoto, Castilho e Pereira (2009) para o cálice do hibisco (5960,1 ± 1226,1 µm trolox/g), nota-se que o cálice apresenta quantidade muito superior à flor da qual foi obtida o chá. Em comparação com outros frutos que são conhecidos como boas fontes de antioxidantes, o chá de hibisco apresentou maior atividade desses compostos. Silva, Vendruscolo e Toralles (2011) encontraram, pela metodologia ABTS,
10,43 µm trolox/g para a variedade de morangos Camino Real, 16,52 µm trolox/g em amora preta cv Xavante e 7,28 µm trolox/g em mirtilos cv BlueBelle. Figura 2. Capacidade antioxidante de chá de hibisco determinada pelo método DPPH (% de inibição) e ABTS (µm trolox/g) CONCLUSÃO O chá de flor de hibisco mostrou valores para compostos fenólicos totais, antocianinas e de capacidade antioxidante interessantes ao consumo quando comparadas com outros tipos de chás e com frutos reconhecidamente ricos nesses compostos, o que torna seu consumo interessante. REFERÊNCIAS ALI, B.H. et al. Phytochemical, pharmacological and toxicological aspects of Hibiscus sabdariffa L.: a review. Phytotheraphy Research, v.19, p.369-375, 2005. CHAO, C.Y. & YIN, M.C. Antibacterial Effects of Roselle Calyx Extracts and Protocatechuic Acid in Ground Beef and Apple Juice. Foodborne Pathogens and Disease, v.6, n.2, p. 201-206, 2009. GIUSTI, M. M.; WROLSTAD, R. E. Anthocyanins: characterization and measurement with uv-visible spectroscopy. In: WROLSTAD, R. E. Current protocols in food analytical chemistry. New York: J. Wiley, cap. 1, p. 1-13, 2001. HERNÁNDEZ, A. B.; HERRERA-ARELLANO, A.; ALVAREZ, A. Z.; RIVAS, T. O.; GARCÍA, M. M. Interés de la Flor de Hibisco en Problemas Cardiovasculares. Revista de Fitoterapia. V.9, n. 1, 2009. KUMUDAVALLY, K. V. et al. Green tea - a potential preservative for extending the shelf life of fresh mutton at ambient temperature (25 ± 2 oc). Food Chemistry, v. 107, n. 1, p. 426-433, 2008.
MOHD-ESA, N.; HERN, F. S.; ISMAIL, A.; YEE, C. L. Antioxidant activity in different parts of roselle ( Hibiscus sabdariffa L.) extracts and potential exploitation of the seeds. Food Chemistry, v. 122, n. 4, p. 1055 1060, 2010. NETZEL, M., et al. Cancer cell antiproliferation activity and metabolism of black carrotanthocyanins. Innovative Food Science and Emerging Technologies, v. 8, p. 365 372 2007. OH, J.; JO, H.; CHO, A. R.; KIM, S.-J.; HAN, J. Antioxidant and antimicrobial activities of various leafy herbal teas. Food Control, v. 31, n. 2, p. 403 409, 2013. PIMENTEL, C.V.M., FRANCKI, V.M., GOLLUCKE, A.P.B. Alimentos funcionais: introdução às principais substâncias bioativas em alimentos. São Paulo: Varela; 2005. RAMOS, D. D.; SAMARA, A.; FORMAGIO, N.; et al. Atividade antioxidante de Hibiscus sabdariffa L. em função do espaçamento entre plantas e da adubação orgânica. Ciência Rural, v. 41, n. 8, p. 1331 1336, 2011. RUFINO, M. S. M., ALVES, R. E., BRITO, E.S., MORAIS, S. M., SAMPAIO, C.G., PÉREZ-JIMÉNEZ, J., SAURA-CALIXTO, F. D. Metodologia científica: determinação da atividade antioxidante total em frutas pela captura do radical livre DPPH. EMBRAPA Comunicado Técnico. 2007;127:1-4. RUFINO, M. S.M., ALVES, R.E., BRITO, E.S., MORAIS, S.M., SAMPAIO, C. G., PÉREZ- JIMÉNEZ, J., SAURA-CALIXTO, F.D. Metodologia científica: determinação da atividade antioxidante total em frutas pela captura do radical livre ABTS. EMBRAPA Comunicado Técnico 2007; v.126, p. 1-4. SAITO, T.; MIYATA G. The nutraceutical benefit. Part I: green tea. Nutrition, v. 16, n. 5, p. 315-317, 2000. SELLAPPAN, S.; AKOH, C. C.; KREWER, G.Phenolic compounds and antioxidant capacity of Georgia-Grown blueberries and blackberries. Journal of Agricultural and Food Chemistry, Washington, v. 50, p. 2432-2438, 2002. SILVA, R. S.; VENDRUSCOLO, J. L.; TORALLES, R. P. Avaliação da Capcidade Antioxidante em Frutas Produzidas na Região Sul do RS. Revista Brasileira de Agrociência, v. 17, n. 3-4, p. 392 400, 2011.
SINGLETON, V. L.; ROSSI, J. A. Colorimetry of total phenolics with phosphomolybdichosphotungstic acid reagents. Am. J. Enol. Vitic., v. 20, n. 2, p. 144-158, 1965. SOUZA, G. A. Efeitos da Annona muricata (Graviola) e seu componente Bsitosterol sobre a adiposidade abdominal, resposta glicêmica, metabolismo basal, estresse oxidativo e metabolismo energético no miocárdio de ratos submetidos à obesidade experimental. UNESP, Botucatu, 2010. VIZZOTTO, M., CASTILHO, P. M., PEREIRA, M. C. Compostos Bioativos e Atividade Antioxidante em Cálices de Hibísco (Hibiscus sabdariffa L.) EMBRAPA Comunicado Técnico. 2009; 213:1-7.