"caído" em qualquer delas, os envolvidos teriam sido mortos instantaneamente. Na época de Franklin, não se conhecia as magnitudes do Íenômeno.



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MAIS CIENCIA ASPECTOS DA FISICA DO RAIO: BUSCANDO ELUCIDAR UM FENOMENO POUCO COMPREENDIDO Dirceu da Silva Jomar de Barros Filho Jurandyr C. N. Lacerda Neto É comum encontrarmos em livros didáticos e páradidáticos comentários e observaçõesobre o raio. Quase que invariavelment estes apresentam erros conceituais e analogias imprecisas; às vezes encontramos vários aspectos míticos e lendários associados aos conceitos. Assim, este breve artigo tem por objetivo apresentar o Íenômeno raio, para proíessores, na tentativa de elucidar o que venha a ser esse fenômeno natural, além de aspectos ligados a ele. Um pouco de história do Íenômeno Até meados do século XVlll, o raio era associado a uma maniíestação dos céus, ora como castigo ora como evento natural, sem uma relação causal explicativa. Foi só em 1750, que Benjamin Franklin, cientista amador e estadista, propôs um experimento para provar que o raio era um Íenômeno elétrico, Neste mesmo período, marcado pelo estudo dos fenômenos eletrostáticos, havia diversos avanços cientííicos em curso: máquinas eletrostáticas, os conceitos de isolantes e condutores, os capacitores (garraías de Leiden) etc. Franklin havia se interessado pela eletricidade já havia realizado diversas experiências, nos "círculos" de ciências europeus. Assim, em uma publicação, onde ele era o editor, The Poor Richard (alusão aos atuais Estados Unidos, que eram nesse período colônia da Inglaterra), Franklin descreve uma experiência, usando uma analogia com Íenômenos observados em laboratório. Deveria erguerse no alto de um monte, uma guarita de madeira, com uma haste de ferro no seu topo. Dentro desta, seria colocada outra haste cravada no solo. Além disso. o chão no interior da guarita necessitaria ter uma base isolante (placa de vidro ou madeira). No momento de formação de uma tempestade, um homem deveria ficar em pé sobre a base isolante, segurando com uma das mãos, na haste cravada e aproximar a outra da haste fixa no telhado da guarita. Com isso, Franklin previa que faíscas deveriam saltar pela mão próxima da haste, de Íorma semelhante que ocorria com as experiências nos geradores eletrostáticos e assim, coníirmaria, por analogia, a causa elétrica do raio Em 1752, Alibard, outro cientista amador, contratou um sargento aposentado do exército francês para realizar a experiência, na região da França que faz divisa com a Suíça. De fato, Alibard, constatou a produção de Íaísca e escreve uma carta para Franklin. Como este agora estava na FiladélÍia, a carta demora muito a chegar. Assim, sem conhecimento do sucesso da sua proposta, Franklin resolve, por ausência de montes altos na região, mudar a experiência e acaba por "solta/'um papagaio, no momento que se Íormar uma tempestade. Para tal, usa um cordão resisten: um fio metálico muito Íino, paralelo ao cordão. Amarr. a chave da porta da sua casa próximo à sua mão e observa saltarem Íaíscas dos nós da sua mão para a chave. As duas experiênciasão muito perigosas! Se um raio tivesse, "caído" em qualquer delas, os envolvidos teriam sido mortos instantaneamente. Na época de Franklin, não se conhecia as magnitudes do Íenômeno. Provado que o raio era um fenômeno elétrico, Franklin, usando novamente uma analogia com as experiências de laboratório com eletricidade estática, propõe um arteíato para eliminar os raios: o páraraios, que consistia em hastes pontiagudas ligadas por Íios condutores a outras hastes cravadas no solo. Com esse artefato, Franklin esperava que a nuvem de tempestade Íosse descarregada sem a produção de uma Íaísca, ou seja sem have' o choque do raio. Essa idéia Íoi retirada de um Ía: facilmente observado em experiências com geradores eletrostáticos, Em certas condições de laboratório, é Íácil verificar que quando um gerador está carregado, ao aproximarmos um corpo rombudo aterrado, há a produção de uma Íaísca. Caso contrário, aproximandose um corpo pontiagudo aterrado, há a neutralização elétrica do gerador, sem a produçã de Íaíscas. Este fenômeno é explicado pelo "por: das pontas", QUê devido à geometria pontiaguda, apresenta um campo elétrico muito intenso na ponta. lsto Íaz com que haja movimentação das cargas (do gerador para a ponta ou viceversa) sem a produção da ruptura do dielétrico do ar (isolação do ar). A figura 1, representa a situação descrita, esferôs metálicôt eletrizòda F_ neutrô l f..' j _: i. _tigôcôo à teírô ì i fèiscôr = 1ò) neutrôlizôçâo com Íôíscôs esterô metólicô elettizôdô i l, 'i fi0urô l. Representòcôo dôs situòçòes de neutràli:açôo de cordor eletízòdos. corpoponteôgudoneutro 1b ) neutrôlizòção sem faiscòs tioàcâo á terrd ì:

Em 1755, alguns desses dispositivosão instalados em um prédio público em Londres e após sete meses, estes Íoram atingidos por raios. Franklin então, muda as suas concepções e passa a advogar que os páraraio se não podiam eliminar os raios, pelo menos seriam um local mais Íavorávelà "queda" dos mesmos. Até hoje encontramos em diversos livros a idéia errônea de que os páraraios podem eliminar os raios, Muito dessa aíirmação baseiase na falta de conhecimento e na interpretação do nome pára (contra) raios. A eletrização da nuvem de tempestade' Há conhecimento de pelo menos dez teorias diferentes para a Íormação de uma nuvem de tempestade, a cúmulos nimbus (cúmulo = alto, grande e nimbu = chuvoso), segundo Martin Uman (Uman, M. A (1984). Lightning, New York, Dover Publications) a teoria mais aceita é a de Simpson que usa um fenômeno interessante para justiíicar a eletrização das nuvens. Se pegarmos, por exemplo uma barra de gelo, e colocarmos nas suas extremidades dois eletrodos, ligados por um voltímetro e em seguida, fizermos uma das extremidades mais Íria quê a outra derramando nitrogênio líquido, por exemplo iremos observar uma tensão ou ddpl entre os dois extremos. Este Íenômeno, eíeito termoiônico, é explicado pela agitação diferenciada das partes da barra de gelo, já que a temperatura é uma grandeza associada ao grau de agitação das padículas dos corpos. Quanto maior a temperatura maior a agitação e vice versa. Assim, o lado de maior temperatura, devido a maior agitação, acaba roubando elétrons do lado mais Írio, tornandose levemente negativo (vide Íigura 2) sondas barra de ge a lads mais frio figura 2: representação do efeito termoiónico A nuvem de tempestade é formada quando há uma "inversão térmica", após um período de intensa evaporação, a entrada na região de uma massa de ar Írio provoca a condensação e a solidificação de pequenos aglomerados de água, Dessa forma, passase a ter pequenos cristais de gelo à deriva. A inversão térmica provoca um turbilhão de correntes de ar ascendentes e descendentes no interior na nuvem, Íazendo com que os cristais de gelo colidam e passem a crescer pela agregação de outros. Esse processo, também Íaz com que ao serem carregados pelas correntezas de ar sejam esfriados. Como o gelo é um bom isolante térmico, passa a haver uma diíerença de temperatura entre o centro do granizo (pedras de gelo observadas nas tempestades) e exterior. Transportand o efeito termoiônico para esse caso, temos que na parte interior de maior temperatura haverá acumulo de cargas negativas e na parte exterior de menor temperatura haverá acúmulo de cargas positivas (ausência de negativas) (vide Íigura 3)..l:r\ r,r' ' 1 '^r \ / ' '. ' \ ì l / i /r,ãilì T.11tÍ{itrH)ll \ r, \)jí,r / / ilr\#'".\_u_.// 'r *.çs't figura a: representaçao de um granizo, em cotte. /r\., / rr. \' '/ r' '4 1 1* i//íiã\\ \' 1 ilfiherjllt ] t \ \,\\\#//,i _ u \. \\:r..'./.r' \ Lr r /, \l*\., \ \ \n f [ figura 4: representação do choque entre um granizo e um cristal de gelo pequeno Se o fenômeno não fosse dinâmico, estaria dada a eletrização da nuvem, mas como há um turbilhão de correntes de ar no interior da nuvem, esses granizos são arrastados para cima e para baixo, vindo a colidir entre si e com flocos de gelo menores, que estão eletricamente neutros, pois sendo muito pequenos é desprezível a diíerença de temperatura entre o seu interior e exterior. Quando os granizos chocamse com os pequenos cristais de gelo, roubam cargas elétricas deles, deixandoos positivos e Íicando, após muito choques, negativos. lsto é, na realidade os granizos,

são neutralizados externamente, mas como tinham excesso de cargas negativas na parte interior, acabam ficando negativos (vide figura 4). Ao Íinal de algumas dezenas de minutos, teremos a seguinte coníiguração: Os pequenos cristais (positivos) têm maior probabilidade de serem arrastados para o topo da nuvem, os granizos que soíreram choques (negativos), terão maior probabilidade de estarem na região central da nuvem, em queda ou sendo arrastados ou sustentados pelas correntes de ar ascendentes e os granizos que soíreram poucos choques (ainda positivos) estarão na base da nuvem. Estes últimos, soíreram poucos choques, porque provavelmente foram os primeiros a serem formados, o que justiíica a quase ausência dos cristais menores para que pudessem soírer os choques (vide figura 5). da nuvem e assim, quanto mais elevado mais rareíeito é o ar, maior a dificuldade de circulação de eletricidade. Devido ao Íato de ser muito elevado o valor cio campo elétrico na "ponta" dessa corrente, o ar circunvizinho irá Íicando ionizado pela "expulsão" de elétrons das moléculas do ar e assim, o caminho irá sendo traçado para a "descida" desse primeiro choque, chamado de "condutor por passos". Devido aos ventos sempre presentes nas tempestades (devidos à inversão térmica) esse choque irá ter um caminho muito ramiíicado e sinuoso (figuras 6b e 6c). Na medida que esse condutor se aproxima du solo, há por indução elétrica, uma movimentação de cargas no solo, Íazendo com que os objetos, ediíicações, árvores etc. Íiquem positivamente carregados. Em uma distância que varia de aproximadamente 7O a 110m, a quantidade de cargas acumuladas no solo é tal que ocorre a ruptura do dielétrico (isolação) do ar entre a ponta do condutor por passos e um objeto ou ediíicação (Íigura 6d). A partir desse instante, passase a ter deíinido o caminho do raio. Ato contínuo, as cargas na nuvem estão em constante rearranjo e um choque de grande valor de corrente elétrica desce pelo caminho ionizado, o "choque de retorno" (figura 6e). Esse nome é devido ao sentido convencional da corrente elétrica. \ figura 5: Representòçâo de uma nuvem de tempestade médiô, com escôlôs médiôs de temderôturaç ê àltüras Esse processo de acúmulo de cargas elétricas irá ocorrendo até a Íormação do raio. Em média, as três regiões eletrizadas, possuem a seguinte quantidade de cargas, superior 35 C, mediana 40 C e inferior 5 C (C coulomb). O mecanismo de propagação do raio: muito além de um Íaísca gigantesca. Como representamos na Íigura 5, a nuvem de tempestade tem dimensões gigantescas, por esse motivo e pelo acúmulo de gelo em seu interior, a luz do sol é desviada e blindada, Íazendo com que o céu tornese cinzento. Em 90% dos casos, o raio iniciase, pela ruptura do dielétrico (isolação) do ar, entre as regiões mediana e inferior (um conjunto de faíscas entre as duas regiões) e acaba por ionizar o ar entre estas duas regiões (figura 6a). Uma vez estando o ar ionizado, isto é, bom condutor de eletricidade, há um rearranjo elétrico e iniciase a "descida" de uma corrente de elétrons que buscará o solo. Essa corrente na maioria das vezes não sobe, devido a longa distância até o topo,t5 Ì,vF) " i\ ffij. ' =? r. Ç ( ) \EJ " 'À? J'ç /l:tt / \ t::::::lnuvem \1!a:2r edifimção Ç legendas órvorr Figura 6 : Representõç60 do processo de descarga do fenômeno rôio. Historicamente, acreditavase que a corrente elétrica seria o movimento de cargas positivas. Após as experiências de Rutherford e da estruturação do modelo atômico de Bohr, por coerência, passouse a acreditar que o que se movimenta são elétrons e não prótons, pois estes estão ligados no interior do núcleo atômico.

Mesmo assim, mantevese a idéia de corrente de prótons, só é sentido contrário à de elétrons. Temos então, a corrente convencional e a dita real, Se a real percorre da nuvem para o solo, a convencional irá do solo para a nuvem. Por esse motivo, o choque citado é chamado de choque de retorno, pois referese à corrente convencional (vide figura 7). S l r:f Êts',,, 3 *.3: Fig.ufg 7: RepreJentôçâo das correntes ( ONVENC IONAL e de Lts lf Ír Íl redresentaqôo de umô sercão de Íio condutor Este choque tem em média um valor de pico de 20.000 A, sendo que já Íoi medido experimentalmente choques de retorno que atingiram o valor máximo de 160.000 A. Este choque movimenta uma quantidade grande de cargas elétricas, provocando um aquecimento espetacular do ar, o que falaremos mais adiante. Após o choque de retorno, é comum haver ainda uma grande quantidade de cargas elétricas na nuvem. Lembrando sempre que as cargas estão em constante rearranjo, um novo choque Íraco buscará o solo novamente, o "condutor dardo". O mecanismo de propagação é semelhante ao condutor por passo, porém como há um caminho Íracamente ionizado, devido ao choque de retorno, este novo choque é mais dirigido, menos sinuoso, daí o nome dardo (figura 6f). Subseqüentemente ao choque dardo, outro choque de retorno deve ocorrer (Íigura 69), porém com corrente elétrica menos intensa. Se ainda houver cargas suficientes na nuvem, ocorrerá novo condutor dardo (figura 6h) e novo choque de retorno (Íigura 6i). Em média no fenômeno ocorrem 3 a 4 choques' Há registros experimentais, que mostram um raio que se maniíestou em 56 choquesl O mais incrível é que todo esse processo dura em média 0,2 s (dois décimos de segundo) Para que o raio ocorresse através de uma faísca direta seria necessário que a tensão ou ddp entre a nuvem e o solo fosse muito maior do que é em média. Por esse motivo, ocorre todo o processo descrito. Alguns dados sobre o Íenômeno De forma mais ilustrativa, apresentamos a seguir algumas estatísticasobre o Íenômeno raio: o Tensão ou ddp entre nuvem e solo, no inicio do choque : 100 milhões a 1 bilhão de volts. o Pico médio de corrente nuvemsolo : 20.000 a 160.000 ampères. opico de temperatura do ar médio no canalíormado pelo raio:30.000" C. ooomparação Temperatura média da superfície do sol: 6000" c. omédia da duração do pico de corrente no choque de retorno: 1/1000 s. odiâmetro estimado do canal por onde passa a corrente do raio (no ar): 1,3 a 2,5 cm. ocomprimento médio do raio: 3,5 a 12 km. o Número (médio) de tempestades com raios que estão ocorrendo neste instante no planeta Terra: 2.000. Há 100 "Ílashes" de raios por segundo na Terra. o Estimase que nos USA de 500 a 1000 pessoas são atingidas por raios, todos os anos. o Só o Empire State building na cidade de Nova York é atingido por I raios, em média, por ano. o A llha de Java, na Indonésia, tem o maior número de tempestades por ano: 233, em média. o Número de raios por dia no planeta Terra: I milhões. O trovão e o relâmpago: Íenômenos adiacentes à passagem de corrente elétrica Quando falamos do raio, devemos deixar claro que este é constituído por três Íenômenos: As correntes elétricas dos choques, os trovões e os relâmpagos. Como mostramos acima, a passagem de corrente elétrica em um meio mau condutor de eletricidade, provoca uma repentina elevação da temperatura do canal por onde circula a corrente elétrica. Em um cilindro(sinuoso) de aproximadamente 1,3 a 2,5 cm, a temperatura do ar chega a valores, em média de 3O.OO0'C. Como essa circulação demora em média 1 a 3 milionésimos de segundo, ocorrem um expansão do ar, tal como na explosão de uma bomba de grande porte. Este canal, explode ao pé da letra, provocando uma onda de choque (agora mecânico) supersônica que se aíasta do canal da corrente do raio. Esse fenômeno é chamado de Trovão. Como o raio se repete 3 a 4 vezes, em média, há 3 a 4 ondas sonoras Íormadas no Íenômeno. Devido ao curto intervalo de tempo de duração de todo evento, não conseguimos distinguilas. No caso dos relâmpagos, o Íenômeno é explicado pelo Íato de que, ao circular a corrente elétrica do raio pelo ar (meio pouco condutor), elétrons das moléculas dos gases constituintes são expulsas por repulsão. Ao cessar a corrente, o ar ficou ionizado (moléculas com elétrons a menos)' Quando os elétrons retornam às moléculas, estes devolvem a energia que adquiriram, no processo de repulsão. Essa energia é devolvida sob a forma de radiação, desde o iníravermelho até o ultravioleta, passando pela luz visível, O que nós constatamos, evidentemente, é a Parte visível. Como apresentamos anteriormente, o raio se repete várias vezes, isto explica porque os relâmpa

gos são "tremidos" no céu, isto é, são vários "flashes" luminosos. À guisa de conclusões Neste breve artigo, buscamos apresentar o fenômeno raio, um breve histórico do trabalho de Franklin, o processo de eletrização das nuvens de tempestade e o seu mecanismo de propagação Podemos constatar que o Íenômeno não é simples ou de Íácil explicação, pois ainda há aspecto ou tipo de raio que são explicados através de teorias pouco abrangentes, como é o caso das "bolas de raio" (lightning balls), que buscaremos tratar em outra ocasião. Tentamos com este, mostrar que o raio não é uma simples Íaísca entre as nuvens e o solo, pois envolve um mecanismo de autopropagação complexo, apesar da familiaridade que temos com o Íenômeno como espectadores. Outras confusões são associadas aos páraraios. Muitos acreditam que as pontas destes são eíicazes e indispensáveis para a segurança, mas como mostramos, o raio é auto propagável e só se define aproximadamente entre 70 e 110 m do solo. Além do mais, a base da nuvem está em média a 3,5 km do solo, o que Íaz com que uma ponta de alguns centê metros seja desprezível. Para essa distância, uma casa mediana, pode ser considerada como um ponto, o que dirá a haste de um páraraios. Outro aspecto é o poder atribuído ao páraraios de atrair os raios, o que acreditamos ter sido eliminado, Írente à exposição do mecanismo de propagação do raio. Poderíamos Íazer um comentário Íinalsobre a periculosidade do Íenômeno. De Íato, o raio é muito perigoso. É um fenômeno gue poucos conseguem sobreviver após serem "atingidos". Aqueles que sobrevivem, acabaram com várias seqüelas, sobretudo motoras, devido a intensidade da corrente elétrica. Em muitos relatos, sabese que essas pessoas não Íoram atingidas pela corrente principal do raio, mas sim por choque ou faíscas laterais, de menor intensidade. Para se proteger do raio, evite campos abertos nos momentos de tempestade, pois dessa Íorma, você passa a ser um dos possíveis pontos de contato, árvores isoladas, pois pode receber parte do raio, que ao atingir uma estrutura, acaba por s. ramiíicar. Evite também Íicar em piscinas ou lagos, nos momentos de tempestade. Se estes locais "receberem" um raio, a corrente elétrica circulará por toda a água, inclusive pelo corpo humano. Para maiores dados e informações podese consultar na internet os sifes: http:l/ sunmlb.nws.íit.edu/newho.html e http:// wvlightning.com/, onde se encontram endereços interessantes, aspectos sobre a proteção contra os raios, dados recentes, explicações sobre o Íenômeno etc. Notas 1. O conceito de ddp (diíerença de potencial), tensão ou voltagem, pode ser entendido como uma diferença entre as cargas em excess ou Íalta de dois corpos ou de regiões diíerentes do mesmo corpo. Lembrese que uma oilha comum tem a ddp, tensão ou voltagem de 1,5 vc Já os pólos de uma tomada domética, pode ter a ddp 110 volts ou de 220 volts. Quanto maior é o valor da dop, maior poderá ser o choque que uma pessoa levará ao tocar os dois pólos. Dirceu da Silva é professor da Faculdade de Educaçãi, da Unicamp; Jomar de Barros Filho é mestre em Educação e Jurandir C. N. Lacerda Neto é Mestrando na FE/Unicamp.