Entrevista com Dina Gelernter



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COISAS QUE APRENDI COM MEU PAI SOBRE TRABALHO E EMPREGO COISAS QUE APRENDI PAI TRABALHO E EMPREGO. CITYRH

Transcrição:

51 Entrevista Ani tsrihá neshamá hadash (Eu preciso de uma alma nova) Entrevista com Dina Gelernter Texto: Guilherme Salgado Rocha Fotos: Alessandra Anselmi E u preciso de uma alma nova, ou, em tradução mais abrangente, estou indo recuperar a minha alma. No dia 6 de maio, quando embarcar em direção a Israel, onde passará os próximos seis meses, Dina Gelernter, mais do que o aprendizado do hebraico, como ela mesma disse (em hebraico) na entrevista, irá em busca dessa alma nova. Judia, vai estudar hebraico, mas a viagem é maior. Preparada para ser feita com o marido, que morreu em setembro do ano passado, a viagem teve que ser adiada. Mas não cancelada. Verá e conviverá com o filho, a nora e os netos, mas de quer Divulgação, mesmo n.21, é Maio. estudar. 2012 - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php Aos 77 anos.

52 Idade nunca foi empecilho para Dina. Tanto que, decidida a estudar Psicologia, entrou na faculdade aos 48 anos, formando-se aos 52. Depois de ficar viúva, em setembro de 2011, após décadas (54 anos) de um casamento intensamente harmonioso, olhou à volta, constatou a realidade que a cercava quatro filhos e netos, todos fora de casa -, e decidiu arrumar as malas. Um dos filhos mora em Israel, mas não pretende ficar na mesma casa. Quer liberdade de ir e vir, passear. O principal objetivo da viagem, entretanto, é fazer uma imersão no hebraico. Lê e escreve bem, mas admite que não tem desenvoltura no falar, o que espera minimizar de maio a novembro. Faz questão de frisar: seu nome é Dina, somente Dina, nome hebraico, que tem a ver com força e justiça. Não é diminutivo, não é Diná e nem Dinorah. Dina, quatro letras, sem acento. Entre o Dina e o Gelernter há o nome de solteira, que não usa: Dina Krasilchik Gelernter. A entrevista foi feita no dia 10 de abril, à tarde, no escritório de uma amiga, que fica na rua Domingos de Moraes, Vila Mariana, em São Paulo. de Divulgação, n.21, Maio. 2012 - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php

53 Revista - Onde foram os primeiros estudos? Dina - Comecei na admissão na Escola Americana, sendo alfabetizada em português e inglês. Escola Americana era o nome dado ao primário do Mackenzie. Depois fui até o clássico no Mackenzie. Na minha criação, queria fazer Filosofia, pois admirava um professor, Dante Moreira Leite, falecido há muitos anos. Mas me casei, depois de estudar inglês e música, inclusive tendo como professor o maestro Diogo Pacheco. O maestro Isaac Karabtchevsky foi meu colega de coral. Tive uma formação musical muito boa. Ainda toco piano e componho. E adoro cozinhar. Revista - Estava dizendo que se casou... Dina - Sim, me casei. Com 18 anos conheci meu marido, com 21, 22, nos casamos, e daí passei a ser dona de casa. Cuidar da família, criar os filhos. Revista - Quantos? Dina - São quatro filhos. Três homens e uma mulher. E na criação dos filhos fomos morar em uma casa maravilhosa, que meu marido construiu, no bairro do Tremembé. E ali vivia no meu castelo, sem saber de nada. Era a época da Revolução de 64. Um dia fui assaltada na rua, estávamos eu e a minha filha, e isso me marcou muito, profundamente. Revista Por quê? Dina - A Rosana, minha filha, tinha dez anos era 1974 -, época do milagre brasileiro. Depois do assalto fiquei pensando que alguma coisa errada estava acontecendo. Por que uma pessoa não podia andar na rua? Estava sujeita a um menino colocar um revólver nas costas. A Rosana gritava: Mãe, dá a bolsa. E eu gritava: Pode me matar!... Sempre fui muito dramática, adorava cinema, e achava lindo morrer defendendo a minha bolsa. Veja só que coisa. Revista O que aconteceu? Ou seja, o menino deve ter levado a bolsa, porque a senhora está aqui, sendo entrevistada... Dina - Que nada. Como falo muito alto, uma vizinha ouviu, chegou à janela e deu um tiro para cima. Isso me contaram, pois não ouvi tiro nenhum, só consegui ouvir os pés do menino correndo. Revista O fato a marcou profundamente, como disse há pouco? Dina - Foi um marco porque resolvi sair do meu castelo, pois havia constatado, nas ruas, de que Divulgação, a distância n.21, Maio. era 2012 grande - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php entre o meu mundo e aquele lá, de um menino com um revólver. Decidi começar a fazer um trabalho voluntário no Palácio do Governo. Meu papel era sair de casa.

54 Revista Quem era o governador? Dina - Paulo Egydio Martins. A mulher dele, Pérola Byngton Martins, criou uma incrível iniciativa de voluntariado. Acabei indo para uma favela, e lá fiquei três anos, trabalhando com crianças. Revista E como foi essa permanência na favela? Dina - Aí fui entender diversos pontos que até então não compreendia. Por exemplo: no desenho, a criança não colocava janela e porta na sua casa porque não havia porta e janela na sua casa. Havia muito a aprender. Nessa época, e agora estamos em 1979, meu pai morreu, e deixou algum dinheiro para os filhos. Decidi fazer faculdade. Revista De Psicologia? Dina - Sim, eu tinha 48 anos. Meus filhos já estavam saindo de casa para estudar na faculdade, viver no exterior etc. Eu me vi naquela casa, sem os filhos, o marido trabalhando. Nessa época morava conosco o meu cunhado, irmão do meu marido. Esse cunhado tinha retardo mental. Estava internado em Garça e tinha vindo morar na nossa casa. Ele, e isso é importante, indiretamente me ajudou a tomar coragem e ir estudar em uma faculdade. Era um sonho de adolescente que havia ficado lá atrás. Revista Fez cursinho? Dina - Sim, claro. Fiz o Anglo durante seis meses, no meio de jovens. Justamente nessa época meu marido se aposentou. Ele tinha cargo importante na Cesp, estatal paulista de eletricidade. Acabou o governo militar, o governo Montoro precisava dos lugares, os melhores lugares teriam que ser destinados ao partido dele. Revista A senhora então termina a faculdade. Dina - Completo o curso, e minha luta passa a ser encontrar um espaço de trabalho. Eu me achava incompleta por nunca ter conseguido trabalhar. Revista Agora a situação era inversa. O marido voltando para casa. Dina - E eu saindo de casa. Exatamente o que acontecia. E precisava estudar mais. Comecei a estudar em um instituto, o Ágora, para ser terapeuta corporal. Fui a congressos nacionais e internacionais, e minha formação profissional passou a se direcionar à bioenergética. O Ágora buscava os recém-formados de Divulgação, n.21, Maio. e 2012 dava - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php continuidade à formação. Eu mesma não tinha estrutura para ser uma terapeuta. Por exemplo, me preocupava muito se em um atendimento o paciente tivesse um surto psicótico e quisesse se atirar da janela. Não queria

55 fazer um trabalho puramente asséptico, que não pudesse encostar a mão na pessoa por medo. Revista Era um trabalho corporal? Dina - Sim, e que me permitia ter menos medo do corpo do paciente. Não queria a relação que se dá quando ele fica em um divã, e eu atrás, em uma cadeira. Fiz a formação em bioenergética, e depois passamos a atender, em uma clínica, mulheres que sofreram abuso sexual. Crianças, adolescentes e adultas que sofreram abuso sexual. Revista Como era? Dina - A clínica se chamava Kaplan, dirigida pelo médico Moacir Costa, ficava nas Perdizes. Ele tinha estudado fora, e trazia muitas informações novas sobre a sexualidade humana. Na clínica havia um ambulatório que cuidava de mulheres que tinham sofrido abuso sexual. Ela mudou de lugar várias vezes, o Moacir Costa morreu prematuramente, a clínica ficou com uma assistente social, filha do senador Teotônio Vilela. Como ela tinha grande engajamento político, ficou com a clínica. Revista E a senhora? Dina - O que acontece comigo? Em 1997 tive um câncer no rim, descoberto prematuramente. Tive que tirar o rim direito. Passei a ter brancos quando participava de uma palestra, e isso me assustava. Paralelamente, percebia que meu marido ficava muito sozinho em casa. Além das mulheres, atendi grupos de homens que me traziam relatos de impotência, pois haviam acabado de se aposentar. Comecei a entender o meu marido, entender mais da alma masculina, perceber o que ele havia passado para chegar até ali, para sustentar a família, e o que enfrentava agora que estava aposentado. Voltei para casa. Revista Arrependeu-se? Dina - De jeito nenhum. Houve até um fato muito curioso. Curioso talvez não seja o melhor adjetivo, mas muito marcante. Achava que ele não me amava, pois nunca havia falado Dina, eu te amo. Mas no dia em que o médico disse que iria retirar um rim, pois havia risco de o câncer ir para o pulmão ou para o cérebro, ele começou a chorar muito, e percebi como me queria bem. O casamento engatou naquele momento. de Divulgação, n.21, Maio. 2012 - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php Revista A saída então propiciou esse reencontro? Dina - A saída, o estudo, o trabalho e em seguida voltar para casa.

56 Revista Como ele se chamava? Dina - Moisés. Revista Falemos um pouco da ascendência judia? Dina - Isso é um capítulo à parte. Lembra meus avós, a casa deles. Meus avós eram marceneiros, fui criada no meio de madeiras, de móveis. Eu e a minha irmã brincávamos de casinha com os móveis da loja. Meu pai nasceu na Bessarábia, que hoje se chama Moldávia, e veio com a família dele, eram nove irmãos. No navio, na viagem, meu pai completou 13 anos. Revista Antes que passe de passagem, a senhora nasceu em São Paulo? Dina - Na Maternidade São Paulo, na rua Frei Caneca, no dia 22 de setembro de 1934. Sou a filha mais velha, depois veio a minha irmã Rosa, falecida. E depois de dez anos meus pais tiveram um casal de gêmeos. Ela morreu, meu irmão está vivo. Há um dado que ainda não comentei: há um histórico de câncer na família. Trabalhei em uma clínica em um centro de orientação, o Cora, uma casa na Vila Madalena, na qual se reuniam familiares e doentes de câncer para fazer terapia. Pertenci a esse grupo muito tempo, para também aprender a me defender. Revista Por que Israel, além de lá morar seu filho? Dina - Estudo hebraico há dez anos. Não saio daquele hebraico mais simples. E agora ando meio perdida, pois fiquei viúva. Quero ir para o deserto a fim de ver se me encontro. Pensava em ir com ele, ficar seis meses lá, para aprender o hebraico. Leio e escrevo hebraico, mas não tenho vocabulário, quero conseguir falar. Revista A sra. tem quatro netos israelenses? Dina - Sim, e só falam hebraico. Quando me meto a falar com eles, caem na gargalhada. Meu filho, José Natan, foi fazer uma experiência de trabalho, conheceu uma israelense, se casaram, mora lá há 25 anos. Trabalha no setor de computação de uma vinícola na região do Golan, norte de Israel. Eles pegam uvas de vários kibutzim, que é o plural de kibutz, e preparam um vinho próprio, excelente. A região do Golan é vulcânica, a uva é muito boa. Revista São quatro filhos? Dina - Pela de Divulgação, ordem: n.21, Jaime Maio. Daniel, 2012 - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php mora em Vinhedo, tem uma indústria de travesseiros. José Natan, o de Israel. Em seguida a Rosana, terapeuta corporal, e o Sérgio, executivo, ambos moram em São Paulo.

57 Revista Para terminar, como a sra. analisa a sua vida atualmente? Dina - O ser humano precisa de um projeto. Esse projeto tinha sido concebido para ser feito a dois, mas será impossível. Portanto, estou indo atrás de um projeto, de um sonho. Será um desafio, mas tenho que me testar, para ver o que consigo ainda fazer, com a bagagem que tenho. Meus filhos e meus netos me são muito preciosos, mas preciso olhar tudo a distância, com o objetivo mesmo de recuperar a minha alma. Eu preciso de uma alma nova, de uma identidade nova. Guilherme Salgado Rocha - Jornalista e revisor. Formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) em 1979, tem 53 anos. Desde dezembro 2011 passou a integrar a equipe do Portal do Envelhecimento. E-mail: rochaguilherme@hotmail.com Alessandra Anselmi - Profissional de Comunicação e Marketing formada em Relações Públicas pela Metodista em 1996 e em Marketing e Vendas pela Anhembi Morumbi em 2012. Mais de dez anos de experiência em Comunicação, Marketing e Eventos, atuando também com Locução e Fotografia. Atualmente trabalha como repórter fotográfico para o Portal do Envelhecimento e é responsável também pela Comunicação e Marketing da Ong OLHE - Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento. E-mail: a.alesp11@gmail.com de Divulgação, n.21, Maio. 2012 - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php