SONDAGENS ESPECIAIS EM FOCO



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Transcrição:

EM FOCO SONDAGENS ESPECIAIS Sondagens especiais são basicamente investigações geotécnicas feitas de forma complementar às investigações de simples reconhecimento direto como SPT (Standard Penetration Test), SR (Sondagem Rotativa), SM (Sondagem Mista) e investigações indiretas (métodos geofísicos). É possível mencionar quatro importantes sondagens especiais existentes: o CPT (Cone Penetration Test) / CPTu (Cone Penetration Test with Porepressure Measurement), o VST (Vane Shear Test) ou simplesmente ensaio de palhetas), o DMT (Dilatometric Marchetti Test) também conhecido como dilatômetro e o PMT (Pressuremeter Ménard Test), conhecido como pressiômetro. Estas sondagens têm grande importância na caracterização geotécnica para uma investigação do local de interesse, já que permitem a determinação das propriedades do solo relativas à resistência, compressibilidade e permeabilidade sem necessidade de amostragem, assim como o conhecimento das propriedades constitutivas dos materiais analisados in situ, fornecendo, portanto, dados fundamentais para a elaboração de um projeto geotécnico adequado. Elas também possibilitam prever o desempenho durante e após a construção de uma obra. O ensaio SPT é reconhecidamente a ferramenta de investigação geotécnica mais prática e economicamente viável utilizada no Brasil e em países com características de solos tropicais. Porém, sua aplicabilidade é limitada quando se encontra solos de padrões não comportados, isto é, solos com características específicas, em que a determinação de seus parâmetros necessitam de outros tipos de ferramentas. HISTÓRICO Segundo registros históricos, os ensaios CPT datam da década de 1930, na Holanda, sendo consolidados em 1950. Nas décadas seguintes, o ensaio do tipo mecânico se difundiu em obras correntes e também em pesquisas marinhas voltadas à exploração de petróleo. A partir de 1990, o advento de equipamentos eletrônicos permitiu que as aplicações se tornassem crescentes em projetos de engenharia, estando amplamente difundido no mercado brasileiro. O VST foi um dos primeiros ensaios de campo a ser desenvolvido. Tem origem sueca e foi concebido por John Olsson (1919), sofrendo, posteriormente, aperfeiçoamento na década de 1940. Até hoje o ensaio é empregado sob esta concepção. No Brasil, o ensaio foi introduzido pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e pela empresa Geotécnica S.A. do Rio de Janeiro, em 1949, e desde então tem sido alvo de diversas aplicações e publicações. Em 1955, o PMT foi originalmente desenvolvido pelo engenheiro francês Louis Ménard. A experiência brasileira com esse ensaio é importante, porém recente para este tipo de investigação. Por fim, o DMT tem sua origem na Itália, desenvolvido pelo professor Silvano Marchetti, tendo sido patenteado em seu país de origem em 1977. Sua norma foi desenvolvida nos Estados Unidos em 1986 e no Brasil este ensaio ainda carece de uma norma específica. FINALIDADE Os ensaios de CPT e CPTu permitem um registro contínuo da estratigrafia do subsolo, com identificação do tipo de solo, da sua espessura e variabilidade. Parâmetros geotécnicos como resistência, compressibilidade, potencial de liquefação e permeabilidade podem ser estimados a partir dos perfis de resistência e poropressão obtidos nos ensaios de cone. Já o VST é indicado para a previsão do comportamento da resistência não drenada (de pico e residual) das argilas, em depósitos de solos moles e, em conjunto com outros ensaios, pode-se conhecer o histórico de tensões. Este ensaio colabora expressivamente para o ajuste do valor de Su (resistência ao cisalhamento não drenada do solo) obtido pelos ensaios CPTu. A técnica DMT é utilizada para a determinação de recalques em projeto de fundações rasas e profundas, em controles de compactação, dentre outros. Assim como em outras técnicas, parâmetros geotécnicos podem ser obtidos do ensaio, por correlações tais como: o módulo edométrico (M), o módulo de Young (E), a razão de pré-adensamento (OCR), o coeficiente de empuxo (K0) e o ângulo de atrito (φ ). O PMT permite a investigação do comportamento tensão-deformação de solos na condição in situ. UTILIZAÇÃO A premissa básica é que a escolha do tipo de investigação especial seja compatível com a necessidade de se conhecer determinada característica ou propriedade constitutiva dos materiais, ou mesmo da natureza atuante dos esforços envolvidos, para fornecer informações sobre parâmetros geotécnicos que possam melhorar o projeto em execução. Os subsolos são constituídos por materiais (solos/rochas) geralmente heterogêneos, sendo necessário uma compartimentação geológica-geotécnica-geomecânica de suas propriedades básicas, como a permeabilidade, compressibilidade e resistência. Uma obra de engenharia (barragem, ponte, rodovia, túnel etc.) gera uma alteração no estado de tensões naturais do maciço ou subsolos, sempre que é iniciada, sendo extremamente importante o conhecimento do comportamento desses materiais e as modificações decorrentes de sua implantação. Porém em muitos casos, essas sondagens deixam de ser inclusas no programa de investigações geotécnicas, 66 FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Detalhe de lâmina utilizada para execução do ensaio DMT o que em vez de reduzir custos, pode acarretar na oneração de obras, caso não sejam realizadas, em função do desconhecimento de propriedades dos materiais analisados. Propriedades importantes dos solos para fins de decisão em engenharia podem ser obtidas através dessas investigações. Cabe ressaltar que os ensaios especiais têm um custo mais elevado em relação às investigações usuais, o que soma-se à necessidade de sua contratação de forma isolada ou intempestiva. Entretanto, mesmo com todos esses condicionantes, o baixo custo e a rapidez de execução desses ensaios, quando se considera o custo total de uma obra, justifica plenamente sua adoção, em especial em obras de maior porte e complexidade. As sondagens especiais são aplicáveis a todo tipo de obra de médio a grande porte, a escolha do tipo e o quantitativo dependerão do local, tipo de obra e da etapa do projeto (básico, executivo etc.), mas é importante salientar que só uma investigação detalhada (com execução de ensaios de simples reconhecimento, sondagens especiais e ensaios de laboratório) permitirá um correto dimensionamento das estruturas geotécnicas, garantindo a economia e a segurança do empreendimento. PREPARAÇÕES E ESPECIFICAÇÕES Para a elaboração de uma campanha de investigação geotécnica adequada, diversos fatores devem ser considerados como: complexidade da obra, cargas envolvidas, topografia, acessibilidade (principalmente no que se refere a questões ambientais, presença de vegetação de grande porte), tipos de litologias (presença de solos moles, colapsíveis ou expansíveis), localização do projeto (zona urbana ou remota), entre outros fatores. O conhecimento de cada equipamento e os resultados, por eles gerados, é fundamental para o engenheiro ou a equipe de engenheiros que estará a cargo da concepção do projeto. Cada investigação requer cuidados específicos para sua realização. Nos ensaios CPT e DMT, por exemplo, as hastes devem respeitar certa verticalidade. Deve haver uma rotina de calibração dos equipamentos, bem como manutenção (vedações, desgastes etc.) não apenas das ponteiras cônicas e dilatômetro, mas de todos os componentes. No caso do DMT deve se respeitar corretamente o intervalo entre a cravação e a expansão da membrana. Caminhão com equipamento de reação acoplado para realização de ensaios mediante perfuração estática Exemplo de penetrômetro utilizado em obras junto às costas Detalhe da unidade de controle em superfície utilizada no ensaio DMT FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS 67

Detalhe de haste acoplada à lâmina de cravação para o ensaio DMT Detalhe de lâmina utilizada para execução do ensaio DMT Execução de pré-furo para ensaio DMT Amostra de equipamento PMT (tipo Ménard) No caso do CPTu é importante a saturação dos elementos filtrantes, aspecto de fundamental importância na execução desses ensaios, para o registro da poropressão (u). Cabe ressaltar que o dimensionamento dos equipamentos envolvidos nas investigações CPT e DMT (capacidade de cravação, ancoragem e propulsão) depende da variação da resistência do terreno em função da profundidade. Para o VST a qualidade do ensaio é função do estado de conservação das hastes e da palheta e na execução correta dos procedimentos do ensaio (posicionamento correto da palheta, uso de sapata, além da instalação e fixação da mesa de torque). Deve-se estar atento a registros de torques excessivos provocados no equipamento. O conhecimento prévio dos materiais atravessados também é importante, já que pequenas ocorrências de estratos arenosos, raízes, conchas ou materiais granulares, podem gerar incrementos na resistência medida durante a execução do ensaio. Outros fatores como a velocidade de cisalhamento, anisotropia do meio, e o efeito do tempo, podem implicar no uso de correções algébricas para correta interpretação dos resultados. Para o PMT são necessários muitos cuidados quanto ao modo de inserção do equipamento no furo de sondagem, bem como rigoroso controle de execução e calibração. NORMA As sondagens especiais possuem normas próprias em função de cada tipo de investigação. Infelizmente as normas brasileiras referentes a algumas das sondagens especiais citadas encontram- -se desatualizadas. Essas normas mais antigas têm sido canceladas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Abaixo são apresentadas as normas internacionais para cada uma dessas investigações, bem como as desenvolvidas pela ABNT: 68 FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Exemplo de penetrômetro de maior reação para ensaio CPT/CPTu, VST E DMT Execução de ensaio CPTu em aterro DMT ASTM (American Society for Testing and Materials), 1986b (EUA) e CEN/TC 250/SC, Eurocode, 1997 (Europa); PMT P64-110/1989 (Norma Francesa); VST ASTM STP 1014 (EUA) ABNT-MB 3122 (1989) Solo Ensaios de palheta in situ Método de ensaio (NBR 10.905 Brasil desatualizada); CPT IRTP (International Reference Test Procedure) / ISSMFE (International Society for Soil Mechanics and Geotechnical Engineering) (1977, 1988a) (Internacional); NBR 12069/1991 (MBE-3406 ABNT, 1991) (desatualizada); NEN5140/1996 (Holanda); Eurocode 7, Parte 3 1997 (Europa); NFP 94-113/1989 (França); BS1377/1990 (Reino Unido) e D5778/1995 (EUA). EXECUÇÃO O ensaio CPT consiste na cravação no terreno de uma ponteira no formato cônico a uma velocidade considerada constante (2 cm/s). Os procedimentos deste tipo de investigação, apesar de padronizados, podem ser classificados em três categorias: cone mecânico, em que as medidas obtidas provêm da transferência mecânica de esforços aplicados nas hastes; cone elétrico, em que parâmetros como a resistência de ponta (qc) e atrito lateral (fs) podem ser obtidos diretamente das ponteiras; e por fim o piezocone, que além dos parâmetros anteriormente mencionados, permite ainda o registro contínuo da poropressão (u). Existem ainda algumas variações deste tipo de equipamento, acoplados à geofísica, como por exemplo, o cone sísmico, SCTP (Sismic Cone Penetration Test), que envolve a geração de uma onda de cisalhamento capturada por um sensor sísmico localizado a certa profundidade do terreno. Há também o cone resistivo, RCTP (Resistivity Cone Penetration Test), que fornece durante a cravação do cone, um registro da Exemplo de penetrômetro de menor reação para ensaios CPT/CPTu, VST E DMT Detalhe de piezocones FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS 69

Detalhe de sistema de reação de penetrômetro acoplado em caminhão Detalhe de palheta do tipo cruciforme para ensaio VST Detalhe do torpedo utilizado no ensaio VST variação da resistência elétrica com a profundidade, sendo indicado para a pesquisa de áreas contaminadas. Pode-se citar o MIP (Membrane Interface Probe) CPT, que envolve o uso de técnicas de cromotografia de gases, também para a detecção de contaminantes no subsolo. Adicionalmente, é possível acrescentar uma série de dispositivos disponíveis no mercado, como por exemplo, sensores de temperatura, ph (Potencial de Hidrogênio), radiação gama, inclinômetros, vídeo etc., tornando a investigação multifuncional, além de permitir a obtenção de uma grande quantidade de informações em uma única vertical de sondagem. No ensaio VST, a determinação da resistência não drenada (Su) da argila é feita pela cravação de uma palheta de seção cruciforme, em material argiloso, submetida a um torque necessário para cisalhar o solo. Este procedimento ocorre em profundidade pré-determinada, em que os instrumentos são zerados e é aplicado um torque com velocidade de 6 /min. O tempo entre o final da cravação e o início da rotação da palheta não deve ultrapassar cinco minutos. É possível obter ainda a resistência amolgada (Sur), que após alcançar o torque máximo são feitas dez revoluções completas na palheta, sendo refeito o ensaio, onde o processo também não deve ultrapassar cinco minutos. O VST pode gerar os atritos internos no sistema de hastes, porém isto pode ser controlado através de dispositivos que permitem medir o atrito (chamados de sli coupling) ou com a instrumentação da palheta, adicionando-se mais uma célula de torque próximo à ela. Os equipamentos VST podem ser do tipo A, (sem necessidade de uma perfuração prévia), que apresenta a vantagem de produzir resultados melhores em comparação com o equipamento tipo B (ensaios realizados no interior de uma perfuração prévia), que tende a perturbar mais as condições naturais do terreno e usualmente não permite controlar o atrito. O ensaio pressiométrico pode ser dividido em três tipos, conforme o procedimento de introdução da sonda no solo. O primeiro deles, o pressiômetro em pré-furo (tipo Menárd), funciona quando a sonda é inserida em um furo de sondagem previamente executado, consistindo na colocação da sonda na cota desejada e a expansão de uma membrana com aplicação de incrementos de pressão aos 15, 30 e 60 segundos, na qual o volume injetado ao final de 60 segundos é plotado. O segundo é o pressiômetro autoperfurante (SBPM), cujo objetivo é diminuir os efeitos da perturbação do solo ao redor da sonda. O ensaio pode ocorrer sob a forma de tensão 70 FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Arquivo Marcio Leão Arquivo Marcio Leão Exemplo de resultado de ensaio CPT controlada, deformação controlada ou ambos os casos, em que incrementos controlados de tensão são aplicados até o início da expansão do pressiômetro, até que chegue a um estágio em que as tensões e deformações sejam inferiores à capacidade do equipamento. Podem ser recomendados ciclos de descarga-recarga durante a expansão da sonda. Por último, tem-se o pressiômetro cravado, cuja penetração no solo se dá com procedimento do CPT. O ensaio consiste na expansão da sonda pressiométrica após a interrupção da cravação do cone. A qualidade dos resultados obtidos por este método é regida por procedimentos de calibração e respeito às normas de execução. Já o ensaio DMT consiste na cravação do dilatômetro a uma velocidade de penetração em torno de 20 mm/s, de forma segmentada. A aplicação do dilatômetro no terreno investigado, geralmente possui intervalos de 20 cm, nos quais a cada interrupção do ensaio são realizadas duas leituras (pressões A e B). As recomendações para a execução deste tipo de investigação são bastante semelhantes às do cone. Outra versão deste equipamento é o dilatômetro sísmico (SDMT), constituído por dois sensores sísmicos, em que o processo de execução é semelhante ao DMT, apenas devendo atentar-se para a orientação dos geofones em relação à fonte sísmica. EQUIPAMENTOS A maioria desses ensaios pode ser realizada em uma única campanha de investigação, tendo em vista que seus componentes mecânicos (hastes, mangueiras, ponteiras, palhetas entre outros) e eletrônicos (cabos, sensores, computadores etc.) são de fácil adaptação em maquinários mais robustos, como penetrômetros e perfuratrizes, fornecendo uma ampla gama de parâmetros in situ que são correlacionáveis nas chamadas ilhas de investigações especiais. RELEVÂNCIA As sondagens especiais vêm a cada dia ganhando mais espaço e utilização em todas as obras de engenharia, tendo em vista os benefícios que oferecem, fornecendo parâmetros geotécnicos precisos, oriundos das características geológico-geotécnicas dos materiais analisados e reduzindo riscos geológico-geotécnicos. O avanço tecnológico permitiu que estes equipamentos se tornassem mais potentes, menores e mais econômicos. Os parâmetros obtidos nas sondagens especiais podem, FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS 71

Arquivo Marcio Leão Exemplo de resultado de ensaio VST Arquivo Marcio Leão Arquivo Marcio Leão Exemplo de resultado de ensaio CPTu Exemplo de resultado de ensaio de dissipação em alguns casos, serem obtidos ou mesmo simulados por ensaios de laboratório, porém a qualidade dos resultados é condicionada sempre pela preservação das propriedades constitutivas das amostras indeformadas coletadas, devido, por exemplo, à perturbação resultante da sua coleta, e existe em laboratório a limitação de escala, já que os cor- pos de prova são de tamanho reduzido e podem não representar adequadamente a anisotropia natural do subsolo. Por esta razão os ensaios de laboratório devem complementar as investigações especiais e seus resultados devem ser utilizados para escolher quais amostras serão testadas em laboratório. Desta forma, as sondagens especiais acabam se sobressaindo por serem mais econômicas, retratarem com precisão propriedades in situ dos solos ensaiados, permitirem um número elevado de investigações em uma mesma área e principalmente, pela disponibilidade dos resultados praticamente durante a execução. As sondagens especiais têm desvantagens tais como a não recuperação de amostras e um baixo controle sobre as tensões de confinamento e das condições de drenagem. Na literatura técnica já existem muitas correlações empíricas para a obtenção de parâmetros indiretos, bem como correções e ajustes analíticos para as investigações executadas. PRÓS E CONTRAS Os ensaios CPT oferecem como vantagens uma penetração rápida, uma boa padronização do ensaio, alta precisão, repetibilidade e obtenção, processamento e interpretação e plotagem automática. É indicado para grandes áreas, e permite realizar um registro contínuo da resistência do solo, portanto possibilitando, a descrição dos estratos atra- 72 FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

vessados, fornece diversos parâmetros para projetos, sem que haja necessidade de operador para as medidas dos ensaios, ótimo custo-benefício em termos operacionais, além disso, adiciona inúmeros sensores e permite o conhecimento sobre a deformabilidade do terreno e do tempo de adensamento. No caso do CPTu existe ainda o registro contínuo das poropressões e possibilidade de serem realizados ensaios de dissipação, sendo aplicados diretamente ao estudo de aterros e fundações. Como desvantagens lista-se: a limitação técnica de ser um equipamento relativamente complexo, a não retirada de amostras para inspeção visual (ensaio semidireto), a limitação de penetração em camadas muito densas e com presença de pedregulhos e matacões, causando grande variabilidade nos resultados, além de possíveis danos ao equipamento. É um ensaio limitado algumas vezes devido à acessibilidade dos locais a serem estudados. Os ensaios DMT, apresentam como vantagens a dispensabilidade de um furo (eliminando problemas de amolgamento); não dependência do operador; são ensaios econômicos, rápidos e de alta repetibilidade, podendo ser realizados inclusive offshore sem perfuração prévia; simplicidade de operação; possibilitam a estimativa de parâmetros ligados à identificação dos solos, deformabilidade, resistência dos materiais analisados e permitem uma previsão do histórico de tensões. Como desvantagens ou limitações têm-se a possibilidade de danificação da lâmina em materiais arenosos densos ou solos com pedregulhos, sendo necessária uma força de reação muito grande nestes materiais. Também não é possível realizar a medição da poropressão diretamente. Trata-se de um ensaio com menor quantidade de dados na literatura, quando comparados a outros ensaios como o CPT, por exemplo. O PMT é recomendado para o estudo de parâmetros geotécnicos de deformabilidade e resistência e podem ser empregados em materiais mais resistentes, como solos residuais muito resistentes, em que o DMT e o CPT não conseguiriam penetrar. Como limitações pode-se dividir as desvantagens para cada tipo de PMT existente. Assim, para o pressiômetro com pré-furo que tende a perturbar o solo no processo de perfuração. O PMT autoperfurante necessita de uma equipe muito bem treinada para selecionar adequadamente a pressão necessária à cravação e os parâmetros de perfuração. Além disso, as dimensões do PMT não são padronizadas, podendo levar a erros de interpretação de resultados quando comparados a outras sondas. Pode ocorrer a perda da identificação de camadas não compressíveis e a necessidade de adoção de métodos empíricos para projetos de fundação e correlações com outros parâmetros geotécnicos, apresentando limitação quanto a atingir a pressão limite de ensaio, devendo, nesses casos, ser extrapolada matematicamente, prejudicando a interpretação dos resultados. O VST permite o conhecimento da resistência de solos moles, bem como a sensibilidade das argilas, tendo como vantagens sua fácil mobilidade, podendo ser cravado por uma perfuratriz ou um equipamento de cravação (o mesmo do Durante a fase de investigação geotécnica CPT). Dentre as principais desvantagens listam-se a necessidade de exigências precisas no seu processo de execução (por exemplo, para evitar amolgamento do solo), além de falhas com equipamentos manuais, já que os equipamentos automáticos apresentam maior segurança nos resultados, porém tem custo mais elevado. Arquivo Alphageos Arquivo Alphageos FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS 73

Por fim, o custo, ainda elevado, em comparação com o SPT, é o grande entrave de uma maior disseminação do ensaio no mercado nacional, o que deve ocorrer com a frequência de sua utilização. Outro ponto, que deve ser levado em conta, é que o ensaio tem suas limitações quando se trata de solos com uma elevada compacidade. Areias compactas e até mesmo argilas pré-adensadas, apresentam uma elevada resistência que, mesmo com os equipamentos de grande reação, já empregados no Brasil, não são atravessados pela ponteira cônica. OBRAS Obras em regiões litorâneas, normalmente, têm características de grandes pacotes de solos moles (argilas marinhas). Obras como o túnel submersos e dique seco da Petrobras na cidade de Rio Grande (RS), são obras em que os ensaios especiais de piezocone são primordiais, devido a ocorrência de solos moles em toda a região dos projetos, que não são perfeitamente caracterizados sem o emprego do CPT, CPTu e do MudCPTu. Alessander Kormann é engenheiro civil formado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), possui mestrado pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e doutorado pela Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo). Atualmente é diretor- -presidente da empresa Fugro In Situ e professor da UFPR. Eduardo Antonio Gomes Marques é geólogo pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), possui mestrado e doutorado em Geologia pela mesma instituição. Atualmente é professor titular da Universidade Federal de Viçosa nas disciplinas Geologia de Engenharia e Mecânica das Rochas (Graduação) e Geologia para Engenheiros, Mecânica das Rochas Avançada e Impactos Ambientais em Obras de Engenharia (Pós-Graduação). Engenharia Civil. É responsável pelas disciplinas de Mecânica dos Solos, Fundações e Estabilidade de taludes e Obras de Terra, tanto em nível de graduação quanto em pós-graduação. Marcio Fernandes Leão é geólogo e mestre em geotecnia pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), mestre e doutorando em Geologia de Engenharia e Ambiental pela UFRJ. Atualmente trabalha como geólogo sênior na empresa Drilltec. Monica Moncada é engenheira civil pela Universidade Nacional de la Patagonia, possui mestrado e doutorado em Engenharia Civil na área de concentração Geotecnia, pela PUC-Rio. Atualmente é gerente de engenharia da empresa Fugro In Situ e professora-adjunto da Universidade Federal Fluminense. Desde 2002 participa de diferentes projetos na área de geotecnia, tais como definição e coordenação de investigações de campo e laboratório, análises de estabilidade de taludes e recalques, projeto de fundações rasas e profundas, análises de risco geológico- -geotécnico e disposição de resíduos. Paula Baillot é engenheira civil Escola de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado, possui pós-graduação em Gestão Ambiental pela Escola Trevisan e MBA (Master of Business Administration) em Marketing pela FGV (Fundação Getulio Vargas). Atualmente é presidente da empresa Alphageos Tecnologia Aplicada, vice- presidente da ABRATEC (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Construção Civil) e diretora do SINAENCO (Sindicato da Arquitetura e da Engenharia). Enivaldo Minette é engenheiro civil pela UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), possui mestrado em Geotecnia pela PUC-Rio doutorado em Ciências Aplicadas/Geotecnia pela Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica. Atualmente é professor titular da Universidade Federal de Viçosa no Departamento de Ruy Thales Baillot é geólogo formado pelo Instituto de Geociências da USP. Também possui graduação em Geologia de Engenharia e Mecânica das Rochas Aplicadas a Obras Hidrelétricas pela University of Florida, Estados Unidos e especialização em Mecânica das Rochas pela Poli-USP. Atualmente é diretor e fundador da empresa Alphageos Tecnologia Aplicada. 74 FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS