Estudo de conforto ténnico em cabines de pontes rolantes

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Estudo de conforto ténnico em cabines de pontes rolantes SÉRGIO DA SILVA MILLER 1. Preâmbulo; 2. Verificação do índice de conforto térmico nas pontes rolantes; 3. Legislação em vigor do Ministério do Trabalho e Previdência Social; 4. Considerações gerais. 1. Preâmbulo No estudo sobre calor, levamos em consideração três fatores: 1.0 estado higrométrico do ar; 2. 0 velocidade do ar; 3. 0 temperatura ambiente. 1.1 Considerações a respeito dos três fatores 1.0 Estado higrométrico do ar Com o aumento de temperatura, o corpo humano se defende acelerando o sistema termorregulador. Assim é que acontece o mecanismo da sudorese. O suor se espalha p' 1 superfície da pele, é evaporado e com isso há perda de calor. Acontece que o )" em volta do indivíduo começa a ficar saturado, chegando ao ponto de não rn:.. I' receber líquido. Nestas condições, o suor não mais é evaporado, e começa a esco',~r pelo corpo. Há uma enorme sensação de desconforto térmico. Arq. bras. P,ic. ar!., Rio de Janeiro, 27(1):148-153, jan./mar.1975 ------ ----.- -._---------------_._---------'------

2. o Velocidade do ar Se o indivíduo permanece imóvel, à medida que evapora suor, a massa de ar que o rodeia se satura de vapor d'água, ao passo que as massas que se encontram a maior distância, têm menor quantidade de vapor d'água. A mistura dessas camadas se efetua de forma lenta. Por esta razão, com a velocidade do ar, à pequena velocidade, o sistema termorregulador encontra algumas dificuldades. Há sensação de confinamento. Os operadores procuram deixar todo o espaço disponível aberto (indiretamente é para promover maior velocidade do ar). 3. o Temperatura ambiente Quanto maior a temperatura ambiente, maior é o funcionamento do sistema termorregulador, havendo um mecanismo de irradiação do calor humano (pela evaporação pulmonar e cutânea), criando a atmosfera em péssimas condições, como já vimos na saturação do ar. O desconforto têrmico, no caso de aumento de temperatura, pode se processar das seguintes maneiras: a. termonoses ~ acidentes agudos; b. confinamentos ~ é um mal-estar que se agrava e aumenta os sintomas paulatinamente. Termonoses: insolação ~ ação direta do sol; intermação ~ ação mdireta do sol, ou fonte calorífica artificial (fornos). Nos operadores de pontes rolantes, podemos verificar os sintomas de confinamento ou então de intermação. As formas clínicas são manifestadas por: Imediatas: a) cãimbras de calor; b) febre de calor; c) estado sincopal do calor. Retardadas: desidratação progressiva. Nas nossas observações feitas nas cabines das pontes rolantes, verifiquei que: O operador, para maior ventilação do ambiente, abre "as janelas da cabine" e, por este motivo, há impregnação de poeira e fumaça, o que diminui sua visibilidade, como também prejudica sua higiene corporal e local. Somado a esses fatores, há excesso no limiar de ruídos (dificuldade de comunicação oral acima de 85 decibéis). Aumentando ainda as dificuldades do operador, notamos que a posição do trabalho é incorreta e que o mesmo está sujeito a patologias ergonômicas. 2. Verificação do índice de conforto térmico nas pontes rolantes Na verificação do índice de conforto térmico, utilizamos: 1. çatatermômetro seco: É um instrumento de medição simples, desenvolvido pelo higienista inglês Leonard Hill. Consta de um termômetro de dois bulbos onde o corpo apresenta duas marcações: 35 0 C e 38 0 C, respectivamente. Efetua-se a medição, aquecendo-se o aparelho em uma garrafa térmica com Estudo de conforto térmico 149

água a uma temperatura de 70 0 C, até que o líquido do termômetro encha 1/4 aproximadamente do bulbo superior. Em seguida, enxuga-se o termômetro rapidamente e registra-se o tempo que a coluna líquida leva para cair do marco superior (38 0 C) até o inferior (35 0 C). Apresenta esse aparelho uma constante já rotulada no mesmo. 2. Cronômetro para o registro do tempo; 3. Termômetro de mercúrio, dividido em l/soe. É um termômetro simples, porém dividido em 0,2 0 C. Cálculo do índice de conforto térmico 1.0 Calcula-se coeficiente de resfriamento - CR CR = 0- constante do cata termômetro ~--------. --------- 0 ----~ Tempo, em segundos, para a coluna líq uida ir de 38 0 e a 35 0 e 563 T 2.0 Agora se calcula índice de conforto térmico Temperatura aferida no tennômetro de mercúrio, dividido em 0,20C ICT = CR A faixa de bem-estar ou conforto térmico está compreendida entre seis e oito, sendo que acima de oito começa calor e abaixo de seis frio. Anexas as medições verificadas com os respectivos índices de conforto térmico e gráficos. 3. Legislação em vigor do Ministério do Trabalho e Previdência Social Portaria do MTPS n. o 491, de 16/09/65; Diário Oficial de 05/10/65; Conforme artigo 413, da CLT: Segundo o artigo 1. 0 do Decreto-lei n.o 2 162, que diz respeito a operações insalubres; Quadro Xl da Portaria acima descrita. Grau 2 - insalubridade média - 20(1r~ do salário mínimo Operaçües diversas: "Trabalhos em locais de calor excessivo (proveniente de fontes artificiais), cuja temperatura efetiva ultrapasse a 28 0 C." 4. Considerações gerais a) Necessário seria expor que esta medição foi feita no outono. Atente-se para o fato da variação sazonável em relação à temperatura no nosso país. Lógico seria expor que no inverno esses índices seriam menores e, na primavera e verão, aumentariam gradativamente; b) As medições em anexo, dão uma visão minuciosa 150 A.B.P.A. 1/75

do estado de conforto térmico, assim como da temperatura ambiente; c) O tempo em segundos é o resultado de uma média de duas ou mais medições; d) Com a instalação de ar condicionado (o que nós sugerimos), o estado de desconforto térmico estaria solucionado. Indiretamente, anularíamos alguns outros fatores, porque a cabine ficaria fechada e, por este motivo, diminuiria o ruído (barreira que seria criada), como também a poeira e fumaça não penetrariam na cabine. Tudo isto viria melhorar as condições de trabalho do operador, da mesma forma que as condições de saúde, aliadas às de higidez, aumentariam; obteríamos, assim, maior produtividade destes funcionários; e) Importante ressaltar o estudo ergonômico, que deveria o fabricante das pontes desenvolver, para criar boas condições de trabalho; f) Nossa legislação sobre o referido assunto encontra-se desatualizada, necessitando ser revista dentro dos moldes da Medicina do Trabalho Brasileiro atual. Anexos Medições feitas nas pontes rolantes 1. Ponte I 12:00 horas Tempo: 196 segundos Temperatura: 25 0 C 4.85 lci': 5.15 2. Ponte IA 12:20 horas Tempo: 130 segundos Temperatura: 26.4 C 4.33 lci': 6.1 3. Ponte 2 10:30 horas Tempo: 1.260 segundos Temperatura: 35.6 o C 0.45 ICT: 79.11 Estudo de conforto térmico 151

4. Ponte 3 Dia 12.04.74 11 :00 horas Tempo: 1.080 segundos Temperatura: 35 C 0.52 ICT: 67.31 5. Ponte 4 09:30 horas Tempo: 243 segundos Temperatura: 29.6 o C 2.32 ICT: 12.76 6. Ponte 5 14:30 horas Tempo: 158 segundos Temperatura: 28.2 o C 3.56 ICT: 7.92 7. Ponte 5-A 14:15 horas Tempo: 183 segundos Temperatura: 28.2 o C 3.08 ICT: 9.16 Obs.: A laminaç:io estava parada 8. Ponte 5-A 13.04.74 10:30 horas Tempo: 389 segundos Temperatura: 28.5 0 C 1.45 ICT: 19.66 Obs.: A laminação estava em funcionamento 152 A.B.P.A. 1/75

9. Ponte5-B 13.04.74 10:15 horas Tempo: 389 segundos Temperatura: 28.4 C 1.45 19.59 Obs.: A laminação estava em funcionamento 10. Ponte 5-B 12.04.74 14:05 horas Tempo: 177 segundos Temperatura: 28.4 C 3.18 8.93 Obs.: A laminação estava parada 11. Ponte 5-C Tempo: Temperatura: 12.04.74 15:00 horas 188 segundos 27.4 C 2.99 9.16 Somente para efeito de comparação, realizamos a medição numa sala do prédio administrativo. Os resultados foram: 15.04.74 14:46 horas Tempo: 141 segundos Temperatura: 24 C 3.99 6.02 Obs.: Com o aparelho de ar condicionado central ligado. Sala de relações industriais (a mesma sala anterior) 12.04.74 13:30 horas Tempo: 165 segundos Temperatura: 28 0 C 3.41 8.21 Obs.: Com o aparelho de ar condicionado central desligado. Estudo de conforto térmico 153