15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental PROTEÇÃO DE FONTES DE ABASTECIMENTO PÚBLICO DE ÁGUA NO OESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO



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Transcrição:

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental PROTEÇÃO DE FONTES DE ABASTECIMENTO PÚBLICO DE ÁGUA NO OESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO Ana Maciel de Carvalho 1 ; Mara Akie Iritani 2 ; José Luiz Albuquerque Filho 3 ; Lucas Carlucci Sato 4 ; André Luiz Ferreira 5 Resumo Este artigo apresenta os resultados parciais da pesquisa intitulada Delimitação de Perímetros de Proteção de Poços de Abastecimento Público no Sistema Aquífero Bauru (PPP- SAB). O estudo está sendo desenvolvido de acordo com o Decreto Estadual nº 32.955/91 (São Paulo, 1991), especificamente quanto à delimitação de Perímetros de Alerta contra poluição de poços de abastecimento público em 120 municípios. Assim, foi possível visitar 726 poços ativos em campo, avaliar as condições sanitárias desses poços e fontes potenciais que ocorrem ao redor. Além disso, com base nas características hidrogeológicas e dos poços, utilizando-se o método do raio Fico Calculado, foi possível calcular os raios para a delimitação do Perímetro de Alerta, que variaram de 5 m a 65 m. O PPP-SAB refere-se à primeira proposta para a proteção dos recursos hídricos subterrâneos captados por poços de abastecimento público, denotando, assim, o desafio de articular as ações que se dão no âmbito regional, de responsabilidade do Estado, com aquelas de âmbito local, de responsabilidade dos municípios. Abstract This paper presents the partial results about "Definition of Wellhead Protection Area to Public Supply in Bauru Aquifer System (WPA-BAS)." The research is being developed according to the State Decree No. 32.955/91 (Sao Paulo, 1991), specifically according to the delimitation of alert zone against pollution of public supply wells in 120 municipalities. Thus, it was possible to visit 726 active wells in the field, assess the health conditions of these wells and potential sources that occur around. Furthermore, based on the hydrogeological characteristics and wells informations, was used Calculated Fixed Radios Method to calculate the radios, ranging from 5 m to 65 m. The WPA-BAS refers to the first proposal for the protection of groundwater resources raised by the public supply wells, showing thus the challenge to articulate the actions that take place at the regional, state responsibility, with those of scope place, the responsibility of municipalities. Palavras-Chave Proteção das águas subterrâneas; Sistema Aquífero Bauru (SAB); Perímetro de Proteção de Poços (PPP). 1 Geol a, MSc, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, São Paulo, SP, (11) 3767-4936, amaciel@ipt.br 2 Geól a, Dra. Instituto Geológico da Secretaria de Estado de Meio Ambiente: São Paulo, SP, (11) 5073-5511, mara.iritani@igeologico.sp.gov.br 3 Geol., Dr., Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, São Paulo, SP, (11) 3767-4648, albuzelu@ipt.br 4 Estag. Geol., Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, São Paulo, SP, (11) 3767-4936, lcsato@ipt.br 5 Geog, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, São Paulo, SP, (11) 3767-4936, andrel@ipt.br 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1

1. INTRODUÇÃO A proteção dos poços que captam água do Sistema Aquífero Bauru (SAB), regionalmente livre, composto por material de porosidade granular, é de extrema importância, tendo em vista que a região centro-oeste do Estado de São Paulo depende expressivamente desse recurso. O SAB abastece integralmente 32,5% dos municípios do Estado (SILVA et al. 2005) e, na última década, a utilização desse recurso para o abastecimento público aumentou em 80% (CBH-AP, 2013). O presente artigo mostra os resultados parciais de projeto que está sendo desenvolvido pelo IPT, com colaboração do IG-SMA, DAEE (Departamento de Águas Energia Elétrica), CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), Centro de Vigilância Sanitária (CVS) e SABESP (Saneamento Básico do Estado de São Paulo), cujo objetivo é estabelecer a Delimitação de Perímetros de Proteção de Poços de Abastecimento Público no Sistema Aquífero Bauru (PPP- SAB), especificamente o Perímetro de Alerta como estabelece o Decreto Estadual nº 32.955/91 (São Paulo, 1991), que regulamenta a Lei Estadual nº 6.134 (São Paulo, 1988), que versa sobre a preservação dos depósitos naturais de águas subterrâneas no Estado de São Paulo. O projeto PPP-SAB enfoca a delimitação do Perímetro de Alerta nos poços de abastecimento público do Sistema Aquífero Bauru no Estado de São Paulo em 120 municípios de até 20 mil habitantes, além de classificar fontes potenciais de contaminação na área delimitada e propor diretrizes de uso do solo a serem utilizadas nessas áreas. 2. CARACTERIZAÇÃO HIDROGEOLÓGICA DA ÁREA ESTUDADA As rochas do Grupo Bauru correspondem ao Sistema Aquífero Bauru (SAB), que segundo IPT (1999), pode ser considerado um aquífero poroso, moderadamente permeável, devido ao teor relativamente alto de material argiloso e siltoso e, localmente, apresenta condições de semiconfinamento a confinamento. Localmente, o SAB apresenta zonas com diferentes características hidrogeológicas, subdividindo-se em quatro aquíferos: Marília, Adamantina, Santo Anastácio e Caiuá. Segundo Rocha et al. (1979), os valores médios de transmissividade predominantes da porção inferior do Bauru situam-se entre 30 m²/h e 50 m²/h e correspondem ao domínio de ocorrência da Formação Adamantina. O intervalo de 50 m²/h a 100 m²/h ocorre nos domínios da Formação Santo Anastácio, a oeste, e o intervalo de 100 m²/h a 200 m²/h ocorre na Formação Caiuá. Fonte: Rocha et al. (2005). Figura 1 Área de ocorrência do Sistema Aquífero Bauru. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 2

Paula e Silva (2003) considera que, de uma forma geral, o Aquífero Marília um aquífero livre a semiconfinado, de extensão regional e contínuo. Segundo o autor, devido à sua alta cimentação carbonática, seus valores de permeabilidade acabam sendo reduzidos significativamente, mesmo que possua dominância arenosa e grande espessura. A cimentação varia muito pela extensão do aquífero, o que acaba gerando variações de permeabilidade, tornando-o anisótropo e heterogêneo, podendo gerar situações de confinamento hidráulico. Nas zonas de alteração superficiais da sucessão, é comum a presença de aquíferos suspensos isolados pelos estratos subjacentes relativamente impermeáveis. Assim como o Aquífero Marília, Paula e Silva (2003) considera o Aquífero Adamantina livre a semiconfinado, de extensão regional e contínuo. A Formação Adamantina é aflorante em quase toda a área de ocorrência do Grupo Bauru, sendo coberto apenas localmente, onde ocorre a Formação Marília. O Aquífero Santo Anastácio apresenta extensão regional, sendo considerado livre a semiconfinado e contínuo (CETESB, 1997). Onde as intercalações argilo-siltosas ocorrem com maior frequência, manifesta comportamento heterogêneo e anisotrópico, mas pode mostrar certa homogeneidade em áreas quase exclusivamente dominadas por sedimentos arenosos. O maior potencial exploratório encontra-se na porção sudoeste de sua área de ocorrência (PAULA e SILVA, 2003). O Aquífero Caiuá tem extensão regional, sendo considerado livre a semiconfinado e contínuo (DAEE,1979). Condições de semiconfinamento são observadas nas porções onde ocorre fácies argilosas. A distribuição das isólitas arenosas do Aquífero Caiuá distingue a região do Pontal do Paranapanema (extremo sudoeste paulista) como aquela com melhor potencial hídrico exploratório. Os aquíferos Santo Anastácio, Caiuá e a porção aflorante do Adamantina, com melhor potencial hídrico exploratório, são aqueles que apresentam maior vulnerabilidade natural à contaminação. 3. DELIMITAÇÃO DO PERÍMETRO DE ALERTA O Decreto Estadual nº 32.955/91 estabelece a Área de Proteção de Poços e Outras Captações, representada por dois perímetros de proteção. O primeiro, denominado Perímetro Imediato de Proteção Sanitária (PIPS), é definido por um raio de 10 metros ao redor da captação e visa a proteção da integridade física e sanitária do poço. O segundo, denominado Perímetro de Alerta (PA), visa a proteção contra a contaminação microbiológica e toma como base um tempo de trânsito da água subterrânea de 50 dias a partir do poço. No projeto SAB, para o cálculo do Perímetro de Alerta foi utilizado o método do raio fixo calculado (RFC). Esse método assume um fluxo uniforme e radial ao poço e baseia-se no cálculo volumétrico de água bombeada em um determinado tempo de trânsito considerado (t). Assim, permite a determinação de uma área circular cujo raio pode ser calculado pela seguinte equação: r Qt n b e Onde r é o raio, Q é a vazão, t é o tempo de trânsito, π é 3,14, n e é a porosidade efetiva e b é a zona saturada do aquífero. O resultado obtido representa tridimensionalmente um cilindro, cujo eixo corresponde ao poço (Figura 2). Ressalta-se que os dados de porosidade efetiva utilizados neste trabalho correspondem a valores regionais obtidos por meio de pesquisa bibliográfica na literatura técnico-científica hidrogeológica, enquanto que a espessura da zona saturada foi calculada pela diferença entre a profundidade do poço e do nível estático. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 3

Para os dados de vazão, de profundidade do poço e do seu nível estático, foram usados aqueles obtidos em medições diretas de campo. Nos casos onde a medição direta não foi possível, foram utilizados, em ordem de prioridade, aqueles informados em campo, assim como aqueles da planilha SABESP, da planilha DAEE, a média dos poços do município ou do município mais próximo e, por último, dados regionais apresentados na literatura. Dessa forma, os resultados encontrados para os raios variaram de 5 m a 65 m, aproximadamente, com média de 24 m. Fonte: modificado de Carvalho e Hirata (2012). Figura 2 Área de proteção de poço circular calculada com base na equação volumétrica de um cilindro. 4. TRABALHOS REALIZADOS Neste trabalho foram desenvolvidas atividades compreendendo levantamento de dados existentes (poços, fontes de contaminação, áreas contaminadas, base cartográfica); levantamento de campo (poços e atividades no entorno), e tratamento preliminar dos dados com classificação das fontes potenciais de contaminação e cálculo do Perímetro de Alerta. Cada etapa está descrita nos itens seguintes. 4.1. Levantamento de dados existentes Inicialmente foram obtidas informações acerca de 534 poços, do banco de dados denominado SIDAS (Sistema de Informações de Águas Subterrâneas), do DAEE e, também, dados de 416 poços fornecidos pela SABESP, compreendendo os 120 municípios. Além disso, obtiveram-se dados de 3.665 fontes potenciais de contaminação registrados no Sistema de Fontes de Poluição SIPOL e 50 áreas declaradas contaminadas, fornecidos pela Cetesb (www.cetesb.sp.gov.br), cujo acesso foi efetuado em julho de 2014. 4.2. Visita aos poços e avaliação de atividades no entorno de poços Para o trabalho de campo foram preparadas fichas pré-preenchidas com base nos dados de poços inicialmente cadastrados junto ao DAEE e à SABESP. Novas informações foram coletadas em campo, tais como dados de localização dos poços (com uso do GPS e na projeção UTM, datum WGS 84), medições de nível d água, dados de proteção sanitária e de condições e ocupação do entorno do poço. Além disso, novos poços foram adicionados ao banco de dados, totalizando 726 poços ativos visitados em campo. No interior do Perímetro Imediato de Proteção Sanitária dos poços foi elaborado um diagnóstico das condições de conservação, observando-se a laje de proteção sanitária, a cerca de proteção, existência de torneira para coleta de água, entre outros (considerando o Decreto Estadual nº 32.955/1991 e a Instrução Técnica DPO nº 006/2013, do DAEE). No tratamento preliminar dos dados foi possível observar que os principais problemas nas condições da proteção sanitária dos poços são a falta de laje de proteção, ou quando esta é existente apresenta-se muitas vezes rachada e quebrada ou com dimensões incorretas. Além disso, observou-se, também, a limpeza irregular e cerca ao redor inadequada (Figura 3). 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 4

Figura 3 Condição da proteção sanitária de alguns poços visitados em campo. Informações sobre indícios ou ocorrências de enchentes no local também foram levantadas, uma vez que estes eventos podem resultar na infiltração de contaminantes, especialmente onde há problemas com a proteção sanitária do poço ou há poços abandonados, mal conservados ou abertos no entorno. Em um raio de 100 m ao redor de cada poço foram levantadas todas as atividades antrópicas existentes, coletando-se informações de localização (coordenadas e endereço) e tipo de atividade, além da obtenção de fotos. Dentre essas atividades classificou-se em elevado, moderado e reduzido potencial de contaminação àquelas localizadas no interior do raio calculado. Na avaliação preliminar dos dados observou-se que, de forma geral, não há grande concentração de atividades potencialmente contaminantes ao redor dos poços e as atividades antrópicas predominantes estão relacionadas a atividade agrícola e postos de combustíveis. Foi identificada, também, a existência eventual de poços abandonados, o tipo e a cobertura do sistema de esgotamento sanitário (fossa, rede coletora de esgoto), atividade agro-silvo-pastoril e a densidade populacional na área ao redor do poço. 5. CONCLUSÕES PRELIMINARES A partir dos estudos que estão sendo realizados na pesquisa, foi possível verificar a proteção da integridade física e sanitária de 726 poços ativos para abastecimento público visitados em campo, observando que ainda existem condições precárias, tais como a inexistência ou deterioração da laje de proteção, da cerca ao redor do poço e inadequada manutenção da limpeza. Além disso, será possível definir o Perímetro de Alerta a partir dos resultados de raios calculados ao redor dos poços, que variaram de 5 m a 65 m. Nessas áreas calculadas e, também, num raio de 100 m foi avaliado as atividades e fontes potenciais de contaminação existentes ao redor dos poços. A partir desses resultados, será possível sugerir recomendações para a proteção da área ao redor do poço visando a manutenção da qualidade da água extraída para abastecimento da população. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO), pelo financiamento do projeto, o Departamento de Águas Energia Elétrica (DAEE), por participarem como Agente Técnico e a colaboração do Instituto Geológico (IG) da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA), CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), Centro de Vigilância Sanitária (CVS) e SABESP (Saneamento Básico do Estado de São Paulo). 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 5

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS CBH-AP COMITÊ DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS AGUAPEÍ E PEIXE - UGRHI s 20 e 21 (2013). Relatório de Situações dos Recursos Hídricos 2012 ano base 2011. Marília, 2013. CARVALHO, A.M E HIRATA, R. Avaliação de métodos para a proteção dos poços de abastecimento público do Estado de São Paulo. GEOLOGIA USP, SÉRIE CIENTÍFICA, V. 12, N. 1, P. 53-70, ABR., 2012. CETESB COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL (1997). Uso das águas subterrâneas para abastecimento público no Estado de São Paulo. São Paulo, 1997. DAEE DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ENERGIA ELÉTRICA (1979). Estudo de águas subterrâneas, Regiões Administrativas 10 e 11: Presidente Prudente e Marília. São Paulo: v.1 e v.2. PAULA E SILVA, F. (2003). Geologia de subsuperfície e hidroestratigrafia do Grupo Bauru no Estado de São Paulo. Tese de Doutorado. Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. Rio Claro. 166 p. ROCHA, G.A., GIANCURSI, F.D., PERRONI, J.C.A, SOBREIRO NETO, A.F., BERTACHINI, A.C., CORREA, W.A.G., CAMPOS, H.C.N.S., DIOGO, A., ROSA, R.B.G.S. & CASTRO, C.G.J. 1979. Hidrogeologia das bacias dos rios Aguapeí, Peixe e Paranapanema no Estado de São Paulo. In: Simpósio Regional de Geologia, 2., Rio Claro. Atas...Rio Claro: SBG, 1979, v.2, p. 85-100. ROCHA, G. (Coord.). Mapa de águas subterrâneas do Estado de São Paulo. São Paulo, CRH/DAEE/IG/IPT/CPRM, 2005. Escala 1:1.000.000. SÃO PAULO (Estado). Lei n 6.134/88 de 2 de junho de 1988. Dispõe sobre a preservação dos depósitos naturais de águas subterrâneasdo Estado de São Paulo, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.comitepcj.sp.gov.br/download/lei-6134-88.pdf> SÃO PAULO (Estado). Decreto n 32.955, de 7 de fevereiro de 1991. Regulamenta a Lei n 6.134, de 2 de junho de 1988. Disponível em: <http://www.quimlab.com.br/pdf- LA/Decreto%2032955%20%20Preserva%E7%E3o%20de%20%C1gua%20Subterr%E2nea.pdf> SILVA, F.P.; KIANG, C.H.; CAETANO-CHANG, M.R. (2005). Hidroestratigrafia do Grupo Bauru (K) no Estado de São Paulo. Águas Subterrâneas, v.19, n.2, p.19-36. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 6