ÁNALISE DAS OCORRÊNCIAS DE EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO DE RIO LARGO, ALAGOAS André Luiz de Carvalho 1 José Leonaldo de Souza 2, Mônica Weber Tavares 3 1 Doutorando em Tecnologias Energéticas e Nucleares, Departamento de Energia Nuclear, UFPE, Recife PE, Av. Prof. Moraes Rego, 1235 Cidade Universitária, Recife PE CEP: 50670-901 del.andre2@hotmail.com 2 Meteorologista, Prof. Associado Lab. de Agrometeorologia e Radiometria Solar, Inst. de Ciências Atmosféricas, UFAL, Maceió AL Campus A.C. Simões Av. Lourival Melo Mota, S/N, Tabuleiro dos Martins Maceió AL. CEP: 57072-970 leonaldojs@yahoo.com.br 3 Estudante de graduação em meteorologia, UFPEL, Pelotas RS Faculdade de Meteorologia, Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Campus Universitário s/n Caixa Postal 354, Pelotas (RS), Brasil CEP 96010-900 monicawtavares@gmail.com Abstract: this paper objective to analyze the variability of the occurrences of the extreme precipitation events in Rio Largo, state of Alagoas, Brazil. The extreme precipitation events, such as strong rains and droughts, have been the cause of recent natural disasters causing deaths and several losses to the region s economy. Daily precipitation data (1973-2008) was obtained in the conventional station (9 28 S, 35 49 W, 127m) of the Center for Agricultural Sciences (CECA) situated in Rio Largo. Analyses of the precipitation data of each year were done with Instat Climatic (Stern et al., 2005). Extreme events analyzed were higher intensity of daily precipitation for each year of the study. The analysis of the occurrence of the extreme precipitation events showed that it had reduction in its intensity from the end of 80 th. However, extreme events with precipitation values next to 200 mm were higher. It was observed that these events had changes with El Niño South Oscilation (ENSO) occurrences. La Niña years had presented occurrences of more intense extreme events (1973, 1984, 1985, 1989, 1996, 2000, 2006, 2007, 2008), with exception, of some years between 70-80 th decades (1978, 1980, 1982, 1983, 1994) that presented more incidences of El Niño events. It is concluded that the occurrences of more intense precipitation events have suffered significant changes in the last few decades. Key-words: ENOS, strong rains and droughts. Resumo: Neste trabalho procurou-se analisar a variabilidade das ocorrências de eventos extremos de precipitação no município de Rio Largo, estado de Alagoas. Os eventos extremos de precipitação, como as chuvas fortes e as secas prolongadas, têm sido a causa de vários desastres naturais que provocam mortes e prejuízos para economia da região. Dados diários de precipitação pluvial (1973 2008) foram obtidos em uma estação convencional (9 28 S, 35 49 W, 127m) localizada no Centro de Ciências Agrárias (CECA) situado em Rio Largo. As análises dos dados de precipitação de cada ano foram realizadas com a utilização do aplicativo Instat Climatic (Stern et al., 2005). Os eventos extremos analisados foram os de maior intensidade de precipitação diária para cada ano de estudo. A análise da ocorrência dos eventos extremos de precipitação mostrou que houve redução significativa na sua intensidade a partir do final da década de 80. Porém, eventos extremos com valores de precipitação próximos a 200 mm foram mais acentuados. Notou-se também que esses eventos sofreram modificações com a ocorrência do El niño Oscilação Sul (ENOS). Anos de La niña apresentaram ocorrências de eventos extremos mais intensos (1973, 1984, 1985, 1989, 1996, 2000, 2006, 2007, 2008), com exceção, de alguns anos entre as décadas de 70-80 (1978, 1980, 1982, 1983, 1994) em que foram observadas maiores incidências de eventos de El niño. Logo, as ocorrências de eventos de precipitação com maior intensidade têm sofrido mudanças significativas nas últimas décadas. Palavras-chave: Secas prolongadas, chuvas fortes e ENOS.
1- Introdução As constantes mudanças no clima estão provocando aumento nas ocorrências de eventos climáticos extremos no mundo inteiro. No Brasil, esses eventos ocorrem, principalmente, como enchentes (fortes chuvas) e secas prolongadas (Marengo et al., 2010). No Nordeste do Brasil os impactos são ainda maiores devido à grande variabilidade na ocorrência de precipitação pluvial dessa região. Os principais sistemas responsáveis pela ocorrência de precipitação pluvial na região Nordeste são: Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), Brisas (Marítima e Terrestres) e as Perturbações Ondulatórias nos ventos Alíseos (POAS) (Molion e Bernardo, 2002). O El Niño Oscilação Sul (ENOS) é outro modo de variabilidade climática que influência na ocorrência de precipitação no Nordeste do Brasil. Os eventos extremos são os principais causadores da maioria dos desastres naturais ocorridos nos últimos anos e têm afetado diretamente a população. Como conseqüências destes desastres ocorrem perdas de vidas humanas, prejuízos para a economia, agricultura, saúde além de causar impactos graves aos mais variados ecossistemas. As fortes chuvas provocam inundações, principalmente em zonas urbanas, e conseqüentemente mortes por afogamentos, deslizamentos de terras, desabamentos de prédios e etc. Secas prolongadas tornam a água um recurso de baixa disponibilidade e até escasso provocando a migração da população para outras regiões em busca de melhores condições de vida. A falta de precipitação dificulta, principalmente, o desenvolvimento da agricultura e a criação de animais trazendo conseqüências negativas para a economia da região. Nas plantas, a falta de água prejudica o seu desenvolvimento em suas diversas fases de crescimento, principalmente, quando este problema ocorre durante fases fenológicas nas quais elas necessitam de maiores quantidades de água, como, por exemplo, durante a floração e frutificação (Fietz et al., 1998). A ausência de chuvas provoca baixa disponibilidade de água no solo que limita o desenvolvimento das plantas provocando perdas na produtividade final. As culturas agrícolas também podem ser afetadas pelo excesso de água que mata as plantas por afogamento quando essas estão na fase inicial de crescimento. De maneira geral, pode-se dizer que o aquecimento global, em um futuro próximo, tende a apresentar um cenário de clima mais extremo, com maiores ocorrências de estiagens e inundações. Logo, é importante saber a frequência e a intensidade com que esse fenômeno meteorológico vem ocorrendo nas últimas décadas. 2- Dados e Metodologias O estudo da variabilidade das ocorrências de eventos extremos de precipitação foi realizado no município de Rio Largo, estado de Alagoas. O município de Rio Largo, localizado na região Metropolitana de Maceió, possui clima caracterizado por ser quente e úmido, com moderada deficiência de água no verão e elevado excesso hídrico no inverno. Dados diários de precipitação pluvial em 36 anos (1973 2008) foram obtidos na estação convencional (9 28 S, 35 49 W, 127m) do Centro de Ciências Agrárias (CECA) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Os dados foram tratados no Laboratório de Agrometeorologia e Radiometria Solar (LARAS). Através do pacote estatístico Instat Climatic (Stern et al., 2005), que é uma ferramenta estatística utilizada na determinação de eventos climáticos, avaliou-se a ocorrência dos eventos extremos de precipitação de maior intensidade em cada ano como também o dia de sua ocorrência. A análise das características de eventos extremos com os eventos de ENOS El Niño Oscilação Sul (Tabela 2) foi realizada pela classificação dos anos, em anos de ocorrência de um evento de El Niño e anos de ocorrência de um evento de La Niña, da série de estudo. 3- Resultados A análise das ocorrências de eventos extremos de precipitação para os anos do estudo (Figura 1) mostrou que entre as décadas de 70 e 80 os eventos extremos possuíam maiores valores de precipitação na região de Rio Largo. Nesse período a precipitação destes eventos ficou compreendida, na maioria dos anos, entre 50 e 170 mm. Nos anos seguintes, a precipitação reduziu para valores em torno de 50 a 100 mm, com exceção de alguns anos nos quais a precipitação foi superior a 150 mm (1989, 1994, 2000 e 2008).
Notou-se também que houve relação entre a intensificação na precipitação e ocorrências com eventos de ENOS (Figura 1). Em geral, no nordeste os ENOS alteram os totais pluviométricos da região e também a ocorrência de períodos secos (Carvalho, 2009). Anos com a ocorrência de La Niña proporcionaram eventos extremos mais intensos (1973, 1984, 1985, 1989, 1996, 2000, 2006, 2007, 2008), com exceção, de alguns anos entre as décadas de 70-80 (1978, 1980, 1982, 1983, 1994) que mostraram intensificação com a ocorrência de eventos de El Niño, supostamente, devido à influência de outros fenômenos meteorológicos que atuaram na região. Esses eventos extremos de precipitação foram mais evidentes entre os meses da estação chuvosa (abril agosto) da região (Tabela 1), com 26 ocorrências, de um total de 36, representando 72% de chances de ocorrência. Nesse período foram registrados os eventos mais intensos com valores próximos a 200 mm (1982, 1989, 1994, 2000 e 2008). A estação seca (setembro março) apresentou 10 ocorrências de eventos extremos de precipitação representando assim 18% de chances de ocorrência. Porém, a maioria desses eventos possuiu valores de precipitação pouco menor que 100 mm com exceção dos anos de 1985 e 1985 com 105 e 155 mm, respectivamente. Esses eventos apesar de não serem tão freqüentes possuem grande quantidade de água que é suficiente para causar prejuízos à região. Figura 1 Distribuição anual da precipitação máxima (mm) durante o período entre 1973 a 2008 em Rio Largo AL. Tabela 1 Dia de ocorrência dos eventos extremos de precipitação mais intensos de cada ano durante o período de 1973 a 2008 em Rio Largo - AL. ANO DIA ANO DIA ANO DIA 1973 01/Out 1985 19/Fev 1997 8/Fev 1974 07/Mar 1986 25/Mai 1998 26/Jul 1975 21/Mai 1987 27/Jun 1999 16/Jul 1976 05/Out 1988 14/Jul 2000 01/Ago 1977 26/Jun 1989 11/Jul 2001 13/Jun 1978 10/Mai 1990 02/Abr 2002 03/Mar 1979 24/Jan 1991 15/Ago 2003 14/Jun 1980 10/Jun 1992 20/Jun 2004 29/Mai 1981 19/Dez 1993 01/Nov 2005 12/Jun 1982 27/Abr 1994 03/Jun 2006 14/Mai 1983 17/Mar 1995 12/Abr 2007 28/Abr 1984 18/Mai 1996 22/Abr 2008 16/Mai
Tabela 2 - Classificação e Intensidade do El Niño Oscilação Sul no período de 1973 a 2008. Fonte: CPTEC / INPE 4- Conclusões Período Classificação Intensidade 1972 1973 El Niño Forte 1973 1976 La Niña Forte 1976 1977 El Niño Fraco 1977 1978 El Niño Fraco 1979 1980 El Niño Fraco 1982 1983 El Niño Forte 1983 1984 La Niña Fraco 1984 1985 La Niña Fraco 1986 1988 El Niño Moderado 1988 1989 La Niña Forte 1990 1993 El Niño Forte 1994 1995 El Niño Moderado 1995 1996 La Niña Fraco 1997 1998 El Niño Forte 1998 2001 La Niña Moderado 2002 2003 El Niño Moderado 2004 2007 El Niño Fraco 2008 La Niña Forte Conclui-se que houve mudança no comportamento das ocorrências de precipitação a partir do final da década de 80 na região de Rio Largo, Alagoas. A intensidade de precipitação nos eventos extremos diminuiu, porém observou-se que os eventos mais intensos (valores próximos a 200 mm) foram mais freqüentes. Eventos de ENOS - entre as décadas de 70-80 (1978, 1980, 1982, 1983, 1994) - tiveram influência na ocorrência dos eventos extremos. Esses eventos foram intensificados com a ocorrência de eventos de La Niña (1973, 1984, 1985, 1989, 1996, 2000, 2006, 2007, 2008) na maioria dos anos. 5- Referências Bibliográficas CARVALHO, A. L.; SOUZA, J. L.; LYRA, G. B.; PORFIRIO, A. C. S.; FERREIRA JUNIOR, R. A.; SANTOS, M. A.; WANDERLEY, H. S. Probabilidade de ocorrência de períodos secos para a região de Rio Largo, Alagoas. In: Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, XVI, Belo Horizonte MG, Anais...(CD-Rom), 2009.
CPTEC/INPE. Disponível em: http://enos.cptec.inpe.br/tab_elnino.shtml e http://enos.cptec.inpe.br/ tab_lanina.shtml. Acessado em Mar.2009. FIETZ, C. R.; FRIZZONE, F. A.; FOLEGATTI, M. V. Probabilidade de ocorrência de períodos secos e chuvosos na região de Dourados, MS. Irriga (Botucatu), Botucatu, v.3, n.1, p. 16-22, 1998. MARENGO, J. A.; SCHAEFFER, R.; ZEE, D.; PINTO, H. S. Mudanças climáticas e eventos extremos no Brasil. Disponível em: http://www.fbds.org.br/cop15/fbds_mudancasclimaticas.pdf. Acessado em outubro de 2010. MOLION, L. C. B.; BERNARDO, S. Uma revisão da dinâmica das chuvas no Nordeste brasileiro. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 17, p. 1-10, 2002. STERN, R. D.; RIJKS, D.; DALE, I.; KNOCK, J. Instat Climatic Guide. P. 325. Oct. 2005. 6. Agradecimentos Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq).