Acórdão do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Rugby



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A g r u p a m e n t o d e E s c o l a s d e G u i a - P o m b a l

Transcrição:

Acórdão do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Rugby Processo CJ n.º: 38/2015 Jogo: Recorrente Relator: GD Direito / CDUL (Campeonato da Divisão de Honra) Lino António Salema Noronha Tudela Francisco Landeira Data: 05.06.2015 Sumário: 1. Perante a necessidade de ( ) ouvir os arguidos constituídos, com vista a garantir o exercício pleno do seu direito de defesa ( ), é entendimento do Conselho de Justiça que a caducidade do procedimento disciplinar determina a extinção do direito do CD de iniciar o procedimento disciplinar, não produzido a decisão que daí decorre quaisquer efeitos. 2. A previsão de um prazo de decisão de ( ) tem como finalidade impor ao CD o dever de agir em curto prazo, para definir, perante factos conhecidos de todos os intervenientes, a infração disciplinar e o respetivo procedimento associado, a fim de assegurar a defesa dos arguidos. A Relatório 1. O presente recurso foi interposto da decisão tomada pelo Conselho de Disciplina (doravante, CD) de aplicação ao Recorrente, Luís António Salema Noronha Tudela, de uma sanção de 30 dias de suspensão e multa de 200,00. 2. Alega, resumidamente, o ora Recorrente, que: a) A nota de culpa relativa ao processo disciplinar que foi interposto contra si não lhe foi comunicada dentro do prazo legalmente estabelecido para o efeito (seis dias 1

úteis), previsto no Artigo 13.º, n.º 1 do Regulamento de Disciplina da Federação Portuguesa de Rugby (RD), razão pela qual deve ser declarada a caducidade do referido processo disciplinar; b) Ao não ouvir a testemunha por si indicada, o CD violou o artigo 39.º do RD ( Instauração de processo disciplinar ), por não garantir ao Recorrente o direito ao contraditório; c) Não se justifica que a medida da pena proposta pelo CD seja agravada pelo facto de, alegadamente, o Recorrente ser reincidente, uma vez que a única condenação do CD foi anulada. 3. Após receção do recurso, foram solicitados os restantes elementos e documentos que integram o respetivo procedimento disciplinar, que foram remetidos ao CJ em 1 de junho de 2015. B Análise 4. Uma vez que o Recorrente tem legitimidade e que o recurso foi apresentado tempestivamente, e não padecendo o recurso de quaisquer vícios ou irregularidades que obstem ao seu conhecimento, cumpre apreciar o respetivo mérito. 5. Revisto todo o processado e apreciados os documentos que constam do processo de recurso, constata-se que: a) O jogo entre as equipas do GD Direito e o CDUL, do Campeonato da Divisão de Honra, a que reportam os factos descritos no procedimento disciplinar realizou-se no dia 7 de março de 2015; b) No final do referido jogo, o Recorrente deslocou-se à cabine do árbitro, onde, na presença de outras pessoas, lhe dirigiu palavras que o CD, nos termos da Nota de Culpa que lhe foi comunicada em 17 de abril de 2015, considerou ser merecedoras da punição prevista no artigo 34.º do RD, por atingirem a honra, honestidade e dignidade do referido árbitro. 6. Perante a factualidade apurada, é inegável que o CD não cumpriu com uma formalidade a que estava obrigado por força do disposto no artigo 13.º, nº 1 do CD. 2

7. Concretamente, prevê a referida norma do RD que «A decisão do Conselho de Disciplina de arquivar ou determinar a abertura de inquérito e do processo disciplinar que venha a justificar-se deverá ser proferida no prazo de 2 (dois) dias úteis a contar da data de receção do processo mas, em qualquer caso, nunca depois de decorridos 6 (seis) dias úteis (sublinhado nosso), a contar da data da realização do jogo ou da data do conhecimento dos factos, devendo essa decisão ser imediatamente comunicada aos interessados.». 8. Salvo melhor opinião, a irregularidade assinalada afeta inelutavelmente o processo disciplinar e a decisão proferida. 9. Com efeito, nos termos do citado n.º 1 do artigo 13.º do RD, os interessados devem ser informados da decisão do CD que manda instaurar o processo disciplinar num prazo entre os «2(dois) dias úteis a contar da data de receção do processo» em que a decisão do CD de arquivar ou determinar a abertura de inquérito e do processo disciplinar deve ser proferida e os «6 (seis) dias úteis», contados a partir da data da realização do jogo ou da data do conhecimento dos factos. 10. O que, no caso vertente, não ocorreu, pois a nota de culpa foi comunicada ao Recorrente apenas a 17 de abril, mais de trinta dias após a data da realização do jogo e dos factos descritos no relatório disciplinar do árbitro, de 9 de março de 2015. 11. Nestes termos, e perante a necessidade de, no âmbito de um processo disciplinar, ouvir, em tempo, os arguidos constituídos, com vista a garantir o exercício pleno do seu direito de defesa relativamente aos factos que lhes são imputados, é entendimento do Conselho de Justiça que a caducidade do procedimento disciplinar determina a extinção do direito do CD de iniciar o procedimento disciplinar, não produzido a decisão que daí decorre quaisquer efeitos. 12. É que a previsão de um prazo de decisão de «nunca depois de decorridos 6 (seis) dias úteis, a contar da data da realização do jogo ou da data do conhecimento dos factos» tem como finalidade impor ao CD o dever de agir em curto prazo, para definir, perante factos conhecidos de todos os intervenientes, a infração disciplinar e o respetivo procedimento associado, a fim de assegurar a defesa dos arguidos. 3

C Decisão Em face do exposto, e sem necessidade de analisar os restantes argumentos invocados no Recurso, o Conselho de Justiça julga procedente o presente Recurso, devendo, em consequência, o procedimento disciplinar em que se funda a decisão do CD ora em crise ser declarado extinto, por caducidade, não produzido tal decisão quaisquer efeitos. Notifique-se. Lisboa, 05 de junho de 2015 Francisco Landeira Duarte Vasconcelos António Folgado Lourenço da Cunha Voto de Vencido Continuo a entender que o não cumprimento, por parte do CD, dos prazos previstos no artº 13.º, n.º 1 do Regulamento de Disciplina (RD), não acarreta a caducidade do prazo para abertura do processo disciplinar. São várias as razões da minha discordância para com o entendimento subjacente ao presente acórdão. 1. A primeira discordância prende-se, desde logo, com a possibilidade, ou não, de aplicação de uma figura própria do direito civil caducidade - ao processo disciplinar. 4

Ao contrário do que acontece com a prescrição que é um instituto aplicável quer no domínio do direito penal quer no civil, a figura da caducidade tem aplicação apenas no domínio da área cível. 1 Também ao contrário da prescrição, o instituto da caducidade vem regulada apenas no Código Civil arts. 328º a 333º. Dispõe o nº 2 do artº 55º do RD da FPR que são subsidiariamente aplicáveis nos casos omissos as disposições do Código Penal (CP) e do Código do Processo Penal (CPP). Daqui decorre que no processo disciplinar se aplicam as regras supletivas fixadas pelo CP e pelo CPP. Ora, a nossa primeira objecção relativamente à posição perfilhada no presente acórdão, é a de que não se pode aplicar um instituto jurídico caducidade que não está previsto na legislação penal cujos princípios são supletivamente aplicáveis em sede disciplinar. 2. Uma segunda razão, consequência da primeira, é a de saber qual a natureza dos prazos de 2 (dois) e 6 (seis) dias referidos no nº 1 do artº 13º do RD. Uma vez que a caducidade não é aqui aplicável, tais prazos tem apenas natureza indicativa para o Conselho Disciplina (CD), sem prejuízo de, como demonstraremos mais à frente, poder haver consequências decorrentes do não cumprimento dos mesmos. Aceitar como imperativo um prazo de 2 dias para abertura de um processo disciplinar, sob pena de caducidade, é o escancarar as portas à impunidade, precisamente o contrário do que são as finalidades preventivas e punitivas subjacentes à existência de um qualquer regulamento disciplinar. 3. Que leitura, então, fazer do nº 1 do artº 13º do R.D.? Efectivamente, resulta deste preceito que o CD deve proferir, no prazo de 2 dias úteis a contar da data da recepção do processo mas, em qualquer caso, nunca depois de decorridos 6 dias úteis a contar da data de realização do jogo ou do data do conhecimento dos factos, a decisão de arquivar ou de determinar a abertura de inquérito ou de processo disciplinar que venha a aplicar-se. Isto é, estes dois prazos estão interligados sendo que o prazo para determinar 1 Dicionário Jurídico, 2º Edição, Almedina, Ana Prata que esclarece o que é a caducidade e exemplifica várias situações em que a mesma ocorre, todas na área do direito civil. 5

abertura do inquérito deve ocorrer indicativamente entre o segundo e o sexto dia útil após a recepção do expediente que pode dar causa abertura de um processo disciplinar. Tal leitura tem que ser conjugada com o que decorre do disposto no nº 2 do artigo anterior do RD, ou seja, do artº 12. Decorre desta disposição que um jogador expulso fica automaticamente suspenso da actividade desportiva até á decisão do CD mas cessa a suspensão de natureza preventiva caso ela não seja proferida no prazo de uma semana após a realização do jogo. Se por qualquer razão (de que são exemplos o atraso na comunicação à FPR ou participação chegada após a reunião semanal do CD), o CD não apreciar os facto socorridos no fim-desemana anterior passíveis de acção disciplinar, como o jogador fica suspenso preventivamente na semana imediatamente a seguir por força do disposto no nº 2 do artº 12º do RD, não há qualquer problema quanto ao cumprimento imediato e seguido da sanção disciplinar aplicada. O mesmo não acontece se o CD não decidir na segunda semana após a ocorrência dos factos porque, após a primeira semana cessa a suspensão preventiva do jogador e ele poderá então jogar já na semana seguinte. Ou seja, o CD deve apreciar a participação/relatório do jogo entre a primeira e segunda semana após a ocorrência dos factos para que, caso haja necessidade de determinar abertura de processo disciplinar, o eventual infractor continue suspenso da actividade a partir da segunda semana. Ora, os prazos de 2 (dois) e 6 (seis) dias úteis, que estão compreendidos entre a primeira e segunda semana, é o prazo indicativo dentro do qual o CD deve apreciar a participação/relatório, preferencialmente na semana seguinte daí os 2 dois dias -, de forma a que o eventual infractor não possa jogar no segundo fim-de-semana após a realização do jogo. Caso o CD não determine a instauração do procedimento disciplinar no referido prazo de 6 dias úteis, ainda assim, porque o mesmo também é indicativo, não está impedido de o fazer posteriormente, mas neste caso o jogador deixa de estar preventivamente suspenso e só vai cumprir o resto da sanção após a conclusão do processo disciplinar o castigo não é cumprido de uma só vez e de forma seguida, como seria desejável. Face à leitura que fazemos do artº 13º, nº 1 do RD, só pode ser esta a consequência de não ter sido determinada abertura do processo disciplinar entre o 2º dia útil e o 6º dia útil após a recepção da participação/relatório do jogo. 6

4. Ainda relacionada com a questão anterior, surge ainda uma outra objecção. Os prazos referidos no nº 1 do artº 13º do RD reportam-se unicamente à situação em que há lugar abertura de processo disciplinar, ou seja, infracção a que corresponda mais de quatro jogos de suspensão artº 39º do R.D.. Se a infracção cometida for sancionável com pena de 2 jogos de suspensão, não há norma no RD que preveja qual o prazo que o CD tem, nesta situação concreta, para decidir. A seguir-se a posição maioritária neste acórdão, quem comete uma infracção mais grave tem, por razões de ordem processual, mais possibilidade de não ser sancionado do que quem comete uma infracção menos grave, o que não faz qualquer sentido. 5. Uma última nota, particularmente relevante, consiste no perigo para o futuro que decorre da tese que agora fez vencimento. Sempre que haja lugar abertura de inquérito disciplinar e o CD não o faça no prazo de 2 (dois) dias úteis após a entrada na FPR da participação/relatório do jogo, a consequência é o imediato arquivamento do processo (pelo próprio CD) por caducidade uma vez que a mesma é do conhecimento oficioso artº 333º do Código Civil. Ou seja, infracções gravíssimas ficam impunes por força deste entendimento que obviamente não podemos sufragar. Em conclusão, nesta parte e pelas razões expostas não concederíamos também provimento ao recurso. Carlos Ferrer Santos 7