NÍVEL DE INFORMAÇÃO RELATIVO AO HIV/AIDS ENTRE UNIVERSITÁRIOS E PRESENÇA DE OPINIÕES EXCLUDENTES EM RELAÇÃO AO CONVÍVIO SOCIAL COM SOROPOSITIVOS



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NÍVEL DE INFORMAÇÃO RELATIVO AO HIV/AIDS ENTRE UNIVERSITÁRIOS E PRESENÇA DE OPINIÕES EXCLUDENTES EM RELAÇÃO AO CONVÍVIO SOCIAL COM SOROPOSITIVOS Vanessa Prado dos Santos¹ Maria Thereza Ávila Dantas Coelho² Estéfani de Lima Macário³ Introdução: Mudanças no perfil epidemiológico da AIDS vêm sendo observadas no Brasil e no mundo. Objetivos: Identificar o nível de informação de universitários sobre formas de contágio do HIV/AIDS e encontrar respostas relacionadas a ideias excludentes relativas ao convívio social com soropositivos. Métodos: Participaram do estudo 596 universitários, que responderam a um questionário do Ministério da Saúde composto por 50 perguntas relacionadas ao HIV/AIDS. Foram analisadas 10 questões sobre formas de transmissão do vírus e 03 perguntas relacionadas às opiniões acerca do convívio com soropositivos. As respostas sim ou não foram tabeladas e analisadas no programa EPI-INFO. Resultados: Os 596 estudantes tinham média de idade de 23 anos. Quanto ao número de acertos relacionados às 10 perguntas sobre transmissão do vírus, 98% acertaram entre 6 a 10 perguntas e 2% acertaram entre 3 e 5 questões. Em relação às perguntas sobre o convívio social com soropositivos, 1% respondeu que o patrão deveria demitir um soropositivo; 7% que se incomodariam se a casa vizinha se tornasse uma residência para soropositivos e 6% se incomodaria caso uma criança portadora do vírus estudasse na escola que seu filho. Conclusão: Observamos elevado nível de informação de estudantes universitários sobre a transmissão do HIV/AIDS. Encontramos opiniões excludentes, pouco prevalentes, em relação ao convívio social com soropositivos. Palavras-chave: AIDS; preconceito; universitários. 1 Professora Adjunto do Instituto de Humanidades Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Email: vansanbr@hotmail.com 2 Professora Adjunto do Instituto de Humanidades Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia. Email: therezacoelho@gmail.com 3 Graduanda do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da UFBA. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/FAPESB. Email: estefani_macario@hotmail.com

INTRODUÇÃO A AIDS, definida como síndrome secundária à infecção pelo vírus HIV, caracteriza-se pela diminuição da capacidade do organismo de se defender de microorganismos que normalmente não são capazes de desencadear doença em pessoas com sistema imune normal (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Ao longo das décadas, essa síndrome assumiu características pandêmicas, matando mais de 25 milhões de pessoas e infectando mais de 60 milhões (ONU, 2011). No Brasil, a infecção pelo HIV passou por mudanças no seu perfil epidemiológico. De acordo com dados da UNAIDS, o Brasil depara-se, hoje, com um panorama marcado pelos processos da heterossexualização, feminização, interiorização e pauperização da síndrome, que mostra a alteração das características da epidemia, uma vez que, principalmente na década de 80, o HIV se restringia basicamente aos grandes centros urbanos, homossexuais masculinos e hemofílicos (UNAIDS, 2013). Atualmente os jovens vêm configurando o grupo de maior vulnerabilidade, chegando a 41% dos novos casos (UNAIDS, 2012). Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que 22% dos adolescentes iniciam a atividade sexual aos 15 anos de idade (OMS, 2010), sendo que a iniciação sexual precoce está associada ao não uso, ou ao uso inadequado, de preservativos e suas consequências, como gravidez precoce, DST e AIDS. No Brasil, em 2011, observou-se que a taxa de incidência de AIDS em jovens de 15 a 24 anos foi de 10,9/100.000 habitantes. Já em uma análise por regiões, observou-se que, na Região Nordeste, a taxa de incidência de AIDS em jovens de 15 a 24 anos foi de 7,1/100.000 habitantes; quando se analisa essa mesma taxa por Unidade Federativa, a Bahia apresenta incidência de AIDS entre jovens, de 15 a 24 anos, correspondente a 5,1 por 100 mil habitantes (Boletim epidemiológico HIV/AIDS, 2012). A prevenção é uma questão crucial para o controle da epidemia e a rápida disseminação da AIDS chamou a atenção para a importância de se discutir e compreender questões que permeiam a sexualidade e as práticas de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis. A vulnerabilidade dos jovens à infecção pelo HIV está ligada às características e necessidades socioculturais, pois mesmo considerando o maior acesso dos jovens à informação na atualidade, há uma limitação das opções de lazer e cultura, do acesso aos equipamentos sociais, incluindo serviços de saúde e educação, das oportunidades ocupacionais e de rendimentos (AYRES ET AL, 2000). O grau de informação sobre a

AIDS certamente não é o suficiente para que uma pessoa não assuma um comportamento de risco, porém a carência de informações básicas contribui substancialmente para ampliar a vulnerabilidade ao HIV/AIDS (FERREIRA et al, 2008). A informação sobre o HIV/AIDS também pode influenciar nas discussões que tentam diminuir o preconceito que ainda cerca a síndrome e os indivíduos soropositivos. Frente à complexidade das questões que dizem respeito ao binômio sexualidade e juventude, entendendo que pode haver disparidade entre o grau de informação e as práticas preventivas adotadas frente ao HIV/AIDS e considerando o impacto que a informação pode exercer sobre opiniões excludentes relativas aos soropositivos, o objetivo deste estudo é verificar o grau de informação dos jovens universitários sobre o HIV/AIDS e a presença de opiniões excludentes relativas aos indivíduos soropositivos. MÉTODOS Este estudo faz parte de uma pesquisa que analisa as concepções e práticas de saúde e doença entre estudantes universitários. Nesta etapa da pesquisa, foi aplicado um questionário desenvolvido pelo Ministério da Saúde, que visa avaliar programas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e AIDS (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012), entre estudantes do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA), contendo 50 questões relacionadas a informações a respeito do vírus/infecção, opinião, métodos de contágio, práticas de prevenção e a realização de testes diagnósticos da infecção pelo vírus. O instrumento foi aplicado nas primeiras semanas do semestre letivo, logo após o ingresso dos alunos na Universidade. Foram coletados também dados a respeito da idade, gênero, orientação sexual e estado civil dos alunos para caracterizar a amostra. Antes de responder ao questionário, os alunos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, concordando em participar da pesquisa. O questionário era anônimo, não permitia a identificação do estudante e continha perguntas diretas com respostas do tipo sim e não. Os dados foram tabelados em planilha do Microsoft Excel. Foram calculadas as porcentagens de respostas afirmativas e negativas do grupo em relação às cinquenta perguntas. Realizamos a análise das respostas relacionadas ao nível de informação dos estudantes a respeito do HIV/AIDS (10 perguntas) e também a presença de opiniões excludentes acerca do convívio com indivíduos soropositivos (03 perguntas). O número de acertos dos estudantes, referente às dez perguntas sobre o contágio da doença, foi calculado, sendo criadas duas categorias: entre 3 e 5 acertos e entre 6 e 10 acertos. As

respostas acerca de 03 opiniões excludentes tiveram sua frequência estudada e descrita em percentual da amostra. Utilizamos o programa estatístico EPI-INFO 2005 para o cálculo das frequências, médias e desvios-padrão. Neste artigo, foi realizado um recorte das respostas obtidas de 596 estudantes universitários ingressos no referido curso durante três anos, sendo estudadas aqui as respostas referentes às perguntas sobre as formas de contágio da doença e sobre as opiniões excludentes em relação aos soropositivos. Esse recorte vai ao encontro do fato de nos encontrarmos na chamada terceira fase da epidemia da AIDS, no Brasil, que se iniciou no começo dos anos 90 e inseriu, no panorama dessa epidemia, um destaque para o predomínio da transmissão através da atividade sexual heterossexual e da transmissão vertical entre mães e bebês (SANTOS et al, 2009). Se, após a descoberta e propagação da AIDS, houve uma grande mobilização da comunidade científica, no sentido de realizar estudos acerca das principais características da doença (ZANCAN, 1999), agora os holofotes dessa comunidade se dirigem também para a necessidade de se estudar as ideias, hábitos e comportamentos dos integrantes das diversas populações. A pesquisa foi conduzida conforme as diretrizes e normas reguladoras de pesquisas envolvendo seres humanos, da Resolução 196/96, posteriormente substituídas pela Resolução 466/12. RESULTADOS Aplicando o questionário entre os estudantes ingressos no Bacharelado Interdisciplinar em Saúde, curso de graduação interdisciplinar da Universidade Federal da Bahia, obtivemos as respostas de 596 alunos, sendo que 191 (32%) se autodeclararam do sexo masculino e 404 (68%), do sexo feminino. A média de idade foi de 23 anos. Em relação à orientação sexual, 90% se declararam heterossexuais e, quanto ao estado civil, 89% se declararam solteiros. Analisando as repostas acerca das formas de contágio do vírus HIV/ AIDS, os estudantes universitários revelaram um bom nível de informação sobre a doença. Noventa e nove por cento dos estudantes responderam que o sexo sem preservativo é uma forma de contágio; 96% afirmaram que a gravidez e o parto de mães soropositivas também é forma de contágio; 99% referiram o sangue contaminado como forma de transmissão do HIV e 98% informaram que seringas e agulhas contaminadas são formas de contágio. Noventa e oito por cento dos participantes responderam que brincar com crianças soropositivas não é uma forma de transmissão; 94% revelaram que talheres,

pratos e copos não são formas de se adquirir o HIV; 91% afirmaram que usar o mesmo banheiro também não e 88% informaram que picadas de insetos não são formas de se contrair a AIDS. Vinte e nove por cento (29%) dos estudantes responderam que o beijo na boca é uma forma de adquirir a AIDS e 39% responderam que o aleitamento materno não é uma forma de contágio do HIV/AIDS. Considerando o número de acertos dos estudantes às dez perguntas desta etapa do questionário, obtivemos que 96% da amostra acertou entre 7 e 10 perguntas, enquanto que apenas 4% acertou entre 3 e 6 perguntas sobre formas de transmissão/contágio. Avaliamos também a presença de respostas excludentes acerca do convívio com indivíduos soropositivos. Escolhemos três perguntas do questionário que explicitavam estas ideias e perguntavam se o aluno concordava ou discordava daquele ponto de vista. Quanto à pergunta Você se incomodaria se uma criança com o vírus da AIDS estudasse na escola do seu filho?, 94% responderam que não; quanto à pergunta Você acha que seu patrão deve mandar embora do emprego uma pessoa com o vírus da AIDS para proteger você e seus colegas de trabalho?, 99% dos participantes da pesquisa afirmaram que não. Quanto à terceira pergunta Você se incomodaria se uma casa vizinha à sua se transformasse em uma casa para pessoas com AIDS?, 93% dos que responderam ao questionário responderam que não. DISCUSSÃO A análise dos dados da pesquisa evidenciou que a grande maioria dos estudantes tem conhecimento das formas de contágio e das práticas que podem prevenir a contaminação pelo vírus HIV/AIDS. Houve um pequeno número de respostas incorretas em relação ao contágio sexual, mas esse número subiu consideravelmente quando se tratou da contaminação vertical, principalmente através do leite materno. Esse dado merece atenção, pois os jovens universitários podem prestar informações às suas comunidades acerca da transmissão vertical e os cuidados de saúde. A literatura mostrou que as mulheres não têm o hábito de utilizar o preservativo nas relações sexuais, principalmente as que mantêm um relacionamento estável, mesmo estando cientes da importância do seu uso, agindo em prol de relacionamento onde há suposta confiança no parceiro (MAIA et al, 2008). Analisando o novo contexto da feminização e heterogeneização da epidemia, alguns autores como Vermelho et al (1999) e Maia et al (2008) afirmaram em seus estudos que o uso do preservativo masculino ainda é

sinônimo de falta de confiança no parceiro e que o papel de negociação, por parte das mulheres, do seu uso significa uma acusação ao parceiro de infidelidade. Apesar do elevado número de respostas corretas vê-se, nesta pesquisa, que ainda existe dúvida por parte dos graduandos no que diz respeito a não contaminação através do beijo na boca, do uso do banheiro ou de picadas de insetos, o que mostra que precisamos ampliar os espaços para debate das questões relacionadas à AIDS e às doenças sexualmente transmissíveis em geral, em todos os níveis educacionais e em todos os espaços da sociedade contemporânea. A respeito da transmissão vertical e através do aleitamento materno, verificamos que ainda é necessário difundir a informação dessa forma de contágio, pois muitos não sabem que a mulher portadora do vírus HIV não deve amamentar. Essa desinformação, aliada às dificuldades socioeconômicas da nossa população e às frequentes campanhas em prol do aleitamento materno, pode contribuir para as dúvidas a respeito dessa forma de transmissão do vírus. A informação sobre a transmissão vertical, ou seja, aquela que se dá da mãe infectada para seu filho, durante a gestação, parto ou aleitamento (BRITO et al, 2001) precisa ser melhor divulgada entre os jovens e na sociedade como um todo. O Ministério da Saúde tem como meta a redução da transmissão vertical para menos de 2% em todo país, até 2015 (BRASIL, 2011), sendo importante o diagnóstico precoce e o tratamento da gestante para a diminuição de tal transmissão. O teste laboratorial para detecção de anticorpos anti-hiv deve ser parte dos exames solicitados no início do prénatal, possibilitando o aconselhamento e tratamento da gestante. No Brasil ocorre a chamada terceira fase da epidemia da AIDS, que se iniciou no começo dos anos 90 e implica, no panorama da epidemia, o destaque para o predomínio da transmissão através da atividade sexual heterossexual e da transmissão vertical (SANTOS et al, 2009), o que evidencia a necessidade de se estudar as ideias, hábitos e comportamentos dos indivíduos. A nossa análise demonstrou que poucos jovens já haviam feito o teste sorológico para o HIV, o que possivelmente se deve ao fato de que poucos jovens se vêem em situação de risco em relação a essa síndrome, o que leva a uma baixa procura pelo exame. A questão cultural, relacionada à afetividade e confiança no parceiro, pode estar envolvida aí, mas também a dificuldade de acesso à informação e aos serviços de saúde precisa ser lembrada. Para além da informação, o preconceito em relação ao indivíduo soropositivo também precisa ser debatido na sociedade. O questionário do Ministério da Saúde

também aborda perguntas relacionadas ao preconceito relativo aos soropositivos. Freitas e colaboradores (2012) encontraram que indivíduos soropositivos temem que a descoberta da infecção pelos colegas de trabalho possa gerar o preconceito ou desconforto na sua prática profissional. Na nossa amostra, poucos estudantes revelaram opiniões excludentes a respeito de pessoas que convivem com o vírus HIV. No entanto, respostas pontuais e objetivas podem não refletir as opiniões e atitudes destes jovens no dia a dia em seus grupos e comunidades e, apesar de poucos estudantes terem se manifestado contrariamente à inclusão dos portadores do vírus nas suas rotinas, suas respostas mantêm acesa a necessidade de discutir as formas de transmissão e contágio, desmitificando a síndrome e ampliando a participação de todos os cidadãos, numa sociedade mais fraterna e solidária. Até o momento, com a análise dos dados obtidos, percebemos que ainda existe algum grau de desinformação entre os estudantes universitários, principalmente no que concerne à transmissão vertical do HIV. De forma geral, no entanto, os jovens se encontram bem informados a respeito da transmissão e prevenção do vírus. Porém, estudos mostram que a informação pode não contribuir para a adoção de práticas preventivas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Muitos avanços já foram obtidos no diagnóstico e no tratamento do HIV/AIDS e esses benefícios podem chegar a um número maior de indivíduos, se houver a difusão do conhecimento e a melhoria das ações de educação em saúde. Conhecendo o que nossa população pensa e sabe sobre o HIV/AIDS, é possível planejar de forma mais eficaz as ações de saúde ligadas à prevenção dessa síndrome e à qualidade de vida de seus portadores. Nesse sentido, pesquisas contínuas nessa área são importantes para direcionar políticas públicas de prevenção. Os jovens participantes se tornam propagadores de ideias, produzindo impacto social quando, ao refletir sobre as próprias atitudes, direitos e deveres, fomentam na comunidade o conhecimento ampliado e participativo. Nossa pesquisa mostrou que existe elevado grau de informação de estudantes universitários sobre o HIV/AIDS, ainda havendo, no entanto, alguma desinformação. Houve baixa frequência de opiniões excludentes acerca de indivíduos soropositivos, porém pesquisas futuras podem aprofundar este debate entre os jovens. A formação em saúde deve ser um espaço comprometido com o diálogo e com a reflexão ética, promovendo além de saúde um comportamento mais participativo e cidadão.

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