Uma introdução à Bíblia



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Transcrição:

Uma introdução à Bíblia FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DE DAVI E SALOMÃO PRIMEIRO TESTAMENTO A serviço da leitura libertadora da Bíblia VOLUME 3 Ildo Bohn Gass (Org.) 2 a edição São Leopoldo/RS 2011

Centro de Estudos Bíblicos 2011 Rua João Batista de Freitas, 558 B. Scharlau Caixa Postal 1051 93121-970 São Leopoldo/RS Fones: (51) 3568-2560 Fax: (51) 3568-1113 formacao@cebi.org.br www.cebi.org.br PAULUS 2011 Rua Francisco Cruz, 229 04117-091 São Paulo/SP Fone: (11) 5084-3066 Fax: (11) 5579-3627 www.paulus.com.br editorial@paulus.com.br Elaboração: Ildo Bohn Gass Revisão: Luiz Dietrich, Tea Frigerio, Monika Ottermann, Remí Klein, Sebastião Gameleira e Elaine Glaci Neuenfeldt Capa: Rodrigo Fagundes 2ª edição: 2011 Reimpressão: 2015 ISBN: 978-85-7733-143-7 Foto capa: Estela de Dan. Os três fragmentos foram descobertos em 1993 e 1994 no sítio arqueológico de Dan, no extremo norte de Israel. Hoje, encontram-se no museu de Israel em Jerusalém. Este é o documento mais antigo com referência à Casa de David, isto é, à dinastia de David. Refere-se ao período de Jorão e Jeú, reis de Israel, o reino do norte, em meados do século IX a.c. (2Rs 9 10). A estela foi esculpida a mando de um rei da Síria, contendo inscrições em aramaico, onde se comemora uma vitória dos sírios sobre o rei de Israel.

Sumário Introdução... 7 1 O projeto das tribos entra em crise... 9 2 O início da monarquia sob Saul... 18 3 A resistência contra a instalação da monarquia... 20 4 O império de Davi... 23 5 A resistência das tribos do Norte sob Davi... 33 6 A monarquia de Salomão... 41 7 Quem pagava a conta do luxo de Salomão?... 49 8 A resistência das tribos do Norte sob Salomão... 54 9 A produção literária no Reino Unido... 58 a) Literatura com o toque da corte e do templo... 60 1 Ciclo de Saul... 60 2 Ciclo de Davi... 61 3 Ciclo de Salomão... 62 3.1 Livro da Sucessão de Davi... 62 3.2 Livro da História de Salomão... 65 3.3. Releitura de tradições antigas no Pentateuco... 66 3.4 Alguns escritos sapienciais... 75 b) Literatura de resistência... 75 1 Ciclo de Samuel... 76 2 Releitura de tradições antigas sob Salomão... 76 2.1 Resistência nas narrativas sobre as origens... 77 2.2 Resistência nas narrativas do ciclo de Abraão... 98 2.3 Resistência nas narrativas do ciclo de Jacó... 102 2.4 Mais justa foi ela do que eu (Gn 38)... 102 2.5 Resistência nas narrativas do ciclo do êxodo... 104 Conclusão... 107 Para orar e aprofundar... 109 Sugestões de leitura... 109

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Introdução No volume anterior, você pôde acompanhar a formação do povo de Israel na terra de Canaã nos dois últimos séculos do segundo milênio antes de Cristo. Como vimos, foi uma experiência inédita e, ao mesmo tempo, alternativa naquele contexto das cidades-estado cananeias e do Egito. Mulheres e homens hebreus de diferentes culturas e procedências se deram as mãos e, com a fé no Deus YHWH, forjaram algo novo, onde a solidariedade, a partilha, o respeito pelo diferente, o amor à vida e à liberdade estavam acima de interesses pessoais. Essa experiência, distante de nós mais de três mil anos, serviu ao povo de Israel como paradigma, como modelo de projeto de vida a ser sempre buscado. Ele está mais de acordo com o plano de Deus que quer vida digna para todas as suas filhas e filhos. Foi por isso que olhamos com muito carinho aquele período da história de Israel. Para nós, ele continua sendo fonte de espiritualidade, de esperança. Buscamos, no Deus que liberta seu povo da opressão, o sentido para nossas vidas, as motivações para ainda hoje nos engajarmos na luta por uma nova sociedade, pois acreditamos que outro mundo é possível. O assunto deste volume é a formação do império de Davi e Salomão. Antes de continuar seu estudo, releia agora a síntese sobre o reino unido nas páginas 75 a 77 do volume 1 desta série. A instalação da monarquia em Israel significou, na verdade, uma ruptura com um projeto de sociedade mais fraternal. Foi a substituição de estruturas sociais justas por estruturas de exclusão. Não foi uma evolução tão natural como muitas vezes já se disse. Houve, sim, grupos interessados em instaurar em Israel tribal o mesmo regime que existia nas sociedades cananeias e no Egito. Foi como que uma volta ao Egito (cf. Dt 17,16), uma volta à casa da escravidão (cf. Ex 20,2). Muitas pessoas e grupos se beneficiaram com a implantação da monarquia. 7

A monarquia em Israel teve a seguinte evolução: reino unido com Saul, Davi e Salomão (1040 a 931 a.c.). Em 931 a.c., o reino se dividiu. E, com a divisão, foram criados o Reino de Israel, no norte (931 a 722 a.c.), e o Reino de Judá, no sul (931 a 587 a.c.). Mas nem todas as pessoas, possivelmente a maioria, concordaram com a novidade da monarquia. A resistência foi grande. Já começou com o juiz e profeta Samuel contra Saul e continuou explodindo em revoltas contra Davi e Salomão. A resistência veio especialmente das tribos do Norte, mostrando que o reino unido não foi tão unido assim. Na verdade, foi a dominação do Sul sobre o Norte. É durante esse momento histórico que nasceu intencionalmente a literatura bíblica, os primeiros escritos das Escrituras. Por um lado, há textos que serviram de legitimação religiosa das novas estruturas. Sua origem foi nos círculos ligados à corte e ao templo de Jerusalém. Por outro lado, há escritos daquela época que tiveram sua origem no meio do povo e são críticos à monarquia. São resistência popular. São uma tomada de posição frente aos desmandos dos reinados e de seus amigos e amigas. Sua intenção principal é despertar a memória adormecida no Deus da vida. Aqueles escritos serviram para conscientizar as pessoas no presente, lembrando o passado em vista de um novo futuro. Por isso, continuam falando para nós ainda hoje. A Bíblia é o mistério da Palavra de Deus nas palavras humanas, com todas as suas contradições. Por isso, é preciso escutar a voz de Deus não tanto em palavras ou frases isoladas, nem mesmo somente no pensamento e no escrito de cada autor e autora. Mas é no conjunto das Escrituras, que nos leva a acompanhar toda a caminhada do povo, que percebemos a revelação de Deus, que aprendemos sua vontade para a humanidade. A Bíblia nos mostra, por exemplo, como se comportavam aqueles e aquelas que detinham o poder, como torciam as tradições populares e como até se utilizavam das tradições da fé para seu proveito próprio. Por outro lado, mostra-nos também como o povo resistia com a força de sua fé no Deus da vida. É assim que ela nos ensina a caminhar e a discernir a verdade de Deus em nosso caminho hoje. Nesta perspectiva, a Bíblia continua sendo para nós texto sagrado, pois também nos ensina o caminho de Deus, os valores do Reino. 8

1 O projeto das tribos entra em crise Naquele tempo, não havia rei em Israel. Cada um fazia o que lhe parecia melhor. (Jz 21,25) Antes de mais nada, convidamos você a lembrar de alguma experiência alternativa que tenha conhecido ou em que tenha participado, uma experiência de partilha ou solidariedade. Se ela não existe mais, por que acabou? Quais foram as causas externas? Houve também razões internas para o fim da experiência? Quais? Quem lutou pela sobrevivência do projeto? Houve pessoas interessadas em que ele acabasse? Quem? Quais seus interesses? Em seu lugar, o que se colocou? O novo que incomoda A época dos juízes representou um grande passo para a construção de novas relações entre as pessoas na sociedade de Israel. Primeiro, Israel tribal não foi um estado com forte centralização política. Cada clã e cada tribo organizavam sua vida independentemente, com autonomia. Sua preocupação fundamental era a produção para a sobrevivência de seus integrantes. Eram as mesmas motivações que uniam as tribos entre si: viver livres da tributação, da escravidão e do trabalho forçado, na defesa da vida na terra partilhada. Em segundo lugar, foi necessário que se criasse uma unidade naquilo que era essencial para que o sucesso do novo projeto fosse possível. Assim se pode entender o esforço para criar, por um lado, uma unidade religiosa que garantisse a coesão das diferentes experiências e tradições que se integraram nas tribos, e, por outro, uma aliança militar para defender o modo de produção e o estilo de vida tribal. Assim como hoje, também naquele tempo houve reação das pessoas poderosas pelo novo que nascia. O novo incomodava. O projeto alternativo invertia prioridades, privilegiava os segmentos mais excluídos, valorizava a participação e a formação da consciência do povo. 9 As palavras comovem. Os exemplos arrastam.

O povo devia ser protagonista da história. Por isso, teve como consequência a perseguição, a difamação e a calúnia por parte de quem perdeu seus privilégios. Causas externas que apressaram o surgimento da monarquia Os reis que continuavam nas redondezas, como o de Aram (Jz 3,8), os de Moab e Amon (Jz 3,12-14; 10,6-9) e os de Canaã (Jz 4,1-2), queriam cobrar tributos dos israelitas. As pessoas que vivam em Madiã, arrasaram as plantações, roubando o que encontravam (Jz 6,1-6). Mas a maior ameaça vinha da população de Filisteia, o povo Filisteu. A Filisteia era um território pequeno, mas poderoso política e militarmente. Tinham o monopólio do ferro (1Sm 13,19-23). O povo falisteu, na verdade, impediram a presença militar da comunidade egípcia na terra de Canaã. E este vácuo do controle egípcio foi ocupado por aqueles e aquelas que vinham da Filisteia. Por isso, eram uma ameaça militar permanente. Seus ataques a Israel eram contínuos (Jz 3,31; 10,6s; 13,1; 1Sm 4-7; 16-17). O interesse de todos aqueles reis era aumentar seu poder econômico e político. Mas este não foi o único motivo pelo qual os reis atacavam o projeto tribal. O exemplo de vivência fraterna das tribos, sua vida livre da opressão, representava uma forte denúncia das cidades-estado. Era um espaço que atraía cada vez mais pessoas escravas que fugiam das e dos seus seus senhores, integrando-se nos clãs de Israel (1Sm 25,10). Aos reis não faltavam, portanto, razões para acabar com o novo projeto dos hebreus. Da mesma forma, como já vimos, as elites do século XVII investiram contra a experiência dos Quilombos de Palmares no nordeste do Brasil. 1Sm dá ênfase às pressões externas, de modo particular à ameaça dos filisteus e falisteias. É para justificar a necessidade de centralizar o poder nas mãos de um rei. Os livros da Bíblia que narram a história da monarquia são: 1-2Sm e 1-2Rs. Estes livros tiveram uma longa história. Começaram a ser escritos ainda durante a monarquia unida sob o rei Salomão. Sua redação final só se deu durante o exílio do século VI a.c. Samuel e Reis fazem parte da grande história chamada de 10