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FALTA DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA ESTUDO APONTA QUE O BRASILEIRO DESCONHECE PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FINANÇAS E INVESTIMENTOS Já é fato conhecido que, em relação ao mercado financeiro, os brasileiros não são muito habituados a correr riscos e, por isso, tendem a preferir ativos de renda fixa aos de renda variável. No entanto, mesmo que estivessem dispostos a se aventurar na Bolsa de Valores, não teriam condições, pois grande parte da população chega ao fim do mês praticamente sem dinheiro, por não ter o costume de planejar seus gastos. Esses são alguns dos resultados de um estudo encomendado pela BM&FBovespa, realizado pelo Instituto de Pesquisas Rosenfield. por ISABELLA ABREU Abril 2013 REVISTA RI 11
A Pesquisa de Educação Financeira foi realizada pelo Instituto de Pesquisas das 15 maiores regiões metropolitanas de todas as classes sociais. DESTAQUES DA PESQUISA empréstimos e financiamentos. e conta corrente. O terceiro investimento mais conhecido, Todas as demais aplicações financeiras são conhecidas por um dos demais investimentos, como imóveis, CDB, fundos DI, ações ou Tesouro Direto. investir em ações. que quando se investe em mais de um ativo, o risco de perder dinheiro diminui. GUSTAVO CERBASI, especialista em Educação Financeira IGNORÂNCIA FINANCEIRA Os dados apresentados são preocupantes, mas não chegam a assustar, considerando a realidade da Educação no país que, nião do especialista em educação financeira Gustavo Cerbasi, a população em geral tem um conhecimento insuficiente para nanças é um traço cultural dos brasileiros, diz. plicidade, vida espartana e servilidade são virtudes. Nos cinco séculos de história de nossa cultura, a busca da prosperidade nheiro não fazia sentido, mesmo porque o dinheiro disponível aos brasileiros nunca permitiu fazer escolhas, conta. zou todas as formas de investimento que não fossem ligadas a 12 REVISTA RI Abril 2013
O educador responsável pela matéria deve ser exemplo do que fala. Você aceitaria como professor de língua portuguesa para seu filho alguém que fale errado? Por que aceitar um endividado ministrando aulas de educação financeira? MAURO CALIL, professor e educador financeiro negócios ou imóveis. Quem investiu na Bolsa do Rio quebrou, quem experimenta, se dá mal, avalia. A estabilidade econômica das últimas duas décadas trouxe uma nova realidade, mas a ausência de educação financeira nas escolas não criou o debate necessário para apresentar o gios particulares do ensino fundamental já adotam práticas de de chegou ao ensino público. Após dois anos do projeto piloto plina foi incluída como conteúdo recomendado nos currículos das escolas públicas estaduais e municipais. Tal fato é uma conquista e tanto para a sociedade, mas também do. Mauro Calil, professor e educador financeiro, ressalta que a forma pela qual a matéria será ensinada é muito importante. Via de regra, brasileiros comuns não gostam de matemática, pois o conteúdo não é passado de forma envolvente. O mesmo pode ocorrer com a educação financeira, alerta. Além disso, o educador responsável pela matéria deve ser exemplo do que fala. Você aceitaria como professor de língua portuguesa para do ministrando aulas de educação financeira?, questiona Calil. Intuitivamente faz todo sentido achar que as crianças devem receber educação financeira o quanto antes. Profissionais da tos e teorias que apoiam essa visão, mas as iniciativas que madores, segundo o educador financeiro André Massaro. É um fato claramente observável que grande parte das crianças mentos básicos, e numa situação dessas, a educação financeira pode acabar virando apenas mais uma perfumaria curricular que desvia o foco daquilo que é realmente importante, avalia. INICIATIVAS Adotado em diversas escolas brasileiras, a Metodologia DSOP, inicio se dá pela capacitação dos professores. Pela experiência 14 REVISTA RI Abril 2013
REINALDO DOMINGOS, DSOP RONALDO NOGUEIRA, PROFIC mas prefeituras adotantes do Programa DSOP, constatamos que as crianças e jovens que têm aula de educação financeira melhoram significativamente a qualidade do seu letramento financeiro, consomem de forma mais consciente e tendem a pensar mais no futuro, aumentando a intenção de poupar, afirma Domingos. Vale ressaltar que educação financeira não está embasada apenas em ciências exatas, cálculos, planilhas, matemática. hábitos e costumes que geram o comportamento correto de cação financeira propriamente dita deve começar pelas ideias cação financeira devem induzir a escolhas equilibradas. Isso a educação financeira seja uma prática interdisciplinar, e não uma disciplina específica no currículo. Se pais e educadores atentarem para isso, estaremos virando uma página na história do comportamento de consumo dos brasileiros, explica. vestimento em ações está sendo idealizada por Ronaldo Nogueira, um decano do mercado de capitais brasileiro. por todo o Brasil a criação de clubes de investimentos, tais, nos moldes iniciais do extinto Instituto Nacional de Se não temos uma cultura de investimentos, temos que gens para todos os agentes do mercado: as companhias terão acionistas preparados e conscientes; os investidores rão mais clientes e as empresas fechadas terão um estímulo para abrir o capital, afirma Nogueira. RI 16 REVISTA RI Abril 2013