UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC CENTRO DE ARTES CEART CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA VITOR SABAG KOSTIN



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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC CENTRO DE ARTES CEART CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA VITOR SABAG KOSTIN O LUTHIER E O VIOLÃO: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A HISTÓRIA DA PROFISSÃO E DA CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO FLORIANÓPOLIS SC 2011

VITOR SABAG KOSTIN O LUTHIER E O VIOLÃO: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A HISTÓRIA DA PROFISSÃO E DA CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade do Estado de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Licenciada em Música. Orientador: Prof. Dr. Marcos Tadeu Holler FLORIANÓPOLIS SC 2011

VITOR SABAG KOSTIN O LUTHIER E O VIOLÃO: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A HISTÓRIA DA PROFISSÃO E DA CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade do Estado de Santa Catarina. Banca Examinadora: Orientador: Prof. Dr. Marcos Tadeu Holler UDESC Membros: Prof. Ms. Marcelo Portela UFSC Prof. Esp. Marcus Bonilla UDESC Florianópolis, Santa Catarina, 06 de dezembro de 2011

AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à minha família, pelo apoio e ajuda nos momentos em que precisei de longas conversas e esclarecimentos. Ao luthier Carlos Eduardo, que a cada conversa desperta um interesse maior nesta profissão, e sendo assim, a vontade de realizar este trabalho, e ainda mais por aceitar fazer parte do mesmo. Ao professor Dr. Marcos T. Holler, que aceitou ser meu orientador neste trabalho. Foi um privilégio ser teu aluno e ter a oportunidade de fazer este trabalho sendo teu orientando. Aos membros da banca, Professor Mestre Marcelo Portela, da Universidade Federal de Santa Catarina, e ao Professor Marcus Bonilla, da Universidade do Estado de Santa Catarina por aceitarem meu convite. Ao Prof. Ms. Kleber Alexandre que além de um excelente professor, tornou-se um grande amigo. Nos conhecemos antes de me tornar universitário, e o mesmo viu e participou dessa fase da minha vida. Aos meus velhos amigos, amigos de infância, principalmente ao Diogo W. de Figueiredo e ao Vinícius Rollsing, que apesar da vida ter afastado nossa amizade, ainda sim não deixamos de nos reunir como fazíamos quando crianças. Aos meus novos amigos, colegas de faculdade e companheiros, Dulcinéia Machado, Thiago Gonçalves, Marcelo Molinos, Roberta Faraco, Dyane Rosa, Gustavo Steiner Neves e claro nossa querida mãezona Otildes Pamplona. Pessoas estas que dividiram comigo tantos bons momentos e tantos obstáculos superados da vida acadêmica, social e pessoal buscando ajudar uns aos outros. Aos meus irmão da família Tai Kek Tong Long Müm e principalmente ao Sifu Li Hon Shui, pela companhia, amizade e carinho durante tantos anos e muito treino. Aos amigos e colegas de trabalho da banda SIZED, e nossas viagens pelo sul e sudeste do Brasil, onde conhecemos pessoas inusitadas, pra não dizer loucas, mas que deixaram lições engrandecedoras. Ao amigos e colegas de trabalho da banda Amy n MyBoys, tão pouco tempo desse projeto e já gerou tantas grandes e boas oportunidades. Às antigas e novas etapas da vida. Sucesso!

O que não dá prazer não dá proveito. Em resumo, senhor, estude apenas o que lhe agradar. William Shakespeare

RESUMO KOSTIN, Vitor S. O Luthier E O Violão: Um Estudo De Caso Sobre A História Da Profissão E Da Construção Do Instrumento. 2011. 35 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Música) - Universidade do Estado de Santa Catarina. Departamento de Música/Centro de Artes, Florianópolis, 2011. A necessidade do músico de trabalhar com instrumentos de alto padrão de qualidade e design personalizado faz com que a procura pelo profissional que trabalha na luthieria cresça, e assim, aumentando o reconhecimento da profissão. O Presente trabalho aborda o ofício de um luthier e o histórico desta profissão além da trajetória da construção e da história do violão com bases em um estudo de caso feito a partir de uma entrevista semiestruturada com o luthier Carlos Eduardo. Tem como objetivo discorrer sobre a profissão de construção de instrumentos musicais e a história do violão, promovendo a produção de material científico e o crescimento do reconhecimento da profissão e do luthier. Resulta de um levantamento bibliográfico acerca da profissão e do instrumento, onde posteriormente pôde-se concluir que a música, o instrumento e o luthier estão ligados uns aos outros. Sem o luthier não há o instrumento musical e, o músico sem seu instrumento não produz música. Palavras-chave: Luthier. Violão. História da Profissão de Luthieria. História e Mudanças do Violão Moderno.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01: O braço do violão com tensor... 15 Figura 02: Escala e trastes... 15 Figura 03: Mão com tarraxas e capotraste... 16 Figura 04: Lado inferior do corpo acústico... 16 Figura 05: Tampo superior e inferior... 17 Figura 06: Vista frontal do violão... 17 Figura 07: Parte interna do tampo do violão mostrando o leque harmônico... 18 Figura 08: Parte interna no violão mostrando a estrutura das laterais e o fundo... 18 Figura 09: Detalhe da logomarca do luthier... 19 Figura 10: Fabricando a roseta... 19 Figura 11: Double-Top... 20 Figura 12: Nomex... 21 Figura 13: Violão Estéreo... 21 Figura 14: Ergonocim Archtop... 22 Figura 15: Ergonomic Guitar Body... 22 Figura 16: Ergonomic Guitar Neck... 23 Figura 17: Blackbird Guitars... 23 Figura 18: Martin Alternative X... 24 Figura 19: Violão Acústico Ergonômico... 24 Figura 20: Fan Scale Guitar... 25 Figura 21: Violão Microtonal Ajustável... 25 Figura 22: Violão Munhoz... 26

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 9 1.1 REVISÃO DE BIBLIOGRAFIA... 10 2 O VIOLÃO... 12 2.1 BREVE HISTÓRIA DA GUITARRA ACÚSTICA... 12 2.2 PARTES FÍSICAS DO VIOLÃO... 13 2.3 MUDANÇAS ATUAIS... 20 3 O LUTHIER... 27 3.1 O ARTESÃO LUTHIER... 27 3.2 ESCOLAS DE LUTHIERIA... 29 4 ESTUDO DE CASO... 31 4.1 FORMAÇÃO... 31 4.2 PROFISSÃO... 32 4.3 TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO... 33 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 35 6 REFERÊNCIAS... 36 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES... 37

9 1 INTRODUÇÃO Cada vez mais músicos profissionais e amadores compram seus equipamentos musicais buscando uma qualidade adequada e um gosto particular por timbres, formatos, cores; características singulares que tentam de alguma forma se adequar a cada indivíduo, buscando uma personalização específica para que tal instrumento se adapte ao agrado do dono. Normalmente, instrumentos comprados de grandes empresas já presentes no mercado têm seus moldes estabelecidos de acordo com os padrões de qualidade de cada fabricante. Por isso, fica praticamente impossível se ter um instrumento personalizado, com qualidade e características únicas de alguma marca conhecida. Sendo assim, a busca por alguém que faça esse trabalho específico tem aumentado. A procura por um luthier, que é o construtor de instrumentos musicais, tem sido cada vez maior e assim também se dá o reconhecimento e valorização dessa profissão. Falar sobre guitarra fora território nacional, significa falar de um instrumento com corpo acústico. No Brasil, guitarra é o nome do instrumento elétrico de corpo sólido (conhecido no exterior como eletric guitar ou guitarra elétrica). O instrumento de corpo acústico leva o nome de violão, termo que será utilizado nesta pesquisa. O presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre este profissional e sua arte de construção e personalização do instrumento musical violão, mostrando a história da profissão e também das mudanças ocorridas neste instrumento ao longo dos séculos. Para a realização deste trabalho, com bases em um estudo de caso, foi feito uma entrevista semiestruturada, que consiste em ter um guião elaborado de perguntas, porém, possui uma liberdade de mudança, deixando entrevistador livre para formular perguntas de acordo com o contexto da entrevista com o luthier Carlos Eduardo Souza. Também foi feito um levantamento bibliográfico. Foram consultados livros, fóruns virtuais, redes sociais e sites de buscas via Internet. Também foram usados artigos e revistas virtuais. Este trabalho está estruturado de forma a compreender cinco capítulos distintos. O primeiro busca apresentar os elementos de caráter metodológico, tratando da justificativa, objetivos, metodologia e revisão bibliográfica. O segundo capítulo é designado a mostrar especificamente, as sutis mudanças do instrumento violão ao longo dos anos, as mudanças que o tornaram o instrumento que conhecemos hoje.

10 Na sequência, o terceiro consiste em contextualizar o profissional artesão no ramo musical, contando a história da profissão e alguns dos grandes construtores de violões que fizeram parte da mesma. O quarto capítulo apresenta a entrevista com o luthier Carlos Eduardo Souza, que revela parcialmente o trajeto de um fabricante de instrumentos musicais, as dificuldades e vantagens do ramo e o mercado de trabalho nos dias atuais. E por último, no quinto capítulo, são feitas as considerações finais seguido das referências utilizadas para construir esse trabalho. 1.1 REVISÃO DE BIBLIOGRAFIA O livro The Development of the Modern Guitar, escrito por John Huber em 1994, possui oito capítulos, mais introdução e apêndice. Cada capítulo conta um detalhe sobre o ofício do luthier, a profissão luthieria, detalhes de construção do violão. Porém, são muito presentes os detalhes das mudanças decorridas pela história da construção do instrumento e também da sua utilização, mudanças estas derivadas pela adaptação da guitarra acústica dentro de um novo mercado e interesse mundial. Dos livros lidos, pesquisados, citados, este foi o de maior usufruto neste trabalho. Classic Guitar Construction, escrito em 1989 por Irvin Sloane, é um manual de construção da guitarra clássica, conhecida no Brasil por seu nome popular violão. Nele são apresentados diagramas de construção, fotografias e descrições das peças a serem feitas e das ferramentas utilizadas, além de um passo-a-passo de como construir violões. Outro livro é o Making Master Guitars, de Roy Courtnall, publicado na Inglaterra em 1993. Este exemplar também é um livro que demonstra detalhadamente a construção do instrumento violão, além de falar especificamente sobre os construtores de violões que fizeram parte da história desse instrumento musical. Possui muitas ilustrações e dicas de fabricação. Samuel Huh em outubro de 2009, publicou no 3º Simpósio de Violão da Escola de Música e Belas Artes do Paraná o artigo Visão Geral da História da Luteria Violonística. Este artigo demostra as mudanças ocorridas na história do violão moderno de acordo com as épocas e escolas de luthieria e é um dos poucos trabalhos publicados em português encontrados. O professor Dr. Norton Eloy Dudeque, musicólogo, leciona na Universidade Federal

11 do Paraná. Seu livro História do Violão de 1994, é um levantamento histórico de instrumentos de corda considerados os antecessores do violão moderno. Seu livro também retrata um histórico dos grandes artistas que dividiram o mesmo período das transformações dos instrumentos de corda. The Science of String Instruments de Thomas D. Rossing editado em 2010, reúne informações sobre a história e construção de diversos instrumentos musicais, todos com uma característica em comum, serem cordofônicos. Outro livro com muitas informações sobre história e construção de instrumentos de corda é o Manual of Guitar Technology de Franz Jahnel escrito no ano de 1981. O livro discorre sobre a origem dos instrumentos que possuem a corda como gerador sonoro pela vibração da mesma. Também comenta sobre madeiras, materiais e ferramentas utilizados na construção de instrumentos cordofônicos. Brazilian Guitar Magazine é uma revista especializada em informações que dizem respeito aos violões e violonistas brasileiros, A Revista do Violão Brasileiro, assim também conhecida, reúne entrevistas com grandes nomes do violão nacional, incluindo renomados luthiers. Neste trabalho foi utilizada a 3ª edição, publicada em 2008. Las Vibraciones de la Música escrito por Mariano J. Merino em 2008, é um livro sobre organologia de instrumentos musicais. Além do trabalho organológico, Merino comenta sobre a parte histórica dos instrumentos musicais citados, além de detalhes acústicos e características musicais. José Ramos Tinhorão foi jornalista e crítico musical dos anos 60 e ainda é atuante. Sua obra História Social da Música Popular Brasileira, de 1998, é dividida em 7 partes de forma a agrupar um conjunto de manuais, crônicas, biografias e memórias com base na ideia de apropriação e expropriação cultural. Em sua obra, Tinhorão menciona a história do violão e o surgimento do mesmo no Brasil. Foram utilizados os verbetes relacionados à palavra luthier dos dicionários de músicas The New Grove Dictionary Of Music And Musicians na sua versão original em inglês, editado por Stanley Sadie em 1980, e sua versão concisa para o português, o Dicionário Grove de Música, 1994.

12 2 O VIOLÃO 2.1 BREVE HISTÓRIA DA GUITARRA ACÚSTICA A origem da guitarra acústica, é um pouco imprecisa, no entanto, há um consenso de que este instrumento tem sua origem na antiguidade, provavelmente no Egito, três mil anos a.c., entre seus antecessores estão a vihuela e o alaúde (MERINO, 2008, p. 172). Emílio Pujol na sua conferência em Paris em 1928 apresenta duas hipóteses do surgimento desse instrumento: A primeira hipótese é de que o Violão seria derivado da chamada Khetara grega, que com o domínio do Império Romano, passou a se chamar Cítara Romana, era também denominada de Fidícula. [ ] A segunda hipótese é de que o Violão seria derivado do antigo Alaúde Árabe. (PUJOL apud NOGUEIRA, 1991) Tudo indica que a guitarra ou violão moderno descende da guitarra renascentista, e se tornou popular por ser um instrumento relativamente barato, portátil, melódico e harmônico, fácil de se aprender, porém, pode-se levá-lo ao nível profissional (HUBER, 1994, p.5). Thomas D. Rossing e Graham Caldersmith (2010, p. 4) falam a respeito da origem do nome: A palavra moderna, guitar, foi adotada pelo Inglês da guitarra Espanhola, derivada anteriormente da palavra grega khetara 1 (tradução minha). Nogueira (1991) comenta sobre a origem do nome para a guitarra acústica no Brasil: A viola portuguesa possui as mesmas formas e características do violão, sendo apenas pouco menor, portanto, quando os portugueses se depararam com a guitarra (Espanhol), que era igual a sua viola sendo apenas maior, colocaram o nome do instrumento no aumentativo, ou seja, Viola para Violão. A guitarra renascentista possuía quatro pares ou ordens de cordas (oito cordas no total). As cordas eram de tripa enroladas e tinham que ser trocadas periodicamente por estragarem rapidamente. Os frets ou trastes, também eram feitos com tripas. Conforme o tempo passou, o violão tomou forma. A guitarra barroca possuía um par de cordas a mais que a anterior, tendo cinco ordens. A guitarra romântica com seis pares de cordas, sendo substituídos posteriormente por seis cordas simples, teve os trastes trocados de tripas por metal. Tendo continuidade nas mudanças, as cordas de tripa também foram trocadas, e com o avanço da tecnologia, o luthier José Ramirez III em meados do século XX testou outros 1 The modern word, guitar, was adopted into English from the Spanish guitarra, derived from the earlier Greek word kithara.

13 materiais e logo as cordas de nylon se estabeleceram (HUBER, 1994, p. X ). Com o estabelecimento do nylon como opção para cordas, teve-se progresso na pedagogia musical, no desempenho da prática instrumental e na construção do instrumento, pois as cordas não se decompunham rapidamente como às de tripas. (HUBER, 1994, p. 10). Foi o luthier Antônio de Torres Jurado em 1850 que construiu o violão que conhecemos nos dias atuais. Torres conseguiu antecipar a procura do mercado por esse instrumento. A padronização do formato facilitou o comércio e a divulgação do violão pelo mundo, por isso, Torres é considerado o pai do violão moderno (COURTNALL, 1993; HUBER, 1994; DUDEQUE, 1994). No Brasil surge a viola, trazida pelos jesuítas portugueses utilizada na catequese, a partir de 1549 (HOLLER, 2010, p. 46; DUDEQUE, 1994, p. 101; TINHORÃO, 1998, p. 41). Esta hoje é conhecida no território nacional como viola-caipira e se tornou um instrumento típico do interior do país (COSTA, 2006, p. 12). Uma das diferenças entre a viola-caipira e o violão está no número de cordas. A viola possui 5 ordens de cordas duplas, e o violão 6 ordens de cordas simples. Outra diferença se dá no corpo do instrumento, a viola possui o corpo menor porém muito parecido com esse novo instrumento com 6 cordas simples e, por ser semelhante, o nome da guitarra acústica tornou-se o aumentativo de viola, ou seja, violão. Costa (p.12) discorre sobre a utilização do violão, O violão também se tornou o instrumento favorito para o acompanhamento da voz, como no caso das modinhas, e, na música instrumental, juntamente com a flauta e o cavaquinho. 2.2 PARTES FÍSICAS DO VIOLÃO Mesmo depois da padronização feita por Torres, o violão continuou a sofrer mudanças em suas características físicas e sonoras, mas as partes que compõem este instrumento continuaram as mesmas. De acordo com Huber (1994), o violão pode ser dividido em cordas, braço e escala, tampo, ponte, o tamanho e a forma, além do tipo de material usado no corpo. Uma outra divisão mais detalhada é feita por Courtnall (1993), basicamente da seguinte forma: braço e cabeça, roseta, a caixa de ressonância ou o corpo do instrumento (tampo, fundo e laterais), a estrutura interna de sustentação de dispersão do som, escala, ponte, o verniz e o polimento. No que diz respeito do violão e das peças que o formam, o braço (figura 1) é o nome dado à peça em que segura-se com a mão esquerda ao tocar. A escala (figura 2) está colada na

14 parte frontal do braço, e é onde estão também as cordas a serem tocadas. Entre a escala e o braço, pode se ter um tensor metálico (figura 1), que ajuda a sustentar o braço e a escala, não deixando que ambos enverguem com a tensão feita pelas cordas sobre à madeira. Na escala ficam presos os trastes (figura 2) que dividem a escala em semitons. As cordas estão presas nas tarraxas (figura 3), que se localizam na cabeça ou mão (figura 3), localizada na ponta extrema do braço e apoiadas na pestana ou capotraste (figura 3), muitas vezes feito de osso. A outra ponta do braço é presa no corpo acústico do instrumento pelo tróculo (figura 4). O tampo (figura 5) é a madeira frontal do instrumento, onde se encontra a boca, o corte circular no corpo por onde o som se propaga (figura 6). A roseta ou mosaico (figura 6), contorna a boca do instrumento. No tampo também esta a ponte ou cavalete (figura 6), onde as cordas ficam presas e a poiadas no rastilho (figura 6), este, comumente feito de osso. Por debaixo do tampo, dentro do violão, se encontra o leque harmônico (figura 7), que são tiras de madeira que sustentam e transmitem a vibração do top em varias direções. Existem também tiras de sustentação na parte de trás do violão (figura 8), na parte interna do fundo e laterais. Cada luthier deixa sua marca em seus instrumentos, além da assinatura particular ou a logomarca (figura 9), incluem detalhes de construções únicas. É comum mudar a forma de determinadas partes do instrumento, mas as mudanças mais características acontecem na roseta (figura 10). Cada luthier pode criar um desenho único para seus instrumentos, e algumas vezes, utilizam o padrão criado para o mosaico, em outras partes do corpo. Além de vários tipos de madeiras que podem ser utilizados na fabricação do violão como mogno, jacarandá, marupá, cedro, abeto, ébano, etc., outros materiais também são utilizados, como ossos e madrepérola.

15 Figura 1: O braço do violão com tensor. Disponível em : <http://www.meupalco.com.br/2010/01/dica-de-luthieria-tensor-do-violao.html> Acesso em: 20/08/11. Figura 2: Escala e trastes. Carlos Eduardo de Sousa. Disponível em : <http://images.orkut.com/orkut/photos/pqaaaelp-hhld7o- GiaxAVtxRcO18z_v5PV7z0Msq_irGBeLbECW7GHwaspKqoiR5I6uXd0BznmTIa4hsuLuM 6TpEbQAm1T1ULZLnXh9vr4X7Ih_xpkp75K4SPe9.jpg> Acesso em: 20/08/11.

16 Figura 3: Mão com tarraxas e capotraste. Carlos Eduardo de Sousa. Disponível em : <http://images.orkut.com/orkut/photos/pqaaagngifdhtsyrzi9u0zzpx8xi9y4khxzqwj- Js3Q0ZFk_5ne-HNnVudt0uPLQct3Rz5LgolCzyXa46qVwK_zi3RoAm1T1UF- Ngv3UGH2gIGKWsTqjPqjzzK02.jpg> Acesso em: 20/08/11. Figura 4: Lado inferior do corpo acústico. Carlos Eduardo de Sousa. Disponível em : <http://images.orkut.com/orkut/photos/pqaaan25txwaujr91341ftasmlqsq4idxsqudnrq s13j1idv7ukq-sbz0wuaksawom8sppgx1tevafhsa34o2gigocam1t1um7v6kvl2n6mgq6ahpvvzpydzeez.jpg> Acesso em: 20/08/11.

17 Figura 5: Tampo superior e inferior. Carlos Eduardo de Sousa. Disponível em : <http://images.orkut.com/orkut/photos/pqaaapakv2zdu- hau7lnmksgz83cfj0rdkiybdecfkmphiz8u0d659ygi6-- mrdfzwcquwekar_kphjobcktj7xg0tqam1t1up91cd6s1zn2lxg15adue1fx7ryh.jpg> Acesso em: 20/08/11. Figura 6: Vista frontal do violão. Carlos Eduardo de Sousa. Disponível em : <http://images.orkut.com/orkut/photos/pqaaag-71qtm-cfcrwcttuiei-rpqy2bya- Xtzvj2zmgMaOtL43xGaY2DgZlgeYsUIahCag7MO9luamFew9vX8Z7a3QAm1T1UEsd0Yzcldi2nvvA8jONo3xuQkj.jpg Acesso em: 20/08/11.

18 Figura 7: Parte interna do tampo do violão mostrando o leque harmônico. Carlos Eduardo de Sousa. Disponível em : <http://images.orkut.com/orkut/photos/pqaaadktmoqte5fbqaube4o1nsirozsemblb9q 3YQQlhSCXgp3RszpyGVVcgl7slpuvJUR8_ZIm2JM87Wa_aiL99bdEAm1T1UHhp_BHy7Q Z1HWjugK1DO4huP-cb.jpg> Acesso em: 20/08/11. Figura 8: Parte interna no violão mostrando a estrutura das laterais e o fundo. Carlos Eduardo de Sousa. Disponível em : <http://images.orkut.com/orkut/photos/pqaaan69ypju1uovryizec3n59gdl1zfb3xrotjb npa-fy5- fri9hu5qibgo0qqe70mzxzlwb6i2tp6yhfr9kiufyzaam1t1up1ujth_yvwdnqpumgowxq-re0f.jpg> Acesso em: 20/08/11.

19 Figura 9: Detalhe da logomarca do luthier. Carlos Eduardo de Sousa. Disponível em : <http://images.orkut.com/orkut/photos/pqaaaoz9sx_odxsst4giy3oxck7j9rmiuafjdw30qf2yy9dui5va6imx0tssf3hu73wwwih6p4hosu Lbc1SfG9 dwam1t1uoln7gkvxzgelgfllmt05jmfgeox.jpg> Acesso em: 20/08/11. Figura 10: Fabricando a roseta. Carlos Eduardo de Sousa. Disponível em : <http://images.orkut.com/orkut/photos/pqaaaiw37sdjjdmx03yi3lzfjcijvc- yyejqixvthpwmwauawihtxihmcanbxxa3cpwzgie87dh_o4rwf- 0qN8lBQloAm1T1ULK7ZO1FLNCnsLp19F6k8Gt4kkWA.jpg> Acesso em: 20/08/11.

20 2.3 MUDANÇAS ATUAIS No século XX, nos Estados Unidos, surgiram as guitarras com cordas de aço. Também surgiram novos formatos e formas de construções, como a alteração do formato das barras harmônicas na forma de X 2. Violões maiores, para serem usados em palco; as guitarras Archtop, que lembram o corpo de um violino, onde o formato abaulado é esculpido na madeira, a boca antes em forma circular muda para a forma em ƒ lembrando ainda mais o violino (HUH, 2009). Mas algumas mudanças vão um pouco mais além. Manuel Contreras, luthier espanhol, construiu o double-top guitar, que é uma guitarra com dois tampos, onde segundo é colocado por dentro do instrumento aumentando a área de radiação. O modelo da foto abaixo é a versão do double-top de José Ramirez. Figura 11: Double-Top. Disponível em: <http://www.guitarrasramirez.com/english/noticia2en.html> Acesso em: 26/08/11. Existe um outro tipo de double-top, onde dois tampos são colados um no outro, e entre eles existe uma tela, conhecida pelo nome de Nomex. 2 Samuel Huh (2009) cita em seu artigo que os instrumentos que levam esse formato em X foram inicialmente criados nos EUA, [...] onde a música passou a se tornar um dos únicos meios de integração social e cultural, e o violão era usado como uma forma de entretenimento, geralmente com as mulheres tocando nas suas salas para seus convidados. Daí o nome pelo qual hoje esses instrumentos são chamados: Parlor Guitar - Violão de Sala.

21 Figura 12: Nomex. Disponível em: <http://www.mcknightguitars.com/soundboards.html> Acesso em: 26/08/11. Na Austrália, a empresa Kinny Guitar produziu um violão estéreo. Este violão possui uma parte do corpo mais alongada, e duas bocas laterais, cada uma de um lado da cabeça, direcionada ao ouvido de quem esta tocando. Figura 13: Violão Estéreo. Disponível em : <http://www.kinnyguitar.com/pictures/sterio%20acoustic_clip_image001.jpg> Acesso em: 26/08/11. Os dois exemplos citados buscam uma melhoria na característica do som do instrumento, aumento de volume e timbres. Porém outro tipo de pensamento direciona a mudança do violão para o conforto, buscando uma ergonomia ideal para o músico. O luthier

22 texano Chis Forshage mudou o formato do corpo da guitarra Archtop deixando-a no formato para que se encaixe no corpo de quem a toca. Figura 14: Ergonomic Archtop. Disponível em : <http://buildingtheergonomicguitar.com/wpcontent/uploads/2010/03/ergo-acoustic-guitar-closeup.jpg> Acesso em: 26/08/11. Uma outra mudança mais radical do corpo foi feita pela empresa Burrell Guitars. A transformação feita na guitarra acústica foi entortar o instrumento para que se adeque ao corpo do instrumentista. Figura 15: Ergonomic Guitar Body. Disponível em : <http://www.burrellguitars.com/images/venture%20l.gif> Acesso em: 26/08/11. Há também mudanças na ergonomia do violão específicas para a tocabilidade da mão esquerda. Escalas e braços do violão são construídos de forma assimétrica para facilitar o trabalho dos músicos. A empresa Little Guitar Works constrói instrumentos com o braço torcido, ou Torzal Natural Twist.

23 Figura 16: Ergonomic Guitar Neck. Disponível em : <http://www.flickr.com/photos/littleguitarworks/4088590400/in/photostream/> Acesso em: 26/08/11. Outra forma de investimento nas mudanças da guitarra, é na escolha do material utilizado em sua construção. Experimentos com novas madeiras, incluindo o bambu, são feitos na busca de novas sonoridades e alternativas para aumentar a proteção ecológica. Um dos materiais usados na construção de violões contemporâneos é a fibra de carbono, por ser mais leve e resistente. Figura 17: Blackbird Guitars. Disponível em: <http://comeatmebro.blogspot.com/2011/03/youre-my-carbon-fiber-guitar-hero.html> Acesso em: 15/09/11. Também existe a opção de construção do violão com tampo feito de alumínio.

24 Figura 18. Martin Alternative X. Disponível em: <http://www.instrumentpro.com/p- MTNALX?source=Affiliates&AID=10362375&PID=1621593&SID=martin> Acesso em: 15/09/11. No Brasil, alguns luthiers pesquisam madeiras alternativas para a fabricação de seus instrumentos. É o caso do luthier Carlos Gomes. Sua pesquisa se baseia na construção de violões de Pinus Ellioti como opção de madeira de reflorestamento mais ecologicamente correto. Outra madeira pesquisada é o bambu. Um exemplo é o trabalho de Kiyoshi, que usou bambu para fazer um violão ergonômico (ideia similar à Torzal Natural Twist). Figura 19. Violão Acústico Ergonômico. Disponível em: <http://www.fau.usp.br/fauforma/trabalhos/kiyoshi.php> Acesso em: 15/09/11. Recentemente apareceram instrumentos com escalas anguladas que melhora a afinação. Essa técnica é conhecida por multi-scale fingerboard que significa ter uma escala com variação de comprimento para cada corda. Outro nome utilizado é fan scale, ou escala em forma de leque. Uma das grandes marcas no mercado que produz instrumentos que utilizam essa técnica é a Novax. Apesar da inovação, essa técnica de escala angulada já era utilizada no séc. XVI em um instrumento conhecido como Bandora.

25 Figura 20. Fan Scale Guitar. Disponível em: <http://www.novaxguitars.com/sales/serenadeacoustics.html> Acesso em: 15/09/11. Algumas culturas orientais possuem na música, uma divisão diferente da escala musical. Essas culturas utilizam-se de comas, que são sons menores que um semi-tom. Porém, instrumentos como violão não atingem esses comas de forma simples. Por isso, Tolgahn Cogulu em 2008 criou o violão Microtonal. Os trastes desse instrumento são móveis e podese inserir e retirar trastes, além de mudar suas posições ao longo da escala. Figura 21. Violão Microtonal Ajustável. Disponível em: <http://www.erhanbirol.com/othersites/tolgahan/en/microtonal_en.html> Acesso em: 15/09/11. A partir do séc. XX várias escolas de construção de instrumentos surgiram com propostas de fabricação diferentes. Uma delas foi a escola russa que disponibilizou o violão de sete cordas, colocando uma corda mais grave no instrumento (HUH, 2009). Francisco Munhoz, luthier brasileiro, criou um sistema de varetas que cruzam o interior do instrumento com o intuito de ativar as chamadas zonas mortas, que é a área do tampo perto do braço que não ressoa nem transmite a vibração como no restante do corpo. Esse sistema transmite a vibração de outras áreas do corpo para as zonas mortas fazendo com que essa área seja ativada. A ideia de Munhoz é a união dos trabalhos do físico americano Michael Kasha e do francês Robert Bouchet. Ambos pensavam na ativação das zonas mortas

26 do violão. Atualmente o trabalho de Munhoz é realizado por seu filho Miguel Munhoz, que estudou e herdou os conhecimentos do pai. Figura 22. Violão Munhoz. Disponível em: <http://www.revelacaoonline.uniube.br/2005/312/musica.html> Acesso em: 15/09/11. Estes são alguns poucos exemplos das mudanças ocorridas no violão contemporâneo. A busca por novas sonoridades, formatos para melhorar a ergonomia do instrumento, além do retorno às fontes e criações primárias. A tendência hoje na construção de violões é a coexistência das criações das épocas anteriores com as novidades contemporâneas em um mesmo momento (HUH, 2009).

27 3 O LUTHIER 3.1 O ARTESÃO LUTHIER A profissão de luthier é muito antiga. De acordo com o professor Holler em uma entrevista dada ao programa Luthiers: Artesãos Musicais (2007), o auge dessa profissão se deu no século XVII, quando começaram a existir composições específicas para instrumentos, que exploravam as possibilidades de cada instrumento. Por isso, a construção de instrumentos deixou de ter a forma de artesanato, ou mesmo de forma empírica, e passou a ser mais refinada. O termo luthier deriva do nome de um instrumento árabe Al ud, conhecido no ocidente por alaúde 3. Na França, este instrumento chama-se luth, e teve grande importância na história da música ocidental a partir do final da Idade Média até o século XVIII (DICIONÁRIO GROVE DE MÚSICA, 1994, p. 15). De acordo com o verbete luthier no The New Grove Dictionary Of Music And Musicians (1980, p. 372), Originalmente a palavra para construtor de alaúde tornou-se o termo geral para construtor de violinos ou outros instrumentos com cordas. Do francês, a palavra [luthier] ganhou aceitação no inglês e no alemão, [...] a derivação luthier (construtor de alaúde) adquiriu o significado de construção de instrumentos em geral. 4 (tradução minha). O Dicionário Grove De Música (1994, p. 555) contextualiza essa informação para o português: Pretende-se em português para as duas palavras acima citadas [luteria e luteraria] uma conotação mais específica de fabricação de instrumentos de cordas com caixa de ressonância. A definição do trabalho de um luthier é similar a de um artesão. Segundo França, Tratando-se de produção artesanal, vale a pena lembrar que esta se caracteriza pelo domínio em todas as fases do processo de produção. Este processo vai desde a obtenção da matéria-prima, domínio de técnicas de produção e do processo de produção até a comercialização do produto ao consumidor. (FRANÇA, 2005, p. 10) 3 O nome alaúde refere-se ao instrumento [da família dos cordofones] com corpo piriforme, com o fundo abaulado, construídos a partir de ripas de madeira curvadas e coladas umas às outras; um tampo harmônico plano com uma boca esculpida em forma de roseta; trastes de tripa cingindo braço e espelhado; uma cravelheira que costumava formar um angulo quase reto com o braço, onde cravelhas de afinação são inseridas lateralmente; na parte inferior do tampo harmônico está o cavalete, ao qual se fixam ordens duplas de cordas de tripa. DICIONÁRIO GROVE DE MÚSICA, 1994, p.15. 4 Originally the word for lute maker, it has become a general term for a maker of violins or other strings instruments. Though French, the word has gained currency in English and German. [...] the derivative lutherie (lute making) has acquired the meaning of instrument making in general.