Caiu na rede é sapo: a Rede de Memória do IBGE na web e nas redes sociais *



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Transcrição:

Caiu na rede é sapo: a Rede de Memória do IBGE na web e nas redes sociais * INGRID LINHARES ** LOUISE VELOSO *** LUIGI BONAFÉ **** Introdução Esse texto apresenta parcialmente um case de Memória Empresarial baseado em relato de experiências levadas a cabo pela atual Equipe de Memória Institucional da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cujas origens remontam a 1985, ano inaugural da Nova República no Brasil. O objetivo central do trabalho é refletir sobre as formas específicas como os conhecimentos próprios e circunscritos pelas fronteiras teóricometodológicas e disciplinares da História acadêmica podem (ou não) ser mobilizados para elaborar produtos de memória empresarial, em particular aqueles que resultam em narrativas históricas veiculadas para amplas audiências. Em especial, o objeto das análises expostas a seguir é o trabalho de historiadores (profissionais e em formação) que, a serviço de uma instituição pública brasileira (o IBGE), tomaram parte no planejamento, pesquisa, seleção, decupagem, redação, edição, adaptação e disseminação de textos escritos, iconográficos e audiovisuais tornados públicos por meio de sítio eletrônico na web e das redes sociais Facebook e Youtube. 1 Trata-se, portanto, de objeto situado na interseção entre a História Pública e a História Digital (ou Digital History). São analisadas as atividades de historiadores em projetos de * As opiniões emitidas neste trabalho são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do IBGE. ** Ingrid Linhares é graduanda em História na Universidade Federal Fluminense (UFF) e estagiária da Equipe de Memória Institucional do IBGE (Memória IBGE), sob a supervisão de Vera Abrantes. *** Louise Veloso é graduanda em História na UFF e estagiária da Memória IBGE, sob a supervisão de Vera Abrantes. **** Luigi Bonafé é doutor em História Social (UFF, 2008), historiador da Memória IBGE e professor de História em cursos preparatórios para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD). 1 Os autores agradecem a Leandro Malavota, nosso companheiro de trabalho na Equipe de Memória Institucional do IBGE, que discutiu conosco cada detalhe do escopo desse texto; a Luciana Santana, ex-estagiária da Equipe de Memória Institucional do IBGE que participou diretamente das atividades analisadas a seguir; e à Supervisora de nossa Equipe, Vera Abrantes, que viabilizou, apoiou, promoveu e participou ativamente de todo o trabalho.

2 Memória Empresarial, ou seja, em uma área de atuação (ou um mercado de trabalho ) ocupada por profissionais de formações muito diferentes. Esse é um dos espaços em que mais explicitamente se verifica que a memória pluralizada, fragmentada, transborda hoje por todos os lados no território do historiador (DOSSE, 2010, p. 26). Mais que isso: nesse território da memória de empresas, os historiadores frequentemente são minoria (menos de 7% dos profissionais, em média), quase como se fossem imigrantes em terras estrangeiras povoadas majoritariamente por marqueteiros, jornalistas e, principalmente, por relaçõespúblicas. Mesmo nos casos em que os profissionais responsáveis pelos projetos de história empresarial são contratados, ou seja, integram equipes externas às empresas que buscam (re)contar suas histórias, pouco mais de 30% dos envolvidos costumam ser historiadores mas ainda assim eles convivem com proporção superior a 60% de profissionais de outras formações (todas com participação média menor do que 20% cada), conforme demonstrou Paulo Nassar (2007, p. 14-15) em pesquisa realizada em 2005. Essa configuração multidisciplinar do campo torna imprescindível atentar especificamente para o tema das modalidades e possiblidades de interlocução, articulação e sinergia entre conhecimentos provenientes de diferentes disciplinas acadêmicas no processo de elaboração de narrativas históricas concebidas para o consumo por audiências amplas e extremamente heterogêneas. A relevância desse tipo de análise é ressaltada quando se qualifica tal campo de atuação profissional como um dos muitos em que, supostamente, é cada vez mais requisitada a presença de historiadores como afirma o senador Paulo Paim (PT/RS) na Justificação do seu Projeto de Lei do Senado (PLS) n o 368/2009 (PAIM, 2009, p. 2), que pretende regulamentar a profissão de Historiador. Em 2011, a Associação Nacional de História (ANPUH) aprovou oficialmente, em Assembleia Geral, o apoio da entidade à regulamentação da profissão e ao PLS 368/2009. O próprio presidente da ANPUH, ao comentar tal decisão em Editorial do boletim eletrônico da entidade, reconheceu que a profissionalização não será fruto apenas da aprovação do Projeto legislativo. Para delinearmos com mais precisão o nosso espaço, afirma Benito Schmidt (2011), precisamos nos defrontar com uma série de desafios teóricos, metodológicos, técnicos e éticos. O

exercício analítico que esse trabalho sugere pode servir, em alguns aspectos, ao debate sobre tais desafios. 3 História Pública e Memória Empresarial Falar em História Pública implica referir-se tanto às atividades e práticas dos profissionais que atuam na área quanto aos usos que pesquisadores acadêmicos fazem do conceito, ao considerá-lo como área de estudos ou objeto de análise (LIDDINGTON, 2011). Para os fins deste trabalho, contudo, optou-se por uma definição simplificada do que seja História Pública: de acordo com o sítio eletrônico do National Council on Public History (NCPH), ela é a história que é aplicada a questões do mundo real. 2 No mundo real das organizações, por exemplo, a história tem sido aplicada para atingir objetivos institucionais muito precisos geralmente estratégicos, que ficam a cargo de uma equipe interna, integralmente dedicada a atividades de Memória Empresarial. Essa expressão refere-se a projetos de história institucional que, no Brasil, assumiram vulto expressivo particularmente na última década. No mundo (especialmente no mundo anglosaxão), já se contam pelo menos quatro décadas em que empresas de todos os tipos, tamanhos e nacionalidades têm se dedicado, de maneira sistemática, a registrar, estudar, analisar, divulgar e debater suas histórias. O crescimento, a difusão e a consolidação de projetos de Memória Empresarial (ou Memória Institucional) atestam a importância estratégica desse tipo de trabalho para as organizações do século XXI. Ao assumir suas histórias como um de seus maiores patrimônios intangíveis, instituições públicas e privadas têm sido capazes de mobilizar seu passado em prol do futuro organizacional. Segundo Karen Worcman, fundadora do Museu da Pessoa, a sistematização da memória de uma empresa permite vincular passado, presente e estratégias para o futuro: A história de uma empresa é um marco referencial a partir do qual as pessoas redescobrem valores e experiências, reforçam vínculos, criam empatia com sua trajetória e podem refletir sobre as expectativas dos planos futuros (WORCMAN, 2001, p. 15, grifos nossos). 2 Tradução livre de it is history that is applied to real-world issues. A resposta completa do NCPH à pergunta Como nós definimos História Pública (no original: How do we define public history? ) está disponível em <http://ncph.org/cms/what-is-public-history/>. Acesso em: 15 jun. 2013.

4 Não se deve confundir, portanto, as atividades de memória empresarial com o mero resgate, coleta e acumulação de documentos antigos, fotos envelhecidas ou mobiliário de época. A construção da memória institucional deve resultar em produtos que sirvam à consolidação da identidade e dos valores institucionais, ao fortalecimento de laços entre a empresa e seus diversos públicos e colaboradores (internos e externos), à preservação e divulgação da marca, ao reforço do sentimento de pertencimento entre seu corpo funcional, à Comunicação Organizacional e à Gestão do Conhecimento. No IBGE, em especial, esse trabalho contribui para perpetuar a mística ibgeana, categoria nativa que designa uma marca da cultura política institucional de valor inestimável para a Casa desde suas origens. Para Paulo Nassar, diretor-geral da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), aquela ideia de que o passado é algo descartável, que precisa ser jogado fora para não ocupar lugar está sendo abandonada por boa parte dos gestores de empresas públicas e privadas. E acrescenta (NASSAR, 2006, grifos nossos): Um dos maiores desafios (...) para as empresas na atualidade é o resgate e conservação da memória empresarial, conjunto de sensações, lembranças e experiências, tanto boas quanto ruins, que as pessoas guardam de sua relação direta com uma empresa. (...) Afinal, num mundo em transformação fugaz, mudanças corporativas constantes e grande rotatividade de recursos humanos, a memória é capaz de ser o chão e o ar do conhecimento corporativo. Ou seja, o material que dá a base e, ao mesmo tempo, instiga a organização a seguir em frente. Especialmente porque armazenar informação é uma forma de manter a sabedoria. Além disso, a memória empresarial fortalece o sentimento de pertencer. E isso traz efeitos positivos à produtividade. Fica claro, deste modo, que as atividades de memória empresarial servem à consolidação da identidade institucional, preservam e disseminam o patrimônio intangível da empresa (marca, reputação, cultura organizacional etc.), conservam e difundem a sua memória técnica e, principalmente, estimulam o compartilhamento do capital simbólico e intelectual que foi acumulado ao longo do tempo. Acima de tudo, elas constituem um dos melhores instrumentos à disposição da comunicação empresarial e corporativa, conforme atesta Karen Worcman (2004, p. 23). Fazer memória empresarial é contemplar, principalmente, aqueles conhecimentos que estão nos corações, nas mentes e nas experiências das pessoas.

5 A Rede de Memória do IBGE No IBGE, em especial, os fortes vínculos de identificação e lealdade de seus servidores com a instituição, bem como a reputação que a empresa construiu ao longo de suas quase oito décadas de existência, proporcionam terreno fértil para projetos de memória empresarial. Até um estrangeiro que convive minimamente com os servidores do IBGE é capaz de, em pouco tempo, perceber esta particularidade. A mística ibgeana está no ar, respira-se nos corredores da empresa e sobrevive até mesmo em momentos de crise ou de baixa motivação do seu quadro de servidores. Em 1994, por exemplo, membros de uma Missão do instituto de estatísticas canadense (Statistics Canada) estiveram aqui durante apenas 15 dias, com o objetivo de avaliar como o IBGE funcionava e sugerir reformas estruturais. Foi o tempo suficiente para concluírem que, mesmo demonstrando problemas de motivação, o convívio com seus colegas brasileiros tornava evidente que sua lealdade ao IBGE aparece claramente como sua preocupação central (RYTEN et al., 1994). A força deste sentimento de pertencer é provavelmente o que move os diversos membros da família ibgeana que já se dedicaram, em quase todas as Unidades Estaduais (UEs), Diretorias e demais órgãos desta Casa, de forma voluntária e abnegada, cada um a seu modo, a construir a memória e contar a história institucional. O próprio Estatuto do IBGE reflete esse compromisso formal com a responsabilidade histórica. De acordo com o texto do Decreto nº 4.740/2003, compete ao Centro de Documentação e Disseminação de Informações (CDDI) do IBGE a atividade finalística de divulgar a imagem e preservar a memória institucional (art. 21, III). No momento atual, especificamente, essa tarefa assume proporção inédita. Em primeiro lugar, porque as atividades de memória institucional foram inseridas na Política de Comunicação Integrada da instituição, publicada em 2012. Em segundo lugar, porque nos próximos 4 ou 5 anos cerca de 77% dos servidores do quadro permanente da instituição já terão cumprido o tempo mínimo de contribuição exigido para a aposentadoria o que evidencia e ressalta, no mínimo, uma transição que afetará a coesão e a identidade do corpo funcional e questões a tratar no âmbito da Gestão do Conhecimento acumulado na instituição.

6 Uma empresa que respira sua própria história de formas tão diversas e difundidas por seus vários órgãos não se prestaria à concentração e centralização, na Sede, de um projeto de memória empresarial. No nosso caso, a elaboração sistemática e permanente dessas memórias só poderia resultar da construção de uma Rede, nacional como é a rede de coleta do IBGE, dedicada a esse trabalho estratégico. Soluções parecidas, ainda que implementadas de formas distintas, já foram adotadas por outras empresas, a exemplo da Fundação Belgo. Nesse caso em particular, um dos responsáveis pelo Projeto Memória da empresa concluiu que o modelo centralizador não tinha aplicabilidade, optando pela implantação de uma rede de memória. A partir dessa decisão, o projeto passou a contar com um Núcleo Central ( ) e vários núcleos regionais, instalados nas unidades. (GLOOR, 2004, p. 58) Voltando ao caso em tela, passou-se, então, à convocação de servidores de todas as Unidades Estaduais (UEs) para tomar parte na construção de uma Rede de Memória do IBGE. Por esta via, busca-se articular o CDDI, por meio de sua Equipe de Memória Institucional, a diversos núcleos regionais da Rede, que vêm sendo constituídos sob a coordenação das Supervisões de Documentação e Disseminação de Informações (SDIs) de cada UE por meio de adesão voluntária. O primeiro passo para tornar efetiva essa intenção de articular nacionalmente núcleos regionais encarregados de levar a cabo atividades sistemáticas e regulares de memória empresarial foi evitar que houvesse um Núcleo Central, ao menos fisicamente. Ao mesmo tempo, contudo, a construção de um Núcleo Virtual da Rede atendeu à necessidade de configurar um canal que centralizasse a disseminação dos resultados das atividades e produtos de cada núcleo, de modo que o sítio eletrônico seja efetivamente um fruto do trabalho coletivo dos Núcleos da Rede, que produzem conteúdos para alimentar o Núcleo Virtual/Central. Tal Núcleo Virtual foi produzido, portanto, para divulgação via web, 3 com o fito de apresentar sínteses inéditas sobre a história do IBGE, produzidas especificamente para o sítio eletrônico Memória IBGE, acompanhadas de uma multiplicidade de outros conteúdos históricos sobre aspectos da história institucional (que foram reunidos por estarem dispersos pelo portal do IBGE na web ou/e por terem circulado em âmbito restrito). Todo esse material, 3 O sítio eletrônico Memória IBGE foi lançado oficialmente em 25/04/2013 e está disponível em: <http://memoria.ibge.gov.br>.

7 consideravelmente farto, é apresentado por meio de textos veiculados em diversos formatos (audiovisual, iconográfico, hipertextual), visando atingir uma multiplicidade de públicos que terão acesso irrestrito e gratuito a tais conteúdos por meio da internet. O sítio eletrônico Memória IBGE reúne ainda, entre outros tipos de conteúdo, entrevistas de História Oral digitalizadas (a maioria gravada em vídeo), publicações impressas digitalizadas em formato.pdf e sínteses históricas em linguagem vulgarizada (no sentido positivo de divulgação para amplas audiências). Mas o site também foi concebido como espaço para a divulgação dos acervos da instituição, de modo que disponibiliza para download alguns instrumentos de pesquisa cujo principal objetivo é instigar pesquisadores internos e externos, acadêmicos ou diletantes, com o fito de estimular investigações sobre a história do IBGE, a construção do Estado brasileiro, as atividades estatísticas e geocientíficas no país etc. 4 Além do site para a web, foi criado também um canal de vídeos homônimo ao site na rede social Youtube, 5 mobilizando recursos adicionais e específicos que tal ferramenta oferece para multiplicar a capacidade de os conteúdos reunidos no Núcleo Virtual da Rede de Memória do IBGE atraírem o interesse de usuários externos. Isso permitiu, entre outras coisas, organizar listas de reprodução (ou playlists) distintas para cada tipo de vídeo (vídeos de propaganda institucional do IBGE e de outras empresas, entrevistas completas separadas pelo projeto de História Oral que as originou, além de uma lista de reprodução específica para os clipes de entrevistas, analisados adiante nesse trabalho). Esse material é acessível tanto por meio do sítio eletrônico na web quanto por meio do canal de vídeos na rede social. Por esse motivo, links entre um e outro foram construídos com o auxílio de recursos nativos oferecidos pelo Youtube, como o player incorporado, as anotações e os metadados associados a cada vídeo. Merece destaque, em particular, o recurso de programação InVideo, que permite que o ícone do canal seja reproduzido automaticamente e posicionado de maneira padronizada em todos os vídeos veiculados por 4 A estrutura e os conteúdos do sítio eletrônico obedecem, de modo geral, ao princípio da transparência ativa (divulgação espontânea de informações governamentais à sociedade), consagrado no Brasil pela promulgação da Lei de Acesso à Informação (LAI) Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011, que regulamentou o acesso a informações incluído na Constituição Federal pela Emenda Constitucional n. 19, de 04 de junho de 1998. 5 O canal de vídeos Memória IBGE no Youtube foi inaugurado oficialmente em momento simultâneo ao do lançamento oficial do site na internet. Disponível em: <http://www.youtube.com/memoriaibge>.

8 meio do canal, de modo que o usuário sempre tenha a possibilidade de chegar até a fonte original de divulgação do vídeo, independente do lugar em que ele esteja sendo exibido. Tal recurso ensejou a necessidade de escolha de uma marca visual para a Rede de Memória do IBGE, que servisse como ícone do canal e que fosse replicada em cada vídeo divulgado no canal. O escolhido foi o sapo Bartolomeu, que fora criado em meados dos anos 1980, quando surgiu o Projeto Memória do IBGE. Na época, ele foi concebido como marca do projeto e aplicado, por exemplo, como símbolo da Comenda do Bartolomeu : ela seria concedida a servidores(as) de todas as unidades regionais e órgãos do IBGE que fossem (e foram) colaboradores do Projeto, principalmente em sua fase inicial de reunião de acervos dispersos pelas várias representações da instituição nos estados e no Distrito Federal. Em sua origem, Bartolomeu simbolizava, portanto, a união de esforços, em âmbito nacional, com o objetivo de reconstituir a evolução histórica da Entidade, como anunciava a Resolução da Presidência n. 59 de 1985, que criou o Projeto. Quase 30 anos depois, o resgate e a atualização da marca original do Projeto, bem como do sentido de que se revestiu (de articulação nacional em torno do objetivo comum de preservação da memória), pode servir ao esforço, ora em curso, de construção da Rede de Memória do IBGE, em caráter permanente. Tal projeto demandará, mais uma vez, o envolvimento de todos(as) os(as) servidores(as) do IBGE no trabalho ininterrupto de perpetuar a memória institucional. Linha do tempo para o Facebook Um dos instrumentos de grande relevância para promover a aproximação do público não especializado com a história do IBGE foi a linha do tempo, inicialmente construída para exibição exclusiva no sítio eletrônico para a web, conforme sugestão dos designers da Gerência de Serviços On-line (CDDI/GEON). Entretanto, tal empreitada, que parecia ser algo bem simples, se mostrou um trabalho de pesquisa de fôlego, que ficou a cargo dos historiadores da Casa: partindo de ampla pesquisa bibliográfica e de fontes primárias, foi necessário elaborar uma análise e periodização da história institucional para, como produto final, produzir síntese inédita dessa história, em linguagem clara e por meio de textos curtos acompanhados de farta iconografia. Essa originalidade estabeleceria um diálogo com o

9 público não especializado, elegendo e destacando alguns marcos cronológicos da história do IBGE. Determinado o escopo do trabalho, começaram a ser levantadas questões como: de que maneira seriam escolhidas as imagens? Como seriam estabelecidos os critérios para a utilização de uma em detrimento de outra? As fontes, tanto iconográficas quanto bibliográficas ou textuais, eram inúmeras, mas as respostas para as questões levantadas não estavam somente nos estudos das trajetórias históricas das atividades geocientíficas, estatísticas, administrativas ou das formas de organização dos trabalhadores da instituição. Era necessário que a síntese contemplasse a história do IBGE como um todo. Partindo de variadas leituras e de ampla pesquisa iconográfica, a seleção das imagens para a linha do tempo contou com a participação especializada de uma das integrantes da Equipe de Memória Institucional, Vera Abrantes (Bibliotecária e Doutora em Memória Social pela Unirio), que produzira tese acadêmica sobre o acervo iconográfico do IBGE. Houve preocupação especial com a seleção de imagens que não fossem somente ilustrativas, mas que de alguma forma produzissem um fluxo narrativo próprio, podendo ser lidas como um texto à parte. Outro ponto crítico do trabalho foi o próprio estado físico em que se encontravam os suportes das imagens no acervo e quais tinham condições de ser tratadas no processo de sua digitalização. Considerações técnicas dos profissionais encarregados do tratamento de imagens foram, do mesmo modo, determinantes para a escolha de algumas imagens ao invés de outras. Limitações quanto aos textos escritos também tiveram que ser respeitadas, a exemplo do curto espaço disponibilizado pelo layout do sítio eletrônico, rigidamente padronizado pelo setor responsável (CDDI/GEON). Entretanto, é imperativo recordar o quanto a relação estabelecida com profissionais de variadas áreas constituiu aspecto central na concretização do projeto. Concluído o processo de confecção da linha do tempo para o sítio eletrônico na web, a Equipe de Memória Institucional do IBGE foi acionada, meses depois, pela publicitária Camila Ermida Pinto, integrante do Núcleo de Redes Sociais do CDDI. Ela solicitou uma versão ainda mais reduzida da linha do tempo para divulgação na fan page oficial do IBGE na rede social Facebook.

10 Vale ressaltar que esse Núcleo foi constituído no CDDI em 2012, com o intuito de sistematizar e alterar a inserção do instituto nas redes sociais. Para tal, o Núcleo de Redes Sociais determinou a organização de suas tarefas a partir de um planejamento sugerido por outra empresa, contratada para sugerir a melhor maneira de fazê-lo. A nova fan page do IBGE no Facebook tornou-se, então, fruto dos trabalhos desse mesmo Núcleo e apresentou como primeira determinação a intenção de criar um espaço que ia além da troca de informações na rede social. Delineou um espaço para a disseminação de informações e a interação dos diversos setores do IBGE, por meio de um veículo de acesso amplo, fácil e gratuito. Em um segundo momento, e com base em exemplos de históricos por ano disponíveis nas linhas do tempo de outras fan pages da mesma rede social (como a fan page da Revista Veja, disponível em: <http://www.facebook.com/veja>), foi iniciado o trabalho em torno da organização de um histórico por ano próprio, estruturado em torno de marcos da história do IBGE (https://www.facebook.com/ibgeoficial/). Buscou-se, dessa forma, a produção de uma versão da linha do tempo da história do IBGE por meio da linguagem quase telegráfica de uma rede social, com o objetivo de despertar o interesse do usuário para a leitura dos textos escritos e iconográficos da linha do tempo disponível no sítio eletrônico Memória IBGE. Mais uma vez, os profissionais da área de Comunicação Social que integram o Núcleo de Redes Sociais do IBGE/CDDI, de onde partiu a demanda, provocaram a adaptação da linguagem utilizada pelos historiadores da Casa na linha do tempo produzida para o sítio eletrônico na web. O procedimento adotado pela Equipe de Memória Institucional para atender a tal demanda pode ser descrito por meio de analogia com o trabalho jornalístico de produção de uma notícia. Nesses termos, é possível afirmar que a redação dos textos da linha do tempo necessariamente curtos, diretos e em linguagem acessível constituiu tarefa análoga à construção do lead (ou lide) de uma notícia (DIAS, 2011, p. 145). Por outro lado, a construção do histórico por ano para a fan page da instituição na rede social Facebook incluiu tanto a seleção de uma parcela daqueles marcos cronológicos presentes na linha do tempo do sítio Memória IBGE quanto a redação de apenas uma frase para cada um dos marcos elencados o que pode ser comparado à elaboração de uma manchete para cada notícia.

11 Atividades de Comunicação e Memória institucionais convergiram, portanto, não apenas para cumprir o objetivo de perpetuação e divulgação do conhecimento, mas, do mesmo modo, para um esforço de identificação e valorização dos processos sociais e das mudanças institucionais que se relacionaram com cada um dos principais fatos ou processos históricos que levaram o IBGE a alcançar o status e a ganhar o espaço que conquistou no Brasil recente. Clipes de entrevistas de História Oral para o Youtube A História Oral é utilizada de forma recorrente pela Equipe de Memória Institucional como metodologia de produção de fontes para a compreensão da história do IBGE. São mobilizados todos os procedimentos acadêmicos canônicos para a realização das entrevistas, envolvendo desde o levantamento de dados e a preparação de roteiros prévios até a disseminação das gravações e respectivos metadados, de maneira pública, para pesquisa gratuita. No entanto, desde o ano de 2010, a Equipe passou a mobilizar a História Oral também de outras maneiras, almejando atingir um público não acadêmico, tanto de usuários internos quanto de usuários externos. O primeiro passo nesse sentido foi a digitalização das diversas entrevistas acumuladas, ao longo de um quarto de século, no acervo da Equipe de Memória Institucional do IBGE. Buscou-se, a partir de então, uma aproximação com a História Pública, que, conforme definem Almeida e Rovai (2001, p. 7), implica a (...) construção de um conhecimento pluridisciplinar atento aos processos sociais, às suas mudanças e tensões. Num esforço colaborativo, ela pode valorizar o passado para além da academia; pode democratizar a história sem perder a seriedade ou o poder de análise. A partir do material bruto das entrevistas completas de história oral produzidas pela Equipe de Memória Institucional do IBGE e do lançamento do novo sítio eletrônico, surgiu a ideia, aventada pela Coordenadora de Marketing do CDDI, Carmen Danielle Lins Mendes Macedo (CDDI/COMAR), de produzir também clipes das entrevistas.

12 Os clipes seriam uma maneira de apresentar as partes mais cativantes e/ou intrigantes de determinada entrevista, oferecendo ao público uma amostra da narrativa do(a) entrevistado(a), para instigar o usuário a consultar a íntegra da entrevista editada. O objetivo seria possibilitar que um determinado usuário que, a princípio, não estaria interessado em determinada entrevista, passasse a ficar ao ter contato com o clipe. Depois de digitalizadas, as entrevistas passam por um processo de decupagem. Na tentativa de preservar ao máximo a integridade das fontes audiovisuais produzidas de acordo com a metodologia da História Oral, buscou-se evitar intervenções nos conteúdos dos depoimentos. Elas limitaram-se, sempre que possível, a ajustes como a redução do volume do áudio para algo em torno de -6.0 db, o que pode diminuir ou mesmo ocultar ruídos de fundo prejudiciais à compreensão do que está sendo falado. Nesse caso, como em tantos outros, também foi fundamental recorrer à interlocução com profissionais de outras áreas, a exemplo do servidor César de Castro Martins (CDDI/COMAR), um dos responsáveis pela edição de vídeos institucionais do IBGE, que gentilmente nos ensinou a fazer esse tipo ajuste. Depois desse processo o trabalho avança, então, para a montagem dos clipes. São selecionadas passagens que possam despertar a curiosidade do usuário que assista ao clipe não só quanto à entrevista completa como também quanto a aspectos da própria história do IBGE e dos demais assuntos abordados nas entrevistas. Após a execução da decupagem, o vídeo passa por um processo de edição. É necessário ressaltar nesse ponto que a criação de um padrão de edição tanto para as entrevistas completas quanto para os clipes demandou um bom tempo e diversos testes a fim de se alcançar um padrão que ficasse visivelmente agradável para a audiência, mas que também pudesse ser reproduzido sem grande dificuldade com os recursos disponíveis. O processo de edição consiste em, a partir das passagens selecionadas, produzir o clipe. Por sugestão da Coordenação de Marketing a duração dos clipes foi limitada a cinco minutos. Dessa maneira é possível abordar uma quantidade satisfatória de temas, oferecendo uma espécie de teaser da entrevista, instigando o público a assisti-la por completo. Assim, o usuário que, em outras condições, deixaria de assistir a uma entrevista por saber de antemão que isso lhe custariam 120 minutos de atenção, agora pode vir a se interessar por ela ou, ao menos, estabelecer contato preliminar com um panorama do que foi abordado no depoimento.

13 Mais do que a duração do clipe da entrevista, há também uma padronização referente aos efeitos de transição, às vinhetas de início e término dos clipes, ao Gerador de Caracteres (GC) que exibe dados sobre a data da entrevista e o nome do entrevistado. No caso da edição de entrevistas em sua versão integral, há também padrões para a tela de metadados da entrevista, a tela de créditos de produção e edição do vídeo em seu formato final e, em alguns casos específicos, para as telas cujo GC exibe o tema tratado em cada parte da entrevista. O layout desses elementos para edição dos vídeos foi produzido por uma designer Regina Reznik (CDDI/GEON), possibilitando a criação de um padrão cuja aplicação fosse viável a partir do software disponível para a tarefa (Pinnacle Studio 15). Outra padronização necessária foi a do formato a utilizar para os arquivos de vídeo disseminados via Youtube. Mais uma vez foram necessários vários testes a fim de se encontrar um formato que não resultasse em arquivos excessivamente grandes e que, no entanto, atingissem uma resolução adequada. Após várias tentativas optou-se pelo formato MPEG-2, que viabiliza o upload dos arquivos para o Youtube de forma relativamente rápida sem prejudicar a qualidade do vídeo. Dessa forma o público tem acesso não só ao clipe, mas também à íntegra da entrevista através da internet tanto por meio do sítio Memória IBGE quanto por meio da rede social Youtube. Isso é feito, gratuitamente, por meio de vídeos cuja imagem e som apresentam qualidade satisfatória, aumentando o alcance da audiência das entrevistas de história oral produzidas pelo IBGE não só entre o público interno como também para o público externo. Importante ressaltar que o padrão aconselhado pelo Youtube é o MP4. Porém, com os recursos disponíveis (como a gravação de grande parte das entrevistas do acervo em fitas de vídeo Hi8 e equipamentos de digitalização dessas fitas muito aquém do ideal), o formato que mais se adequou às necessidades da Equipe de Memória Institucional foi o MPEG-2. Os clipes se mostraram ferramentas de grande importância para a disseminação de entrevistas de História Oral entre o público, principalmente o não especializado. A partir do sítio Memória IBGE e do respectivo canal de vídeos no Youtube foi possível alcançar um público muito mais abrangente do que seria possível caso tivesse sido feita a opção por armazenar e veicular os vídeos em algum repositório de vídeos distinto, administrado pela própria instituição produtora, como fazem a maioria das empresas que disponibilizam suas

entrevistas de História Oral na internet. Por essa razão foi criado o canal Memória IBGE no Youtube, com o intuito de facilitar a busca e o acesso aos clipes e às entrevistas realizadas. Desse modo, as entrevistas e clipes produzidos encontram-se no Youtube e são também acessíveis pelo sítio eletrônico Memória IBGE. O acesso e visualização dos vídeos por meio dessa rede social agregam, ainda, alguns elementos que facilitam a pesquisa pelo público. Cada vídeo assistido diretamente a partir da interface do Youtube é acompanhado dos respectivos metadados. Na aba Sobre de cada janela de exibição de vídeos encontram-se informações como o sumário da entrevista, dados biográficos e profissionais do entrevistado, identificação dos entrevistadores e demais integrantes da Equipe Técnica, data e local de gravação, termos descritores (ou tags ) 6 e links para a ficha técnica completa com todos os metadados do depoimento, disponível no sítio eletrônico Memória IBGE. Além disso, há links inseridos tanto no vídeo (através dos recursos próprios do Youtube, como as anotações) quanto na descrição que contém os metadados da respectiva entrevista. Tais links remetem o usuário ao vídeo da entrevista editada na íntegra e também à página de inscrição no canal de vídeos. Com exceção das anotações com links que remetem o usuário aos vídeos das entrevistas completas, as demais são extremamente comuns nos canais de vídeos mais acessados dessa rede social. Como exemplo pode ser observado o canal Porta dos Fundos <http://www.youtube.com/user/portadosfundos>, dentre muitos outros. Nesse canal, há um ícone exibido em todos os vídeos do canal que no caso do Memória IBGE é o sapo Bartolomeu que redireciona o usuário do vídeo para a página inicial do canal. Ali são encontrados todos os vídeos divulgados via Youtube. Adicionalmente, há também uma anotação ao final do vídeo sugerindo que o usuário faça sua inscrição no Canal. Há também, nos metadados de cada vídeo, uma sentença padronizada que alerta o usuário e exime o IBGE de qualquer responsabilidade sobre as opiniões dos entrevistadores ou do entrevistado. Mas, acima de tudo, a veiculação dessa informação é uma forma de garantir que não haverá nenhum tipo de censura a nada do que for dito pelos entrevistados. 6 As tags são palavras-chave que o Youtube não torna visíveis para o usuário que acessa os vídeos do canal, mas que são utilizadas na indexação das entrevistas para aperfeiçoar a sua localização por mecanismos de busca. Elas ficam registradas em campo específico dos metadados de cada vídeo, ordenadas dos termos mais gerais ( História Oral, IBGE etc.) para os mais específicos (referentes aos assuntos abordados na entrevista, como rede de coleta, Censo demográfico 1950, mapeamento etc.). No sítio eletrônico Memória IBGE estão disponíveis tanto a lista completa de todos os termos descritores utilizados na indexação das entrevistas quanto os conjuntos de palavras-chave referentes a cada um dos depoimentos divulgados. 14

15 Um depoente que tenha críticas contrárias à instituição poderá fazê-lo, uma vez que ao assinar o Termo de Autorização de uso de imagem e de cessão de direitos fica claro que as opiniões emitidas não são do IBGE, mas sim do entrevistado. Esse é uma forma de garantir a função do historiador sem que, ao mesmo tempo, crie qualquer tipo de atrito com a instituição. Os aspectos citados são maneiras de interagir e facilitar o acesso dos usuários, mesmo aqueles que não estão inscritos no canal como pesquisadores e, por essa razão, dificilmente leriam a descrição completa com metadados que reúnem conteúdos mais detalhados. Atualizações frequentes também são uma forma de manter o volume de acessos ao canal, sem contudo criar uma rotina maçante. O canal se mantém sempre atualizado com entrevistas novas ou/e é divulgado via Facebook, de modo que as quantidades de acessos mantêm certa regularidade e, principalmente, de forma que sempre seja incrementado o acervo de entrevistas disponíveis de forma gratuita. A web e as redes sociais disponíveis são ferramentas excepcionais para a divulgação e democratização do conhecimento adquirido, alcançando uma audiência mais abrangente e mantendo uma interlocução com o público. A Equipe de Memória Institucional do IBGE, ao perceber as inúmeras possibilidades de comunicação oferecidas pela internet, passou a utilizála como instrumento de divulgação e democratização do acesso aos produtos de Memória Empresarial do IBGE. Como afirma Conrado Adolpho Vaz (2007, p. 80), a internet é uma tendência irrevogável, e, como tal, só resta uma opção às empresas: adaptarem-se a essa nova maneira de fazer negócios e aprenderem a jogar segundo as novas regras (sic). Considerações finais Dois exemplos de elaboração de produtos de memória empresarial foram explorados nesse texto. A produção de clipes de entrevistas para publicação na rede social Youtube e de versões da linha do tempo da história do IBGE para sítio eletrônico da web e para a rede social Facebook evidenciaram várias características em comum. Em primeiro lugar, ambos os produtos foram provocados pelo objetivo basilar de ampliar audiências, tanto por meio da adoção de linguagem adequada aos públicos que se queria atingir (nos textos escritos,

16 iconográficos e audiovisuais) quanto por meio da escolha dos veículos de comunicação utilizados (as redes sociais). Em segundo lugar, as duas atividades foram marcadas pelo e tornaram incontornável o contato e a interlocução com profissionais de formações diversas, com seus próprios aportes teóricos, metodológicos e procedimentais oriundos de áreas alheias às preocupações da histórica acadêmica. Vale notar que cada uma das áreas de exercício profissional que tomou parte no processo tinha, a princípio, objetivos específicos dentro da estrutura da instituição (ligados a projetos de marketing, endomarketing, relações públicas, divulgação da marca, design para a web etc.), e ficou claro que esses mesmos objetivos puderam convergir para as metas estratégicas mais visadas por projetos de Memória Empresarial. Ambos os tipos de produtos gerados atingiram, portanto, objetivos estratégicos comuns à Equipe de Memoria Institucional e às outras duas áreas envolvidas (Coordenação de Marketing e Núcleo de Redes Sociais). Por fim, e não menos importante, é digno de nota que os dois exemplos abordados começaram do mesmo ponto: ambos partiram de atividades baseadas rigorosamente em metodologias e procedimentos típicos da História acadêmica, como a produção de fontes audiovisuais (com base na metodologia da História Oral); a ampla pesquisa bibliográfica e de fontes primárias; a definição e seleção de marcos cronológicos que compusessem síntese histórica contada por meio de textos escritos e iconográficos. Os dois estudos de caso refletiram, em particular, uma tentativa de analisar as formas e modalidades desse diálogo que se dá, na prática, entre os historiadores e os outros tipos de profissionais envolvidos em projetos de Memória Empresarial e que é uma marca do campo, como já ficou evidenciado acima. Em relação a esse aspecto, restou demonstrado que, mais do que temê-los ou competir com eles, é possível e é preciso aprender com os profissionais de outras áreas e com os aportes de outras disciplinas para que os historiadores consigamos delinear com mais precisão o nosso espaço, nas palavras de Schmidt (2011). Talvez essa via seja incontornável para que os historiadores de ofício aprendam a produzir uma narrativa que seja tão bem sucedida no objetivo de alcançar amplas audiências quanto o são algumas bem conhecidas narrativas históricas escritas por jornalistas, cujas

17 supostas deficiências têm presença garantida como cavalho de batalha da retórica próregulamentação da profissão de historiador... Extrapolando conclusões a partir desses exemplos, esse breve relato de experiências, ainda que parcial, resulta em uma boa amostra de como a História Pública nos franqueia portas abertas para sair da fortaleza da história e atravessar o abismo entre a torre de marfim e o mundo real (LIDDINGTON, 2011, p. 42). Referências bibliográficas ALBIERI, Sara. História pública e consciência histórica. In: ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (orgs.). Introdução à história pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011. p. 19-28. ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira. Apresentação. In: (orgs.). 2011. Introdução à história pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011. p. 7-15. DIAS, Valéria. Jornalismo e divulgação científica em História e Ciências Humanas. In: ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (orgs.). Introdução à história pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011. p. 143-159. DOSSE, François. Os três mastros entre dois recifes. A história entre vigilância e ficção. Trad. Celina Portocarrero. In: FERREIRA, Marieta de Moraes (org.). Memória e identidade nacional. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010. p. 15-30. GAGETE, Élida; TOTINI, Beth. Memória empresarial Uma análise de sua evolução. In: NASSAR, Paulo (org.). Memória de Empresa: história e comunicação de mãos dadas, a construir o futuro das organizações. São Paulo: Aberje, 2004. p. 113-126. GLOOR, Leonardo. Fundação Belgo Projeto Memória. In: NASSAR, Paulo (org.). Memória de Empresa: história e comunicação de mãos dadas, a construir o futuro das organizações. São Paulo: Aberje, 2004. p. 53-61. LIDDINGTON, Jill. O que é história pública? Os públicos e seus passados. In: ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (orgs.). Introdução à história pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011. p. 31-52. NASSAR, Paulo. Abertura Sem memória, o futuro fica suspenso no ar. In: (org.). Memória de Empresa: história e comunicação de mãos dadas, a construir o futuro das organizações. São Paulo: Aberje, 2004. p. 15-22.. A história da Volks está sendo esquecida. [on-line] Terra Magazine, 3 set. 2006. Disponível em: <http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,oi1119479-ei6786,00.html>. Acesso: out.2012. NASSAR, Paulo. Relações Públicas e história empresarial no Brasil. In: I CONGRESSO BRASILEIRO CIENTÍFICO DE COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E DE RELAÇÕES PÚBLICAS ABRAPCORP, 1, 2007, São Paulo. Anais... São Paulo: Abrapcorp, 2007. 24 p. Disponível em: <http://www.abrapcorp.org.br/anais2007 /trabalhos/gt1/gt1_nassar.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2013.

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