Conhecimento - Kant e Númeno Teresa Simões FBAUL, 2006



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Transcrição:

Conhecimento - Kant e Númeno Teresa Simões FBAUL, 2006 Sumário Introdução 1 Desenvolvimento. 1 1. O Conhecimento.. 2 2. A sensação e percepção... 3 3. Kant e o conhecimento como actividade construtiva regulada pelo sujeito 3 Conclusão 5 Referências.. 5 Resumo Explica-se o conhecimento em geral e suas áreas abrangentes. É depois feita uma abordagem ao conhecimento do ponto de vista de Kant, expondo as várias estruturas que no entender kantiano intervêm no acto de apreender. Conclui-se que o acesso ao conhecimento numénico pode, eventualmente, ser possível. Introdução Ao fundar as bases do sistema de filosofia transcendental, Kant lançou as bases para o que é hoje a génese de grande parte das problemáticas filosóficas contemporâneas. O conhecimento, como acto, é explorado de vários pontos de vista e tomado como um processo que envolve várias estruturas e das quais surgem diferentes passos de tomada de consciência. Kant, atento aos recentes desenlaces da física (através de Newton) que, se conseguira declarar como uma disciplina dotada de um grau de cientificidade próximo do da matemática e da lógica, procurou conferir à filosofia uma seriedade semelhante, restaurandolhe a credibilidade, pela superação das posições do dogmatismo racionalista e do empirismo céptico através de uma investigação crítica dos métodos da metafísica, entendida como uma ciência unificadora da multiplicidade empírica. Com este trabalho pretende-se uma visão mais profunda mas mesmo assim simples, primeiramente geral e explícita, do conhecimento e de seguida um desenvolvimento mais específico segundo Kant. Assim, abordo em primeira posição o conceito de conhecimento e todas as estruturas nele implicadas, depois a sensação e a percepção como passos do acto de conhecer e finalmente, a perspectiva de Kant sobre o conhecimento e como ele se efectua, e também como, talvez, através de uma nova abordagem, possamos atingir o númeno, a coisa em si. teresasofia@hotmail.com. O trabalho responde à disciplina semestral Cultura Visual II do primeiro ano da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, leccionada em 2006 por João Paulo Queiroz. 1

1. O Conhecimento Conhecer é aprender características da realidade que nos rodeia, classificá-la, diferencia-la, assimilando novas ideias. É atribuir significado e sentido ao real identificando realidades tendo contacto com elas. O conhecimento permite-nos ter a consciência da existência de algo e reconhecê-lo. Permite fazer previsões, antecipações e projectos. Assim, conhecer implica, observar, ter percepções e fazer experiências. Envolve estabelecer relações e associações entre coisas, pensar e raciocinar. Compreende também analisar, criticar e avaliar formando ideias próprias. No dia-a-dia percepcionamos, recebemos e captamos impressões sensoriais do meio envolvente através dos cinco sentidos: visão, olfacto, tacto, paladar, audição. O mundo exterior age sobre nós mas também se entranha na nossa consciência, sendo a informação reelaborada e guardada. Quando vemos ou ouvimos algo, damo-nos conta de que estamos vendo ou ouvindo. Sabemos que as coisas nos acontecem e entendemo-las «como» isto ou aquilo. Com isto, o conhecimento puramente sensitivo é atravessado e superado por outro elemento, com o qual o conhecimento se torna propriamente humano. As impressões e as sensações puramente sensíveis também as tem o animal. Mas um conhecimento sensível, como é próprio do animal irracional, não podemos entendê-lo nem captá-lo, porque é um fenómeno que nós como homens desconhecemos por completo. O conhecimento do homem, experimenta-se e entende-se sempre na consciência, capta-se e reelabora-se com o pensamento. (Coreth, cit. por Fitas:1) Para cada um, a realidade, tal como é apreendida, depende dos órgãos dos sentidos e da maneira como o cérebro integra acontecimentos sensoriais e motores. O nosso equipamento sensorial e nervoso fecha-nos na representação do mundo (Jacob cit. por Fitas, 2004: 3) tanto que nos é difícil formar a possibilidade de ver esse mundo de maneira diferente. Existem três faculdades cognitivas que nos permitem produzir o conhecimento: os sentidos, o pensamento/razão e a imaginação. Os sentidos proporcionam-nos a capacidade de obter informações sobre a realidade exterior e informam-nos sobre realidades concretas, materiais e físicas. Os sentidos dão-nos realidades particulares e informações subjectivas. É implicada a presença das realidades que estão a ser percepcionadas. Outra faculdade cognitiva é o pensamento/razão que é a capacidade de elaborar ideias ou raciocínios a partir de informações obtidas pelos sentidos e dá-nos informação sobre realidades concretas e 2

abstractas. Pensamos através de conceitos universais e abstractos que se aplicam a diferentes realidades particulares. Esta faculdade pode elaborar conhecimentos subjectivos (por exemplo uma opinião pessoal) ou conduzir à objectividade através da discussão e elaboração de acordos e consenso. Não implica a presença das realidades que estão a ser pensadas. A última faculdade, a imaginação, serve de elemento de ligação entre o concreto dos sentidos e o abstracto do pensamento. A imaginação é aptidão de criar imagens mentais a partir de elementos já conhecidos. As imagens criadas pela imaginação são constituídas por elementos concretos construídos pele nossa mente. É ainda de acrescentar que os sentimentos e emoções não são faculdades cognitivas mas interferem no nosso conhecimento. 2. A sensação e a percepção A sensação e a percepção são duas acções de tomada de conhecimento que acontecem no sistema psicofisiológico por excitação produzida pelo meio exterior. (Diciopédia, 2002). Enquanto que sensação é a recepção através dos sentidos e só dos sentidos, a percepção é a fusão de sensação, consciência e interpretação (sentidos) com a razão. A percepção tem uma vertente objectiva que se entende por aquilo que percepcionamos dependendo da estrutura ou características da realidade percepcionada. Existe também a vertente subjectiva em que a percepção é influenciada/condicionada por: estrutura dos órgãos sensoriais e do sistema nervoso, o contexto onde se encontram os objectos, os nossos conhecimentos/experiências, hábitos e expectativas, e o estado emocional do sujeito. Podemos então perceber que existem dois elementos que dependem um do outro para existir conhecimento: o sujeito (aquele que conhece; a consciência; o cognoscente) e o objecto (aquele que é conhecido: o cognoscido). Apesar desta relação ser uma co-relação (dependem um do outro) cada um tem funções diferentes: sujeito - apreender, captar o objecto; objecto - ser apreendido, captado pelo sujeito, que interpreta estas novas informações no seu conhecimento. Kant chama-nos a atenção para a importância dos objectos no mundo mas, simultaneamente, dá uma importância decisiva às intuições intelectuais não podendo, no entanto, nenhuma das partes, por si só, fornecer-nos o conhecimento. (Carlos, 2004) 3. Kant e o Conhecimento como actividade construtiva regulada pelo sujeito Para ultrapassar a incompatibilidade das abordagens racionalista e empirista do conhecimento, Kant estabeleceu a sua posição no que veio a designar como revolução copernicana no domínio da metafísica: seguindo os passos de Copérnico - que não podendo 3

prosseguir na explicação dos movimentos celestes enquanto admitia que toda a multidão de estrelas se movia em torno do espectador, tentou ver se não daria melhor resultado fazer antes girar o espectador e deixar os astros imóveis (Kant cit. por Carlos, 2004) -, propõe que o conhecimento deixe de se guiar pela natureza dos objectos, passando, pelo contrário, a ser o objecto regulado pelas faculdades cognitivas do sujeito, o que significa ver no conhecimento não uma mera competência passiva, mas uma actividade construtiva regida por leis próprias. Kant vai proceder à uma tentativa de autonomia da razão, isto é, esclarecer em que limites ela é ou não dependente do recurso à experiência e de estruturas a priori, ocupando-se assim mais do modo de conhecer os objectos do que propriamente destes. É com a experiência que todo o nosso conhecimento começa. Ela é necessária para estimular as nossas faculdades cognitivas e estruturas a priori. Apesar de ter início com a experiência, nem todo o conhecimento se produz através dela, existe o conhecimento a priori. Todos os seres humanos possuem as seguintes estruturas/faculdades cognitivas: Sensibilidade - é a capacidade de receber informações através dos sentidos; é o elemento de receptividade. É graças a ela que produzimos intuições (conhecimentos imediatos); Entendimento - é a capacidade de produzir conhecimento através do pensamento; é o elemento de espontaneidade. É através dele que produzimos conceitos (conhecimentos mediatos); Razão - é a capacidade de pensar em termos metafísicos, que ultrapassam a experiência. É o pensar através de ideias. Partindo da distinção entre juízos analíticos - juízos universais e necessários nos quais o predicado se encontra contido nas determinações do sujeito, pelo que nada lhe acrescenta -, juízos sintéticos - aqueles em que o predicado acrescenta uma nova determinação ao sujeito, embora a sua origem empírica os destitua de universalidade - e juízos sintéticos a priori - os que, fundamentando-se numa síntese a priori (não empírica), permitem acrescentar novas determinações ao sujeito sem, no entanto, deixarem de ser universais e necessários -, conclui que só os últimos asseguram um autêntico progresso do saber e que neles reside o princípio de possibilidade de todo o conhecimento científico. [ ] No entanto, os juízos, produzidos pelo entendimento, operam sobre conteúdos que, enquanto seres humanos, só podemos intuir através da sensibilidade, única faculdade capaz de gerar em nós representações e que, por isso, deverá ser considerada como fonte inicial do conhecimento (dos dados fenoménicos). É na Crítica da Razão Pura (1781 e 1787) que Kant irá esclarecer em que medida estão presentes, quer na sensibilidade quer no entendimento, os elementos a priori que podem transmitir a universalidade e a necessidade aos juízos sintéticos (Diciopédia, 2002). Existem estruturas a priori presentes em todas as faculdades cognitivas, uma vez que a mente tem de possuir categorias de forma a poder compreender a massa não- 4

interpretada (Wikipedia contributors, 2006). As formas a priori da Sensibilidade são o tempo e o espaço pois Kant considera que não são dados da experiência nem conceitos nem se encontram de alguma maneira nas coisas. (Sandra Fitas, 2004, comunicação pessoal, 14 de Maio). No Entendimento são os conceitos que são elementos a priori do entendimento, estes permitem aos objectos serem pensados. Destes conceitos Kant elabora as categorias puras do entendimento, por exemplo a categoria da causalidade. São as intuições da sensibilidade que dão conteúdo aos conceitos do entendimento; são os conceitos do entendimento que permitem interpretar as intuições da sensibilidade. Na Razão existem as ideias a priori, por exemplo a ideia de Deus. Podemos então construir dois tipos de conhecimento: o conhecimento a priori (independente da experiência; ex: Os elefantes são grandes. apliquei a categoria da substância) e o conhecimento empírico (produzido a partir da experiência) (Sandra Fitas, 2004, comunicação pessoal, 14 de Maio). As categorias do entendimento são aplicadas às formas puras (a priori) da sensibilidade (espaço, tempo). Bem Supremo O objecto chega até nós de outra forma. Juízos Fenómeno Númeno Espaço - Tempo Fig.1 Esquema explicativo de como o objecto é apreendido pelo sujeito Kant define que só podem ser consideradas como objecto de conhecimento as representações com origem nas intuições sensíveis cuja actividade apenas se refere ao fenómeno - coisa que está para outra coisa, manifestação do númeno mas que apenas nos dá uma ideia do númeno. É a realidade captada pelo sujeito submetida às suas estruturas a priori (espaço, tempo, categorias). É conhecido pela sensibilidade e entendimento. O númeno, por sua vez, é a coisa em si, o mundo informe. É apenas conhecível indirectamente, não há possibilidade de conhecer alguma vez a realidade em si pois passará sempre pelo filtro dos sentidos. É o objecto independente do sujeito e das suas estruturas a priori. Nunca temos acesso a ele e não pode ser conhecido, só pode ser pensado. É o que o espírito concebe para 5

além do fenómeno mas não pode abranger (Kant, cit. por Carlos, 2004). É pensado através das ideias da Razão. Se Kant interroga-se sobre os limites do conhecimento possível, propondo um conhecimento que tenha em conta a experiência e simultaneamente a luz da Razão, então se mudarmos a nossa experiência, a maneira como sentimos e percepcionamos (receptividade), mudaremos a nossa maneira de pensar no Mundo, nas coisas tanto abstractas como concretas, mudaremos os nosso entendimento e nossa razão pois estaremos a abrir novas entradas de conceitos, que de um modo ou de outro podem dar conhecimento. No entanto, é frequente consideramos uma ilusão as experiências para as quais não temos explicação, ou seja, em que se revelam incompatibilidades com as experiências já feitas. Não podemos falar de uma nítida distinção entre as experiências perceptivas e as ilusões: se considerarmos que as ilusões consistem em percepcionar o mundo como algo de diferente do que ele é realmente, todas as percepções serão ilusórias (Fitas, 2004: 3). Se assim é, nunca sentiremos o estado puro das coisas? O Homem está condenado a viver no mundo dos fenómenos, salvo se se induzir um estado modificado de consciência (Simões, 2003: 14), isto é, se uma pessoa modificar o seu estado de percepção da realidade, como na meditação ou os chamados estados de transe pela ingestão de drogas, por exemplo. Fig.2 Ilusão óptica: serão duas figuras humanas num fundo branco ou uma taça num fundo preto? 6

Conclusão O objectivo deste trabalho é ajudar na compreensão dos campos que o conceito númeno toca e como até chegarmos à sua definição temos de compreender como o conhecimento se forma. Neste trabalho foi abordado o conhecimento como objectivo apenas alcançável através da interacção entre sentidos, entendimento e razão, ou seja, as estruturas que nos proporcionam o saber. Foi também explicado a diferença entre sensação e percepção, como formas diferentes de receber estímulos exteriores. Foi de seguida exposto a linha geral da filosofia de Kant quanto ao conhecimento e como ele é processado. Pensador audacioso e dotado de um espírito analítico fora do comum, Kant, deixou marcas indeléveis na teoria do conhecimento, sendo por isso indiscutível um esclarecimento de toda os envolventes no processo a que o levou a pensar de tal modo. Referências A dialéctica da Razão Pura (2003). Disponível em < http://pwp.netcabo.pt/silvatext/filosofia3.htm#dialecticarazaopuraentrada>, acedido em 2006-04-23 Carlos, J. (2004), Revolução Coperniciana [em linha]. Disponível em <http://www.google.com/search?q=cache:flsu1t7dpsoj:web.educom.pt/~pr1327/esquemas/kant.ppt+kant+ n%c3%bameno&hl=pt-pt&gl=pt&ct=clnk&cd=3>, acedido em 2006-06-07 Diciopédia (2002) Emmanuel Kant [CD Multimédia], Porto: Porto Editora Multimédia Fitas, Sandra (2004), Textos de Apoio para Aulas: O conhecimento Simões, M. (2003) Evolução e crises espirituais In Simões, M. e Resende e M., Gonçalves (Eds.), S. Psicologia da Consciência, Lisboa: Lidel, pp. 14-26. Wikipedia contributors (2006). Immanuel Kant. In Wikipedia, The free Encyclopedia [em linha]. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/kant#metaf.c3.adsica_e_epistemologia_de Kant>, acedido em 2006-06- 07 7