A SANTA CEIA EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA



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Transcrição:

A SANTA CEIA EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA Lúcia Maria de Souza Resumo A proposta desse artigo é comparar o ritual de A Santa Ceia relatado na Bíblia Sagrada com o enredo de Ensaio sobre a Cegueira. Para a análise e cotejo contemplamos dois momentos do romance de Saramago que elucidam o sentido profano e sagrado do ritual. Faz parte do nosso objetivo discutir não as semelhanças entre os textos, mas as diversas possibilidades de sentido neles contido. Palavras-chave: santa ceia, profana, sagrada. Introdução Pretendemos neste artigo analisar e comparar momentos do enredo de Ensaio sobre a cegueira que referenciam, conforme nossos estudos, a Santa Ceia proferida pela pessoa de Jesus Cristo na Bíblia Cristã. Para isso recorremos ao conceito de paródia exposto por Linda Hutcheon 1 A parodia(...) marca a diferença em vez de semelhança. (1985, p.17) É no sentido dessa marca diferencial que pretendemos nortear nossas hipóteses e tecer nossas comparações entre os dois textos. 2 Propomos uma análise em dois momentos distintos da Santa Ceia em Ensaio sobre a cegueira, no primeiro momento destacaremos uma espécie de Santa Ceia pervertida, em um ambiente profano (ELIADE, 2001) e em meio ao caos, no segundo momento destacaremos outro tipo de Santa Ceia, com sentido inverso ao primeiro, em um espaço que representa o sagrado, na casa do médico. Os dois momentos em contraponto com o que nos sugere o texto bíblico. 1 Sua exposição acerca da paródia, não se trata de repetições ou analogias, mas sim de marcar o que é diferente é neste sentido que interessa-nos seus estudos. 1

1. A Santa Ceia no texto bíblico O caminho traçado em nosso estudo justifica-se pela simbologia presente na Santa Ceia, esta que segundo o texto bíblico refere-se a Paixão de Jesus seus sofrimentos desde a agonia no Getsemani até sua morte na cruz, no Golgota (FOIULLOUX, 1998:188) Nele se inserem todos os episódios que medeiam a Última Ceia e a morte na cruz. O termo "paixão" provém do latim passionem, do verbo pati, sofrer, que indica sofrimento. (idem). Os Quatro Evangelhos, de Marcos, Lucas, Mateus e João, relatam as provações físicas e morais pelas quais Cristo passou durante a Paixão, sendo destas uma das que se representam mais freqüentemente em termos iconográficos o Ecce Homo ("Eis o Homem"), altura em que Cristo é apresentado à multidão flagelado, com uma coroa de espinhos e um ramo na mão e coberto apenas com uma clâmide ou capa vermelha. Desde a Última Ceia, em que Cristo afirma saber que seria traído, e durante toda a Paixão, que a Sua atitude perante os sofrimentos e inevitável morte foi de aceitação resignada, de forma a cumprir a vontade do Seu Pai. Na verdade, o Cristianismo sempre considerou a morte de Cristo como o elemento que justificou a Sua vinda à Terra, para expiar os pecados da Humanidade e a salvar. A Última Ceia aparece como episódio fundamental para a correta percepção da Paixão, uma vez que a sua realização é, simbolicamente, o sacrifício de Cristo para bem dos homens. O próprio Senhor Jesus, quando instituiu a Ceia do Senhor, se deu no dia da Páscoa (Mateus 26:17-19; Marcos 14:12-16; Lucas 22:7-13), e não foi pela Sua ressurreição que ele a instituiu, e sim, em memorial a Ele, e anunciando a Sua morte, até que venha a nos buscar (I Coríntios 11:26). Jesus se reuniu com os seus discípulos, para realizar a última Páscoa - a válida - e estabelecer o novo pacto, mais abrangente, e debaixo da graça: a Ceia do Senhor: No primeiro dia dos Ázimos, quando matavam os cordeiros para a Páscoa, os discípulos perguntaram à Jesus: Onde queres que vamos preparar para que comas a Páscoa? (...) Ao cair da tarde, Jesus chegou com os Doze. Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a benção, o partiu, distribuiu a eles e disse: Tomem, isto é o meu corpo. Em seguida, tomou um cálice, agradeceu e deu a eles. E todos eles 2

beberam. E Jesus lhes disse: Isto é o meu sangue (Bíblia Sagrada- Novo Testamento, MC cap.14, v12,17, 22 e 23, p. 1303) 2. A Santa Ceia profana em Ensaio sobre a cegueira A partir da colocação anterior podemos apresentar os momentos reflexos da Santa Ceia, segundo nossos estudos, presentes no romance de José Saramago, os excertos abaixo nos ajudam a visualizar uma imagem desse momento em meio ao caos: (...) enquanto a estas horas a camarata dos malvados deverá estar já atulhada de caixa de comida, aqui os desgraçados não tarda que se vejam reduzidos a apanhar migalhas do chão imundo.(saramago, 1995. p.160)... (...) à hora do jantar se uns míseros pedaços de pão duro e carne bafienta mereciam tal nome, apareceram à porta da camarata três cegos vindos do outro lado, Quantas mulheres vocês tem aqui, perguntou um deles, Seis, respondeu a mulher do médico, com a boa intenção de deixar de fora a cega das insônias(...) Os cegos riram, Ó diabo, disse um então vocês vão ter que trabalhar muito esta noite (...) A camarata ficou em silencio. Um minuto depois, disse a mulher do primeiro cego, Não posso comer mais, era quase nada o que tinha na mão, e não o conseguia comer(...) Eu vomitarei no primeiro que se chegar a mim(...) (SARAMAGO, 1995. p.173-174) Aproximando a cena da Santa Ceia do texto bíblico às ações das personagens de Ensaio sobre a cegueira, percebemos que no primeiro há um momento de harmonia, em que Jesus estabelece um novo contrato com seus discípulos e deixa um recado, que a partir de então não imolaria mais um cordeiro, mas que ele mesmo era um cordeiro, ou seja, a própria expiação dos pecados da humanidade. Podemos perceber ainda que há na instituição da Santa Ceia uma ruptura entre a oferta pascal. Em relação ao romance de Saramago observamos dois momentos de extremo horror onde as personagens são obrigadas a satisfazer as necessidades sexuais dos ladrões para que pudessem comer e dar de comer aos seus companheiros de certa forma 3

tornam-se os cordeiros em favor dos que ali estavam, Santa Ceia em estado de profanação, entre o corpo das mulheres e a selvageria dos ladrões. Nesse sentido trazemos os estudos de HUTCHEON (1985) em torno da paródia enquanto transposição das diferenças, mas que estabelecem uma alteração de sentido, no caso do texto bíblico uma entrega por parte da pessoa de Jesus, no romance saramaguiano as mulheres dilaceradas, tornam-se em circunstancia adversa a salvação para os demais. Podemos ainda ressaltar, que enquanto a personagem do romance desmotivada, deteriorada interiormente ( Não posso comer mais ), como que se já não suportasse mais o estado de comiseração, no texto bíblico Jesus afirma isto é o meu corpo, ao que nos indica que em seu gesto havia um desejo de entrega e doação, que seu sacrifício era completamente da sua vontade. Dessa forma observamos o paradoxo da parodia, ao mesmo tempo em que evidencia um fato entre as personagens, estabelece os diversos sentidos nela contidos. Salma Ferraz 3 Dentro dessa proposta de discussão contribui com nosso cotejo os estudos de em seu artigo intitulado Santa Ceia Profana, onde apresenta análise de doze quadros parodiados de Leonardo da Vinci, mais conhecido como A Santa Ceia, (1495-1497), nele a pesquisadora apresenta e desenvolve um rico trabalho sobre cada quadro em questão onde observa e discorre da importância de cada expressão seguindo as características da parodia e como esta contribui para o enriquecimento da criatividade e sensibilidade humana. Assim, em nossa análise, podemos observar no romance de Saramago a recriação do ato cristão que se projeta em um momento de dor extremada em meio ao caos e degradação para as personagens. 3. A Santa Ceia Sagrada em Ensaio sobre a cegueira No segundo momento a Santa Ceia em Ensaio sobre a cegueira, é apresentada com sentido diferente do primeiro, o sagrado, quando as personagens estão vivenciando a peregrinação, no entanto em relação ao texto bíblico há diferenças que nos levam a visualizar a recriação desse momento mais uma vez. O excerto abaixo ilustra como este segundo momento é apresentado no romance: 3 Professora Associada de Literatura Portuguesa da Universidade de Santa Catarina. 4

(...) a mulher do médico já tinha posto na mesa alguma da pouca comida que restava, depois ajudou-o a sentarem-se, disse, Mastiguem devagar, ajuda a enganar o estômago (SARAMAGO,1995. p. 263) Como podemos perceber o momento é adverso ao primeiro, no lugar do caos, desolação e sofrimento, as personagens agora em um local sagrado, como indica o próprio narrador, a casa do médico. Ali elas iniciam um novo trajeto da caminhada, livres da sujeira e imundície das ruas, encontram segurança anteriormente inexistente. A ceia, indicada no excerto aponta um ambiente tranqüilo, sereno e de compaixão por parte da mulher do médico. No texto bíblico Cristo não apenas realizou na sua pessoa o sacrifício redentor, mas também apontou aos homens este caminho como sendo o único para a salvação e a perfeição(...) (PADOVANI E CASTAGNOLA, 1956, p.141 ), em Ensaio sobre a cegueira, a mulher do médico, personagem que transcende todas as demais, não realizou nenhum feito salvador, mas de extrema humanidade, através de gestos simples, porém profundos capazes de transformar o estado de dor e desolação em esperança. Conclusão A Santa Ceia em Ensaio sobre a cegueira aparece em dois momentos distintos como observamos, no primeiro em um espaço profano (ELIADE, 2001), manicômio, lugar onde foram levados os primeiros cegos do romance, e experienciaram as mais cruéis realidades do submundo da exclusão social, no segundo momento as personagens após terem caminhado um longo percurso doloroso encontram a casa do médico, onde entram descalças como que estivessem entrando em um lugar sagrado (ELIADE, 2001), fato justificado também pelos rituais de purificação que lá ocorreram como expõe o narrador. Os dois momentos expostos em relação ao texto bíblico, implicam reconhecer as diferenças neles apresentados, os novos sentidos adquiridos para cada personagem, tendo em vista o sentido de paródia apresentado por HUTCHEON (1985), não objetivamos sinalizar as possíveis semelhanças, mas a recriação de um texto em relação a outro (o romance e o texto bíblico) como em seu interior (os dois momentos recriados dentro do romance). As semelhanças existentes ajudam-nos na percepção do texto no 5

primeiro, mas as diferenças nos fazem ver a beleza e criatividade da criação artística e os tantos novos sentidos possíveis de serem contextualizados. Bibliografia [1] Bíblia Sagrada, Novo testamento. São Paulo: Edições Paulinas, 1990. [2] CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas,figuras,cores, números. Rio de Janeiro: José Olimpio, 1999. [3] ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Edição Livros de Lisboa, 2001. [4] FOUILLOUX, Danielle (et alii) Dicionário Cultural da Bíblia. Tradução de Marcos Bagno. São Paulo, Edições Loyolo: 1998 [5] HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia. Lisboa: Edições 70, 1985. [6] PADOVANI, H; CASTAGNOLA, L. História da Filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1956. [7] Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, ano III, n.9, Jan.2011 ISSN 1983-2850 Dossiê Questões teórico-metodológicas nos estudos das religiões e religiosidades. [8] SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Cia. das Letras, 1995. Sites consultados HTTP://dhi.uem.br/gtreligiao http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/a/conotopo.htm 6

i Autor (es) Lúcia Maria de SOUZA. Mestre em Literatura Portuguesa Universidade de São Paulo (USP) Email ii Lúcia Maria de SOUZA. Mestre em Literatura Portuguesa Universidade de São Paulo (USP) luj@usp.br 7