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Eficiência Energética Sustentabilidade Empresas Empresas e Tecnologia Inovação Mercado Novidades Produtos Notícias Eventos Formação Estudos

por JOÃO MARCELINO, JOÃO GAVIÃO - HOMEGRID, homegrid@sapo.pt, www.homegrid.pt Water Energy Food Almost Independent Building 1. INTRODUÇÃO wefi-building WATER ENERGY FOOD ALMOST IN- DEPENDENT BUILDING é um produto desenvolvido pela Homegrid que, de uma forma integrada e personalizada de concepção-(re)construção, permite tornar o empreendimento quase autónomo a nível energético, hídrico e alimentar. O wefi-building altera o paradigma da utilização dos edifícios. Actualmente ao custo inicial do edifício acrescem rendas (água, energia e alimentação) durante o período de vida do edifício. Num wefi-building transformamos o custo associado à construção do edifício num investimento com um período de retorno. O wefi-building eleva os padrões de habitabilidade e saúde dos utentes, quer pela garantia de temperatura e qualidade do ar interior, quer pela qualidade alimentar. A implementação do conceito wefi-building permite caminhar para uma sociedade de baixo carbono. Esta abordagem holística potencia as trajectórias de baixo carbono pelo efeito de contágio cíclico na electricidade, mobilidade, edifícios, agricultura e resíduos. Um wefi-building assenta numa lógica de proximidade e de criação de sinergias, maximizando a utilização de soluções e empresas locais, através de uma rede de parcerias estabelecidas numa lógica WIN/WIN. 2. WATER/ÁGUa A água é um bem indispensável à vida, sendo por isso considerada como um direito humano básico e uma condição necessária para o desenvolvimento sustentável e para a erradicação da pobreza. No entanto, a humanidade dirige-se actualmente e de uma forma veloz a um estado de escassez hídrica sem precedentes na sua história. Isto deve-se ao aumento da população, ao desenvolvimento e crescimento das economias dos países e a práticas não sustentáveis de utilização dos recursos hídricos. Estima-se que em 2015 40% da população mundial viverá em condições de stress hídrico. Este facto originará diferentes fenómenos de competição: competição entre países, e dentro dos países, pelo acesso à água e competição entre as necessidades hídricas humanas e necessidades hídricas da natureza (Postel, 2006). Deste modo, estão em causa: a segurança alimentar 10% dos alimentos do mundo são cultivados através de práticas não sustentáveis de sobreexploração de águas subterrâneas; a saúde e bem-estar das populações a mortalidade associada à escassez de água é estimada em 5 milhões de pessoas por ano a nível mundial, devido a doenças que estão erradicadas nos países desenvolvidos (Conca, 2006); a estabilidade política e social tem aumentado a conflitualidade entre países, sobretudo no Médio Oriente e em África, e o número de pessoas expulsas das suas regiões devido aos projectos de grandes barragens e planos de irrigação. A agricultura, a produção de energia, a indústria, o abastecimento público de água e os ecossistemas são todos importantes e são, também, todos concorrentes a este recurso limitado. De acordo com a Agência Europeia do Ambiente, com as alterações climáticas a tornar a disponibilidade de água menos previsível, é extremamente importante que a Europa utilize a água de forma mais eficiente para o benefício da população, das actividades e do meio natural (EEA, 2012). Proposta wefi-building A utilização de sistemas de aproveitamento de águas pluviais - com posterior utilização em autoclismos, rega de jardins, rega de hortas, lavagem de pavimentos, carros e máquinas de lavar-roupa permite uma redução de cerca de 60% do consumo de água potável. Com a eficiência hídrica, energética e com o labeling conseguimos uma redução de mais 20% do consumo de água potável. Estas estratégias para o aumento da produtividade da água permitem baixar os consumos de água potável num edifício em cerca de 80% e gerar também economias significativas de energia. A esta poupança acresce o facto de produzirmos alimentos localmente com sistemas de rega mais eficientes. 3. ENERGY/ENERGIA Nas últimas décadas tem-se assistido ao aumento do consumo energético a nível mundial. Em 1971 o consumo de energia final era 4.676 Milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep), tendo quase duplicado em 2008 com um consumo de 8.428 Mtep (KWE Statistics, 2010), apesar do abrandamento do (Fonte: AIE) Figura 1 - Evolução do consumo mundial de energia, em Mtep consumo nos países mais ricos (figura 1). Um dos grandes problemas é o facto do consumo actual ainda estar dependente de fontes de energia finitas. Outro problema está relacionado com o actual padrão de consumo. Se o consumo energético da população mundial fosse equivalente ao consumo médio de um habitante de Singapura ou dos Estados Unidos, as reservas de petróleo seriam consumidas em nove anos (WWF, 2011). A escassez, aliada à dependência de um pequeno grupo de países produtores, são responsáveis pela instabilidade no abastecimento energético, levando à escalada de preços. Países como Portugal, muito dependentes do exterior, são mais vulneráveis e estão mais expostos a esses problemas. O crescimento do consumo energético, com o recurso às actuais fontes energéticas, implica o crescimento das emissões de dióxido de carbono (CO 2 ). A tendência da evolução da concentração de CO 2 é de subida constante. Nesse sentido foram estudados vários cenários tendo em vista a estabilização da concentração de CO 2 e minimização dos seus impactos. A Agência Internacional de Energia (AIE) estabeleceu os cenários 550 e 450, em que as concentrações de CO 2 sobem até estabilizarem nas 550 e 450 partes por milhão (ppm). Mesmo que as metas do Cenário 450 sejam alcançadas, o que representa desde já um enorme desafio, tal não evitará a ocorrência de um aumento significativo do nível do mar, extinção de espécies e aumento da frequência de desastres naturais (IPCC, 2009). Neste sentido, o Passivhaus Institut definiu o Cenário Eficiência que procura ir mais além que o Cenário 450. As medidas passam pelo aumento das componentes da eficiência energética e das energias renováveis e biofueis, assim como pela desistência da energia nuclear, algo que já foi decidido por alguns países (figura 2). O crescimento do consumo energético, com o recurso às actuais fontes energéticas, implica o crescimento das emissões de CO 2 ). A actual concentração de CO 2 ) na atmosfera é já uma ameaça à estabilidade do planeta. Assim, é fundamental alterar as fontes de energia mas sobretudo reduzir o consumo energético. Proposta wefi-building: Num projecto integrado, o desempenho do edifício é optimizado através de um processo interactivo que envolve todos os membros da equipa desde o início focando no conceito Passive House. Um edifício Passive House é um edifício com um clima interior confortável mantido sem sistemas activos de aquecimento ou arrefecimento. Os principais critérios do conceito Passive House são: Necessidades anuais de aquecimento e arrefecimento inferiores a 15 kwh/(m 2 a); Minimização das infiltrações de ar através da envolvente do edifício, testado através do Blower Door Test; Consumos de energia primária menor que 120 kwh/ (m 2 a), incluindo aquecimento, arrefecimento, AQS, e gastos eléctricos; Figura 2 - Cenários para a redução de CO₂ Para se atingir os padrões Passive House é necessário (Weizsäcker et al., 2009): Definir soluções através de um Desenho Solar Passivo - sempre que possível os edifícios devem ter uma forma compacta para reduzir a sua área de exposição ao exterior, e possuir cerca de 75% dos envidraçados orientados a Sul; Garantir o adequado isolamento da envolvente - correcta espessura e aplicação dos materiais isolantes e procurar eliminar as pontes térmicas do edifício; Garantir a adequada instalação de janelas - no caso Português o valor de U deverá ser inferior a 1.35 W/ (m 2.K) para todo o sistema da janela (Schnieders, 2012). Deve ser tida em consideração a qualidade da caixilharia, o tipo de vidros e espaçadores e o posicionamento e isolamento da caixilharia no vão; Garantir a estanquicidade do edifício - deve definir- -se uma barreira contínua à passagem do ar e uma selagem de todas as penetrações da envolvente. Deste modo consegue-se uma redução das infiltrações do ar (quente ou frio), que atravessaria a envolvente, permitindo uma maior eficiência do sistema de ventilação mecânica; Sistema de ventilação com recuperação do calor - o (Fonte: AIE e Passivhaus Institut) 84 85

Salão Internacional dos Equipamentos, Tecnologias e Serviços do Ambiente sistema deve ter uma eficiência superior a 75% para garantir a QAI e o conforto dos utilizadores. Como o edifício terá de possuir uma boa estanquicidade, a taxa de renovação de ar pode ser optimizada para 0.4h-1, garantindo uma boa qualidade do ar interior. O aquecimento adicional pelo ar pode ser conseguido por uma pequena bomba de calor ou por energia solar térmica; Sistema eficientes para gerar calor/frio - Em adição ao recuperador de calor, normalmente uma pequena bomba de calor extrai calor do ar extraído e aquece o ar insuflado e as águas quentes sanitárias (AQS). Para além dos ganhos solares, um edifício Passive House potencia os ganhos internos, nomeadamente o calor gerado pela iluminação e electrodomésticos assim como o calor gerado pelas pessoas e animais dentro de casa, não sendo necessários sistemas adicionais de aquecimento central. Ao elevar o desempenho dos edifícios baixas necessidades de aquecimento e arrefecimento ambiente, AQS e electricidade (electrodomésticos e iluminação) - podem ser obtidas reduções significativas das necessidades de energia na utilização dos edifícios, em relação aos edifícios convencionais. Um edifício Passive House consegue uma redução de 75% das necessidades de aquecimento e arrefecimento em comparação com edifícios desenvolvidos de acordo com os regulamentos actuais. 4. FOOD/ALIMENTAÇÃO De acordo com os dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), os preços das matérias-primas alimentares nunca estiveram tão altos como agora, fruto sobretudo da especulação em torno dos bens alimentares, do aumento do preço da energia, do aumento da procura e do aumento da produção de biofueis. A dependência alimentar externa de Portugal tem vindo a agravar-se. O défice comercial (saldo entre as exportações e as importações de alimentos) aumentou 23,7% entre 1999 e 2009, totalizando 3,3 mil milhões de euros, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística. Os fenómenos naturais extremos, como secas ou cheias, que têm tido como catalisador a actividade humana nomeadamente o aquecimento global, estão directamente associados a perdas de colheitas com prejuízos substanciais. Os hábitos alimentares e os padrões de consumo têm um impacto significativo nos recursos naturais e no meio ambiente. A uniformização de gostos e costumes levou a que as escolhas alimentares tenham deixado de ter em consideração a origem do produto e a sua sazonalidade. Este facto leva a que, actualmente, o acto de comer tenha um grande impacto nos consumos energéticos associados aos transportes e à conservação dos produtos e nos consumos de água para a produção alimentar. Uma dieta com uma maior presença de carne implica um maior consumo de água. Por exemplo, a produção bovina tem associadas necessidades de água de 15m 3 /kg de alimento produzido contrapondo a 1m 3 /kg de água nos produtos hortícolas e frutícolas ou a 0,43m 3 /kg nos cereais. Os padrões e práticas actuais põem também em causa a biodiversidade, podendo originar uma crise alimentar global. Segundo o professor e investigador Jorge Paiva, a alimentação básica diária da população mundial depende fundamentalmente de oito cereais: a cevada, o milho, o centeio, a aveia, o arroz, o milho-miúdo, o sorgo e o trigo. Mas a superprodução destes cereais está, actualmente, tão altamente seleccionada e, por isso, tão uniforme sob o ponto de vista genético, que catástrofes devidas a doenças ou a condições climáticas adversas podem levar a humanidade à fome de um momento para o outro. Proposta wefi-building: A solução passa pela adopção de práticas mais racionais, sob o ponto de vista económico e ambiental. No que respeita à alimentação (cultivo, fertilização, rega, tratamento de resíduos, preparação de refeições) deve ser tido em conta o seguinte: Hábitos alimentares dos utilizadores - a adopção de dietas sazonais, produção de agricultura biológica e redução da proporção de carne e derivados nas dietas; Racionalização de práticas agrícolas - renovar as práticas e sistemas agrícolas para consumirem menos energia; Sistema de irrigação - o correcto dimensionamento e manutenção dos sistemas de irrigação permite reduções de 40% da energia; Secagem de culturas - utilização de sistemas mais eficientes, alimentados por energia renovável com baixa emissão de carbono; Refrigeração - no sector da restauração e hotelaria, adquirir o equipamento de refrigeração mais eficiente pode reduzir os consumos energéticos em 50%; Uso de Fertilizantes - a utilização de fertilizantes orgânicos, obtidos a partir da reciclagem do lixo orgânico, permite uma grande redução no consumo da energia, aumenta os níveis orgânicos e a densidade microbiana do solo e o sequestro de carbono pelo solo; Cultivo conservativo - permite reduzir o uso da energia e aumentar o armazenamento de carbono no solo. Diminui a erosão em cerca de 90% em comparação com o cultivo intensivo, conservando, deste modo, o solo, a água e a matéria orgânica do solo. 5.O primeiro wefi-building: Está em fase de conclusão o primeiro wefi-building, Informações CCILF Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa, Lisboa Tel: (351) 21 324 19 97 - Fax: (351) 21 342 48 81 - E-mail: portugal@promosalons.com web: www.promosalons.com 75.000 visitantes 2.400 expositores 96 nacionalidades O salão Argentina País Convidado de Honra Em parceria com www.pollutec.com 86 87 Agencia del Medioambiente y del Control de la Energía

Figura 3 Simulações de vistas exteriores das moradias uma moradia unifamiliar, desenvolvido pela Homegrid. Este edifício faz parte de um projecto de duas moradias unifamiliares localizadas em Ílhavo. O projecto teve início em 2008, tendo sido pensadas para ter um bom desempenho energético (figura 3). No entanto, o projecto não foi definido de acordo com o conceito Passive House. A 19 de Maio de 2011 teve início a construção das duas moradias e a 28 de Maio de 2011, durante a 15ª Conferência Internacional Passive House em Innsbruck, foi decidida a adaptação das moradias ao conceito Passive House. O decorrer do trabalho levou ao alargamento do conceito, para além da questão energética, definindo soluções para a componente hídrica e alimentar. Foi desenvolvido e lançado o produto wefi-building, aplicada a uma das moradias (figura 3). As duas moradias obtiveram, na fase de construção, a classificação A+ no sistema LiderA. É o reconhecimento do muito bom nível de desempenho ambiental da construção das duas moradias, que são as primeiras a obter essa classificação. 5.1. WATER/ÁGUA: Para optimizar a utilização e gestão da água, foram adoptadas várias medidas em diferentes fases do projecto e da construção: Instalação de um sistema de aproveitamento de águas pluviais (depósito de 10.000 litros da Ecodepur) que irá permitir o abastecimento de autoclismos, rega de jardins, rega de hortas, lavagem de pavimentos e carros; Pré-instalação de um sistema de aproveitamento de águas cinzentas; Todos os electrodomésticos e torneiras têm grande eficiência hídrica; Labeling dos dispositivos para optimizar a sua utilização; Isolamento da rede de água quente com coquilhas SH/Armaflex de 19 mm de espessura; Isolamento da rede de água fria com coquilhas SH/ Armaflex de 10 mm espessura; A utilização de tubagem Wirsbo-PEX e acessórios plásticos PPSU Uponor Quick & Easy numa rede ramificada, permitiu ainda aumentar o conforto hidráulico dos dispositivos críticos: banheiras e bases de duche; A utilização do novo autoclismo interior OLI Speed com uma classificação A++ a nível de eficiência hídrica; Accionamento do anel de água quente directamente pelo utilizador. Estimamos que estas medidas permitam baixar os consumos de água potável em cerca de 75% e gerar também economias significativas de energia. 5.2. ENERGY/ENERGIA: Para atingir os padrões Passive House: Seguimos o princípio KISS: Keep It Smart and Simple; A certificação foi conduzida por Susanne Theumer do Passivhaus Institut sediado em Darmstadt, Alemanha; A equipa adoptou as máximas do professor António Coutinho (Director do Instituto Gulbenkian de Ciência): The quality of the question ; Think about it all the time ; Find the most acute continuation every time ; Foi estabelecida uma vasta rede de parcerias numa lógica WIN/WIN; Foi encarado o trabalho como um desafio diário: resolver os problemas e encontrar novas soluções; adaptar os projectos; responder às solicitações da execução da obra, sem comprometer o processo de certificação; definir uma solução global economicamente viável; assumindo sempre a responsabilidade pelo caminho escolhido. Os critérios e frentes de trabalho foram identificados e definidas as soluções. Uma das mais importantes questões a resolver foi a melhoria da envolvente do edifício. Procurámos reduzir as pontes térmicas ao mínimo e melhorar os (Fonte: Homegrid ) Figura 4, 5 e 6 Solução final da parede exterior, cobertura e vãos envidraçados. valores dos coeficientes de transmissão térmica (U) das soluções da envolvente. 5.2.1. Envolvente do edifício A solução final da parede exterior constituída, do interior para o exterior, por 4.reboco estanhado com 2 cm, 3.bloco Artebel BTE25 com 25 cm, 2.reboco de regularização com 1cm e 1.ETICS (EPS) 10 cm tem um aumento de 2 cm na espessura do isolamento em relação à solução inicial, correspondendo a um valor de U=0,262 W/(m 2 K) (figura 4). O Passivhaus Institut definiu um valor de referência para Lisboa de U=0,620 W/(m 2 K) e para o Porto de U=0,202 W/ (m 2 K) (Schnieders, 2009). A solução final da cobertura constituída, do interior para o exterior, por 6.reboco estanhado com 2 cm, 5.laje fungiforme aligeirada com 25 cm, 4.XPS entre barrotes de madeira com 15 cm, 3.membrana transpirante Rothoblaas, 2.ripado de madeira sobre barrotes e 1.telha Domus Coelho da Silva tem um aumento de 5 cm na espessura do isolamento em relação à solução inicial, correspondendo a um valor de U=0,221 W/(m 2 K) (figura 5). O Passivhaus Institut definiu um valor de referência para Lisboa de U=0,330 W/(m 2 K) e para o Porto de U=0,155 W/(m 2 K) (Schnieders, 2009). A solução final dos vãos exteriores constituída por 1.caixilharia de alumínio com corte térmico, 2.vidro incolor Planilux 6 mm + Stadip Planitherm Ultra N 4+4mm com lâmina de Gás Árgon com 16 mm (g=0,60 ; U=1,0 W/(m 2.K), 3.soleira/peitoril em alumínio, 4.ETICS (EPS) 15 cm, 5.caixa de estore térmica e protecção exterior em lâminas de alumínio de cor clara, com espuma de poliuretano, 6.XPS com 10cm, 7.painel de madeira lacada com 20mm foi melhorada no sistema de caixilharia, no tipo de vidro e no isolamento do perímetro da caixilharia em relação à solução inicial, correspondendo a um valor variável de Uinstalação=1,44-2,00 W/(m 2 K) (figura 6). O Passivhaus Institut definiu um valor de referência para Lisboa e Porto de Uinstalação=1,35 W/(m 2 K) (Schnieders, 2012). 5.2.2. Ventilação e estanquicidade Foi previsto um sistema de ventilação mecânica que permite climatizar (aquecimento e arrefecimento) e (Fonte: Nilan) produzir AQS. Pelos dados climáticos e de cálculo a unidade só irá ser ligada durante o Inverno. No resto do ano irá dar-se preferência à ventilação natural. Aí o sistema ficará em alerta, controlando o nível das necessidades impostas e depois age conforme o clima e regime de utilização da casa. Em ambos os casos o utilizador terá a possibilidade de interagir com os sistemas. O esquema de princípio será o seguinte: insuflação de ar nos quartos e salas; extracção de ar na cozinha e i.s. (figura 7). A ventilação será realizada com uma unidade Compact P da Nilan: Garante uma renovação de ar de 30m 3 /h/p, podendo fornecer até 320 m 3 /h; Baixos consumos, na ordem dos 350 W; Remove partículas de poeira, humidade e cheiros da habitação; No Inverno recupera a energia do ar extraído para o ar insuflado e para as AQS (180 litros); No Verão a energia do ar que entra é transferida para as AQS, insuflando ar arrefecido; Foi também previsto um sistema solar Rigsun Sani 300 composto por 2 colectores Rigsun RK 2300 Alpin e um depósito de 300 litros, interligado à unidade Compact P da Nilan. A estanquicidade da envolvente é importante para: evitar a condensação na construção; evitar poluição do ar interior; melhorar o isolamento acústico do edifício; melhorar o funcionamento do sistema de ventilação; reduzir as perdas pela ventilação. 5.2.3. Equipamentos Foi promovida a iluminação natural, com a maximização das áreas envidraçadas. A iluminação artificial Figura 7 Esquema de princípio do sistema de ventilação (Fonte: Homegrid ) 88 89

será feita através da utilização de lâmpadas de baixo de consumo. Foram escolhidos os electrodomésticos com a máxima eficiência energética. Os consumos eléctricos para produção alimentar são responsáveis por cerca de 7% dos consumos globais de um edifício (Weizsäcker et al., 2009). Para tentar reduzir estes consumos está prevista a utilização de 3 fornos solares: um forno funil, um forno tipo caixa e um forno tipo parabólico. 5.2.4. Resultados PHPP A verificação dos resultados de um edifício Passive House é feita a partir da análise da ferramenta Passive House Planning Package (PHPP), desenvolvida pelo Passivhaus Institut. Os resultados alcançados são os seguintes: Necessidades de Energia para Aquecimento: 8 15 kwh/(m 2 ) Carga de Aquecimento: 9 10 W/m 2 Necessidades de Energia para Arrefecimento: 0 15 kwh/(m 2 ) Necessidades de Energia Primária: 59 120 kwh/(m 2 ) Frequência de excesso de temperatura: 0 10 % 5.3. FOOD/ALIMENTAÇÃO: A componente de produção alimentar definida neste edifício permitirá reduzir as despesas e possibilitar à família uma alimentação mais variada e fornecer produtos alimentares frescos mais saborosos e nutritivos. Os produtos fornecidos serão consumidos sempre frescos, não havendo lugar à perda de vitaminas entre a horta/pomar e a preparação das refeições, oferecendo uma enorme escolha de diferentes culturas e de produtos. A produção agrícola (produtos hortícolas e frutícolas) será feita a partir dos espaços exteriores destinados a esse fim, num total de 250 m 2, focalizada em culturas de elevado rendimento. Todo o lixo orgânico, proveniente da habitação e dos espaços exteriores, irá constituir o composto fertilizante da horta. Foi previsto um sistema de rega eficiente e adaptado a cada cultura, alimentado pelo sistema de aproveitamento de águas pluviais. 6.Trabalho futuro 6.1.monitorização O ITeCons irá realizar o Blower Door Test, monitorizará a temperatura, humidade relativa e concentrações de CO2 nos compartimentos e avaliará a QAI. O Cloogy, produto desenvolvido pela ISA, permitirá monitorizar e controlar os consumos eléctricos através de um portal web. A ANQIP irá monitorizar os consumos hídricos. 6.2.Análise de poupanças, cash-flow e CO 2 Serão aferidos os custos de construção e com os dados da monitorização serão calculados os custos de operação. Também pretendemos analisar o impacto que a massificação deste conceito pode induzir em termos de poupança anual, análise de cash-flow e análise de CO 2. 6.3. Aplicações a novos programas e tipologias Teve já início o processo de implementação do conceito wefi-building num equipamento social com capacidade de 150 utentes e uma área de construção superior a 3.000 m 2. A curto prazo será iniciada a aplicação do conceito wefi-building num projecto de uma unidade hoteleira, na Serra da Estrela, e na reabilitação de edifícios existentes, no distrito de Aveiro. A confirmarem-se os primeiros estudos teremos uma alteração do paradigma da utilização dos edifícios. Um edifício/empreendimento wefi-building poderá responder a algumas questões: Como aliviar as rendas da água, energia e alimentação de uma entidade? Como transformar o custo associado à construção de um edifício ou empreendimento num investimento? Como contribuir para a independência hídrica, energética e alimentar de um País? 7. Referências biográficas Conca, K. (2006). Las políticas transnacionales. Vanguardia Dossier, nº 21 páginas 30-36. EEA (2012). Towards efficient use of water resources in Europe. European Environment Agency, Copenhagen. IPCC (2007). Climate Change 2007: Synthesis Report. An Assessment of the Intergovernmental Panel on Climate Change, Valencia. KWE Statistics (2010). Key World Energy Statistics 2010. International Energy Agency, Paris. Postel, S. (2005). Thirst and Abundance in the Twenty- First Century: The Politics of Water. Conferência no Mount Holyoke College, South Hadley, Massachusetts. Schnieders, J. (2009). Passive House in South West Europe. Passivhaus Institut, Darmstadt. Schnieders, J. (2012). Passive House for different climate zones. Passivhaus Institut, Darmstadt. Weizsäcker, E., Hargroves, K., Smith, M., Desha, C., Stasinopoulos, P. (2009). Factor Five. The Natural Edge Project, Gateshead. WWF (2011). The Energy Report: 100% Renewable Energy by 2050. World Wide Fund for Nature em colaboração com Ecofys e Office of Metropolitan Architecture, Gland. 90