Criado por Mario Madureira



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Transcrição:

Criado por Mario Madureira

Ep. #: 108 Meninas Grandes Não Choram Escrito por Mario Madureira e Karina Bittencourt 28 de agosto de 2015 São Paulo, Brasil

1 ATO UM Anteriormente em Estrada das Lágrimas. arranja um emprego para pagar as contas atrasadas e recebe mais uma conta para pagar. JOÃO questiona se ele está vendo o GUI novamente. tenta falar com, mas afirma que ela está indisposta. beija ISABELA por acidente e fica com medo de estar vivenciando uma tristeza antiga. apresenta para seus pais e a beija pela primeira vez. ROBSON e uma assistente social visitam afirmando que está vivendo em condições precárias por ser menor de idade e afirmam que levariam embora. INT. CASA DA FAMÍLIA SANGES. SALA NOITE e estão sentados lado a lado no sofá. (angustiada) O que vamos fazer agora, Samuel? (suspira) Tudo que não precisávamos era de mais um problema. Se você tivesse me avisado onde estaria, talvez não estivéssemos nessa situação. Que sirva de lição! Sem sermão agora! Estou tentando pensar em alguma coisa. Pra que esse policial intrometido tinha que piorar as coisas? Talvez ele tenha razão. Talvez eu seja incapaz de cuidar de você. (suspira) Isso está sendo mais difícil do que pensei. Ei, você está sendo ótimo. Esse Robson não sabe nada sobre nós. Ele deveria estar atrás dos nossos pais, não perseguindo a gente. Bom, de qualquer maneira, temos que encontrar uma saída.

2 Não sei... Falar com um advogado, talvez? Advogado? (se levanta do sofá) Já sei! Podemos falar com a mãe da Camila. Ela é uma ótima advogada. Pode ser que nos ajude. Ótimo! Então você fala com ela amanhã. INT. CASA DA FAMÍLIA NOVAES. QUARTO DE NOITE está andando de um lado para o outro em seu quarto, enquanto TOMMY está deitado em sua cama. Será que ele disse algo para a Lucia? TOMMY Está na cara, André. Ele quer separar vocês. Está fazendo de tudo para conseguir isso. (para de andar, cruzando os braços sob o peito) Estava indo tudo tão bem. O que eu faço, Tommy? Não posso deixar que ele me afaste da Lucia. Não agora. TOMMY Bom, primeiro faça as coisas do seu jeito. Converse com a Lucia e peça para ela lidar com o irmão. Ela também não vai gostar de saber que ele está interferindo dessa forma. E se não funcionar? TOMMY Bem... Aí faremos do meu jeito. A cena escurece e aparece o título ESTRADA DAS LÁGRIMAS, criado por Mario Madureira.

FIM DO ATO UM 3

4 ATO DOIS INT. RESTAURANTE TAVARES S BURGER. SALÃO PRINCIPAL DIA ISABELA está organizando as mesas do restaurante quando entra apressado. Ele para de andar, arfando e olhando ao redor. Depois engole em seco quando vê ISABELA, que sorri para ele. Hm, bom dia. (coça a cabeça, desconfortável) O Júlio já está aí? ISABELA Está sim, no escritório dele. Obrigado. sai apressadamente do salão, indo em direção ao escritório de JÚLIO. Quando chega, ele hesita, respira fundo e bate três vezes na porta. JÚLIO (voz) Pode entrar. (levanta a cabeça e vê parado na porta) Olá Samuel, bom dia. Chegou mais cedo hoje. Bom dia, Júlio. (respira fundo) É que eu tenho um assunto um pouco delicado para falar com você. JÚLIO Sente-se, garoto. Sou todo ouvidos. Obrigado. (pigarreia) Bom, eu não sei se o Vitor comentou com você sobre os meus pais. Eles estão desaparecidos. JÚLIO (franzindo a testa) Sim, ele comentou. Eu sinto muito.

5 Se eu puder fazer alguma coisa... Na verdade, foi isso que eu vim lhe pedir: um grande favor. Eu tenho uma irmã mais nova e as coisas vêm sendo difíceis desde o desaparecimento dos nossos pais. Esse é o motivo pelo qual eu precisei tão urgentemente do emprego, e esse é o motivo pelo qual estou aqui. Preciso muito desse dinheiro agora. Queria pedir um adiantamento. Eu sei que é muito cedo, mas... JÚLIO (interrompe, fazendo um gesto com as mãos) Garoto, está tudo bem. Eu jamais negaria ajuda a alguém nessas condições. Pode contar comigo. sorri para JÚLIO, parecendo aliviado. JÚLIO lhe estende a mão e eles se cumprimentam. EXT. RUA QUALQUER DIA e estão andando lado a lado, em silêncio, em direção à escola. Aconteceu alguma coisa? (franze a testa) Você está quieto desde que saímos de casa. Hm, na verdade eu preciso conversar com você. (suspira) Só não sei por onde começar. (toca o braço de e para de andar) O que foi? Aconteceu alguma coisa? (desvia o olhar de ) Eu... Eu acho que seu irmão está tentando nos afastar. Como assim, André?

6 Tem algumas coisas que eu preciso te falar. Coisas que eu não achei necessário falar antes. Fala logo, André! Não gosto de mistérios. (passa a mão no cabelo) Bom, no passado, quando eu ainda era criança, eu tive um amigo imaginário chamado Gui. Não era pra ser algo ruim ou preocupante, Até que ele começou a me mandar fazer... Coisas. (arregala os olhos) Que tipo de coisas? Coisas ruins, Lu. Coisas que uma criança normal não faria. (suspira) Isso, obviamente, assustou muito minha família. Mas foi uma coisa que eu superei com a ajuda do Tomas. (desvia o olhar) Como eu disse, é passado. (franzindo a testa) Mas o que exatamente o Samuel tem a ver com isso? O Samuel foi até o meu pai dizer que eu voltei a ver o Gui. Meu pai estava muito assustado. Veio falar comigo ontem... Eu achei que deveria te contar. Claro... Mas por que o Samuel faria uma coisa dessas? Ele não gosta de mim, eu te disse. Quer nos ver afastados. Eu... Eu não quero que ele consiga isso.

7 (abraça ) De jeito nenhum. Não se preocupe... Vou resolver isso. fecha os olhos enquanto abraça. Ele sorri, aliviado. INT. RESTAURANTE TAVARES S BURGER. COZINHA DIA ISABELA está na cozinha quando entra com alguns pratos em uma bandeja. ISABELA Ah, Samuel, eu preciso falar com você. Hm... Está uma loucura lá fora. Pode ser depois? (se vira para sair da cozinha) ISABELA Mas eu só... sai antes que ISABELA termine a frase. ISABELA encara a porta com uma expressão confusa e volta a trabalhar. INT. CASA DE. SALA DIA está sentada no sofá enquanto lê uma revista. desce as escadas com a mochila pendurada em um dos ombros. olha para e fecha a revista, se levantando em seguida. Onde você pensa que vai? Mãe, eu preciso ir para a escola. Estou perdendo muita matéria e... Você não está se sentindo bem, está? Eu estou melhor, mãe.

8 segura pelos ombros e a empurra em direção a um espelho redondo pendurado na parede. Você acha que isso é estar bem? Eu já falei pra você! Minha filha não vai sair desse jeito! Se eles acham que você está gorda, você vai ter que emagrecer! Mãe, isso é loucura! É só a escola, não um desfile de moda. Até porque você jamais estaria em um desfile com esse peso. (com lágrimas nos olhos) O que você quer que eu faça? Que eu fique dentro de casa até ter virado uma cópia da Barbie? Isso não vai acontecer. Isso é o que nós vamos ver. (ajeita os cabelos e abre espaço para que saia) Você não vai a lugar nenhum. Suba. vai em direção da escada e sobe. Entra em seu quarto e bate a porta, com lágrimas escorrendo em seu rosto. Ela joga a mochila na cama e olha para o espelho. Aos poucos ela começa a se olhar e tenta encolher a barriga com uma tentativa de parecer mais magra. INT. ESCOLA. PÁTIO DIA está sentada em um banco enquanto vem em sua direção com duas latas de refrigerante. Ele se senta ao lado de e lhe entrega o refrigerante. Obrigada. Imagina. (abre o refrigerante) Você parece preocupada.

9 Tem a ver com o que Samuel fez? Hm, sim, também. Tem a ver com muita coisa. (suspira) Camila não veio hoje de novo. Você não disse que a mãe dela cuidaria disso? Sim, mas ela não me deu mais notícias. Estou preocupada. Acho que vou até lá hoje. Preciso conversar com a Débora, mesmo. (ergue as sobrancelhas) Precisa? Por quê? Ah... É sobre a Camila, claro. Quero saber como estão às coisas. (pigarreia) E os preparativos para a sua peça? Eu tenho ensaio hoje. A pré-estreia já é amanhã! Eu estou tão nervoso. Não fique, vai dar tudo certo. (segura a mão de e sorri) Aposto que você é um ótimo ator. Isso você só vai saber amanhã. E pode apostar, que eu estarei lá. Você nunca pensou em atuar? Ajuda muito a esquecer os problemas. (sorri) Você amaria. Ah, isso não é pra mim. Eu gosto mesmo é de escrever.

10 (encara, franzindo a testa) Eu não sabia que você gostava de escrever. Hm, não é nada demais. Costumo escrever no meu diário. Escrevo quando preciso externar algumas coisas. Me faz sentir melhor. Ah, você precisa me mostrar isso! Não antes de ver você atuando. Combinado então. No dia da apresentação você me traz o diário. Feito. (estende a mão para cumprimentar ) Vamos indo para a sala? O sinal ainda não tocou, Lu. Sim, mas eu preciso ir ao banheiro antes de voltar para a sala. Tudo bem, então. Te vejo na saída? Pode ser, mas acho que vou direto para a casa da Camila. Te levo até lá, então. Você tem ensaio, esqueceu? (sorri) Pode deixar, eu vou sozinha. Nos falamos por mensagem.

11 Fazer o que né? (abraça ) Até depois, então. acena para e vai em direção ao banheiro. Ela pega o celular e disca um número. Espera alguns segundos antes de ser atendida. Alô, Débora? Sou eu, a Lucia. (ouve por alguns segundos) Eu preciso muito falar com você. Tudo bem se eu for aí depois da escola? (ouve por alguns segundos) Tudo bem então. Te vejo mais tarde. INT. CASA DE. QUARTO DIA está deitada em sua cama quando ouve a porta da sala bater. Senta em sua cama bruscamente e se levanta devagar. Abre uma fresta da porta e espia o corredor. Sai do quarto lentamente e vai até a cozinha, abrindo um armário alto e tirando alguns pacotes de doce dele. Abre uma embalagem de chocolate e fecha os olhos enquanto come. entra silenciosamente na cozinha e bate com a mão na mesa, assustando. A mesma derruba o doce que tinha em mãos. O que você pensa que está fazendo? FIM DO ATO DOIS

12 ATO TRÊS INT. RESTAURANTE TAVARES S BURGER. BANHEIRO DIA sai do banheiro e vê ISABELA vindo em sua direção. Ele desvia o olhar e anda apressadamente na direção contrária. ISABELA Ei, Samuel. Espera! (alcança, segurando seu braço) Eu preciso... Agora não, Isabela, estou ocupado. Com licença. (solta seu braço do aperto de ISABELA e continua andando) INT. CASA DE. COZINHA DIA está diante de, lhe encarando com os olhos arregalados. da um passo em sua direção e ela da um passo para trás. Mãe... (engole em seco) Eu só... Cale a boca, agora! (se aproxima de e segura seu braço, encarando-a de perto) O que eu foi que eu disse sobre comer qualquer coisa que não estivesse dentro da sua dieta? Foi a primeira vez, eu nunca... Não interessa. (começa a puxar para fora da cozinha) Vamos resolver isso agora mesmo. sai da cozinha arrastando pelo braço. Sobe as escadas e entra em um banheiro. cai de joelhos em frente ao vaso e olha para.

13 Mãe, por favor... Você já sabe o que fazer. (ajeita a postura e se vira para sair do banheiro) E, lembre-se, não suje o tapete, querida. EXT. RUA DA ESCOLA DIA está parado ao lado do portão da escola quando vê chegar. Ei, Lu! André? (franze a testa) O que você ainda está fazendo aqui? Achei que já tivesse ido embora. Só queria me despedir. (abraça ) Só isso? (levanta uma sobrancelha, o encarando) Tudo bem. (ri fraco) Eu queria te pedir para que conversasse mesmo com o Samuel. Não se preocupe, eu vou falar com ele. Quero saber como ele ficou sabendo de algo assim. Mas André... Saiba que o meu irmão é uma pessoa bem responsável. Ele não faria algo assim, se não fosse verdade. Devo me preocupar com isso? Claro que não, Lucia. Isso era coisa de criança. Confie em mim.

14 Ok. Qualquer coisa me liga, tudo bem? Pode deixar. se aproxima mais de e a beija levemente. fecha os olhos e sorri. se afasta e ajeita a mochila nas costas. Até mais tarde. Boa sorte no ensaio. manda um beijo no ar para e se vira, adotando uma expressão desconfiada. EXT. RUA DA CASA DE DIA toca a campainha da casa de e aguarda inquieta que lhe atendam. Passam-se alguns minutos sem que ninguém atenda. força levemente a maçaneta do portão, que cede com facilidade por estar aberto. entra na casa, hesitante. Prepara-se para ir embora ao constatar que a casa está vazia, então ouve um barulho vindo do quarto de. Decide subir as escadas e bate na porta do quarto, mas não há resposta. Ao ouvir outro barulho, decide entrar e segue até o banheiro do quarto. está em frente ao vaso sanitário, com uma escova de dente nas mãos, vomitando. arregala os olhos e da um passo pra trás, chamando a atenção de. Lucia! (se levanta e joga a escova de dente na pia) Camila, o que você está fazendo? (anda em direção do quarto) Há quanto tempo você faz isso? Lucia, por favor, não exagere.

15 Não é nada demais, eu só... Não é nada demais?! Como você pode dizer isso? Camila, isso é grave, é uma doença! Isso não importa! Eu estou bem, está tudo bem. (segura o rosto da amiga) Você não está bem! Por que nunca me disse nada? É por causa daquela montagem, não é? (com lágrimas nos olhos) Você não entenderia... É claro que eu entenderia. (abraça ) Você já conversou com sua mãe sobre isso? (arregala os olhos e se afasta bruscamente de ) Não! Minha mãe não pode ouvir nada sobre isso, entendeu? De jeito nenhum. Eu só quero o melhor pra você, talvez se falássemos com ela... Lucia, me prometa que você jamais tocará nesse assunto com ninguém, principalmente com a minha mãe! Eu prometo. (suspira) Se você prometer que irá parar de fazer isso. Eu...

16 De repente, e escutam alguém subir as escadas. (pigarreia) Estou ótima. Só preciso de mais uns dias de descanso. olha para trás e vê parada ao lado da porta. sorri para ela. aperta levemente o pulso de, em uma advertência muda. encara e suspira, dando um passo para trás. Camila, querida, você deveria estar deitada. (olha para ) Lucia, se importa de conversarmos lá em baixo? Camila precisa descansar. Hm, tudo bem. (olha para ) Depois nós conversamos. Por favor, me ligue. Nós precisamos mesmo conversar. permanece em silêncio e suspira, seguindo para fora do quarto. e caminham para a sala e se sentam no sofá. Obrigada por aceitar conversar comigo. (suspira) Dessa vez não é sobre a Camila que eu preciso falar. Preciso da sua ajuda como advogada. Pode falar, querida. Bom, aconteceu o seguinte... INT. TEATRO ESTER DIA está em cima do palco recitando uma poesia, enquanto recebe observações de seu diretor. DIRETOR Isso, André. Maravilha. Podemos parar por hoje.

17 (se senta) Está bom? Mesmo? DIRETOR Sim. Acredito que o público vai adorar. O nosso esforço nessas duas semanas valeu a pena. Que ótima notícia! Para mim é importante deixar tudo perfeito. É minha homenagem para o Tomas. DIRETOR O Tomas é uma pessoa maravilhosa. Se ele estivesse aqui, teria orgulho do irmão. Obrigado, mestre. Amanhã será um grande dia. INT. CASA DE. SALA DIA e estão acabando de conversar sentadas lado a lado no sofá. (franze a testa) Qual é o nome do policial que você citou? É Robson. (observa a expressão de mudar) Você o conhece? Infelizmente sim, querida. Esse cara é um problema. (bate com as mãos na perna) E a assistente social? Você sabe o nome dela? Me lembro de Samuel ter citado... Acredito que seja Patrícia alguma coisa. (sorri) Patrícia Moreira! Pra sua sorte eu a conheço,

18 não precisa nem se preocupar mais com isso. Então você acha que pode resolver? Claro. Considere o problema resolvido. Como é bom ouvir isso! (sorri) Muito obrigada, eu nem sei como te agradecer. Não se preocupe com isso, querida. Está tudo bem, fico feliz em ajudar. Você me salvou. (ri fraco) Bom, agora eu preciso ir para minha casa. Peça para Camila me ligar, por favor. Claro, eu peço sim. (sorri e se levanta do sofá junto com ) Eu te levo até a porta. e se despedem. volta para a sala e se dirige as escadas. Entra no quarto de, que está totalmente envolvida por um cobertor, e a descobre. olha assustada para. Você ia dizer alguma coisa para ela, não ia? Não, eu não ia. Sim, você ia. (senta na cama e se aproxima de ) Sabe por quê? Porque você é fraca. Você não consegue aguentar nada sozinha. Mãe... Na próxima vez que você chegar perto de dizer

19 qualquer coisa para qualquer pessoa, não terá desculpas. Não queira me ver irritada, Camila. se levanta da cama e ajeita a roupa, ainda olhando para. Lágrimas escorrem pelo rosto de. Chega de drama, Camila. Está na hora de crescer. (se vira para sair do quarto) Meninas grandes não choram. INT. RESTAURANTE TAVARES S BURGER. SALÃO PRINCIPAL NOITE está terminando de organizar as mesas para ir embora quando ISABELA aparece ao seu lado, já sem o avental e pronta para ir. arruma uma cadeira bruscamente, e começa a se retirar em direção ao banheiro. ISABELA Samuel? ISABELA vai atrás de e o segura pelo braço. Os dois se encaram e ISABELA nota que engole em seco. ISABELA Eu só queria dizer que o Júlio pediu para você passar na casa dele hoje, depois do expediente. (sorri e solta o braço de ) Boa noite. permanece parado no mesmo lugar durante alguns segundos. INT. CASA DA FAMÍLIA SANGES. SALA NOITE chega em casa e encontra assistindo TV. Ei, Lucia. Desculpa a demora, tive que passar na casa do meu chefe. Considere as contas desse mês pagas! (feliz)

20 Sério? Que ótima notícia! (deixa as chaves na mesa de centro) Resolveu as coisas com a mãe da sua amiga? (se ajeita no sofá) Sim. Está tudo resolvido. Aliás, o Robson não ficou nada feliz com a intervenção dela. Outra ótima notícia. Mudando de assunto... Eu preciso resolver outras coisas com você. (franzindo a testa) Diga. (se levanta e para em frente ao ) Por que você foi conversar com pai do André? O que? Eu... Não minta pra mim, Samuel. Eu sei o que você fez. Quem foi que te contou aquelas coisas? Você tem que confiar em mim, Lucia! O irmão dele, Tomas, pediu para que eu falasse com os pais dele sobre isso. Espera aí, o que? (arregala os olhos) O Tomas está em coma! Você está louco? (suspira) Quando eu passei mal e desmaiei no outro dia, eu pude ver o espírito dele.

21 Ele me contou isso, Lucia. Eu te juro! (da alguns passos para trás) Meu Deus! Essa doença está afetando a sua cabeça. Lucia... Não! Se afasta de mim. Não é seguro ficar perto de você. anda para seu quarto, deixando para trás. permanece parado durante alguns segundos, até que a campainha toca. vai até a porta e a abre. está parado em frente à porta e arregala os olhos. O que você está fazendo aqui? Eu vim falar com a Lucia. Você não vai vê-la, garoto. Mas... Ouça bem o que eu estou te dizendo. Ou você se afasta da minha irmã, ou eu te afasto dela. Espero que esteja me entendendo. fecha a porta na cara de INT. CASA DA FAMÍLIA NOVAES. QUARTO DE NOITE entra apressado em seu quarto, batendo a porta em seguida. Tommy! TOMMY (aparece sentado na cama) Estou aqui.

22 Não adiantou a Lucia ter falado com ele. Ele quer nos afastar. Ele me ameaçou. TOMMY Se acalma, André. Não adianta perder a cabeça. O que eu faço agora? (se joga na cama, ao lado de TOMMY) TOMMY Só há uma solução. Qual? TOMMY Simples, maninho. Teremos que matar o Samuel. FIM DO EPISÓDIO

23 CRÉDITOS CRIAÇÃO E SUPERVISÃO Mario Madureira Meninas Grandes Não Choram ESCRITO POR Mario Madureira e Karina Bittencourt ESTRADA DAS LÁGRIMAS É UMA OBRA DE FICÇÃO BASEADA NA LIVRE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E SEM COMPROMISSO COM A REALIDADE. Para mais informações, acesse: www.mariomadureira.com.br