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Transcrição:

A INTERVENÇÃO DO ADVOGADO, NA EMPRESA, FACE À IMPLEMENTAÇÃO DO MEMORANDO DA TROIKA Lisboa, 2 de Junho de 2012 Daniel Proença de Carvalho

Índice 1. O Memorando 2. As alterações à lei laboral e os seus reflexos sociais e judiciais 3. Aumento do número de litígios e de insolvências 4. Conclusões

1. O Memorando

O Memorando O Memorando de Entendimento sobre a Política Económica celebrado entre o Governo Português, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional (o Memorando ) estabelece um conjunto de diretrizes que nortearão a conduta do Estado português durante o período de assistência financeira internacional. São destinatários do Memorando os órgãos legislativos e administrativos do Estado português. Em si mesmo, não é fonte de direito nem critério de interpretação do direito constituído.

O Memorando Objetivos: Consolidação orçamental (Redução da despesa > Aumento das receitas) Estabilização do sector financeiro Aumento da competitividade Crescimento económico Criação de emprego

Consolidação orçamental Despesa: Reorganização da Administração Pública; Congelamento de salários e limitação de acesso à Função Pública; Poupanças no setor da saúde e da educação; Redução e congelamento de pensões; Redução de custos no setor empresarial do Estado; Redução das despesas de investimento; Redução de transferências para as administrações local e regional; Corte do orçamento da ADSE. Ano Dívida Deficit PIB (g) Tx. juro (r) 2008 71.6-3.5 1 4.3 2009 83-10.1-2.9 3.5 2010 93-9.1 2.8 3.26 2011 103-5.9-1.6 3.25 2012 111-4.5 0 3.25 2013 115-3 2.4 3.25-4.25

Consolidação orçamental Receita: IRC e IRS: - Eliminação de taxas reduzidas e regimes especiais; - Redução de benefícios fiscais e deduções; - Tributação das prestações sociais. IVA: - Transferência de categorias de bens e serviços; - Manutenção das taxas actuais. Aumento e criação de impostos especiais sobre o consumo; Aumento das taxas moderadoras no SNS; Reforço do combate à fraude e à evasão fiscal; Revisão da lei das finanças regionais; Reavaliação do valor patrimonial tributável dos imóveis. Ano Dívida Deficit PIB (g) Tx. juro (r) 2008 71.6-3.5 1 4.3 2009 83-10.1-2.9 3.5 2010 93-9.1 2.8 3.26 2011 103-5.9-1.6 3.25 2012 111-4.5 0 3.25 2013 115-3 2.4 3.25-4.25

Sector financeiro Participação do Estado em operações de reforço da solidez bancária, em particular mediante subscrição de ações ou instrumentos de capital contingente e garantia de obrigações; Desalavancagem do sector bancário; Aumento do rácio de capital core Tier 1 : - Até 2011: 9%; - Até 2012: 10% Reenquadramento legal: Mecanismo de apoio 12.000 M - Reestruturação, saneamento e liquidação das instituições de crédito; - Reestruturação de dívidas de empresas e de particulares.

Contratação pública e PPP em especial Suspensão de novos acordos de PPP; Reavaliação dos contratos de PPP; Auditoria externa independente para revisão do value for money; Revisão dos parâmetros de atuação do Tribunal de Contas; Aumento de transparência e competitividade na adjudicação de contratos públicos; Redução das isenções que permitem o ajuste directo.

Sistema judicial Nova Lei da Arbitragem Fiscal; Estabelecimento de secções especializadas para julgamento de casos de maior dimensão nos Tribunais Administrativos e Fiscais; Eliminar os processos judiciais pendentes até ao 2.º T de 2013; Revisão do Código de Processo Civil: - Novos prazos para conclusão dos processos judiciais; - Redução da carga administrativa dos juízes; - Atribuição de novos poderes para despachar processos de forma mais célere.

Mercado imobiliário Garantia de equilíbrio de direitos e obrigações dos senhorios e arrendatários; Redução do pré-aviso para a cessação de contrato de arrendamento pelos senhorios; Procedimento de despejo extrajudicial por violação do contrato; Simplificação dos procedimentos administrativos necessários para a realização de obras de reabilitação.

O papel dos Advogados Antecipação dos principais problemas suscitados pela aplicação das medidas previstas no Memorando. Defesa dos interesses das empresas num contexto de mudança de paradigma da atividade pública. Intervenções legislativas obrigam à adaptação às novas realidades. Risco de insegurança jurídica.

Algumas medidas legislativas Nova Lei da Concorrência; Lei dos pagamentos em atraso; Alterações à lei laboral; Alterações ao CIRE.

Nova Lei da Concorrência A manutenção de concorrência efetiva no mercado é considerada um fator indispensável à competitividade e ao crescimento da economia. O Memorando eleva o reforço da aplicação das regras da concorrência à categoria de prioridade. People of the same trade seldom meet together, even for merriment and diversion, but the conversation ends in a conspiracy against the public or in some contrivance to raise prices. Adam Smith, The Wealth of Nations

Nova Lei da Concorrência Apreciação Global: Não introduz alterações substanciais, mas apenas processuais. Recorte das comportamentos proibidos aos operadores no mercado permanece inalterado: acordos, práticas concertadas e decisões de associações de empresas. Subida dos limiares de notificação de concentrações: Volume de negócios do conjunto das empresas participantes superior a 100 milhões e vol. de negócios de pelo menos duas empresas superior a 5 milhões; ou Quota de mercado superior a 50%; ou Quota de mercado superior a 30% e vol. de negócios de pelo menos duas empresas superior a 5 milhões.

Nova Lei da Concorrência Inovações processuais: Reforço dos poderes investigatórios da AdC: AdC pode realizar buscas no domicílio de administradores e colaboradores das empresas, a escritórios de advogados e estabelecimentos bancários. Flexibilização do processo, com introdução de mecanismos de justiça consensual.

Pagamentos em atraso Três regras de ouro: Administração pública não pode assumir compromissos que excedam os fundos disponíveis. A assunção de compromissos plurianuais, incluindo novos projetos de investimento, contratos de locação, acordos de cooperação técnica e financeira com os municípios e parcerias público-privadas, está sujeita a autorização prévia conjunta do Ministro das Finanças e do Ministro da Tutela. Os pagamentos só podem ser realizados quando os compromissos tiverem sido regularmente assumidos e após o fornecimento de bens e serviços.

2. As alterações à lei laboral

Objetivos 1. Combater desemprego de longa duração 2. Facilitar ajustamentos no mercado de trabalho 3. Flexibilização dos tempos de trabalho 4. Aumento dos dias de trabalho 5. Moderação salarial 6. Desburocratização

Principais alterações Redução do montante máximo do subsídio de desemprego e diminuição dos períodos de concessão do mesmo......mas atribuição de subsídio de desemprego a trabalhadores independentes. Redução das compensações por despedimento. Aumento do limite de renovações dos contratos a termo (regime transitório). Reconfiguração do despedimento por inadaptação e por extinção de posto de trabalho. Facilitação da criação de bancos de horas. Eliminação de feriados e alteração do regime das férias e das faltas ao trabalho.

Novas regras de subsídio de desemprego Alterações aprovadas pelo DL 64/2012, de 15 de março Redução do montante máximo do subsídio de desemprego de 1.257 para 1.048 (equivalente a 2,5, vezes o Indexante de Apoios Sociais que, em 2012, é de 419,22) Redução do prazo de contribuição para aceder ao subsídio de desemprego de 450 para 360 dias; Diminuição dos períodos de concessão para um máximo de 540 dias, com possibilidade de prorrogação em função da carreira contributiva. COMBATER O DESEMPREGO DE LONGA DURAÇÃO

Novas regras de subsídio de desemprego DL 65/2012, de 15 de março: Possibilidade de atribuição de subsídio atividade: por cessação de a trabalhadores independentes que, no mesmo ano civil, obtenham 80% ou mais do valor total dos seus rendimentos da mesma empresa ou de empresas que pertençam ao mesmo grupo; NOVIDADE LEGISLATIVA

Redução do montante das compensações i. Objetivo: ALINHAMENTO DAS COMPENSAÇÕES COM A MÉDIA EUROPEIA Governo pretende que o nível de compensações por cessação de contrato de trabalho seja entre 8 a 12 dias de remuneração base e diuturnidades por cada ano de antiguidade; Criação de um fundo de compensação do trabalho, financiado pelos empregadores, que suporte parte do pagamento das compensações.

Redução do montante das compensações ii. Contratos de trabalho a termo e sem termo celebrados após 01.11.2011 (Lei 53/2011): 20 dias de retribuição base mensal + diuturnidades n.º anos completos de antiguidade; eliminação do limite mínimo equivalente a três salários (para contratos sem termo); instituição de limites máximos (e.g. compensação nunca poderá ser superior a 240 salários mínimos, i.e. atualmente 116.400).

Redução do montante das compensações iii. Contratos de trabalho sem termo celebrados antes de 01.11.2011 (Proposta de Lei de alteração do Código do Trabalho): antiguidade até 31 de outubro de 2012-1 mês de remuneração base mensal + diuturnidades n.º anos completos de antiguidade; antiguidade a partir de 1 de novembro de 2012-20 dias de retribuição base mensal + diuturnidades n.º anos completos de antiguidade (assim que, após 1 de novembro de 2012, o montante da compensação devida atingir os 240 salários mínimos, i.e. 116.400, a antiguidade subsequente deixará de contar mais para estes efeitos).

Prazos dos contratos a termo Lei 3/2012: Regime de natureza transitória e excecional. Possibilidade de os contratos a termo certo se renovarem excecionalmente mais 2 vezes, até um máximo de 5 renovações; Duração máxima global das 2 renovações extraordinárias não pode ultrapassar 18meses. Impedir que duração máxima destes vínculos precários aumente o índice de desemprego

Despedimentos individuais (Proposta de Lei) Reconfiguração de todo o processo de despedimento por inadaptação; Previsão expressa de que, no despedimento por extinção do posto de trabalho, o empregador não está obrigado a seguir uma ordem preestabelecida de antiguidade e pode adotar outros critérios objetivos para a seleção dos trabalhadores a despedir; Despedimento por extinção do posto de trabalho passa a ser admissível mesmo que o empregador tenha outro posto de trabalho disponível que seja compatível com a categoria profissional do trabalhador.

Flexibilização dos tempos de trabalho (Proposta de Lei) Criação de banco de horas individual (só podia ser instituído por convenção coletiva) e banco de horas grupal (possibilidade de impor o banco de horas a trabalhadores que não o aceitaram, desde que estejam preenchidos determinados requisitos); Eliminação do descanso compensatório por trabalho suplementar prestado em dia útil, feriado ou de descanso complementar (correspondente a 25% das horas extra realizadas); Redução da remuneração devida por prestação de trabalho suplementar (ou de trabalho normal em dia feriado) para metade (25% pela primeira hora ou fração e 37,5% nas horas ou frações seguintes, em dia útil de trabalho; 50% por cada hora ou fração, em dia de descanso semanal obrigatório ou complementar ou em dia feriado).

Aumento dos dias de trabalho Feriados (Proposta de Lei) i. Eliminação, a partir de 2013, de quatro feriados (dois civis, dois religiosos): Corpo de Deus; 5 de outubro (implantação da República); 1 de novembro (dia de todos os Santos); 1 de dezembro (restauração da independência).

Aumento dos dias de trabalho Férias (Proposta de Lei) i. A partir de 1 de janeiro de 2013: Eliminação da majoração de até três dias de férias em função da assiduidade dos trabalhadores (em regra, trabalhadores voltarão a ter um máximo de 22 dias úteis de férias); Possibilidade do empregador encerrar a empresa ou o estabelecimento para férias em dias de ponte, desde que comunique a sua intenção aos trabalhadores até ao dia 15 de dezembro do ano anterior.

Aumento dos dias de trabalho Faltas (Proposta de Lei) Faltas injustificadas a um ou meio período normal de trabalho diário, imediatamente anterior ou posterior a dia ou meio dia de descanso ou a feriado: Constitui infração grave; e Determina perda de retribuição nos dias ou meios dias de descanso ou feriados imediatamente anteriores ou posteriores ao dia de falta. Combate às faltas cirúrgicas em dias de ponte.

Moderação salarial i. Governo comprometeu-se, durante a vigência do programa de assistência financeira, a não aumentar o salário mínimo (i.e. 485), salvo se a evolução económica o permitir e a troika der o seu acordo; ii. Contratos coletivos de trabalho não serão estendidos até serem definidos critérios claros de representatividade das organizações patronais e sindicais outorgantes, por forma a não aumentar o nível salarial das empresas não que não estejam abrangidas por esses contratos coletivos.

Desburocratização (Proposta de Lei) Eliminação da obrigatoriedade de comunicar à Autoridade para as Condições de Trabalho: i.informações constantes do art. 127.º, n.º 4 do Código do Trabalho; ii.mapa de horário de trabalho; iii.acordo de isenção de horário de trabalho; iv.regulamento interno (produção de efeitos após a publicação do seu conteúdo no local de trabalho).

3. Aumento do número de lítigios e de insolvências

A crise e a litigiosidade Os processos executivos para cobrança de dívidas representam 70,3% de todos os processos cíveis pendentes (Abril de 2011); Pendência de processos executivos (Abril de 2011): 1.204.138,00.

A crise e a litigiosidade Processos de falência / insolvência entrados a Dezembro de 2007-1.090; Processos de falência / insolvência entrados a Dezembro de 2011-4.685; Comparação dos períodos homólogos revela aumento de mais de 300%; Processos de falência / insolvência pendentes a Dezembro de 2007-2.262; Processos de falência / insolvência pendentes em Dezembro de 2011-3.610; Comparação dos períodos homólogos revela aumento de mais de 50%.

A crise e a litigiosidade Tentativa de explicação para aumento das falências / insolvências: Crise económica generalizada e restrições no acesso ao financiamento; Atrasos nos pagamentos, em particular do Estado; Desvalorização do imobiliário; Perceção de que a exoneração do passivo restante consiste numa forma das pessoas singulares se libertarem das suas dívidas e das ações executivas; Maior consciência das consequências civis e criminais associadas ao incumprimento do dever de apresentação à insolvência (responsabilidade dos administradores); Aproveitamento dos mecanismos de reestruturação previstos no CIRE e na demais legislação avulsa.

A crise e a litigiosidade Curiosidade: Diminuição dos processos de contencioso societário Aparentemente, a crise obriga os sócios a cerrar fileiras e a esquecer os seus conflitos internos?

Resposta às dificuldades do tecido económico Programa revitalizar (Resolução do Conselho de Ministros n.º 11/2012) Disponibilizar às empresas um enquadramento legal propício à revitalização de empresas viáveis, o que passa, designadamente, pela revisão do CIRE e pela consagração de um Processo Especial de Revitalização ( PER ); Promover a celeridade e a eficácia na articulação das empresas com o Estado, com vista ao desenho de soluções adequadas à revitalização empresarial, em particular no que respeita à Segurança Social e à Administração Tributária, tendo em vista uma atuação do Estado a uma só voz ;

Resposta às dificuldades do tecido económico Programa revitalizar (cont.) Reforçar os instrumentos financeiros disponíveis para a capitalização das empresas, com particular enfoque nas capitais de risco e nos fundos de revitalização de cariz regional; Agilizar a interação entre as empresas e os instrumentos financeiros do Estado; Fomentar processos de transação de empresas ou de ativos empresariais, promovendo a regeneração do tecido empresarial.

Alterações ao CIRE Aprovadas pela Lei n.º 16/2002, de 20 de Abril, que entrou em vigor em 20 de Maio Principais configurações: Criação do processo especial de revitalização; Encurtamento generalizado dos prazos processuais; Responsabilização acentuada do devedor e dos membros dos órgãos de administração (responsabilidade civil em caso de insolvência culposa); Clarificação dos efeitos da insolvência sobre as execuções em curso.

Alterações ao CIRE Processo especial de revitalização - Processo urgente através do qual, num momento anterior à insolvência, se procura permitir ao devedor em situação económica difícil ou de insolvência iminente chegar a um acordo com os seus credores que lhe permita continuar a sua atividade. Negociação entre os credores e o devedor. Aprovação de um plano de recuperação, homologado pelo juiz e oponível a todos os credores.

Processo Especial de Revitalização Objetivos: Permite a reestruturação de dívida (perdões, moratórias, etc.) e outras medidas de reestruturação societária; Tem como pressuposto a não existência de uma situação atual de insolvência; Tramitação conducente à negociação entre os credores; ou Tramitação que pressupõe a existência de um acordo entre credores.

Processo Especial de Revitalização Início do processo: processo inicia-se com a manifestação de vontade do devedor e de, pelo menos, um dos seus credores, de encetarem negociações conducentes à revitalização da empresa do devedor, por meio de aprovação de um plano de recuperação; declaração deve ser entregue ao Tribunal competente, manifestando o devedor a sua vontade em iniciar negociações conducentes à sua recuperação, devendo o Tribunal nomear, de imediato, o administrador judicial provisório;

Processo Especial de Revitalização Administrador judicial provisório e início de processo negocial: poderes do administrador provisório são definidos pelo Tribunal, podendo variar consoante os casos; atos de especial relevo dependem sempre de autorização; depois de ser notificado do despacho de nomeação do administrador provisório, devedor informa todos os credores que deu início a negociações com vista à sua revitalização, convidandoos a participar nas negociações em curso;

Processo Especial de Revitalização Tramitação: prazo de 20 dias, a contar da publicação no Citius do despacho de nomeação do administrador provisório, para reclamar créditos junto deste último; administrador provisório deve elaborar uma lista provisória de créditos em 5 dias; lista provisória é publicada no portal Citius e pode ser impugnada no prazo de cinco dias úteis; Caso existam impugnações, o Tribunal decide-as; não sendo impugnada a lista converte-se de imediato em lista definitiva;

Processo Especial de Revitalização Negociações: as negociações seguem as regras definidas entre as partes ou, na falta de acordo, pelas regras definidas pelo administrador provisório; devedor ou os seus administradores são solidária e civilmente responsáveis pelos prejuízos causados aos credores em virtude da falta ou incorreção das comunicações ou informações a estas prestadas;

Processo Especial de Revitalização Standstill: prolação do despacho que nomeia o administrador provisório, obsta à instauração de quaisquer ações para cobrança de dívidas contra o devedor e, durante todo o tempo em que perdurarem as negociações, suspende as ações em curso com idêntica finalidade; processos de insolvência em que anteriormente haja sido requerida a insolvência do devedor suspendem-se na data da publicação no portal Citius do despacho de nomeação do administrador provisório, desde que ainda não exista sentença;

Processo Especial de Revitalização Resultados: concluindo-se as negociações com a aprovação unânime do plano, em que intervenham todos os credores, o mesmo é remetido ao Tribunal para homologação; concluindo-se as negociações sem aprovação unânime do plano, o plano só poderá ser válido se for aprovado pelos quóruns exigidos para a aprovação do plano de insolvência (quórum constitutivo: 1/3 dos créditos; quórum deliberativo: mais de 2/3 da totalidade dos votos emitidos e mais de metade dos votos emitidos correspondentes a créditos não subordinados);

Processo Especial de Revitalização Homologação: Tribunal deverá recusar a aprovação do plano nos casos previstos na lei (por ex., em caso de ilegalidade grave ou a pedido de qualquer interessado que demonstre que a aprovação do plano o deixa numa situação menos favorável do que aquela em que estaria na ausência de qualquer plano); homologação judicial vincula todos os credores, mesmo que não hajam participado nas negociações.

Processo Especial de Revitalização Frustração das negociações: concluindo-se as negociações sem que estas conduzam à aprovação de qualquer plano, o processo é encerrado; Se o devedor não estiver insolvente, o encerramento do processo conduz à extinção de todos os seus efeitos; ou seja, o devedor volta à atividade normal; Se o devedor se encontrar insolvente, o encerramento do processo acarreta a insolvência do devedor, a qual deve ser declarada pelo Tribunal; Os custos do processo correm, em regra, pelo devedor.

Processo Especial de Revitalização Alternativa negociação extrajudicial: processo de revitalização pode iniciar-se, em alternativa, pela apresentação pelo devedor de acordo extrajudicial de recuperação, assinado pelo devedor e por credores que representem pelo menos as maiorias já mencionadas; neste caso, o Tribunal nomeia o administrador provisório, aplicando-se mutatis mutandis o procedimento já exposto; Tribunal tem sempre que analisar a legalidade do plano, antes de homologá-lo;

Processo Especial de Revitalização Financiamento da atividade do devedor: garantias convencionadas entre o devedor e os seus credores durante o processo, com a finalidade de proporcionar àquele os necessários meios financeiros para o desenvolvimento da sua atividade, mantêm-se mesmo que, findo o processo, venha a ser declarada, no prazo de 2 anos, a insolvência do devedor; os negócios realizados celebrados a coberto do plano são insuscetíveis de serem resolvidos em favor da massa insolvente em caso de eventual insolvência; credores que, no decurso do processo, financiem a atividade do devedor disponibilizando-lhe capital para sua revitalização gozam de privilégio creditório mobiliário geral.

Alterações ao CIRE Conclusões: PER é um meio alternativo útil, ágil e expedito; Poderá ser uma alternativa sólida ao plano de insolvência; Terá relevância para os casos em que o devedor tem uma dívida relativamente consolidada e em que exista um credorchave e com muito peso, com vontade e capacidade para financiar a atividade da empresa (por exemplo, uma instituição financeira ou um fornecedor).

4. Conclusões

Conclusões Memorando da troika implica alterações significativas no panorama legislativo e regulamentar nacional, bem como na forma como o Estado se relaciona com as empresas. O papel do Advogado de empresa nem por isso se altera e é até reforçado: procurar uma composição equilibrada dos interesses em presença; assegurar a defesa dos interesses das empresas.