EFEITO DO TEMPO DE SINTERIZAÇÃO NA DENSIFICAÇÃO E NA CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DA CÉRIA-GADOLÍNIA

Documentos relacionados
Relação do Tempo de Sinterização na Densificação e Condutividade Elétrica em Células a Combustível

EFEITO DA SINTERIZAÇÃO NO CRESCIMENTO DE GRÃOS E NA CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DA CÉRIA-SAMÁRIA

ESTUDO DE SINTERIZAÇÃO EM CÉRIA-GADOLÍNIA

Resumo. Abstract ) 0,8. de acordo com o método de síntese. [Table I - Results on densifi cation of (CeO 2 ) 0,2. (SmO 1,5. (SmO 1.5 ) 0.

EFEITO DE ADIÇÕES DE LÍTIO E CÁLCIO NA DENSIFICAÇÃO E NA CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DA CÉRIA-10% MOL GADOLÍNIA PREPARADA PELA TÉCNICA DE CO-PRECIPITAÇÃO

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DA CÉRIA-GADOLÍNIA COM ADIÇÃO DE CÁLCIO

RESUMO. Palavras Chaves: células a combustível, eletrólitos sólidos, céria-zircônia-itria.

RELAÇÃO DO TEMPO DE SINTERIZAÇÃO NA DENSIFICAÇÃO E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA EM CÉLULAS À COMBUSTÍVEL. Prof. Dr. Ariston da Silva Melo Júnior

Proceedings of the 48 th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 28 de junho a 1º de julho de 2004 Curitiba-PR

INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE Ca NA MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES ELÉTRICAS DO SrTiO3

EFEITO DA ADIÇÃO DE SILICATO DE LÍTIO NA DENSIFICAÇÃO DA ZIRCÔNIA- ÍTRIA

Preparação e caracterização de cerâmica a base de cerato de bário para aplicação como eletrólito em células a combustível de óxido sólido

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS LSM-YSZ PARA APLICAÇÃO COMO CATODO EM CÉLULAS A COMBUSTÍVEL TIPO SOFC

SÍNTESE POR COPRECIPITAÇÃO E SINTERIZAÇÃO EM MICRO-ONDAS DE CERÂMICAS DE CÉRIA DOPADA COM SAMÁRIA E GADOLÍNIA

PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE CERÂMICAS POROSAS DE ZIRCÔNIA-ÍTRIA COM ADIÇÃO DE IODETO DE POTÁSSIO

Eletrólitos de céria dopada com Gd 2 O 3 para pilhas a combustível de óxido sólido. Gd 2 O 3 doped ceria electrolytes for solid oxide fuel cells

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E ELÉTRICA DE UMA CÉLULA A COMBUSTÍVEL DO TIPO SOFC *

CORRELAÇÃO ENTRE TENACIDADE À FRATURA E CONDUTIVIDADE IÔNICA DE ELETRÓLITOS SÓLIDOS À BASE DE ZIRCÔNIA E ALUMINA

SINTERIZAÇÃO EM MICRO-ONDAS DE CERÂMICAS DE ZIRCÔNIA ESTABILIZADA COM ÍTRIA SINTETIZADAS POR COPRECIPITAÇÃO

CRESCIMENTO DE GRÃOS E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DA CÉRIA-SAMÁRIA USANDO O MÉTODO DE SINTERIZAÇÃO EM DUAS ETAPAS

-10 mol% Gd 2. Condutividade elétrica de CeO 2. (0 x 2) - x mol% Sm 2. (0 x 2)) (Electrical conductivity of CeO 2

SINTERIZAÇÃO DE CERÂMICAS À BASE DE ALUMINA, ZIRCÔNIA E TITÂNIA

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO ÓXIDO DE CÉRIO PREPARADO POR DIVERSOS MÉTODOS

EFEITO DA TEMPERATURA E DO TEMPO DE SINTERIZAÇÃO NA COMPOSIÇÃO DE FASES E NA CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DA ZIRCÔNIA-ESCÂNDIA-CÉRIA

Cerâmica 53 (2007) 89-98

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

Autarquia associada à Universidade de São Paulo

COMPÓSITOS LSM-YSZ: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICA

PREPARAÇÃO DE PÓS NANOMÉTRICOS DE CeO 2 :Gd 2 O 3 POR COMBUSTÃO DE RESINA POLIMÉRICA

Sinterização, microestrutura e condutividade elétrica da céria-gadolínia com adições de SrO, TiO 2 e SrTiO 3

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO A PRESSÃO REDUZIDA NAS PROPRIEDADES ELÉTRICAS DO SISTEMA SnO 2 -TiO 2 -Co 2 O 3 -Ta 2 O 5 -Cr 2 O 3

XX SNPTEE SEMINÁRIO NACIONAL DE PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE Nd 1-X Sr X MnO 3±δ COMO MATERIAL CATÓDICO EM CÉLULAS A COMBUSTÍVEL DO TIPO ITSOFC.

INFLUÊNCIA DAS ETAPAS DE CALCINAÇÃO E MOAGEM NA MICROESTRUTURA E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DO LSGM OBTIDO PELO MÉTODO DE SINTERIZAÇÃO RÁPIDA

Microestrutura e condutividade elétrica do eletrólito sólido de céria-20% mol gadolínia com adições de SrO, TiO 2

EFEITO DA ADIÇÃO DE MoO3 NAS PROPRIEDADES FÍSICAS DA ZIRCÔNIA CÚBICA ESTABILIZADA COM ÓXIDO DE ÍNDIO (InO1,5)

DENSIFICAÇÃO E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DA ZIRCÔNIA-ESCÂNDIA-CÉRIA

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DE SINTERIZAÇÃO SEM PRESSÃO ASSISTIDA POR CAMPO ELÉTRICO DE ZIRCÔNIA TETRAGONAL ESTABILIZADA COM ÍTRIA

Análise Microestrutural e de Fases de um Carbeto Cementado Dopado com Terras-Raras Sinterizado por Fase Líquida

Propriedades elétricas e microestrutura de Céria dopada com Gd+3 e Y+3 para aplicação como eletrólitos em pilhas a combustível

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DA ZICÔNIA DOAPADA COM ÓXIDOS MISTOS DE TERRAS RARAS PARA APLICAÇÃO COMO ELETRÓLITO SÓLIDO

OBTENÇÃO DE FGM Ni-ZrO 2 POR SPRAY DE SUSPENSÕES E CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL

Sinterabilidade e condução iônica de eletrólitos sólidos de composição ZrO 2 : 3Mol% Y 2 O 3 : 5,4 WT% Re 2 O 3

Venâncio, S.A. (1) ; Rabelo, S.S. (1) ; Paes Jr., H.R. (1) Av. Alberto Lamego, 2000 Horto Campos dos Goytacazes/RJ CEP

PROPRIEDADES MECÂNICAS DO COMPÓSITO ALUMINA-ZIRCÔNIA

Efeitos da adição do NiO na densificação, na microestrutura e na condutividade elétrica da zircônia totalmente estabilizada com ítria

on the electrical properties of SnO 2

Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares

CINÉTICA DE EVAPORAÇÃO DO ÓXIDO DE ZINCO. N. Duarte 1, W.B. Ferraz 2, A.C.S.Sabioni 3. Universidade Federal de Ouro Preto Ouro Preto, Brasil

INTERCONECTORES PARA APLICAÇÕES EM SOFC

ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS MICROESTRUTURAIS E ELÉTRICAS DE UM VARISTOR À BASE DE ZnO DOPADO COM ÓXIDOS DE TERRAS-RARAS

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA DILATAÇÃO-RETRAÇÃO E DENSIFICAÇÃO DA MULITA EM FUNÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DO ÓXIDO DE FERRO

EFEITO DA DENSIDADE A VERDE NA SINTERIZAÇÃO DE SiC a E b

COMPÓSITOS DE NiO/YSZ COMO ANODOS PARA PILHAS A COMBUSTÍVEL. R.F.Martins, R.Z.Domingues, M.C.Brant, T. Matencio.

COMPÓSITO 9YSZ-Al 2 O 3 : CORRELAÇÃO ENTRE SÍNTESE, PROCESSAMENTO E MICROESTRUTURA

Coalescência na Sinterização do SnO 2 Nanoparticulado

Preparação, sinterização e espectroscopia de impedância da zircônia parcialmente estabilizada com cálcia

INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES DE SINTERIZAÇÃO SOBRE A CINÉTICA DE CRESCIMENTO DE GRÃO E O GRAU DE DENSIFICAÇÃO EM CERÂMICAS VARISTORAS

E. N. S. Muccillo 1, T. C. Porfírio 1, S. K. Tadokoro 1, J. F. Q. Rey 1,2, R. A. Rocha, M. C. Steil 3, R. Muccillo 1 1

- - Artigo submetido em junho/2011 e aceito em agosto/2011

AVALIAÇÃO DA DUREZA E TENACIDADE À FRATURA DE CERÂMICAS DO SISTEMA ZRO 2 -Y 2 O 3 -TIO 2 PREPARADAS POR CO-PRECIPITAÇÃO

Efeitos da dopagem com gadolínia na densificação e nas propriedades elétricas de soluções sólidas Ce 0,99-x. Cu 0.01

OBTENÇÃO DE COMPÓSITOS DE NiO 9YSZ POR MISTURA DE PÓS

Z.S. Macedo 1 A.C.Hernandes 2 C. P.: 353; São Cristovão, SE.

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DAS INCLUSÕES DE 3Y-ZrO 2 EM COMPÓSITOS CERÂMICOS DE ALUMINA-ZIRCÔNIA PARA APLICAÇÃO COMO FERRAMENTA CERÂMICA

PROCESSAMENTO POR PLASMA DE AMOSTRAS DE AÇO IF UTILIZANDO DIFERENTES MONTAGENS DE ELETRODOS. em Ciências e Eng. de Materiais;

Jeferson Matos Hrenechen. Síntese, caracterização e propriedades elétricas de eletrólito sólido a base de cerato de bário dopado com gadolínio.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS

INFLUÊNCIA DO CAMINHO DE AQUECIMENTO NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UM AÇO 1020 TEMPERADO A PARTIR DE TEMPERATURAS INTERCRÍTICAS

MATERIAIS DE CONSTRUÇÂO MECÂNICA II M 307 TRABALHO PRÁTICO N.º 2. Estudo do processamento e evolução microestrutural de um vidro cerâmico

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE PÓS DE CÉRIA-SAMÁRIA

O EFEITO DA ADIÇÃO DE FORMADORES DE POROS NA MICROESTRUTURA DO COMPÓSITO CERÂMICO NiO-YSZ.

INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES Autarquia associada à Universidade de São Paulo

Parâmetros de rede em condutores de íons oxigênio com estrutura fluorita: estudo da solução sólida céria-ítria

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

EVOLUÇÃO DA SINTERIZAÇÃO DA LIGA Fe-7Ni MOLDADA POR INJEÇÃO

LICURGO BORGES WINCK

Reginaldo Ferreira. Síntese e caracterização de cerâmicas à base de céria duplamente dopada

INFLUÊNCIA DO LANTÂNIO NAS PROPRIEDADES ELÉTRICAS DO TITANATO DE BÁRIO OBTIDO POR SÍNTESE HIDROTÉRMICA

EFEITO DA ADIÇÃO DE ÓXIDO DE COBALTO NA SINTERIZAÇÃO E NA CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DA ZIRCÔNIA ESTABILIZADA COM ÍTRIA

SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E PROCESSAMENTO POR PRENSAGEM UNIAXIAL A FRIO DE ÂNODO NiO/ReYSZ UTILIZADO EM CÉLULAS COMBUSTÍVEIS DE ÓXIDO SÓLIDO

Engenharia e Ciência dos Materiais II. Prof. Vera Lúcia Arantes

DESENVOLVIMENTO DE MATERIAIS A BASE DE ALUMINA PARA USO EM BLINDAGEM

CONDUTIVIDADE TÉRMICA DE ALUMINA POROSA PRODUZIDA ATRAVÉS DO GELCASTING DE ESPUMAS. São Carlos, SP. Manchester, M1 7HS, United Kingdom

ESTUDO EXPLORATÓRIO DO EFEITO DA PRESSÃO DE COMPACTAÇÃO NA DENSIFICAÇÃO DE CAVACOS DE UM AÇO CARBONO

PROPRIEDADES TERMOMECÂNICAS DA CERÂMICA MULITA DOPADA COM ÓXIDO DE LANTÂNIO OU ÓXIDO DE CÉRIO

Processamento de Cerâmicas II Sinterização Processos especiais

EFEITO DA MOAGEM DE ALTA ENERGIA E DA PRESSÃO DE COMPACTAÇÃO NA DENSIFICAÇÃO DE UM PÓ COMPÓSITO Nb-20%Cu

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CaO e CeO2 NAS PROPRIEDADES MECÃNICAS DA ZIRCONIA PARCIALMENTE ESTABILIZADA COM MAGNÉSIA (Mg-PSZ)

OTIMIZAÇÃO DE CUSTOS DE PRODUÇÃO DE FERRAMENTAS UTILIZANDO SINTERIZAÇÃO NORMAL

Sinterização ultrarrápida por micro-ondas do compósito mulita-cordierita. (Microwave fast sintering of mullite-cordierite composite)

CRISTIANE GUSSO. Preparação, caracterização e propriedades elétricas do eletrólito sólido BaCe 0,8 Y 0,2 O 2,9

SÍNTESE DE ELETRÓLITO A BASE DE Ce 0,88 Ca 0,12 O 1,96 PARA PILHAS A COMBUSTÍVEL COM USO DE ADITIVO DE SINTERIZAÇÃO 1

Caracterização de microestruturas de cerâmicas a base de zirconia sinterizadas em diferentes temperaturas utilizando software livre imagej

INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE SINTERIZAÇÃO NA MICROESTRUTURA DE FERRITAS SINTERIZADAS VIA FASE LÍQUIDA. SP,

INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO DE COMBUSTÍVEL NA OBTENÇÃO DO LaCrO 3 PELA ROTA DE SÍNTESE POR COMBUSTÃO

Análise Da Difusão Dos Óxidos De Cobre I e II Em Ferrita De CuFe 2 O 4 Analysis of Copper Oxides I and II Diffusion in CuFe 2 O 4 Ferrite

RELAÇÃO MICROESTRUTURA- PROPRIEDADES ELÉTRICAS DE COMPÓSITOS CERÂMICOS À BASE DE ZIRCÔNIA

EFEITO DA PRÉ-FORMAÇÃO DE FASE NA DENSIFICAÇÃO E MICROESTRUTURA DO TITANATO DE ALUMÍNIO

Transcrição:

EFEITO DO TEMPO DE SINTERIZAÇÃO NA DENSIFICAÇÃO E NA CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DA CÉRIA-GADOLÍNIA A. S. Melo Jr., E. N. S. Muccillo Centro de Ciência e Tecnologia de Materiais CCTM Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares R. do Matão, Trav. R, 400, Cidade Universitária, S. Paulo, 05508-000, SP enavarro@usp.br RESUMO A solução sólida céria-gadolínia tem sido extensivamente estudada para fins de aplicação em células a combustível de óxido sólido que operam a temperaturas intermediárias. Neste trabalho, foram utilizados pós nanocristalinos de céria contendo 10% mol de gadolínia. O principal objetivo foi verificar o efeito do tempo de sinterização nas características microestruturais e elétricas dos eletrólitos sólidos. Amostras cilíndricas foram elaboradas por compactação seguida de sinterização a 1200ºC por diferentes tempos de patamar. A retração linear foi obtida por medidas de dilatometria e os principais aspectos da microestrutura por microscopia eletrônica de varredura. Medidas de condutividade elétrica foram realizadas em amostras selecionadas. O tamanho médio de grãos para todas as amostras ficou na faixa sub-micrométrica. A condutividade dos contornos de grãos depende do tempo de sinterização, mas não da taxa de aquecimento, enquanto que a condutividade dos grãos não apresentou diferenças significativas. Palavras-chave: céria, sinterização, tamanho de grão, condutividade elétrica 1951

INTRODUÇÃO Um eletrólito sólido é, por definição, um isolante eletrônico e um condutor puramente iônico numa dada faixa de temperatura e de pressão parcial dos componentes (1,2). Apesar de diversos materiais conhecidos preencherem este requisito, poucos são os que apresentam altos valores de condutividade iônica numa temperatura suficientemente alta para aplicação em dispositivos eletroquímicos (1-5). Outro requisito importante para dispositivos eletroquímicos é a densificação que deve ser suficiente para operação em condições agressivas por tempos relativamente longos (6). Nos últimos 30 anos a céria contendo adições de terras raras tem sido extensivamente estudada para estas aplicações devido sua comparativamente alta condutividade para o íon oxigênio, em especial aquelas contendo ítrio, gadolínio e samário (6). A céria dopada com gadolínia (GDC) tem tido um papel de destaque em pesquisas de eletrólito sólido para aplicação em células a combustível de óxido sólido (SOFC), além de aplicações em sensores de oxigênio e separação de oxigênio (7). Deve-se ressaltar que a condutividade iônica da céria pura é insignificante comparada com a dos materiais contendo adições de terras raras. Daí a necessidade da dopagem para o aumento da condutividade elétrica do material cerâmico (7-9). A grande relevância da GDC vem pelo fato de ser um material alternativo para substituir a zircônia estabilizada com ítria em células à combustível de óxido sólido, uma vez que ela mantém a mesma condutividade iônica em temperaturas inferiores (10). 1952

Neste trabalho foi avaliada a influência do tempo de sinterização e da taxa de aquecimento no processo de densificação do material cerâmico e quanto à condutividade elétrica. EXPERIMENTAL O material utilizado foi a céria contendo 10% em mol de gadolínia comercial (CeO 2 : 10% mol Gd 2 O 3, GDC-10TC, Fuel Cell Materials), com área de superfície específica de 7,4 m 2.g -1. Amostras cilíndricas foram preparadas por compactação uniaxial seguida de isostática a frio. A sinterização dos corpos-de-prova foi feita ao ar utilizando taxas de aquecimento iguais a 2, 5 e 10ºC/min., com temperatura de patamar igual a 1200ºC por tempos diversos. Será denominada 0 h quando a amostra for somente aquecida até a temperatura de patamar e imediatamente resfriada. A retração linear foi avaliada por dilatometria (Setaram, Labsys) desde a temperatura ambiente até 1380ºC, com taxa de aquecimento igual a 10ºC/min, em atmosfera estática de ar sintético. As amostras sinterizadas foram caracterizadas quanto à densidade hidrostática (ρ h ) utilizando o princípio de Arquimedes. Algumas amostras foram polidas e atacadas termicamente para observação de alguns aspectos da microestrutura em microscópio eletrônico de varredura (Philips, XL30). O tamanho médio de grãos foi calculado pelo método do intercepto. A caracterização elétrica foi feita por meio de medidas da condutividade elétrica pela técnica de espectroscopia de impedância. Foi utilizada prata como material de eletrodo. As medidas foram feitas num analisador de impedância (HP 4192A) entre 5 Hz e 13 MHz, na faixa de temperatura compreendida entre 200 e 310ºC. 1953

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos em função da taxa de aquecimento são semelhantes, não exibindo nenhuma diferença significativa. Por isso, serão relatados apenas os resultados obtidos para a taxa de aquecimento igual a 2ºC/min. A figura 1 mostra a curva de retração linear da céria-gadolínia (GDC-10TC). Observa-se na curva de retração linear do material que a temperatura inicial de retração é de aproximadamente 750 o C. Figura 1: Curva de retração linear (azul) e derivada (vermelho) para GDC-10TC. A temperatura de retração máxima, obtida pelo ponto de mínimo na curva derivada (em vermelho), é 820ºC. A retração total até 1380ºC foi de 20% A tabela 1 lista os valores determinados da densidade hidrostática da GDC- 10TC para sinterização feitas a 1200ºC, por diferentes tempos de patamar. Os valores da densidade hidrostática para a temperatura de sinterização de 1200 o C foram bastante elevados, independentemente do tempo de sinterização. 1954

Considerando que a densidade teórica desta composição é igual a 7,25 g.cm -3 (11), os valores obtidos estão entre 95 e 99%. Tabela 1: Valores da densidade hidrostática (ρ h ) do material GDC 10 TC para a temperatura de 1200 o C e diversos tempos de patamar. Tempo de Patamar (h) ρ h (g.cm -3 ) 0 7,044 0,5 7,111 1 7,165 2 7,200 Após a determinação das densidades da GDC-10TC mediu-se o grau de retração dos corpos de prova em relação ao diâmetro inicial (10 mm) do material à verde, após o processo de sinterização para os diferentes tempos de patamar (TP). A figura 2 mostra o gráfico da retração da GDC-10TC variando os tempos de patamar. Na figura 2 observou-se que a retração diametral do material cerâmico é aproximadamente linear com TP, e a retração total foi de 21,5% em relação ao material verde. 1955

21,5 21,0 % retração 20,5 20,0 19,5 19,0 18,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 Tempo de Patamar (h) Figura 2: Evolução da retração das amostras em função do tempo de patamar (TP) adotado. A figura 3 apresenta a relação do TP do processo de sinterização com o tamanho médio de grãos obtido pelo método do intercepto. Pode-se notar que o tempo de patamar contribui para o aumento da densificação da GDC-10TC. A linha construída na figura 3 mostra uma tendência linear do tamanho de grão com o tempo de patamar no processo de sinterização a 1200ºC. 1956

0,85 Tamanho médio de grão (µm) 0,80 0,75 0,70 0,65 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 Tempo de patamar (h) Figura 3: Influência do Tempo de Patamar (TP) no tamanho médio de grão para a temperatura de sinterização de 1200ºC. Com relação ainda ao tamanho de grão, sua variação com a densidade das amostras é mostrada na figura 4. 0,85 Tamanho de grão (µm) 0,80 0,75 0,70 0,65 7,05 7,08 7,11 7,14 7,17 7,20 Densidade (g.cm -3 ) Figura 4: Variação do tamanho de grão com a densidade após sinterização. 1957

Com base na figura 4, ao comparar-se os extremos do TP (0 e 2 h) percebese que há uma relação aproximadamente linear entre o tamanho de grão e a densidade obtida após a sinterização mostrando que até 2 h de sinterização nesta temperatura ocorre a densificação do material. A figura 5 mostra as micrografias da GDC-10TC sinterizada (0 e 2 h). (a) (b) Figura 5: Micrografias obtidas em microscópio eletrônico de varredura da GDC- 10TC para a temperatura de sinterização de 1200ºC e tempos de patamar (TP): 0 h (a) e 2 h (b). O tamanho médio de grãos destas amostras é 0,64 e 0,83 µm para os tempos de patamar iguais a 0 e 2 h, respectivamente. Observa-se nas figuras 5a e 5b um crescimento médio de grão de 29%. Esse crescimento no tamanho de grão é esperado para materiais sinterizados por reações de estado sólido (12). O aumento do tamanho de grão possibilita uma melhor condutividade elétrica do material, pois diminui o bloqueio aos portadores de carga nos contornos de grão. Desse modo, nas figuras 6 e 7 são mostrados os gráficos de Arrhenius da condutividade elétrica intragranular (figura 6) e intergranular (figura 7) das amostras estudadas. 1958

Figura 6: Gráficos de Arrhenius da condutividade elétrica dos grãos para diferentes Tempos de Patamar (TP), na temperatura de 1200ºC. Na figura 6 fica nítido que não há variação da condutividade dos grãos com a mudança no tempo de patamar (TP) no processo de sinterização. Esse resultado é esperado uma vez que na ausência de variações composicionais, a condutividade intragranular permanece constante (13). A figura 7 permite verificar que a condutividade dos contornos de grão aumenta com o tempo de patamar (TP), principalmente entre 0 e 1 h. Para tempos superiores a variação na condutividade elétrica é desprezível. 1959

Figura 7: Gráficos de Arrhenius da condutividade dos contornos de grão do compacto cerâmico para diferentes Tempos de Patamar (TP), na temperatura 1200 o C. Os valores calculados para a energia de ativação do processo de condução são de 0,76 ± 0,2 ev e 0,90 ± 0,2 ev, respectivamente, para os grãos e contornos de grão. CONCLUSÕES A céria contendo 10% mol de gadolínia comercial apresenta boa densificação em temperaturas de 1200ºC, atingindo 99% da densidade teórica após 2 h de patamar. A retração dos compactos a verde mostra um único ponto de inflexão na curva derivada comprovando um único mecanismo de densificação. A microestrutura dos compactos sinterizados por diferentes tempos a 1200 ºC consiste de grãos sub-micrométricos e homogêneos, isto é, uma distribuição estreita de tamanhos. A condutividade elétrica dos grãos não se altera com o tempo de patamar, enquanto que o bloqueio aos portadores de carga nos contornos de grão diminui com o prolongar da sinterização, por causa do crescimento dos grãos. 1960

AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq, FAPESP e ao IPEN. REFERÊNCIAS 1. O. Yamamoto, Electrochem. Acta, v. 45, p. 2423-2435, 2000. 2. K. Joon, J. Power Sources, v. 71, p. 12-18, 1998. 3. J. B. Goodenough, Ann. Rev. Mater. Res., v. 33, p. 91-128, 2003. 4. M.M Frans Snijkers; A. Buekenhoudt; J. Cooymans; Jan J. Luyten, Scrita Mater., v. 50, p. 655-659, 2004. 5. W. Huang; P. Shuk; M. Greenblatt, Solid State Ionics, v. 100, p. 23-27, 1997. 6. C. Gusso. Preparação, caracterização e propriedades elétricas do eletrólito sólido BaCe 0,8 Y 0,2 O 2,9. Dissertação (mestrado) Universidade Federal do Paraná, Paraná. 105 p. 2008. 7. B. C. H. Steele; A. Heinzel, Nature, v. 414, nov. 2001. 8. M. Mogensen; N. M. Sammes; G. A. Tompsett, Solid State Ionics, v. 129, pp. 63-94, 2000. 9. M. J. Readey, R. R. Lee, J. W. Halloran, A. H. Heuer, J. Am. Ceram. Soc., 23, 1990. 10. S. D. Nóbrega; L. R. P. de Andrade Lima. Preparação e caracterização de materiais cerâmicos para uso em pilha a combustível. 51 o Congresso Brasileiro de Cerâmica, junho de 2007. Salvador Bahia. 11. R. A. Rocha, E. N. S. Muccillo, Cerâmica, v. 47, p. 219-224, 2001. 12. Y. V. França; R. Muccillo; E. N. S. Muccillo. Estudo de sinterização em cériagadolínia. 51 o Congresso Brasileiro de Cerâmica, junho de 2007. Salvador Bahia. 1961

EFFECT OF TIME OF SINTERING ON DENSIFICATION AND ELECTRICAL CONDUCTIVITY OF CERIA-GADOLINIA ABSTRACT The solid solution of ceria-gadolinia has been extensively investigated for application in fuel cells solid oxide operating at intermediate temperatures. In this study, we used nanocrystalline ceria containing 10 mol% gadolinia. The main objective was to assess the effect of sintering time on microstructural and electrical characteristics of solid electrolytes. Cylindrical samples were prepared by compaction followed by sintering at 1200 º C for different holding times. The linear shrinkage was obtained by dilatometric measurements and the main aspects of the microstructure by scanning electron microscopy. Measurements of electrical conductivity were performed on selected samples. The average grain size for all samples was in the sub-micrometer range. The conductivity of grain boundaries depends on the sintering time, but not the heating rate, while the conductivity of the grains did not show significant differences. Key-words: ceria, sintering, grain size, electrical conductivity. 1962