SILVA PC; Análise FILHO da DF; variabilidade MACHADO genética FM; NODA em H. populações 2008. Análise cultivadas variabilidade de pimenta genética murupi em (Capsicum populações chinense, cultivadas Solanaceae) de pimenta murupi (Capsicum chinense, Solanaceae) de diferentes de diferentes regiões regiões do estado estado Amazonas. do Amazonas Horticultura Brasileira 26: S1440-S1444. ANÁLISE DA VARIABILIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES CULTIVADAS DE PIMENTA MURUPI (CAPSICUM CHINENSE, SOLANACEAE) DE DIFERENTES REGIÕES DO ESTADO DO AMAZONAS Pedro Chaves da Silva 1,2 ; Danilo Fernandes da Silva Filho 1 ; Francisco Manoares Machado 1 ; Hiroshi Noda 1 1 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia INPA, Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas- CPCA, CP. 478, 69011-970, Manaus, AM; 2 UFAM; pedrochaves.am@gmail.com RESUMO A pimenta murupi (Capsicum chinense) é um importante recurso genético nativo da Amazônia. Para caracterizar e avaliar treze populações (POPs) originárias de diferentes localidades do estado do Amazonas um experimento foi conduzido na Estação Experimental de Hortaliças do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus. Adotou-se o delineamento experimental de blocos casualizados com treze tratamentos (POPs) com quatro repetições. De cinco plantas por parcela foram avaliadas as seguintes características qualitativas e quantitativas: Tempo de germinação das sementes, cor do caule, diâmetro do caule, altura da planta, largura da copa, cor das folhas, tempo de florescimento, frutificação, maturação dos frutos, forma dos frutos, coloração do fruto maduro, número médio de frutos/planta, diâmetro transversal do fruto, comprimento dos frutos, peso médio dos frutos, teor de pungência, espessura da polpa, e peso estimado de frutos/planta. A germinação das sementes, floração e frutificação das plantas ocorreram entre sete e 121 dias, após o transplantio. Destacou-se como mais produtiva a população originária de Autazes com 485 frutos e 1.417 g/planta. A análise de agrupamento pelo método hierárquico do Vizinho mais Próximo empregando as Distâncias Generalizadas de Mahalanobis (D 2 ) agrupou as 13 populações em quatro grupos distintos. Como populações mais e menos divergentes foram reconhecidas as procedentes de Urucurituba e Autazes, e de Rio Preto da Eva e Careiro da Várzea, respectivamente. A base genética encontrada nessas POPs permitirá utilizá-las como potenciais genitores para formação de genótipos promissores em programas de melhoramento dessa espécie para o estado do Amazonas. PALAVRAS-CHAVE: Capsicum chinense, recurso genético, melhoramento vegetal, produção. ABSTRACT Genetic variability in cultivated populations of murupi pepper (Capsicum chinense, Solanaceae) from different areas of Amazonas State Murupi pepper (Capsicum chinense) is an important native Amazonian genetic resource. Genetic materials of thirteen populations (POPs) from different areas of Amazonas State were characterized and evaluated in an experiment carried out at the Vegetable Experimental Station of the National S1440
Research Institute for Amazonia, in Manaus, Amazonas, Brazil. A randomised complete block design with thirteen treatments (POPs) and four repetitions was used. Five plants per repetition were evaluated in terms of seed germination time, stem color, stem diameter, plant height, crown diameter, leaf color, time to flowering, time to fruiting, time to fruit maturation, fruit shape, mature fruit color, average number fruits/plant, fruit transversal diameter, fruit length, average fruit weight, pungency, pulp thickness, and estimated weight of fruits/plant. The seed germination, flowering and fruiting occurred between seven and 121 days after transplant. The most productive population was Autazes, with 485 fruits and 1.417 g/plant. The Nearest Neighbor clustering algorithm using the Mahalanobis Generalized Distance (D 2 ) grouped the 13 populations in four distinct clusters. The most and least divergent populations were from Urucurituba and Autazes, and from Rio Preto da Eva and Careiro da Várzea, respectively. The genetic variability found in these populations will permit their use as potential progenitors for the criation of promising genotypes in improvement programs for Amazonas State. KEYWORDS: Capsicum chinense, genetic resources, vegetable improvement, yield. INTRODUÇÃO A pimenta Murupi (C. chinense) é tradicionalmente cultivada na região Norte e consumida como condimento, devido o seu característico aroma e sabor picante. É comumente comercializada em feiras, in natura ou preparada artesanalmente, na forma de molhos, ou conservadas em vinagre, óleo, tucupi e arubé (os dois últimos são o líquido e a polpa da mandioca). Estas pimentas possuem frutos variando de pequeno a médio porte, de forma alongada, apresentando coloração verde quando imaturos e amarelo ou vermelho quando maduros (Carvalho et al, 2003). O centro de origem da espécie Capsicum chinense, pimenta murupi, a mais brasileira das espécies domesticadas, é a Bacia Amazônica (Embrapa, 2005). As variedades atualmente em uso pelos agricultores familiares da região são populações de pimenta resultantes do processo de domesticação, com ampla variabilidade genética, que podem passar por processos de aprimoramento genético para fins de cultivo (Noda & Noda, 2004). Mesmo admitindo que o Brasil e, principalmente a Amazônia, sejam um importante centro secundário de espécies domesticadas, pouco se sabe sobre as espécies de Capsicum nativas do País. Na Amazônia, o cultivo de pimentas do gênero Capsicum pode ser uma importante fonte alternativa de geração de divisas para os agricultores familiares, porque há um rico potencial regional muito pouco conhecido ou explorado de forma organizada (Reifschneider, 2000). Portanto, estudos mais profundos para o conhecimento da biologia e da constituição gênica das populações de pimentas, permitirão definir descritores qualitativos e quantitativos para avaliar variabilidade genética das coleções de Capsicum do banco de germoplasma do INPA, em programa de melhoramento da pimenta para o cultivo nas condições edafoclimáticas da Amazônia. Este trabalho teve o objetivo de caracterizar e selecionar biótipos de pimentas murupi com potencial para uso comercial imediato e em programas de melhoramento da espécie para a Amazônia. S1441
MATERIAL E MÉTODOS Treze populações de pimenta Murupi (Capsicum chinense) do Banco de Germoplasma do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, originárias de diferentes localidades do estado do Amazonas, foram utilizadas em um experimento conduzido no período de outubro de 2006 a junho de 2007, em área da Estação Experimental de Hortaliças (EEH), do INPA, localizada no km 14 da Rodovia AM 010, em Manaus, em solo do tipo Argissolo Vermelho Amarelo Álico, de textura arenosa e baixa fertilidade natural. A semeadura foi feita em copos plásticos, com capacidade para 300 g de substrato constituído por partes iguais de solo arenoso e composto orgânico. Foram colocadas três sementes em cada recipiente e após 20 dias procedeu-se um desbaste, deixando nos copos apenas uma planta com melhor desenvolvimento vegetativo. O preparo da área experimental consistiu de uma aração e gradagem. Foram construídas leiras com 0,50 m de largura e 0,20 m de altura, e as covas abertas com 0,30 m de largura e 0,20 m de profundidade. Aos 48 dias após a semeadura procedeu-se o plantio definitivo. As plantas foram distribuídas no campo, em um espaçamento de 1,0 m entre as plantas e 1,0 m entre as fileiras. Tratos culturais tais como: adubação, capinas, irrigações, controles fitossanitários foram feitos sempre que houve necessidade. Durante a condução do experimento, as pimenteiras receberam uma adubação no ato do plantio definitivo constituída de 2,0 kg de composto orgânico, 100 g de superfosfato triplo, 50 g de cloreto de potássio e 10 g de uréia. Três adubações nitrogenadas, com aplicação de 10 g de uréia/planta, foram feitas até o início da floração das plantas. Adotou-se o delineamento experimental de blocos casualizados com treze tratamentos (as populações de pimenta) com quatro repetições. A unidade experimental consistiu de cinco plantas úteis de cada população por parcela. Das populações de pimentas avaliadas, foram analisadas as seguintes características qualitativas e quantitativas: tempo de germinação das sementes (dias), cor do caule, diâmetro do caule (mm), altura da planta (cm), largura da copa (cm), cor das folhas, tempo de florescimento (dias), frutificação, maturação dos frutos (dias), forma dos frutos, coloração do fruto maduro, número médio de frutos/planta, diâmetro transversal do fruto (mm), comprimento dos frutos (cm), peso médio dos frutos (g), teor de pungência, espessura da polpa (mm), e peso estimado de frutos/planta (g). Seguindo as recomendações de Falconer (1987), procederam-se análises uni e multivariada sobre os caracteres quantitativos avaliados nas populações, utilizando-se os recursos do programa de informática GENES, desenvolvido por Cruz (1994). As médias dos caracteres avaliados foram comparadas pelo teste de Scott-Knott (1974), em nível de 5% de probabilidade. As divergências genéticas entre as populações foram estimadas por meio das Distâncias Generalizadas de Mahalanobis (D 2 ) e o método hierárquico de agrupamento pelo vizinho mais próximo, com base nas recomendações de Cruz & Regazzi (1997). RESULTADOS E DISCUSSÃO As características dos frutos apresentaram grande variabilidade em termos de forma, tamanho e coloração. S1442
Foram observados frutos alongados (92%) e campanulados, com teor de pungência variando de fraco a forte. Na coloração dos frutos maduros foram encontradas as tonalidades amarela, amarelo laranja, laranja, vermelha e roxa; com maior incidência da cor amarela. Resultados semelhantes sobre formato e coloração dos frutos foram relatados pelo IPGRI (1995) em suas observações em descritores para Capsicum. Em produtividade, baseado no número médio e peso estimado dos frutos por planta, a POP originária do município de Autazes com 485,5 frutos/planta pesando 1.417,50 g destacouse entre as outras POPs. Por meio do Agrupamento, utilizando o método hierárquico do Vizinho Mais Próximo (VMP) pode-se inferir que existe divergência genética entre as treze populações estudadas. Essa constatação pode ser observada pela formação de 04 grupos distintos, considerandose o corte no eixo x a 35% de distância relativa entre as populações (Figura 1). O grupo I agrupou as POPs 8, 13, 6 e 9 procedentes, respectivamente, dos municípios de Barreirinha, Autazes, Urucará e Urucurituba. O grupo II foi subdividido em dois subgrupos: IIa e IIb. O subgrupo IIa reuniu as POPs 7, 11, 05, 04, 3 e 12 originárias, respectivamente dos municípios de Boa Vista do Ramos, Careiro da Várzea, Beruri, Manaquiri, Novo Airão e Manacapuru. O subgrupo IIb foi representado apenas pela população de Maués (10). Nos grupos III e IV, cada um foi representado apenas por uma população proveniente dos município de Silves e Rio Preto da Eva (1 e 2, respectivamente). A população 2 inserida no grupo IV, foi a que mais divergiu das demais. Os resultados obtidos com a análise de agrupamento de populações para seleção de plantas reforçam, as afirmações de Sudré et al. (2006), quando manifestaram confiabilidade na eficácia do método hierárquico do Vizinho Mais Próximo em agrupar materiais genéticos com pequenas distâncias genéticas entre si. A amplitude das distâncias generalizadas de Mahalanobis (D 2 ) detectou entre os valores máximo e mínimo, respectivamente, 187,59 entre as populações de Urucurituba (09) e de Autazes (13) e de 2,79 entre as populações de Rio Preto da Eva (2) e Careiro da Várzea (11). Em termos de variabilidade genética apresentada pelas populações de pimenta murupi, destacaram-se como populações mais divergentes, as procedentes de Urucurituba e Autazes e as mais similares as provenientes de Rio Preto da Eva e Careiro da Várzea. LITERATURA CITADA CARVALHO, S. I. C. DE; BIANCHETTI, L. DE B; BUSTAMANTE, P.G; SILVA, D.B. DA. 2003. Catálogo de Germoplasma de Pimenta e Pimentões (Capsicum spp.) da Embrapa Hortaliças. Brasília: EMBRAPA HORTALIÇAS, 49p. CRUZ, C.D. 1994. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético. Viçosa: Imprensa Universitária, 394 p. CRUZ, C.D.; REGAZZI, A.J. 1997. Métodos biométricos aplicados ao melhoramento genético. Viçosa: UFV. 390p. EMBRAPA. 2005. Como produzir pimenta: Caderno Técnico. EMBRAPA-Hortaliças. Agosto/ Setembro. nº33. S1443
FALCONER, D.S. 1987. Introduction to quantitative genetic. 2 ed. London: Longman, 340 p. IPGRI, AVRDCD AND CATIE. 1995 Descriptores for capsicum (Capsicum spp.), Internacional Plant Genetic Resources Institute, Rome, Italy; the Asian Vegetable Research and Development Center, Taipei, Taiwan, and the Centro agronómico Tropical de Investigación y Ensenanza, Turrialba, Costa Rica. 34-36p. NODA, H; NODA, S.N. 2004. Agricultura Familiar tradicional e conservação da sóciobiodiversidade Amazônica. Interações. 4(6):55-66. REIFSCHNEIDER, F.J.B. 2000. Capsicum: pimentas e pimentões no Brasil. EMBRAPA- Hortaliças, Brasília. 113 p. SCOTT, A. J.; KNOTT, M. A. 1974. Cluster analysis methods for grouping means in the analysis of variance. Biometrics, Washington, v. 30, 507-512p. SUDRÉ, C. P; CRUZ, C.D; RODRIGUES, R; RIVA, E. M; AMARAL JÚNIOR, A. T. DO; SILVA, D. J. H DA; PEREIRA, T. N. S. 2006. Variáveis multicategóricas na determinação da divergência genética entre acessos de pimenta e pimentão. Horticultura. Brasileira. v. 24 n.1 Brasília Jan./Mar. Figura 1. Dendrograma ilustrativo do padrão de dissimilaridade, estabelecido pelo método hierárquico do vizinho mais próximo, com base em oito características entre treze populações de pimenta murupi do estado do Amazonas. S1444