DETERMINAÇÃO DE FREQUÊNCIAS DE EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

Documentos relacionados
PRINCIPAIS SECAS OCORRIDAS NESTE SÉCULO NO ESTADO DO CEARÁ: UMA AVALIAÇÃO PLUVIOMÉTRICA

XII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE AVALIAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO NO OESTE DA BAHIA CONSIDERANDO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

VARIABILIDADE ESPAÇO-TEMPORAL DOS EVENTOS EXTREMOS DIÁRIOS DE PRECIPITAÇÃO PARA O ESTADO DE SÃO PAULO. Mercel José dos Santos, 12 Rita Yuri Ynoue 1

Variabilidade decenial da precipitação no Sul da Amazônia usando o SPI-6

FREQUÊNCIA DA PRECIPITAÇÃO PLUVIAL NO MUNICÍPIO DE BANANEIRAS - PB

XII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE

de Piracicaba-SP: uma abordagem comparativa por meio de modelos probabilísticos

Impacto do Fenômeno El Niño na Captação de Chuva no Semi-árido do Nordeste do Brasil

ATUAÇÃO DO VÓRTICE CICLÔNICO DE ALTOS NÍVEIS SOBRE O NORDESTE DO BRASIL NO MÊS DE JANEIRO NOS ANOS DE 2004 E 2006.

INMET/CPTEC-INPE INFOCLIMA, Ano 13, Número 07 INFOCLIMA. BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS Ano de julho de 2006 Número 07

VARIAÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO ARROZ DE TERRAS ALTAS INFLUENCIADOS PELA SECA METEOROLOGICA EM GOIÁS

CLASSIFICAÇÃO E INDÍCIO DE MUDANÇA CLIMÁTICA EM ITAPERUNA - RJ

CLASSIFICAÇÃO E INDÍCIO DE MUDANÇA CLIMÁTICA EM VASSOURAS - RJ

DESEMPENHO DE TRES INDICES DE SECA EM FUNÇÃO DA VARIAÇÃO ANUAL DA PRODUTIVIDADE DE ARROZ E TRIGO PARA O MUNICIPIO DE JATAÍ-GO

A EXPANSÃO URBANA E A EVOLUÇÃO DO MICROLIMA DE MANAUS Diego Oliveira de Souza 1, Regina Célia dos Santos Alvalá 1

ANÁLISE DOS DADOS DE REANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO MENSAL NO PERÍODO DE 62 ANOS NO MUNICÍPIO DE IBATEGUARA-AL

VARIAÇÃO DIÁRIA DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA EM BELÉM-PA EM UM ANO DE EL NIÑO(1997) Dimitrie Nechet (1); Vanda Maria Sales de Andrade

PRÓ-TRANSPORTE - MOBILIDADE URBANA - PAC COPA CT /10

COMPORTAMENTO DOS ÍNDICES DO ESTADO TRÓFICO DE CARLSON (IET) E MODIFICADO (IET M ) NO RESERVATÓRIO DA UHE LUÍS EDUARDO MAGALHÃES, TOCANTINS BRASIL.

MATERIAIS E METODOLOGIA

ASPECTOS METEOROLÓGICOS ASSOCIADOS A EVENTOS EXTREMOS DE CHEIAS NO RIO ACRE RESUMO

CARACTERIZAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA DO MUNICÍPIO DE MARECHAL DEODORO AL, NO PERÍODO DE 1978 A 2005.

VEGETATION RESPONSE TO PRECIPITATION IN HOMOGENOUS REGIONS OF BAHIA STATE (BRAZIL)

VARIABILIDADE DO VENTO NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO DURANTE A OCORRÊNCIA DA ZCAS

Situação de Seca Meteorológica 31 outubro 2015

ANÁLISE DA OCORRÊNCIA SIMULTÂNEA DE ENOS E ODP SOBRE O CARIRI CEARENSE

EXERCÍCIOS DE REVISÃO - CAP. 04-7ºS ANOS

MUDANÇAS CLIMÁTICAS DOS EVENTOS SEVEROS DE PRECIPITAÇÃO NO LESTE DE SANTA CATARINA DE ACORDO COM O MODELO HADRM3P

INMET: CURSO DE METEOROLOGIA SINÓTICA E VARIABILIDADE CLIMÁTICA CAPÍTULO 4

CARACTERIZAÇÃO DE EXTREMOS CLIMÁTICOS UTILIZANDO O SOFTWARE RClimdex. ESTUDO DE CASO: SUDESTE DE GOIÁS.

ÁNALISE DAS OCORRÊNCIAS DE EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO DE RIO LARGO, ALAGOAS

Energia Elétrica: Previsão da Carga dos Sistemas Interligados 2 a Revisão Quadrimestral de 2004

INFLUÊNCIA DE FASES EXTREMAS DA OSCILAÇÃO SUL SOBRE A INTENSIDADE E FREQUÊNCIA DAS CHUVAS NO SUL DO BRASIL

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A PRECIPITAÇÃO REGISTRADA NOS PLUVIÔMETROS VILLE DE PARIS E MODELO DNAEE. Alice Silva de Castilho 1

RELATÓRIO MENSAL DAS CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS DO ESTADO DE ALAGOAS

Clima e sociedade: Rumo a um uso mais eficaz das informações de clima e tempo no Ceará

DEMONSTRATIVO DE CÁLCULO DE APOSENTADORIA - FORMAÇÃO DE CAPITAL E ESGOTAMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES

Comparação entre dados de precipitação obtidos por satélites e por pluviômetros no Vale do Paraíba

CARACTERIZAÇÃO DA VARIABILIDADE INTERANUAL DAS VAZÕES MÉDIAS MENSAIS NA AMERICA DO SUL

UMA BIBLIOTECA PARA CÁLCULO DO SPI NO R JOSEMIR A. NEVES (1), GILMAR BRISTOT (2), ALEXANDRE S. SANTOS (3), UELITON PINHEIRO (2)

Figura 1 Localização da bacia do rio São Francisco. Fonte:< Acessado em 01/02/2009.

Relações entre diferentes fases da monção na América do Sul

ANÁLISE TERMOPLUVIOMÉTRICA E BALANÇO HÍDRICO CLIMATOLÓGICO DOS DADOS DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO PEIXE TO

PRÓ-TRANSPORTE - MOBILIDADE URBANA - PAC COPA CT /10

TELECONEXÕES E O PAPEL DAS CIRCULAÇÕES EM VÁRIOS NÍVEIS NO IMPACTO DE EL NIÑO SOBRE O BRASIL NA PRIMAVERA

INFORMATIVO CLIMÁTICO

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA ENERGIA CINÉTICA ASSOCIADA A ATUAÇÃO DE UM VÓRTICE CICLÔNICO SOBRE A REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO. (Fevereiro, Março e Abril de 2002).

SINAIS DE LA NIÑA NA PRECIPITAÇÃO DA AMAZÔNIA. Alice M. Grimm (1); Paulo Zaratini; José Marengo

GESTÃO E CONTROLE AMBIENTAL

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DE ÍNDICES DE SECA PARA SANTA LUZIA

CORRELAÇÃO ENTRE DADOS DE VENTO GERADOS NO PROJETO REANALYSIS DO NCEP/NCAR E OBSERVADOS EM REGIÕES DO ESTADO DO CEARÁ.

06 a 10 de Outubro de 2008 Olinda - PE

INDÍCIOS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS A PARTIR DO BALANÇO HÍDRICO EM JOÃO PESSOA PARAÍBA

VARIABILIDADE CLIMÁTICA PREJUDICA A PRODUÇÃO DA FRUTEIRA DE CAROÇO NO MUNICÍPIO DE VIDEIRA SC.

UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A VARIABILIDADE DE BAIXA FREQU~NCIA DA CIRCULAÇ~O DE GRANDE ESCALA SOBRE A AM~RICA DO SUL. Charles Jones e John D.

A PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE ARAPIRACA/AL E OS EVENTOS EL NIÑOS/ LA NIÑAS UTILIZANDO O ÍNDICE IME.

MINERAÇÃO MORRO VELHO: 150 ANOS DE REGISTROS PLUVIOMÉTRICOS MORRO VELHO MINING: 150 YEARS OF RAINFALL RECORDS

ANÁLISE FREQUENCIAL E DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL DAS TEMPESTADES NA REGIÃO DE RIO DO SUL/SC

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL (Setembro Outubro e Novembro de- 2003).

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA Instituto Nacional de Meteorologia INMET Coordenação Geral de Agrometeorologia

RELAÇÃO ENTRE A OSCILAÇÃO DECENAL DO PACÍFICO E REGIÕES PLUVIOMETRICAMENTE HOMOGÊNEAS NO ESTADO DE ALAGOAS

Uma Síntese do Quarto Relatório do IPCC

VARIABILIDADE ESPAÇO-TEMPORAL DA TEMPERATURA MÉDIA DO AR NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE/BRASIL

MONITORIZAMOS CONTRIBUÍMOS O TEMPO O CLIMA A ACTIVIDADE SÍSMICA. PARA UM MUNDO MAIS SEGURO e UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. à frente do nosso tempo

2. DADOS E METODOLOGIA.

Estudo de caso de um sistema frontal atuante na cidade de Salvador, Bahia

Comparação entre Variáveis Meteorológicas das Cidades de Fortaleza (CE) e Patos (PB)

ANÁLISE DE TENDÊNCIAS NA TEMPERATURA E PRECIPITAÇÃO EM LONDRINA, ESTADO DO PARANÁ

CARACTERIZAÇÃO PLUVIOMETRICA POR QUINQUÍDIOS DA CIDADE DE PIRENOPOLIS - GO

IV SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS PLUVIOMÉTRICOS PARA A REGIÃO DO MUNICÍPIO DE JOINVILLE/SC

PRINCIPAIS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS ATUANTES SOBRE A REGIÃO NORDESTE DO BRASIL E A INFLUÊNCIA DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLÂNTICO NO CLIMA DA REGIÃO 1

Tabela 01 Mundo Soja Área, produção e produtividade Safra 2009/10 a 2013/14

ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE.

Índice de Prevenção de Acidentes Laborais IPAL

INFLUÊNCIA DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL NA VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO EM MACAPÁ - BRASIL 1

EVENTOS DE PRECIPITAÇÃO EXTREMA PARA CABACEIRAS PB, BRASIL

Relação entre a Precipitação Acumulada Mensal e Radiação de Onda Longa no Estado do Pará. (Dezembro/2009 a Abril/2010)

DETERMINAÇÃO DAS DATAS DE INÍCIO E FIM DA ESTAÇÃO CHUVOSA PARA REGIÕES HOMOGÊNEAS NO ESTADO DO PARANÁ

Luiz Carlos Baldicero Molion Instituto de Ciências Atmosféricas Universidade Federal de Alagoas

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ, GRANDE FLORIANÓPOLIS-SC

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO INSTITUCIONAL PLANO DE TRABALHO DETALHADO

COMO CALCULAR A PERFORMANCE DOS FUNDOS DE INVESTIMENTOS - PARTE I

MECANISMOS FÍSICOS EM MÊS EXTREMO CHUVOSO NA CIDADE DE PETROLINA. PARTE 3: CARACTERÍSTICAS TERMODINÂMICAS E DO VENTO

Estudo da ilha de calor urbana em cidade de porte médio na Região Equatorial

Questões Climáticas e Água

ÍNDICE K: ANÁLISE COMPARATIVA DOS PERIODOS CLIMATOLÓGICOS DE E

ÍNDICE DE CONFIANÇA DOS PEQUENOS NEGÓCIOS NO BRASIL. ICPN Outubro de 2015

Boletim Climatológico Mensal

AJUSTE DE SEIS DISTRIBUIÇÕES DENSIDADE DE PROBABILIDADE A SÉRIES HISTÓRICAS DE TEMPERATURA MÉDIA MENSAL, EM MOSSORÓ/RN.

CLIMATOLOGIA E MUDANÇAS GLOBAIS VARIAÇÕES DECADAIS CLIMA DO FUTURO MUDANÇAS CLIMÁTICAS

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOS MODELOS DE MUDANÇA CLIMÁTICA DO CMIP5 QUANTO A REPRESENTAÇÃO DA SAZONALIDADE DA PRECIPITAÇÃO SOBRE AMÉRICA DO SUL

Boletim Climatológico Mensal

DELEGACIA REGIONAL TRIBUTÁRIA DE

Situação de Seca Meteorológica 31 Outubro 2016

Palavras-chave: chuva média; chuva de projeto; fator de redução de área.

UNIVERSIDADE POSITIVO PROGRAMA DE MESTRADO E DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: <ÁREA DE CONCENTRAÇÃO>

Climas do Brasil GEOGRAFIA DAVI PAULINO

O Clima do Brasil. É a sucessão habitual de estados do tempo

Validação das observações feitas com o pluviômetro de garrafa PET na cidade de Belém-PA.

Transcrição:

DETERMINAÇÃO DE FREQUÊNCIAS DE EVENTOS EXTREMOS DE CHUVA NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL Célia Campos Braga Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Campina Grande, celia@dca.ufcg.edu.br Bernardo Barbosa da Silva Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Campina Grande, bernardo@dca.ufcg.edu.br Francisco das Chagas Nascimento Araújo Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Campina Grande, franciscofisica@ufersa.edu.br Francisco de Assis Salviano de Sousa Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Campina Grande, fassis@dca.ufcg.edu.br Milena Pereira Dantas Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Campina Grande, milena@dca.ufcg.edu.br RESUMO A seca é um dos fenômenos climáticos que mais causa danos à agricultura de uma determinada região, provocando sérios impactos sociais, econômicos e ambientais. A região Nordeste do Brasil, apesar de chover consideravelmente, a parte semiárida, é periodicamente afetada pela ocorrência de secas comprometendo o abastecimento de água devido, principalmente, à irregularidade da estação chuvosa. O presente trabalho objetiva detectar e analisar eventos de seca e chuva no Maranhão. Determinaram-se regiões de homogêneas do Standardized Precipitation Index (SPI) na escala sazonal (SPI-6) para séries climatológicas de 1987 a 2013. A análise do SPI na escala semestral mostrou que as décadas 1990 a 2000 apresentaram as maiores frequências de eventos secos. Na RH1 as maiores secas ocorreram de set/91 a jun/93, com 22 meses e a RH5 de nov90 a out93 com 36 meses. Os eventos chuvosos em RH1 ocorrem de jan88 a maio90 (29 meses) e na RH5 mar/96 a ago/97 89 (18 meses). Observa-se que no geral a região RH1 possui mais eventos de seca que chuva, porém de pouca duração. É importante salientar que a maioria dos eventos de seca nas regiões está associada ao fenômeno ENOS. Palavras-chave: SPI, Chuva, eventos extremos e regiões homogêneas Introdução O Estado do Maranhão não se encontra no contexto do polígono das secas, pois apresenta condições climáticas bem definidas, apesar da distribuição espacial e temporal da precipitação ser bastante irregular, concentrando-se em poucos meses comprometendo a produção agrícola da região gerando sérios problemas econômicos e sociais. Por estar localizado em uma região de transição recebe influências das características climáticas do semiárido nordestino, da Amazônia quente e úmida, dos chapadões do Brasil central e atuação de sistemas meteorológicos, e ainda da influência das condições dos Oceanos Atlântico e Pacífico Tropical. Outro aspecto relevante é diversidade de ecossistemas que compõem o seu espaço geográfico, onde são encontradas áreas com formações de floresta, várzeas, cerrado, manguezais, dunas, chapadões, etc. (Menezes, 2009). Uma análise da variabilidade das precipitações em diferentes escalas de tempo é importante tanto no ponto de vista hidrológico quanto ecológico, pois nas regiões de florestas a intensidade de frequência das secas não se quantifica simplesmente com os totais médios anuais. Mckee et al. (1993) em seus estudos propuseram um índice denominado Standardized Precipitation Index (SPI) que permitisse quantificar a precipitação em diferentes escalas de tempo. A cada valor de precipitação, corresponde um valor de SPI, que é diretamente proporcional ao déficit de precipitação e está associado a sua probabilidade de ocorrência. Esse índice focaliza http://dx.doi.org/10.14195/978-989-96253-3-4_66 391

eventos chuvosos/secos severos, extremos e muitos extremos de uma determinada região. Seiler et al. (2002) usaram o SPI para estudar as inundações ocorridas na província de Córdoba, Argentina. Os resultados mostraram que o SPI é eficaz para monitorar risco climático regional. Min et al. (2003) usaram o SPI da precipitação mensal e do CRU (com resolução horizontal de 0,5 x 0,5 ) para estudar as relações espaciais e temporais da ocorrência e intensidade das secas na Coréia e no leste Asiático. Os autores verificaram que a frequência de ocorrência de secas na Coréia vem aumentando a partir da década 1980. Altamirano (2010) utilizou dados do SPI para região sul da Amazônia e norte do Brasil para definir períodos secos e chuvosos nas referidas regiões. Neste contexto, o presente trabalho visa analisar e determinar frequências de eventos extremos de seca e chuva em regiões homogêneas no estado do Maranhão situado no Nordeste do Brasil. Dados e metodologia A partir de séries mesais de 84 estações meteorológicas no periodo de 1987-2013, calculou-se o SPI-6 e determinaram-se as regiões homogêneas do SPI-6 para o Maranhão, a partir da análise de agrupamento proposta por Ward, em 1963 (Gong e Richman,1995; Wilks,2006). Fez-se a média das séries históricas dos SPI-6 de cada uma das regiões homogênas do Estado conforme (Figura 1). O SPI foi obtido a partir da metodologia desenvolvida por (Mckee et al.1993) que tem por objetivo monitorar e analisar as secas em escalas de tempo, utilizando apenas dados de precipitação. O SPI é determinado a partir das funções de densidade de probabilidade que descreve as séries temporais em diferentes escalas de tempo, por exemplo, 1, 3, 6 e 12 meses. Conhecida a distribuição de probabilidade acumulada, a chance de uma quantidade de precipitação observada é obtida e o SPI é calculado usando a distribuição inversa (Mckee et al., 1995). Para fins de ajuste da precipitação, consideraram-se as distribuições de probabilidade gama incompleta e Gaussina (normal) para distintas escalas de tempo (Edwards e Mckee, 1997; Altamirando, 2010; Sansigolo, 2004). Neste estudo utilizou-se a probabilidade das precipitações acumuladas na escala de 6 meses, as quais foram ajustada pela distribuição normal, ou seja:, em que é a precipitação observada, Precipitação média e desvio padrão da série ajustada. A classificação é feita com base nos limites proposto por Mckee et al. (1993) indicados na Tabela I. Este método não somente permite caracterizar as secas, mas também os períodos mais úmidos. Também tem a grande vantagem de padronizar a análise, permitindo comparar regiões totalmente distintas, como por exemplo, regiões com climas mais úmidos e chuvosos com regiões mais áridas e secas. 392

Tabela I. Classificação do Índice de Precipitação Padronizada (SPI) proposto por Mckee et al. (1993) SPI Classificação 2,00 Extremamente úmido 1,00 a 1,99 Muito úmido 0,50 a 0,99 Moderadamente úmido 0,49 a -0,49 Próximo ao normal -0,50 a -0,99 Moderadamente seco -1,00 a -1,99 Muito seco - 2,00 Extremamente seco Resultados e discussão A seguir serão mostrados apenas os resultados obtidos para duas regiões homogêneas do SPI -6, uma na região norte e outra na região sul do estado do Maranhão - Nordeste do Brasil (Figura 1). Figura 1. Regiões homogênaes do SPI-6 no estado do Maranhão-Brasil, usando a análise de agrupamento de Ward, em 1963 (Wilks, 2006) As Figuras 2 e 3 ilustram os histogramas de frequência das categorias dos eventos secos e chuvosos do SPI-6 para a região RH1(norte) e RH5(sul) no Maranhão, respectivamente. Como os dados são ajustados para uma distribuição normal, a distribuição tem um comportamento assimétrico. As Tabelas 2 e 3 mostram os resultados das características (início, fim, duração e índice médio) dos eventos secos e chuvosos que ocorreram nas duas regiões selecionadaso de SPI-6. Observa-se que, na Tabela II, correspondente a RH-1(Norte), ocorreram em média 17 393

eventos de seca e 10 chuvosos. As maiores sequências médias de seca ocorreram nas décadas de 1990 e 2000, perdurando cada uma 22 meses, ou seja, uma de set91 a jun93 e a outra de set05 a jun07. Valores médios do SPI-6 indicaram intensidades de secas moderadas, fraca e normal variando de -0,30 a -1,18. A maior sequência chuvosa de 29 meses ocorreu na década de jan/88 a maio/90 com intensidade média de 1,47 e máximo médio de 1,94. Nos demais meses, os eventos chuvosos foram, de acordo com o SPI-6, classificados em chuva fraca e normal, com média de 0,07 a 0,82. Embora tenham ocorrido mais eventos de seca do que de chuva, as secas foram menos intensa. De acordo com a climatologia da chuva da região Nordeste, as secas que ocorrem na RH1 são influenciadas diretamente pela atuação do fenômeno de El Niño (Hastenrath & Heller 1977; Molion & Bernardo 2002). Como está indicada na Tabela III, a RH5 situada no sul do Estado tem regime climático diferenciado da RH1. Nessa região a maior seca com duração de 36 meses ocorreu nos meses de nov90 a out93 com intensidade média SPI de -1,24 e máxima de -2,30, enquanto que os eventos de chuva ocorreram por 21 meses, de abr10 a dez11 com média de 0,86 e máximo médio de 1,75. Identificaram-se secas fraca, moderada e normal com média de -0,30 a -1,58 e de chuva fraca, moderada e normal de 0,10 a 1,53. Pelo exposto, observa-se que o sul do Estado é bem mais seco que o norte. A análise dos histogramas de frequências mostra claramente que a intensidade das secas na região Sul é maior que na Norte. Por exemplo, em média, na RH1 ocorrem 56 meses muito seco oscilando entre -1,15 a -1,24, enquanto na RH5 registraram-se 76 meses muito seco que variaram entre -1,17 a -1,58. O regime pluviometrico dessa região é mais influenciado pela Zona Convergencia do Atlântico Sul e Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCANs), as maiores das chuvas registradas são de novembro a abril (Kousky e Gan, 1981; Carvalho et al., 2004). Tabela 3: Características dos principais eventos moderadamente secos e chuvosos, obtidas pelo SPI-6, na RH-1 no período de 1987 a 2013. INICIO FIM DURAÇÃO INICIO FIM DURAÇÃO 0,12 0,07 fev/87 jul/87 6-0,64-0,47 ago/87 set/87 2 out/87 dez/87 3-0,64-0,3 jan/88 mai/90 29 1,94 1,47 jun/90 nov/90 6-1,2-0,72 dez/90 ago/91 9 1,16 0,76 set/91 jun/93 22-2,44-1,24 out/93 out/95 25 1,31 0,82 nov/95 mar/96 5-0,6-0,29 mar/97 mai/97 3 0,09 0,04 mai/96 dez/96 8-1,25-0,52 mar/98 abr/98 2 0,07 0,04 jun/97 dez/97 7-1,57-0,83 dez/99 mar/00 4 0,66 0,48 mai/98 set/99 17-0,85-0,28 dez/00 fev/01 3 0,36 0,27 abr/00 nov/00 8-0,75-0,29 fev/02 ago/02 7 0,71 0,43 mar/01 out/01 8-0,67-0,39 mar/03 ago/03 6 0,69 0,38 dez/01 jan/02 2-0,75-0,62 set/02 fev/03 6-1,41-0,79 set/03 jul/05 23-1,79-0,52 set/05 jun/07 22-2,45-0,97 set/08 mar/09 7-1,49-0,68 nov/09 dez/10 14-2,1-1,18 nov/11 jun/13 20-2,3-1,15 Figura 2. Histograma de frequência do SPI-6 para a região 1 394

INICIO FIM DURAÇÃO INICIO FIM DURAÇÃO 1.61 1.19 jan/87 fev/87 2 -.56 -.34 mar/88 set/88 7 abr/87 fev/88 11-1.56 -.83 abr/89 mai/89 2.44.35 out/88 nov/88 2 -.86 -.77 jul/89 set/89 3 1.05.85 jan/89 mar/89 3-1.37 -.89 nov/89 fev/90 4 1.89.98 mar/90 ago/90 6-2.14-1.17 set/90 out/90 2.19.10 nov/90 out/93 36-2.30-1.24 nov/93 nov/94 13 1.28.65 nov/95 fev/96 4-1.08 -.67 fev/95 out/95 9 1.39.92 set/97 out/98 14-2.14-1.58 mar/96 ago/97 18 1.99 1.20 fev/99 set/99 8 -.71 -.34 nov/98 jan/99 3.48.34 fev/01 mai/01 4-0,44-0,3 out/99 jan/01 16 1.36.98 jan/03 jun/03 6 -.78 -.50 jun/01 jun/02 13 1.95 1,53 nov/03 dez/03 2-1.38 -.93 ago/02 dez/02 5 1.46.78 ago/04 nov/05 16-1.06 -.64 jan/04 jul/04 7 1.36.77 jan/06 jun/06 6 -.69 -.32 jul/06 set/06 3.57.30 out/06 fev/08 17-1.81 -.84 mar/08 ago/08 6.80.56 set/08 jan/09 5-2.02 -.92 fev/09 out/09 9 1.61 1.06 nov/09 dez/09 2-1.04 -.55 jan/10 fev/10 2.32.23 jan/12 nov/12 11-1.97-1.30 abr/10 dez/11 21 1.75.86 fev/13 set/13 9-1.87-1.23 out/13 dez/13 3 1,2 0,43 Figura 3. Histograma de frequência do SPI-6 para a região 5 Tabela II. Características dos eventos secos e chuvosos obtidas pelo SPI-6 para região RH-1 INICIO FIM DURAÇÃO INICIO FIM DURAÇÃO fev/87 jul/87 6-0,64-0,47 ago/87 set/87 2 0,12 0,07 out/87 dez/87 3-0,64-0,3 jan/88 mai/90 29 1,94 1,47 jun/90 nov/90 6-1,2-0,72 dez/90 ago/91 9 1,16 0,76 set/91 jun/93 22-2,44-1,24 out/93 out/95 25 1,31 0,82 nov/95 mar/96 5-0,6-0,29 mar/97 mai/97 3 0,09 0,04 mai/96 dez/96 8-1,25-0,52 mar/98 abr/98 2 0,07 0,04 jun/97 dez/97 7-1,57-0,83 dez/99 mar/00 4 0,66 0,48 mai/98 set/99 17-0,85-0,28 dez/00 fev/01 3 0,36 0,27 abr/00 nov/00 8-0,75-0,29 fev/02 ago/02 7 0,71 0,43 mar/01 out/01 8-0,67-0,39 mar/03 ago/03 6 0,69 0,38 dez/01 jan/02 2-0,75-0,62 set/02 fev/03 6-1,41-0,79 set/03 jul/05 23-1,79-0,52 set/05 jun/07 22-2,45-0,97 set/08 mar/09 7-1,49-0,68 nov/09 dez/10 14-2,1-1,18 nov/11 jun/13 20-2,3-1,15 395

Tabela III. Características dos eventos secos e chuvosos obtidas pelo SPI-6 para região RH-5 INICIO FIM DURAÇÃO INICIO FIM DURAÇÃO jan/87 fev/87 2 -.56 -.34 mar/88 set/88 7 1.61 1.19 abr/87 fev/88 11-1.56 -.83 abr/89 mai/89 2.44.35 out/88 nov/88 2 -.86 -.77 jul/89 set/89 3 1.05.85 jan/89 mar/89 3-1.37 -.89 nov/89 fev/90 4 1.89.98 mar/90 ago/90 6-2.14-1.17 set/90 out/90 2.19.10 nov/90 out/93 36-2.30-1.24 nov/93 nov/94 13 1.28.65 nov/95 fev/96 4-1.08 -.67 fev/95 out/95 9 1.39.92 set/97 out/98 14-2.14-1.58 mar/96 ago/97 18 1.99 1.20 fev/99 set/99 8 -.71 -.34 nov/98 jan/99 3.48.34 fev/01 mai/01 4-0,44-0,3 out/99 jan/01 16 1.36.98 jan/03 jun/03 6 -.78 -.50 jun/01 jun/02 13 1.95 1,53 nov/03 dez/03 2-1.38 -.93 ago/02 dez/02 5 1.46.78 ago/04 nov/05 16-1.06 -.64 jan/04 jul/04 7 1.36.77 jan/06 jun/06 6 -.69 -.32 jul/06 set/06 3.57.30 out/06 fev/08 17-1.81 -.84 mar/08 ago/08 6.80.56 set/08 jan/09 5-2.02 -.92 fev/09 out/09 9 1.61 1.06 nov/09 dez/09 2-1.04 -.55 jan/10 fev/10 2.32.23 jan/12 nov/12 11-1.97-1.30 abr/10 dez/11 21 1.75.86 fev/13 set/13 9-1.87-1.23 out/13 dez/13 3 1,2 0,43 Conclusões A aplicação da técnica de Analise de Agrupamentos aos dados de SPI-6 da precipitação resultou em 5 regiões homogêneas de SPI-6. As duas regiões selecionadas para estudo evidenciam que as mesmas têm caracteríscas de eventos extremos diferenciadas, ou seja, na região norte RH1 os eventos secos mais intensos variaram em média de -1,15 a -1,24 (56 meses), enquanto que na região sul RH5 variaram de -1,17 a -1,58 (76 meses), ou seja, na região RH5 predominaram os eventos de seca de maior intensidade de duração. Isto pode está relacionado com a extensão territorial e a atuação de sistemas meteorológicos. Observa-se no geral que a região RH1 possui mais eventos de seca do que de chuva, porém de curta duração. É importante salientar que a maioria dos eventos de seca nas regiões está associada ao fenômeno ENOS. Bibliografia Altamirano R. J. A. (2010) - Climatologia dos eventos chuvosos e secos severos, extremos e muito extremos usando o Índice de Precipitação Normalizada (SPI) para as regiões centro-oeste, sudeste e sul do Brasil. Dissertação de Mestrado. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. 168 p. Carvalho, L.; Jones, C.; Liebman B. (2004) - The South Atlantic Convergence Zone: intensity, form, persistence, and relationship with intraseasonal to intranual Activity and Extreme Rainfall. Journal of Climate, v. 17, p. 88-108. 396

Edwards, D. C.; Mckee, T. B. (1997) - Characteristics of twentieth century drought in the United States at multiple time scales. Colorado State University, Fort Collins, Climatology Report Number, n. 2, 155 p. Gong, X.; Richman, M. B. (1995) - On the Aplication of Clusters Analysis to growing season precipitation data in North America East of the Rockies. Journal of Climate, v. 8, p. 897-924. Hayes, M. J.; Svoboda, M. D.; Wilhite, D. A. & Vanyarkho, O. V. (1999) - Monitoring the 1966 drought index using the standardized precipitation index. Bulletin of the American Meteorological Society, Boston, v. 80, n. 3. Hastenrath, S.; Heller, L. (1977) - Dynamics of climatic hazards in Northeast Brazil. Quartely Journal of the Royal Meteorological Society, 103(435):77-92. Kousky, V. E.; Gan, M. A. (1981) - Upper tropospheric cyclonic vortices the tropical South Atlantic. Tellus, v. 33, n. 6, p. 538-551. Li, W.; Fu, R.; Juarez, N.; Fernandes, K. (2008) - Observed change of the standardized precipitation index, its potential cause and implications to future climate change in the Amazon region. Philosophical Transactions of the Royal Society, v. 363, p. 1767-1772. Loyd-Hughes, B; Saunders, M. (2002) - A drought climatology for Europe. International Journal of Climatology, v. 22, p. 1571-1592. Mckee, T. B.; Doesken, N. J.; Kleist, J. (1993) - The relationnships of drought frequency and duration to time scales. 8th Conference on Applied Climatology, Anaheim, CA. Preprints. Bull. American Meteorological Society, p. 179-184. Mckee, T. B.; Doesken, N. J.; Kleist, J. (1995) Drought monitoring with multiple time scale: 9th Conference on Applied Climatology. Dallas, TX. Bull. American Meteorological Society, Boston, p. 233-236. Menezes, R. H. N. (2009) Caracterização agroclimática e análise do rendimento agrícola do Estado do Maranhão, Brasil. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Campina Grande. 168 p. Min, S. K.; Kwon, W. T.; Park, H.; Choi, Y. (2003) - Spatial and temporal comparisons of drought over Korea with east Asia. International Journal of Climatology, v. 23, p. 223-233. Molion, L. C. B.; Bernardo, S. O. (2002) - Uma Revisão da Dinâmica das Chuvas no Nordeste Brasileiro. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 17, p. 1-10. Wilks, D. S. (2006) - Statistical Methods in the Atmospheric Sciences. 2.ed. London, Academic Press, 649 p. Sansigolo, C. A. (2004) - Análise comparativa do desempenho dos índices de seca de Palmer (PDSI) e da precipitação normalizada (SPI) em Piracicaba, SP (1971-2001). Revista Brasileira de Meteorologia, v. 19, n. 3, p. 237-242. Seiler, R. A. Hayes, M.; Bressan, L. (2002) - Using the standardized precipitation index for flood risk monitoring. International Journal of Climatology, v. 22, p. 1365-1376. Sequeira, I. (2006). Análise do SPI em Portugal Continental e sua comparação com o Palmer Drought Severity Index (PDSI). Tese de Licenciatura em Meteorologia. Universidade de Lisboa, Portugal. 397