fls. 217 ACÓRDÃO Registro: 2014.0000695129 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1004537-96.2013.8.26.0606, da Comarca de Suzano, em que é apelante UNIMED PAULISTANA SOCIEDADE COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO, é apelado CASSIANO RICARDO DOS SANTOS (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ALVARO PASSOS (Presidente) e GIFFONI FERREIRA. São Paulo, 28 de outubro de 2014. José Joaquim dos Santos RELATOR Assinatura Eletrônica
fls. 218 Voto nº 18989 Apelação Cível nº 1004537-96.2013.8.26.0606 Apelante: UNIMED PAULISTANA SOCIEDADE COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO Apelado: CASSIANO RICARDO DOS SANTOS Juiz: Dr. Luciene Pontirolli Branco Origem: 4ª Vara Cível da Comarca de Suzano PLANO DE SAÚDE. Abusividade da conduta da ré configurada. Dano moral evidenciado diante dos transtornos causados ao autor. O plano de saúde não pode criar entraves para o fim em si do contrato, sob pena de violação da sua função social, de ofensa ao princípio da tutela da dignidade da pessoa humana, da vida e da saúde. Quantum indenizatório mantido. Recurso improvido. Trata-se de ação de obrigação de fazer c.c. pedido de indenização por danos morais, julgada procedente pela r. sentença de fls. 151/156, para confirmar a tutela antecipada e condenar a ré a providenciar, em 24 horas, a transferência do autor para hospital que disponha do procedimento de que necessita (Câmara Hiperbárica), custeando integralmente o tratamento, sob pena de multa diária de R$1.000,00 e R$5.000,00, nos termos das decisões exaradas nos autos. A ré foi condenada ainda, a pagar indenização por danos morais no valor de R$10.000,00, com correção desde a data da prolação da r. sentença e juros de mora de 1% ao mês, a contar da resposta administrativa da ré (31.07.2013). Por fim, a ré foi condenada no pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, que foram fixados na quantia de 15% sobre o valor atualizado da condenação. Inconformada, apela a ré as fls. 161/179, Apelação nº 1004537-96.2013.8.26.0606 2
fls. 219 alegando, em suma, que não negou o tratamento pretendido pelo apelado, uma vez que a autorização foi concedida no dia seguinte da solicitação. Conta que a demora se deu em virtude da procura de disponibilidade de vagas em hospital credenciado, bem como, que a Resolução Normativa n. 259 da ANS dispõe que o prazo para que a operadora atenda a solicitação para autorização de procedimentos de alta complexidade, é de 21 dias. Aduz que não pode autorizar qualquer procedimento, tratamento ou material sem prévia análise. Insiste na inocorrência dos danos morais, em virtude da ausência de ato ilícito. Requer a improcedência da ação e, subsidiariamente, a redução do valor da indenização por danos morais e para que os juros de mora sejam contados a partir da prolação da r. sentença. O recurso foi recebido no duplo efeito e somente no efeito devolutivo no que tange a tutela antecipada concedida (fls. 201) Contrarrazões as fls. 183/191. É o relatório. O autor alega, em suma, que foi diagnosticado como portador de síndrome de fournie (doença necrosante que gangrena toda a região instalada) e que necessitou de tratamento através de Câmara Hiperbárica, o que não foi disponibilizado pela ré, que alegou a ausência de vaga em hospitais credenciados. A alegação da ré de que não houve negativa do procedimento, uma vez que a solicitação estava em análise, não merece prosperar. Isso porque, a ré somente cumpriu a obrigação contratual depois de concedida a tutela antecipada e, segundo consta nos autos, ainda transferiu o autor para hospital sem acesso à Câmara Hiperbárica, tratamento este necessitado pelo autor, o que inclusive culminou na Apelação nº 1004537-96.2013.8.26.0606 3
fls. 220 majoração do valor da multa diária arbitrada. Assim, ficou evidenciada a conduta negligente da ré, sendo que, com a ausência de disponibilização de hospital com Câmara Hiperbárica, o autor teve que se deslocar para outro hospital o que agravou o seu quadro clínico, pois, ao retornar de uma das sessões foi imediatamente removido para UTI. Assim, está presente na hipótese a presunção hominis, que decorre da compreensão das coisas da vida pelo homem comum, de que o procedimento do qual necessitava o autor foi negado ou não foi disponibilizado com a urgência necessária pela ré, do contrário o autor não teria motivo para ter se deslocado para realizar as sessões de Câmara Hiperbárica e para propor a presente demanda. Observa-se, portanto, que o autor não usufruiu devidamente do serviço contratado somente em razão dos entraves colocados pela ré, o que sem duvida configura o dano moral indenizável, uma vez que este se viu no momento em que mais precisava sem a devida cobertura do plano de saúde, quando na verdade havia obrigação da ré em disponibilizar com urgência o tratamento pretendido em hospital credenciado. Desta feita, é de se consignar, que na hipótese, houve afronta ao princípio da função social do contrato e ao princípio da tutela da dignidade da pessoa humana, da vida e da saúde. Assim, assiste razão ao autor, merecendo ser acolhida sua pretensão indenizatória, referente ao dano moral sofrido. No que diz respeito ao quantum indenizatório, este deve expressar uma quantificação adequada e justa, cuja disciplina Apelação nº 1004537-96.2013.8.26.0606 4
fls. 221 está consagrada no art. 5º, inc. X da Constituição Federal, sem deixar de lado, todavia, uma dose de equilíbrio, evitando-se tanto o exagero, quanto o aviltamento de indenização. Portanto, considerando que na indenização por dano moral devem ser sopesados o grau de lesividade e a repercussão do dano, fica mantida a condenação da ré estabelecida na r. sentença na quantia de R$ 10.000,00, com correção monetária da data do arbitramento e juros de mora que devem incidir a partir da citação, por se tratar de inadimplemento contratual. Importante esclarecer, que o termo de incidência dos juros está sendo modificado de ofício por se tratar de matéria de ordem pública. Do exposto, nega-se provimento ao recurso. JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS Relator Apelação nº 1004537-96.2013.8.26.0606 5