Professor Murilo Góes muriloteajuda@gmail.com Figuras de Linguagem Livro 2 / Frente A / Cap. 4 / Pág. 35
Recursos linguísticos usados para criar sentidos novos e expressivos ao texto. Apresentações comuns à literatura (campo da arte com as palavras), mas não exclusivas de gêneros literários. Surgem sempre que o interlocutor quer enfatizar um conceito, reforçar alguma ideia ou reforçar um efeito de sentido.
Identificação entre dois termos por meio de conectivos explícitos. Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina (...) Construção, de Chico Buarque.
Artifício linguístico capaz de promover uma transferência de significado de um vocábulo para outro, por meio de comparação não claramente explícita em conectivos ou verbos comparativos. Oh, pedaço de mim Oh, metade arrancada de mim Leva o vulto teu Que a saudade é o revés de um parto A saudade é arrumar o quarto Do filho que já morreu Pedaço de Mim, de Chico Buarque.
O sentido figurado é tão utilizado que sequer nos damos conta de que aquela palavra não corresponde exatamente ao que ela está designando. Por essa razão, alguns estudiosos comparam a catacrese a uma metáfora que, de tão frequente, já foi incorporada ao nosso vocabulário, e às vezes ela é definida como uma metáfora obrigatória. Braço da cadeira. Embarcar no avião/ no trem/ no ônibus. Árvore genealógica.
Troca de um termo por outro de mesma similaridade. É a substituição de palavras que guardam uma relação de sentido entre si.
TIPOS Quando troca-se o autor pela obra: Você precisa ler Shakespeare. Quando o continente é substituído pelo conteúdo: Os meninos comeram dois pratos no jantar. Se trocarmos o inventor por seu invento: Thomas Edison iluminou o mundo. Quando se toma o abstrato pelo concreto, ou vice-versa: Pela cruz vencerás. Se o efeito for tomado pela causa ou vice-versa (metalepse): Ganharás o pão com o suor de teu rosto. Respeito seus cabelos brancos.
Antonomásia ou perífrase É a troca de um nome por uma expressão, ou por outro nome que caracterize uma qualidade, ou um fato identificador. O Apóstolos dos Gentios revolucionou o mundo com sua pregação. Outros exemplos: seleção canarinho, cidade luz, rei do rock, cavaleiro das trevas.
Aproximação de palavras que expressam ideias opostas. Tal aproximação produz um contraste que enfatiza os sentidos das duas palavras, ressaltandoos de uma forma que não seria possível se os termos fossem empregados isoladamente. Não existiria som se não houvesse o silêncio Não haveria luz se não fosse a escuridão A vida é mesmo assim Dia e noite, não e sim (Certas coisas Lulu Santos/ Nelson Motta) Nasce o sol, e não dura mais que um dia Depois da luz se segue a noite escura Em tristes sonhos morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. (À instabilidade das cousas do mundo Gregório de Matos)
Expressão de uma contradição aparente que se estabelece numa associação de ideias opostas. Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. (Camões)
A explosiva descoberta Ainda me atordoa. Estou cego e vejo. Arranco os olhos e vejo. (Carlos Drummond de Andrade)
Emprego de uma palavra ou expressão de forma que ela tenha um sentido diferente do habitual e produza um humor sutil. Frequentemente, esse jogo é feito utilizando-se uma palavra quando na verdade se quer dizer o oposto dela, mas vale lembrar que nem só de oposições se constroem as ironias. Às vezes, o sentido real do que se diz não é exatamente o oposto, mas é diferente, e isso basta para tornar a sentença irônica. "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis, nada menos." (M. P. Brás Cubas, Machado de Assis) Que pessoa educada! Entrou sem cumprimentar ninguém. Fale mais alto, lá da esquina ainda não dá para ouvir.
Emprego de uma palavra ou expressão de forma que ela atenue a carga semântica de outras palavras ou expressões.
Sequência de palavras ou expressões que reforçam a mesma ideia. É pau, é pedra, é o fim do caminho. (Tom Jobim) Obs.: Clímax e anticlímax
Caracteriza-se pelo exagero de uma ideia com o objetivo de expressar intensidade. É uma figura de linguagem construída através do uso intencional de uma palavra ou expressão exagerada em si mesma ou pelo uso de um termo que é exagerado em relação ao contexto. Fiz uma compra pela internet e a encomenda demorou 300 anos pra chegar. O filme foi tão emocionante que inundei o cinema de tanto chorar. O público morreu de tanto dar risada no show daquele comediante.
Figura de ênfase. Trata-se da repetição de palavras que tem o mesmo significado, em uma mesma oração. Pode ocorrer de duas formas: como pleonasmo literário ou como pleonasmo vicioso (perissologia). SONETO DA FIDELIDADE Vinícius de Moraes De tudo, ao meu amor serei atento antes E com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento
Figura da repetição. Ocorre quando uma mesma palavra ou várias, são repetidas sucessivamente, no começo de orações, períodos, ou em versos. A repetição tem o objetivo de dar ênfase e tornar mais expressiva a mensagem. A PRIMEIRA VISTA Chico César Quando não tinha nada, eu quis Quando tudo era ausência, esperei Quando tive frio, tremi Quando tive coragem, liguei Quando chegou carta, abri Quando ouvi Prince, dancei Quando o olho brilhou, entendi Quando criei asas, voei (...)
Repetição de um determinado conectivo entre palavras ou expressões; utiliza o excesso de elementos de ligação para enfatizar a ideia de acréscimo ou de sucessão. Enquanto os homens exercem seus podres poderes índios e padres e bichas, negros e mulheres E adolescentes fazem o carnaval (Podres poderes Caetano Veloso) Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro. (Fernando Pessoa)
Repetição de sons de consoantes iguais ou semelhantes. Ocorre geralmente, no início das palavras, que compõem versos ou frases, mas pode estar também no meio ou no fim. Quem com ferro fere com ferro será ferido. Lá vem o pato Pato aqui, pato acolá Lá vem o pato Para ver o que é que há (O pato Vinícius de Moraes)
Repetição de sons de sons vocálicos ao longo de uma frase, de um verso ou de um poema. Ó Formas alvas, brancas, Formas claras Cruz e Souza
A figura de linguagem elipse se dá quando uma palavra ou expressão é omitida da sentença, mas mesmo assim pode ser identificada. O termo fica subentendido e sua ausência na oração não prejudica a compreensão do que está sendo dito. Na minha estante, livros e discos antigos. (Na minha estante, há livros e discos antigos.) ATENÇÃO: Existe uma outra figura de linguagem que também se dá pela omissão de termos, uma espécie de caso particular da elipse. Mas ela possui uma característica que justifica sua descrição como uma figura de linguagem à parte. Trata-se do zeugma.
Caracteriza-se pela omissão de palavras ou expressões anteriormente expressas no período. Eu gosto de morango e de melancia também. (Eu gosto de morango e gosto de melancia também.) Eu chego cedo sempre, só não quando estou sem carro. (Eu chego cedo sempre, só não chego quando estou sem carro.)
FIGURAS SEMÂNTICAS FIGURAS DE HARMONIA FIGURAS DE PENSAMENTO FIGURAS DE CONSTRUÇÃO SINESTESIA PARONOMÁSIA APÓSTROFE ANACOLUTO ONOMATOPÉIA PROSOPOPEIA SILEPSE