Gestão e Administração Eclesiástica "Responsabilidade Contábil-financeira da Igreja"



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Transcrição:

Gestão e Administração Eclesiástica "Responsabilidade Contábil-financeira da Igreja" Para muitos seminaristas a matéria Administração Eclesiástica é uma das menos atrativas e apreciadas em seu curso teológico. Para muitos pastores, principalmente para aqueles que têm o encargo de presidir a Igreja, as questões administrativas, legais, contábeis e financeiras não são prioritárias por vários motivos: sua complexidade, a grande demanda das outras áreas ministeriais, a falta de entendimento das suas responsabilidades como presidente de uma Igreja legalmente constituída, a carência de assessores nestes assuntos, o receio de delegar, as dificuldades pessoais nestas áreas, etc. Entretanto, seja a negligência, a falta de conhecimento ou quaisquer outros motivos, as questões administrativas têm trazido para os presidentes das Igrejas, sejam pastores ou não, uma grande tensão diante das exigências legais que recaem sobre a Igreja como pessoa jurídica de direito privado. Sabemos que a Igreja é o Corpo Vivo de Cristo, um organismo, e precisa ser pastoreada com todo zelo como a Noiva de Cristo, mas não nos esqueçamos que, diante dos órgãos públicos, ela é contribuinte como qualquer outro e também precisa ser irrepreensível em sua administração. Convém relembrar que nos Estatutos das Igrejas, por exigência legal, consta que compete ao presidente e, no impedimento deste, aos vicepresidentes, representar a Igreja ativa e passiva, judicial e extrajudicialmente. Isto significa que o presidente está legalmente autorizado a agir em nome da Igreja perante instituições financeiras, órgãos públicos municipais, estaduais e federais, em seus negócios com pessoas físicas e jurídicas, etc. Certamente, os secretários e tesoureiros têm as suas competências, mas o presidente e, em sua falta ou em seus impedimentos, o seu substituto legal, tem o dever de supervisionar os serviços dos seus pares de diretoria administrativa. Numa eventual fiscalização, não adianta o presidente simplesmente alegar que a responsabilidade por alguma omissão ou ato errôneo era só da secretaria ou da tesouraria. Isto pode até atenuar, especialmente diante da Igreja, mas diante das autoridades, a responsabilidade legal é de quem preside, seja pastor ou não! 1

À primeira vista, representar a Igreja parece algo muito inofensivo, mas certamente há implicações, pois mesmo que a Igreja tenha uma liderança zelosa, uma boa administração e nunca aja de má fé, poderá ser surpreendida por fatos, aparentemente pequenos, mas cujos desdobramentos podem ser onerosos e sérios. Dois fatos concretos ocorridos: Acompanho há seis anos fatos ocorridos com uma Igreja, que devido a processos em andamento, prefiro não citar o nome. Primeiro fato Há alguns anos a Igreja adquiriu um terreno com 4.500m² visando construir as dependências para uma futura congregação. Na primeira limpeza do terreno, além da roçada normal, foram cortadas indevidamente algumas mudas de árvores e também um dos vizinhos aproveitou para jogar suas árvores cortadas no terreno da Igreja sem o conhecimento e permissão da mesma. A Polícia Militar Ambiental, através de denúncia ou não, constatou o fato e autuou a Igreja, o que causou o embargo do terreno. Após um longo processo para desembargar o terreno junto aos órgãos de meio ambiente, foi assinado entre as partes dois Termos de Compromisso de Recuperação Ambiental. No primeiro, acordou-se que 1.295m² do terreno fossem registrados na matrícula do imóvel como área verde, que não pode ser mexida; e, no segundo, que a Igreja plantasse 443 mudas de árvores em outra propriedade, acompanhando o crescimento das mesmas por 30 meses. Todo o processo levou mais de 7 anos, custou quase R$ 30.000,00 e impediu a Igreja de ter o direito de mexer naquela área por 5 anos. Mas isso não foi tudo. A autuação foi encaminhada ao Ministério Público, que, por sua vez, deu início a um processo-crime contra o presidente da Igreja, acusando-o de crime ambiental. O departamento jurídico da Igreja agiu com muita competência, os pareceres dos órgãos do meio ambiente foram muito morosos, o que resultou no arquivamento do processo por decurso de prazo. 2

Segundo fato A mesma Igreja foi auditada por três meses pela Receita Federal, especialmente na área previdenciária. Uma das autuações foi porque a Igreja utilizava recibo comum e não o RPA (Recibo de Pagamento a Autônomo) para quitar os seus compromissos com seus prestadores de serviços (pedreiros, pintores, encanadores, diaristas, etc.). Consequentemente, não retinha e nem recolhia os 11% do valor pago aos prestadores de serviços e não recolhia os 20% da parte patronal. Autuada, recolheu prontamente com multa e correção monetária os valores não retidos, pensando que estava tudo resolvido. Mas, algumas semanas depois, o pastor presidente da Igreja recebeu a intimação judicial para responder a processo-crime por sonegação fiscal. Este processo encontra-se parado, aguardando o julgamento de recursos administrativos da Igreja junto à Previdência Social. Uma advertência Em 27.09.13, participei de uma reunião na Secretaria do Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Atibaia com os representantes administrativos de todas as Igrejas da cidade (evangélicas, católicas, seitas) visando instruir sobre várias questões legais que envolvem a esfera municipal. Na ocasião, advertiu-se que as igrejas clandestinas, ou seja, que não existem legalmente (sem estatuto registrado em cartório, consequentemente sem CNPJ e alvarás de localização e de funcionamento, etc.) teriam seus prédios interditados e seus líderes notificados judicialmente. O triste é ouvir de um secretário municipal não evangélico que as Igrejas precisam ser modelos! Isto é tão óbvio, mas infelizmente nem sempre é fato. Outros casos! Podemos elencar outras irregularidades que tenho ouvido de líderes e membros de várias Igrejas, tais como: atas mal lavradas cujas decisões tornam-se nulas de pleno direito; atas de eleição e principalmente posse da diretoria estatutária sem registro em Cartório até por vários anos, o que, consequentemente, impedem que, entre outras coisas, a Igreja movimente contas bancárias, adquira ou venda imóveis. Ainda, a não entrega há anos, apesar de imunes, da DIPJ (Declaração de Rendimentos da Pessoa Jurídica), 3

correndo o risco, além das multas e autuações, de ter o CNPJ bloqueado; pagamentos de prestadores de serviço sem a devida nota fiscal ou RPA; compra de material de consumo e até bens através de documento sem valor contábil ou fiscal; funcionários sem registro na CTPS; a não observância das leis trabalhistas ou convenções coletivas do sindicato ao qual o funcionário pertence. Também, imóveis ou movimentação de contas bancárias da Igreja em nome de terceiros; falta de um contador competente e responsável pela contabilidade da Igreja; Igrejas sem Livro Diário devidamente registrado em Cartório (Código Civil Art. 1.180 e 1.181) e sem Livro Razão; o responsável legal perante a Receita Federal não é o presidente; aquisição ou locação de imóvel em área não permitida pela lei de zoneamento do município para a existência de Igreja; pessoas morando há anos em imóvel da Igreja sem qualquer contrato de aluguel ou comodato, mas que aproveita da situação para solicitar usucapião e ficar com a propriedade; etc. Sem desculpas! Não adianta o pastor presidente ou qualquer representante legal alegar perante a fiscalização ou órgãos públicos que simplesmente não sabia ou desconhecia o assunto, pois o Art. 3º do DL nº 4657/42 preceitua que Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Por outro lado, se as autoridades competentes autuarem a Igreja por alguma irregularidade, também não convém alegar que é perseguição do inimigo ou algo parecido, pois é mais provável que seja negligência ou incompetência administrativa. Já se foi o tempo de tratar os negócios da Igreja de maneira caseira, como se nada fosse acontecer, simplesmente porque é só uma Igreja e assim ninguém vai fiscalizar. Grande engano! Vão fiscalizar sim e, mesmo que não houvesse fiscalização, a responsabilidade da Igreja é de ser exemplo como pessoa jurídica que é. Lembremos que os órgãos públicos estão interligados e as informações são compartilhadas entre eles: Receita Federal, Previdência Social, Cartórios, Prefeituras, Corpo de Bombeiros, Meio Ambiente, etc. Por exemplo, no Estado de São Paulo para se obter o Alvará de Funcionamento, existe o VRE JUCESP (Via Rápida da Junta Comercial do Estado de São Paulo), 4

que engloba os pareceres da Prefeitura, Vigilância Sanitária, Meio Ambiente, Corpo de Bombeiros; sem a aprovação de todos, o Alvará não é expedido. Creio que está muito claro que, ao tomar posse na presidência de uma Igreja, o pastor ou conforme o caso, outro membro, precisa estar muito ciente que tem responsabilidades diante de Deus, da Igreja que lidera, mas também perante as autoridades constituídas do país. A não execução com responsabilidade das suas atribuições, conforme já vimos, poderão lhe trazer sérias consequências. Arrumando a casa Certamente a prioridade do pastor é cuidar do rebanho de Deus, mas creio que a melhor maneira dele presidir bem as áreas administrativas, legais, financeiras e contábeis, é assessorando-se com profissionais das diversas áreas, preferencialmente com irmãos membros da Igreja. Isto começa pelos seus pares de diretoria, dando aos vice-presidentes a responsabilidade de supervisionar uma ou mais destas áreas; orientar a Igreja a eleger secretários e tesoureiros que saibam de fato as particularidades das suas respectivas funções, pessoas responsáveis, organizadas e zelosas. Se houver ovelhas que atuam na área do Direito, convide-os a comporem um Departamento Jurídico; certamente terão alegria em servir a Igreja até gratuitamente com seu conhecimento e préstimos profissionais. Se não houver membro da Igreja com esta formação, procure alguém de outra Igreja e, em último caso, contrate um profissional de fora. O art. 1.182 do Código Civil Brasileiro diz que a escrituração de uma pessoa jurídica é responsabilidade de contabilista legalmente habilitado, isto inclui a Igreja. Portanto, contrate um profissional que realmente tenha conhecimento das rotinas fiscal, contábil, trabalhista e previdenciária de uma Igreja, pois ele será o responsável (Art. 1.177 e 1.178 Código Civil), solidariamente com o presidente e o tesoureiro da Igreja, nas áreas que lhe competem. Caso no Estatuto da Igreja esteja previsto o Conselho Fiscal ou Comissão Fiscal, oriente a Igreja a eleger pessoas que tenham formação ou um bom conhecimento do assunto e oriente-os a terem uma visão crítica como 5

auditores e não de simples conferentes de soma e ticadores. É certo que uma fiscalização interna competente e séria resguardará o presidente, os tesoureiros, enfim, a Igreja, reduzindo os riscos de sanções legais e trazendo mais transparência no trato com as finanças e, muitas vezes, até identificando gastos desnecessários para a Igreja. Eis o desafio, presidam bem a Igreja onde o Supremo Pastor os colocou como pastores! Ednilson Farto Batista exerce o ministério pastoral desde 1985; pastor da Primeira Igreja Batista de Atibaia (SP) na área de Administração; graduado em teologia com ênfase em ministério pastoral pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida. Casado há 29 anos com Vera Lúcia, tem duas filhas casadas e uma neta. 6