MINUTA PROJETO DE LEI Súmula: Institui a Política Estadual sobre Mudança do Clima. A Assembléia Legislativa do Estado do Paraná decretou e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º. Esta Lei institui a Política Estadual sobre Mudança do Clima, fixa seus princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos. Parágrafo único. A Política Estadual sobre Mudança do Clima norteará a elaboração do Plano Estadual sobre Mudança do Clima, dos planos locais, bem como de outros planos, programas, projetos e ações relacionados, direta ou indiretamente, à mudança do clima. Art. 2º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - adaptação: iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima; II - Comunicação Estadual: documento oficial do Governo, contendo políticas e medidas abrangentes para a proteção do sistema climático global, tendo como núcleo o inventário de emissões antrópicas de gases de efeito estufa no território paranaense, considerando as fontes, sumidouros e reservatórios significativos; III - emissões: liberação de gases de efeito estufa ou seus precursores na atmosfera numa área específica e num período determinado; IV - fonte: processo ou atividade que libere na atmosfera um gás de efeito estufa, um aerossol ou precursor de gás de efeito estufa; V - gases de efeito estufa: constituintes gasosos da atmosfera, naturais e antrópicos, que absorvem e reemitem radiação infravermelha; VI - impacto: os efeitos da mudança do clima nos sistemas humanos e naturais; VII inventário: é o levantamento, para fins de contabilização, das emissões por fontes e remoções por sumidouros de gases de efeito estufa; VIII - mitigação: mudanças e substituições tecnológicas que reduzam o uso de recursos e as emissões por unidade de produção, bem como a implementação de medidas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e aumentem os sumidouros; IX - mudança do clima: mudança de clima que possa ser direta ou indiretamente atribuída à atividade humana que altere a composição da atmosfera mundial e que se some àquela provocada pela variabilidade climática natural observada ao longo de períodos comparáveis;
X - reservatório: componente ou componentes do sistema climático que armazenam um gás de efeito estufa ou um seu precursor; XI - resiliência: capacidade de um ecossistema retornar a seu estado de equilíbrio dinâmico, após sofrer uma alteração ou agressão; XII - serviços ambientais: são benefícios prestados pelos ecossistemas que incluem Serviços de suprimento, serviços regulatórios, serviços culturais e serviços de suporte; XIII - sistema climático: complexo composto pela atmosfera, hidrosfera, criosfera, superfície terrestre e biosfera, bem como suas interações ao longo do tempo pela influência de sua dinâmica interna e por condicionantes externas, tanto naturais quanto causadas pelo homem; XIV - sumidouro: processo, atividade ou mecanismo que remova da atmosfera um gás de efeito estufa, um aerossol ou um precursor de um gás de efeito estufa; XV - vulnerabilidade: grau de suscetibilidade e incapacidade de um sistema, em função de sua sensibilidade, sua capacidade de adaptação e do caráter, magnitude e taxa de mudança e variação do clima a que está exposto, de lidar com os efeitos adversos da mudança do clima, entre os quais a variabilidade climática e os eventos extremos; Art. 3º. A Política Estadual sobre Mudança do Clima observará os seguintes princípios: I - da proteção do sistema climático; II - da prevenção; III - da precaução; IV - do poluidor-pagador; V - do protetor-receptor; VI - do reconhecimento das diversidades física, social e econômica das regiões do Estado; VII - do desenvolvimento sustentável; VIII - da informação, da transparência e da participação pública. Art. 4º. A Política Estadual sobre Mudança do Clima tem como objetivos: I - controlar e reduzir progressivamente as emissões antrópicas por fontes e fortalecer as remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa no território estadual; e
II - definir e implementar medidas para promover a adaptação à mudança do clima das comunidades locais, dos Municípios, regiões e de setores econômicos e sociais, em particular aqueles especialmente vulneráveis aos seus efeitos adversos. Art. 5º. São diretrizes da Política Estadual sobre Mudança do Clima: I - incorporar a variável climática nas políticas de desenvolvimento e na atividade administrativa do Estado; II - identificar e alinhar os instrumentos de ação governamental já estabelecidos para a consecução dos objetivos desta Política; III - promover a educação, a capacitação e a conscientização pública sobre mudança do clima; IV - criar e utilizar instrumentos econômicos, financeiros e fiscal para atingir os objetivos desta Lei; V - promover a pesquisa, o desenvolvimento, a inovação e a difusão de tecnologias, processos e práticas orientados aos objetivos desta Lei; VI - adotar ações de mitigação da mudança do clima por meio da redução de emissões antrópicas por fontes e do fortalecimento das remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa; VII - adotar medidas de adaptação para reduzir os efeitos adversos da mudança do clima e a vulnerabilidade dos sistemas ambiental, social e econômico; VIII - apoiar e estimular padrões sustentáveis de produção e consumo, de forma a contribuir para os objetivos desta Política; IX - realizar periodicamente a Comunicação Estadual; X - fomentar a utilização das fontes renováveis nas matrizes energéticas do Estado; XI - promover a competitividade de bens e serviços menos intensivos em carbono; XII - alinhar a Política Estadual à Política Nacional; XIII - promover e apoiar a cooperação em todos os níveis para atingir os objetivos desta Lei; XIV - aperfeiçoar e garantir a observação sistemática e precisa do clima e suas manifestações no território estadual e áreas oceânicas. Art. 6º. São instrumentos da Política Estadual sobre Mudança do Clima: I - a Política Nacional e o Plano Nacional sobre Mudança do Clima;
II - os Fundos Nacional e Estadual sobre Mudança do Clima; III - o Plano Estadual sobre Mudança do Clima; IV - o Fórum Estadual de Mudanças Climáticas; V - o Registro Estadual de Estoque, Emissão e Redução; VI - a Comunicação Estadual; VII - o Monitoramento climático estadual; VIII - instrumentos econômicos, fiscais e tributários. Art. 7º. Fica instituído o Fundo Estadual Mudanças Climáticas - FEMUC, com a finalidade precípua de prestar suporte financeiro à Política Estadual de Mudanças Climáticas, integrado à Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos SEMA, regido pelas normas estabelecidas nesta Lei e em seu regulamento. 1º. O Fundo Estadual Mudanças Climáticas FEMUC será administrado pelo Conselho Estadual de Mudanças Climáticas, que será presidido pelo Secretário Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos; 2º. A gerência do Fundo Estadual Mudanças Climáticas FEMUC será exercida pelo Secretário Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e por um tesoureiro por ele nomeado. 3º. O Conselho Estadual de Mudanças Climáticas será composto, de forma paritária, por representantes de representantes de instituições do Poder Executivo Estadual, com atuação relevante nas questões de meio ambiente, recursos hídricos e desenvolvimento sustentável; representantes da Assembléia Legislativa Estadual; representantes dos Municípios; e representantes de entidades da sociedade civil relacionadas com recursos hídricos. Art. 8º. Constituem recursos do Fundo Estadual Mudanças Climáticas FEMUC: I - 5% (cinco por cento) da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais CFEM, recebida pelo Estado do Paraná com base no art. 20, 1º., da Constituição Federal; II - transferências da União destinadas à execução de planos e programas de mudanças climáticas de interesse comum; III - recursos provenientes da ajuda e cooperação internacional e de acordos intergovernamentais; IV - doações de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras; V - taxas ou parcelas de taxas ambiental, conforme definido em legislação específica;
VI - convênios ou contratos firmados entre o Estado e outros entes da Federação, ou outros órgãos inter ou intra governamentais; VI - dotações orçamentárias do Estado e créditos adicionais; VII - outros recursos que lhe forem destinados. Art. 9º. Os recursos do FMUC serão aplicados, conforme decisão do Conselho Estadual de Mudanças Climáticas: I - no apoio financeiro à execução dos trabalhos promovidos pelo Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas Globais; II - no apoio financeiro a ações, projetos e programas específicos a mudanças climáticas de interesse público. III - nas metas estabelecidas anualmente pelo Conselho Estadual de Mudanças Climáticas. Art. 10 o. O Plano Estadual sobre Mudança do Clima, elaborado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos SEMA e sob a coordenação da Coordenadoria de Mudanças Climáticas, é um conjunto de ações e medidas, fundamentado e orientado na Política Estadual, que objetiva a mitigação da mudança do clima e a adaptação aos seus efeitos. Art. 11. O Plano Estadual sobre Mudança do Clima deverá ser estruturado com base em quatro eixos: I - mitigação; II - vulnerabilidade, impacto e adaptação; III - pesquisa e desenvolvimento; e IV - capacitação e divulgação. Art. 12. A estratégia de elaboração e implementação do Plano Estadual sobre Mudança do Clima deverá prever a realização de consultas públicas para manifestação dos movimentos sociais, das instituições científicas e de todos os demais agentes interessados no tema, com a finalidade de promover a transparência do processo e a participação social. Parágrafo único. O processo de consulta pública incluirá os resultados da Conferência Estadual do Meio Ambiente e a participação do Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas Globais. Art. 13. O Plano Estadual sobre Mudança do Clima, em consonância com a Política Estadual de Educação Ambiental, deverá promover o desenvolvimento e a realização de campanhas, programas e ações de educação ambiental, em linguagem acessível e compatível com os diferentes públicos, com o fim de conscientizar a população sobre as causas e os impactos decorrentes da mudança do clima e as alternativas, individuais e coletivas, de mitigação, de adaptação. Art. 14. O Estado do Paraná criará e manterá o Registro Estadual de Estoque, Emissão e Redução, com o objetivo de estabelecer critérios mensuráveis, verificáveis e passíveis de serem informados, promover o acompanhamento dos resultados de medidas de redução e remoção de gases de efeito estufa, e auxiliar os agentes privados e públicos na definição de estratégias para o aumento da eficiência e produtividade
1º. A inscrição no Registro Estadual de Estoque, Emissão e Redução será voluntária, conforme o disposto em regulamento, incluindo as seguintes etapas: I. formalização da adesão, por meio da assinatura de um protocolo de intenção; II. declaração das emissões de gases de efeito estufa, conforme inventário das emissões líquidas de gases de efeito estufa da organização; III. declaração da redução das emissões ou seqüestro de carbono, conforme inventário de reduções líquidas de gases de efeito estufa da organização. 2º. As organizações participantes do Registro Estadual de Estoque, Emissão e Redução receberão o Selo de membro do Registro, conforme regulamento, e serão fiscalizadas com relação às informações prestadas, pagando a taxa correspondente; 3º. As organizações que comprovarem a redução líquida de emissões por diminuição ou neutralização de emissões terão direito ao Selo Empreendedor Climático, conforme regulamento. Art. 15. O Estado do Paraná deverá realizar sua Comunicação Estadual, quinquenalmente, com o seguinte conteúdo: I - Inventário Estadual de emissões por fontes de emissão e absorção por sumidouros de gases de efeito estufa, em conformidade com métodos recomendados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas; II - mapa com avaliação de vulnerabilidades e necessidades de adaptação aos impactos adversos causados pela mudança do clima, integrado às ações da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e demais autoridades competentes; III - referência a planos de ação específica para o enfrentamento do problema da mudança do clima, incluindo aspectos de mitigação e adaptação. Art. 16. O monitoramento climático estadual será realizado pelo SIMEPAR e visará a observação sistemática e o monitoramento preciso do clima e suas manifestações no território estadual. Art. 17. Ao Poder Público incumbirá: I - integrar as diversas políticas públicas, dentre as quais as de transporte, energia, saúde, saneamento, agricultura e atividades florestais, de forma que atendam aos princípios desta Lei; II desenvolver programas de sensibilização, conscientização, mobilização e de disseminação de informações para que a sociedade civil possa efetivamente contribuir com a proteção do sistema climático, em particular divulgar informações ao consumidor sobre o impacto de emissões de gases de efeito estufa dos produtos e serviços; III estimular linhas de pesquisa sobre ciências em mudança do clima, mitigação, vulnerabilidade, adaptação e desenvolvimento de novas tecnologias. Art. 18. As licitações para aquisição de produtos e serviços pela Administração Pública Direta e Indireta do Estado do Paraná deverão incluir, nos termos do edital
ou do instrumento convocatório, critérios ambientais que atendam às diretrizes e objetivos desta Política. Parágrafo único. A caracterização do produto ou serviço como de menor intensidade de emissão ou o registro da empresa perante o Registro Estadual de Estoque, Emissão e Redução poderão ser adotados como critério de desempate. Art. 19. O Estado deverá, a partir da publicação desta Lei: I. em até 1 (um) ano, criar o Cadastro Estadual de Emissões; II. em até 01 (um) ano, elaborar o Plano Estadual sobre Mudanças do Clima; III. em até 02 (dois) anos, elaborar sua primeira Comunicação Estadual sobre Mudança do Clima e criar o Fundo Estadual sobre Mudança do Clima; IV. em 180 (cento e oitenta) dias, regulamentar os demais aspectos da lei. Art. 20. Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogando-se todas as disposições em contrário. PALÁCIO DO GOVERNO EM CURITIBA, em... de... de 2009. ROBERTO REQUIÃO Governador LINDSLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES Secretário Estadual de Meio Ambiente