Calvino sobre Conhecimento



Documentos relacionados
Como Ler a Bíblia Biblicamente

Jesus declarou: Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo. (João 3:3).

Eis que tudo se fez novo (aluno)

2015 O ANO DE COLHER ABRIL - 1 A RUA E O CAMINHO

Juniores aluno 7. Querido aluno,

LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, EXPRESSÃO E RELIGIÃO NO BRASIL Rev. Augustus Nicodemus Lopes APRESENTAÇÃO CARTA DE PRINCÍPIOS 2011

Jesus, o Filho de Deus

Prof. José Joaquim Fundador da Sociedade das Comunidades Catequéticas. Aprendendo com Jesus

IGREJA DE CRISTO INTERNACIONAL DE BRASÍLIA ESCOLA BÍBLICA

AGOSTINHO DE HIPONA E TOMÁS DE AQUINO (3ª SÉRIE, REVISÃO TESTÃO)

Centralidade da obra de Jesus Cristo

OLHANDO FIRMEMENTE PARA JESUS

COMO E ONDE OS DONS DE PODER SE MANIFESTAM

ESTUDO 1 - ESTE É JESUS

MISSÕES - A ESTRATÉGIA DE CRISTO PARA A SUA IGREJA

A Bíblia realmente afirma que Jesus

5. Autoconsciência e conhecimento humano de Jesus

PARÓQUIA NOSSA SENHORA APARECIDA e SÃO LOURENÇO Em obediência à vossa palavra, lançarei as redes (Lc 5,5b)

KJV King James Bible Study Correspondence Course An Outreach of Highway Evangelistic Ministries 5311 Windridge lane ~ Lockhart, Florida ~ USA

A PRÁTICA DO PRECEITO: AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO

A RECONCILIAÇÃO DE TODAS AS COISAS

Dia 4. Criado para ser eterno

TEXTO SEGUNDA SEÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ CAPÍTULO I: CREIO EM DEUS PAI. Parágrafo 1: Creio em Deus

Caracterização Cronológica

O NOVO NASCIMENTO. Texto base: Jo 3: 1 a 21

Conhecendo o verdadeiro cristão (1º Jo 2:3 11)

Lição 1 - Apresentando o Evangelho Texto Bíblico Romanos 1.16,17

COMUNIDADE TRANSFORMADORA UM OLHAR PARA FRENTE

Boa sorte e que Deus abençoe muito seu esforço.

5ª Lição: O que o Islam? As Crenças Essenciais do Islam

PERGUNTAS & RESPOSTAS - FONTE ESTUDOS BÍBLICOS 2015

Compartilhando a Sua Fé

Abrindo o coração para compreender a vontade de Deus

RESENHAS SCHMITT E STRAUSS: UM DIÁLOGO OBLÍQUO

PREFÁCIO DA SÉRIE. estar centrado na Bíblia; glorificar a Cristo; ter aplicação relevante; ser lido com facilidade.

Lição 07 A COMUNIDADE DO REI

Assunto: Estudo das várias leis que estavam em operação no tempo de Cristo. 1) Lei Romana = Lei que os cidadãos obedeciam

Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.

Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira

Deus: Origem e Destino Atos 17:19-25

Apesar de toda diversidade a Bíblia toda contém uma só idéia central: Jesus Cristo, o Senhor, que ama e salva o homem pecador. Gn 3.15; Ap 19.

TCC 2 ORIENTAÇÃO COMPLEMENTAR PASSOS

ESCOLA BÍBLICA I. E. S.O.S JESUS

Mortificando a carne, Para refletir a gloria de Deus

Você foi criado para tornar-se semelhante a Cristo

JESUS, DEUS FILHO, É A 2a PESSOA DA TRINDADE

3ª LIÇÃO - AS 4 LEIS ESPIRITUAIS

Etimologia Honesto vem do latim honestus que se dizia de alguém honrado ou respeitado. Refere-se diretamente a dignidade, reputação de alguém.

agora a algumas questões Quem pode receber o

Classe Adultos. Esperança e Glória para os Salvos

Perguntas para Testar a Compreensão de 1 João

Nem o Catecismo da Igreja Católica responde tal questão, pois não dá para definir o Absoluto em palavras.

SEU NOME SERÁ CHAMADO DE "EMANUEL"

Revisão geral de conteúdo Avaliação do 1º trimestre Roteiro de Estudos. Colégio Cenecista Dr. José Ferreira Professor Danilo Borges

MANUAL. Esperança. Casa de I G R E J A. Esperança I G R E J A. Esperança. Uma benção pra você! Uma benção pra você!

E a besta... também é ele, o Oitavo. ...e caminha para a destruição. (Apocalipse 17:11) Pablo Alves

10.7 Pedro e a pedra; início das profecias sobre a Igreja

LIDERANÇA, ÉTICA, RESPEITO, CONFIANÇA

Catecismo da Doutrina Cristã

Deus o chamou para o ministério da palavra e do ensino também. Casou-se aos 21 de idade com a ministra de louvor Elaine Aparecida da Silva

Desafio para a família

/ SP


segunda-feira, 12 de março de 12

"Ajuntai tesouros no céu" - 1

SALVAÇÃO não basta conhecer o endereço Atos 4:12

O SENHOR JESUS CRISTO

Predestinação. Aula 15/06/2014 Prof. Lucas Rogério Caetano Ferreira

A Bíblia sustenta a confiabilidade das sensações?

Compreendendo a Pessoa do! Espírito Santo!

Mosaicos #7 Escolhendo o caminho a seguir Hb 13:8-9. I A primeira ideia do texto é o apelo à firmeza da fé.

Somos chamados a servir, não a sermos servidos, segundo a disposição do próprio Jesus, que serviu em nosso lugar, de livre e espontanea vontade.

- Tudo isto através das mensagens do RACIONAL SUPERIOR, um ser extraterreno, publicadas nos Livros " SO EM DESENCANTO ". UNIVER

2015 O ANO DE COLHER JANEIRO - 1 COLHER ONDE PLANTEI

A OFERTA DE UM REI (I Crônicas 29:1-9). 5 - Quem, pois, está disposto a encher a sua mão, para oferecer hoje voluntariamente ao SENHOR?

E Deus viu que tudo era bom

GRAÇA E FÉ por Rev. Fernando Almeida

Coesão e Coerência no Texto Jurídico: Reflexões para uma Comunicação mais eficiente

Assuntos abordados. Projeção astral IV - buscando o conhecimento objetivo. Considerações Finais. Meus Sites.

O CRISTÃO E A IDENTIDADE DOUTRINÁRIA. Uma introdução do curso

ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE EDITH STEIN. Prof. Helder Salvador

UNIDADE I OS PRIMEIROS PASSOS PARA O SURGIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO.

Lição 9 - Ansiedade (Parte 02) De pais para filhos

o FE Em que o Senhor Em que o Capital Senhor Capital e a Senhora terra e a Senhora Terra Esteé éum mundoencantado Virado às avessas Virado às avessas

2º Aquele que não pratica (não pratica a Lei), mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é

A palavra do Senhor descarta a ideia de triteísmo (três Deuses) e de unicismo (Religião,Prática de

FILOSOFIA DE VIDA Atos 13.36

I OS GRANDES SISTEMAS METAFÍSICOS

LIÇÃO 3 S DANIEL 2:1-49

A relação de amor entre Deus e a humanidade

II TRI. LIÇÃO evange ho 11 LUCAS O REINO DE DEUS

CARTA INTERNACIONAL. Indice:

IGREJA CRISTÃ MARANATA PRESBITÉRIO ESPÍRITO SANTENSE EM EFÉSIOS 2.8 PAULO VINCULA A SALVAÇÃO À FÉ QUE VEM DE DEUS.

O povo da graça: um estudo em Efésios # 34 Perseverando com graça - Efésios

Apostila 2 - Carismas

Filosofia - Introdução à Reflexão Filosófica

LIÇÃO 1 Deus Tem Dons para Nós

SÓ ABRA QUANDO AUTORIZADO.

UNIDADE 1: A ARMADURA DE DEUS O CAPACETE DA SALVAÇÃO (MENSAGEM DA SALVAÇÃO)

LIÇÃO 1 A SUPERIORIDADE DE CRISTO Cristo é superior a tudo e a todos, portanto, reina sobre tudo e todos Hebreus ;

Transcrição:

1 Calvino sobre Conhecimento W. Gary Crampton Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto 1 JOÃO CALVINO começou sua obra prima, As Institutas da Religião Cristã, com essas sentenças: Quase toda a soma de nosso conhecimento, que de fato se deva julgar como verdadeiro e sólido conhecimento, consta de duas partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos. Como, porém, se entrelaçam com muitos elos, não é fácil, entretanto, discernir qual deles precede ao outro, e ao outro origina (Institutas, I:I:1). 2 Sem um conhecimento de si mesmo, não há conhecimento de Deus. Mas para conhecer a si mesmo (e o mundo todo em geral), deve primeiro existir um conhecimento de Deus. Deus é conhecido melhor e anteriormente a qualquer coisa ou pessoa (Institutas I:I:1-3). Calvino começou suas Institutas com epistemologia (a teoria do conhecimento); ele não começa com como sabemos que existe um deus, e então procede para tentar provar que esse deus é o Deus da Escritura. Seu ponto de partida era a revelação. A doutrina de Deus segue a epistemologia (Institutas I:13ss.). Calvino mantinha que há uma revelação dupla de Deus ao homem: geral (Institutas I:3-5) e especial (Institutas I:6-12). A primeira é geral em audiência (toda a humanidade) e limitada em conteúdo; a última é mais restrita em audiência (aqueles que lêem a Bíblia) e muito mais detalhada em conteúdo. A última é agora encontrada na Escritura somente. Além do mais, a revelação geral e especial estão em perfeita harmonia (Institutas I:I3ss.). Numa reversão espetacular e totalmente bíblica da filosofia e teologia tradicional, Calvino ensinou que Deus não a pessoa ou o mundo é o objeto melhor conhecido pelo homem. Revelação Geral Calvino ensinou que o Espírito de Deus implantou uma consciência inata de Deus em todos os homens, uma consciência que é proposicional e inerradicável: Que existe na mente humana, e na verdade por disposição natural, certo senso da divindade, consideramos como além de qualquer dúvida Deus mesmo infundiu em todos certa noção de sua divina realidade (Institutas I:3:1). O homem, como portador da imagem de Deus, tem a lei moral impressa em seu coração: foi por Deus esculpida na mente 1 E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em maio/2007. 2 Nota do tradutor: Todas as citações das Institutas são traduções de Waldyr Carvalho Luz.

2 dos homens (Institutas IV:20:16). B. B. Warfield afirmou corretamente que tanto para Calvino quanto para Agostinho o entendimento inato no homem residia no fundamento de tudo do seu entendimento de Deus; aqui o homem tem a revelação proposicional inata. 3 Esse entendimento inato capacita o homem a ver a rica revelação de Deus na criação. para todo e qualquer rumo a que dirijas os olhos, nenhum recanto há do mundo, por mínimo que seja, em que não se vejam a brilhar ao menos algumas centelhas de sua glória Inumeráveis são, tanto no céu quanto na terra, as evidências que lhe atestam a mirífica sabedoria (Institutas I:5:1-2). Todos os homens têm uma consciência de Deus que os deixa sem escusa (Institutas I:3-5; Comentário sobre Romanos 1:18-21; 2:14-15). Todavia, devido aos efeitos do pecado sobre a mente, o homem caído, embora possua essa semente da verdadeira religião, suprime continuamente o entendimento que ele tem e sabe ser verdadeiro (Institutas I:3-5). Mas, embora careçamos de capacidade natural para podermos chegar ao puro e líquido conhecimento de Deus, entretanto, porque o defeito dessa obtusidade está dentro de nós, somos impedidos de toda e qualquer escusa. Pois não temos direito a tergiversação, nem justificativa alguma, porque não podemos pretender tal ignorância sem que nossa própria consciência nos convença de negligência e ingratidão (Institutas I:5:15). Sem os espetáculos da verdade proposicional da Palavra de Deus, o homem pecador não é capaz de chegar a um conhecimento sadio e salvífico de Deus (Institutas I:6:1). Pode ser visto que embora Calvino aderisse à revelação natural ou geral (em contraste com Karl Barth, por exemplo), ele não desenvolveu uma teologia natural. Ele ensina que o entendimento divinamente implantado (e proposicional) de Deus e (por causa disso) a demonstração diária do poder de Deus na natureza são mais que suficientes para provar que o Deus da Escritura é o único e verdadeiro Deus (Institutas I:3-5). Calvino falou da persuasão do argumento religioso e/ou moral (Institutas I:3:1-2; I:5:8-10), do argumento cosmológico (Institutas I:5:6; I:16:8-9), do argumento a partir da graça comum (Institutas I:5:7), e do argumento a partir da anatomia humana (Institutas I:5:2-3), mas desassistidos da Escritura, todos esses falam em vão (Institutas I:5:14). Nem mesmo o conhecimento da ressurreição de Jesus Cristo levou os discípulos à fé; ela meramente confirmou a fé que eles já possuíam (Institutas II:2:2-5). Calvino escreve: As provas da fé devem ser transmitidas [procuradas na] pela boca de Deus somente. Se disputamos sobre questões que concernem aos homens, então que a razão humana tome lugar; mas na doutrina da fé, a autoridade de Deus somente deve reinar, e dela devemos depender (Comentário sobre Atos 17:2). Em outras palavras, uma pessoa não tenta provar a existência de Deus; ele é a premissa necessária de todas as provas, o objeto de conhecimento melhor conhecido que qualquer outro. 3 B. B. Warfield, Calvin and Augustine, 117.

3 Revelação Especial João Calvino ensinou que a verdade proposicional da revelação especial é necessária para alguém chegar ao conhecimento salvífico de Deus por meio de Jesus Cristo. A revelação geral revela Deus como criador, mas somente a Escritura o revela como Salvador (Comentário sobre Romanos 1:16-17). Calvino escreveu: Assim a Escritura, coletando-nos na mente conhecimento de Deus [i.e., consciência inata] que de outra sorte seria confuso, dissipada a escuridão, nos mostra em diáfana clareza o Deus verdadeiro. É esta, portanto, uma dádiva singular [i.e., a revelação especial], quando, para instruir a Igreja, Deus não apenas se serve de mestres mudos, mas ainda abre seus sacrossantos lábios, não simplesmente para proclamar que se deve adorar a um Deus, mas ao mesmo tempo declara ser esse Aquele a quem se deve adorar; nem meramente ensina aos eleitos a atentarem para Deus, mas ainda se mostra como Aquele para quem devem atentar Deus proveu o subsídio da Palavra a todos aqueles a quem quis, a qualquer tempo, instruir eficientemente, porque antevia ser pouco eficaz sua efígie impressa na formosíssima estrutura do universo Afirmo que importa achegar-se à Palavra onde, de modo real e ao vivo, Deus nos é descrito em função de suas obras. [Institutas I:6:1,3]. O conhecimento verdadeiro, disse Calvino, é aquele que nos é entregue pela lei e os profetas (Comentário sobre Jeremias 44:1-7). O Reformador de Genebra mantinha que a Escritura é auto-atestadora e autoevidente (Institutas I:7:5). Existem, diz Calvino, inúmeras evidências, tanto internas como externas, que a Bíblia é a revelação infalível de Deus para a humanidade. Há a antiguidade da Bíblia (I:8:3-4), vários milagres e profecias (I:8:12), e a fidelidade dos mártires (I:8:13). Mas à parte do testemunho interior do Espírito Santo, essas evidências são vãs ; elas são subsídios secundários para nossa limitada compreensão (I:8:13; compare I:7:1-5). Calvino estava em perfeita concordância com a Confissão de Fé de Westminster (I:4-5): A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço da Escritura Sagrada; a

4 suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações. Calvino não tentou provar por argumentos extra-bíblicos que a Bíblia é a Palavra de Deus. 4 Ele escreveu: Pois, com grande escárnio do Espírito Santo, assim indagam: Quem porventura nos pode fazer crer que essas coisas provieram de Deus? Quem, por acaso, nos pode atestar que elas chegaram até nossos dias inteiras e intactas? Daí, a suprema prova da Escritura se estabelece reiteradamente da pessoa de Deus falando nela. Os profetas e os apóstolos não alardeiam, seja sua habilidade, sejam quaisquer elementos que granjeiam credibilidade aos que falam, nem insistem em razões, mas invocam o sagrado nome de Deus, mediante o qual todo mundo seja compelido à obediência (Institutas I:7:1,4). Portanto, não é justo que ela [a Bíblia] se sujeite a demonstração e arrazoados (Institutas I:7:5). A Bíblia é o axioma sobre o qual todo o conhecimento e prova é baseado. Calvino não é anti-lógico. Philip Schaff afirma que, como o melhor teólogo e exegeta do período da Reforma, Calvino nunca menosprezou a razão mas atribuiu a ela o ofício de uma criada indispensável da revelação. 5 Antes, era ao pensamento humano desassistido que Calvino se opunha (Institutas I:5:14). Isso é confirmado pelo historiador da igreja C. Gregg Singer. Singer declara que embora Calvino não tenha escrito muito sobre filosofia, não obstante isso advogou a legitimidade e necessidade de uma filosofia bíblica. De fato, ele lançou o fundamento para uma filosofia Cristã Reformada baseada somente na Palavra de Deus. 6 Historicamente, os calvinistas têm sido caracterizados como sendo muito lógicos, e não anti-lógicos. 4 B. B. Warfield poderia discordar dessa declaração (Calvin and Augustine, 29-130), assim como R. C. Sproul, John Gerstner e Arthur Lindsley (Classical Apologetics, 198-208). Eles manteriam que Calvino pensava nas evidências como trabalhando juntamente com o testemunho do Espírito; assim, ele as usaria como argumentos indutivos. O problema aqui é que todos os argumentos indutivos são falácias lógicas. Mesmo no Jardim, antes da queda, o homem era dependente da revelação proposicional para o conhecimento. Ele não poderia, por observação, ter determinado onde ele estava ou o que deveria fazer. Deus teve que lhe dizer então, e a [nossa] presente situação, exacerbada pelo pecado, é ainda pior. Por exemplo, em seu Comentário sobre Êxodo 4:5, Calvino afirmou que os milagres, como uma evidência bíblica, são usados algumas vezes como preparativos para a fé, e em outras para sua confirmação. Eles podem ser usados para abrir uma porta da fé. Mas eles devem ser apresentados apenas como as evidências bíblicas do Deus da Escritura, e nunca como prova. 5 History of Christian Church, VII, 32. 6 Gregg Singer, John Calvin, His Roots and Fruits, 52-55.

5 Embora exista uma terreno comum entre crentes e não-crentes devido ao fato de ambos terem sido criados por Deus, não existe nenhuma noção comum entre o Cristianismo e a filosofia e teologia não-cristã (Institutas I:5:13). A verdadeira fé descansa somente sobre uma crença implícita na Palavra de Deus, como revelada pelo Espírito Santo (Institutas III:2:6-10). Calvino diz que a apologética evidencialista tentar provar a existência de Deus e a verdade da Bíblia é fazer coisas às avessas (I:7:4). Como então, de acordo com Calvino, o homem chega ao conhecimento de Deus? Ele não chega! O homem conhece a Deus inatamente. O conhecimento de Deus é possível e inescapável porque ele escolheu revelar-se ao homem. Tal conhecimento não é derivado de sensação ou raciocínio. Esse entendimento rudimentar é revelacional e proposicional, e sua origem é Deus. Em adição, diz Calvino, Jesus Cristo é aquele que torna todo conhecimento possível. Ele é o Logos eterno. Cristo faz com que todos os homens tenham ciência de Deus porque ele é a verdadeira luz que ilumina todo homem que vem ao mundo (Comentário sobre João 1:9, 14, 17). Fonte: What Calvin Says, W. Gary Crampton, Trinity Foundation, p. 30-36.