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Transcrição:

FANTASIAS SEXUAIS INFANTIS, AS CRIANÇAS FALAM Maria Elisa França Rocha A intenção deste trabalho foi escutar crianças pequenas a respeito da sexualidade, bem como conhecer suas fantasias e as teorias que formulam. Procuramos ouvi-las no que se refere à diferença sexual, origem dos bebês e outros temas relacionados à curiosidade sexual infantil. Selecionamos duas creches, a da Universidade Federal de Goiás (UFG), destinada a filhos de professores, funcionários e estudantes, cujas crianças teriam, teoricamente, pais mais informados. A outra creche é uma instituição filantrópica, sustentada com doações privadas e públicas. Nesta, os pais supõe-se, teriam menos informações sobre educação infantil. As crianças de três e quatro anos foram escutadas em grupos mistos. Introduzimos os temas com o auxílio de fantoches, deixando as crianças livres para comentarem, fazerem perguntas e mudarem de assunto, registrando em vídeo a experiência. Montamos o conteúdo obedecendo a sequência das gravações, evitando cortar a fala das crianças, deixando os registros de falas sem nexos e entrecortadas, uma vez que acreditamos que são também reveladoras de processos de recalque e de significantes. Para Freud (1905/1976), a investigação sexual infantil começaria a partir dos três anos de idade, juntamente com a atividade que descreve como pulsão de saber. A criança precisa elaborar fantasias, valer-se de seu imaginário para lidar com o real do sexo, com o mistério de algo que ela não pode e não consegue apreender, daí as fantasias originárias, Urphantasien, descritas por Laplanche e Pontalis (1996) como fantasias filogenéticas ou tesouro de fantasias inconscientes. Elas fazem parte da história individual de cada sujeito, embora tenham componentes universais coincidentes, conforme pudemos comprovar na experiência realizada.

Acerca da diferença sexual, uma das crianças atribuiu-a, entre meninos e meninas, ao corte do cabelo. Meninos teriam cabelos curtos e meninas, longos. As crianças que a sucederam repetiram o mesmo argumento. Na creche da UFG, há uma escultura de uma mulher com um seio à mostra e um bebê no colo com o sexo masculino descoberto. As crianças adoram brincar ali, subir na escultura e tocá-la. Identificam a mulher como mãe e o bebê como o filho dessa mãe. Ao serem perguntados se se tratava de um menino ou menina, a princípio, não souberam responder. Uma menina e dois dos meninos disseram tratar-se de um menino porque o cabelo era curto. A que primeiro referiu-se ao cabelo disse depois tratar-se de um bebê homem, por causa do pênis que aparece, e tocou-o, mas sem nominá-lo. Quando a questão foi abordada, todas as crianças disseram não saber o nome daquilo, até que um garoto disse ser o bilau. Mesmo depois de nominado, as outras crianças ainda reafirmaram desconhecer o nome. Na creche filantrópica, uma das crianças também atribuiu o corte do cabelo à diferença sexual. Os outros mudaram de assunto e falaram coisas completamente diversas para sair da questão. Freud (1905/1976) foi pioneiro em falar do caráter sexual do psiquismo e, ao estudá-lo, chegou à conclusão de que não há inscrição da diferença sexual no Inconsciente. A questão da identidade sexual estaria ligada a uma construção psicossocial. Cada menino ou menina teria de construir sua sexualidade e identidade a partir de uma bissexualidade em potencial. O tema da gravidez não foi preciso ser sugerido pela pesquisadora. Ao falar sobre a diferença sexual, uma garotinha introduziu o tema, dizendo que, quando crescesse, seria mulher grande e que mulher grande tem filhos. As crianças, de certa forma, intuem ou têm registrada a participação dos pais no processo. Quando descrevia o nascimento da irmãzinha, um garotinho fez questão de dizer: Eu estava na cozinha,

meu pai também, e minha mãe pôs a barriga no colo do meu pai, aí o médico cortou a barriga dela. A teoria sobre como os bebês entraram na barriga da mãe foi a de que teria ocorrido pela boca. Mesmo quando isso não foi verbalizado, foi sugerido pelo fato de dizer que a mãe estava na cozinha ou à mesa quando o bebê entrou. Outro garoto sugeriu a participação masculina, dizendo que ele teria um irmão, mas que a coleguinha do lado não tinha e que, nesse caso, ele iria comprar um irmão pra ela. Uma garotinha disse ter pedido um irmãozinho ao pai, mas que ele sempre fala que arruma depois. Outra criança introduziu outro significante. Disse que Jesus coloca. Outra afirmou que o médico corta com a faca (nesse momento, falava-se de como o bebê entraria no ventre materno). A princípio, os discursos das crianças confirmaram as teorias universais pesquisadas, de que, no desconhecimento da vagina e do esperma, as crianças elaboram fantasias sobre a fecundação ligadas à oralidade. Os bebês nas fantasias universais das crianças seriam introduzidos no ventre da mãe pela boca. Uma das crianças diz: Quando ela comeu, aí ela nasceu. Outra diz que o bebê entra da boca. Segundo pesquisas, a suposição de que o bebê entra na barriga da mãe como um alimento ou pelo beijo do pai perdura até a puberdade. A ignorância da vagina também seria determinante na fantasia infantil de que o bebê é expelido como fezes. Essa ideia seria responsável pela teoria sexual infantil de que meninos podem ter filhos. Uma das meninas disse que o bebê de sua mãe teria escorregado e que ela teria visto. Esta reproduziu, inclusive, o barulho que fez ao cair: ploft. Temos, hoje, no universo significante das crianças, a entrada do médico e da medicalização da maternidade. Em ambas as creches, as crianças recorriam ao médico para informar que eles é que cortavam a barriga das mães para retirar o filho.

As crianças relataram a cena do nascimento como se estivessem presentes e assistido ao parto de seus irmãozinhos e irmãzinhas, mesmo quando estes só existem nas suas fantasias. Quanto ao significante paterno, os meninos falaram em ter filhos e as meninas, em terem filhas. Os meninos da creche da UFG falaram que, como pais, teriam de cuidar dos filhos. Esses cuidados foram traduzidos em dar banho, colocar roupa e que uma das funções do pai é levar o filho para a cama. A criança que mais falou tratou do papel do pai indiferenciado do papel da mãe. Como a mãe, o pai também teria a função de dar banho no filho, vestir roupa e levar para a cama. Esse garotinho contou que dorme sempre na cama dos pais, que gosta de dormir na frente, que dorme pegando nos cachos de cabelo da mãe e que a mãe dormiria no meio, entre ele e o pai. Na creche filantrópica, as crianças ficaram fixadas no significante bater e repetiram que a função do pai é bater. Uma das crianças falou que o pai educa e apenas uma falou que o pai trabalha. Todas disseram que, quando se tornassem pais e mães, iriam bater nos filhos. As crianças da creche filantrópica só falaram em bater. Depois de introduzido o tema, todas se fixaram nessa palavra. Para Freud (1919a/1976), principalmente na fantasia infantil masculina de espancamento, o ser espancado também significa ser amado. Lacan (1955/1989), no seminário sobre As Psicoses, defende que a linguagem infantil é fundamentalmente metonímica e que é sobre esse fundamento que a metáfora pode intervir. Para Lacan (1955/1989), o surgimento da linguagem é indissociável do advento do sujeito inconsciente e é através dele que se dá o recalcamento originário (p. 91). A metáfora paterna seria o protótipo de toda e qualquer metáfora, e a introdução da lei para a criança. O significante O Nome do Pai, para Lacan, é o significante da castração, que será estruturante do sujeito, endossando a teoria freudiana do Édipo e da

castração como determinante na formação da estrutura psíquica. Quanto aos temas sexo e morte, quando falavam sobre ter filhos, um garotinho introduziu o tema contando da morte da avó, que teria sido morta por uma ambulância. Falou da sua própria experiência com médicos e referiu-se a sua cirurgia para operar lábio leporino. Em seguida, outras crianças passaram a comentar sobre morte. Freud (1919/1976) vai falar da relação entre a repetição e a sexualidade no artigo O estranho. Um ano depois, desenvolveu melhor a teoria em Mais além do Princípio do Prazer (1920/1976), relacionando esta compulsão (Unheimlich/Estranho) à pulsão de morte. Lacan (1956/1995) vai associar a pulsão de morte ao Simbólico portanto, exterior ao sujeito, em oposição ao Imaginário, uma construção interna de cada sujeito. As experiências clínicas e investigativas demonstram que, mesmo que as crianças sejam esclarecidas com todas as letras sobre sexualidade, elas recorrem a fantasias e não abrem mão de suas próprias teorias sobre a questão. Em 1937, Freud (1937/1976) retoma a questão em Análise terminável e interminável, e conclui que as crianças, mesmo esclarecidas, mantêm suas teorias infantis, por serem estas mais adequadas à sua organização libidinal imperfeita. A obra fundamental de Freud sobre sexualidade infantil é o artigo Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade, publicado originalmente em 1905. O artigo, composto de três partes, chama a atenção para o caráter sexual do psiquismo. Na primeira parte, As aberrações sexuais, Freud (1905/1976) discorre sobre os desvios e as perversões sexuais que retiram a sexualidade humana do eminentemente natural e instintivo e ressalta a característica bissexual e pulsional do psiquismo. Na segunda parte, A sexualidade Infantil, Freud examina as manifestações da sexualidade na infância, fazendo a relação do despertar sexual no recém-nascido e suas relações com as fontes produtoras de prazer. Relaciona a sexualidade com as atividades de sugar, do

gozo ao tocar o próprio corpo e da defecção. Ainda, estabelece uma conexão entre a amnésia infantil e a amnésia histérica. O tema havia sido tratado em A Psicopatologia da vida cotidiana, quando Freud relacionou as lembranças encobridoras com o recalque. Lacan (1955/1989) atribuía como determinante na estruturação do psiquismo o significante do Nome do Pai, a importância do estágio do espelho, além de ter analisado os casos clínicos de Freud e suas teorizações sobre a sexualidade infantil. A experiência de ouvir essas crianças permitiu que constatássemos que as fantasias sexuais infantis são fruto da pulsão para o conhecimento, mas, também, do discurso materno, ou do seu substituto. Haveria, pois, teorias universais que estariam embasadas no real do corpo erotizado da criança, mas também singularidades específicas de cada experiência infantil. As crianças criariam teorias para dar conta, inicialmente, de um desconhecimento original, mas articulariam essa pulsão do saber ao discurso do Outro. Suas teorias estariam, ao mesmo tempo, limitadas e/ou ampliadas pelo discurso do Outro, o que foi sugerido pela diferença de articulação e informação entre o grupo de crianças. Pudemos confirmar com a experiência empírica que não há inscrição da diferença sexual visível para essas crianças e que essa diferença carece para elas de significantes. De alguma forma, as crianças intuem, talvez pela própria pulsão sexual, presente na mais tenra infância, da participação do Outro no seu desejo. Mesmo sem ter havido qualquer sugestão ao falar de gravidez e concepção, elas trouxeram o representante paterno para, de algum modo, explicar o fenômeno. Na experiência clínica, podemos trazer mais luz à questão de enfrentar os impasses que a teoria psicanalítica encara quando desafiada pela clínica de crianças.

BIBLIOGRAFIA FREUD, S. A Interpretação de Sonhos (1900) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 5. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. A Psicopatologia da vida cotidiana (1901) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 6. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 7. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. Duas histórias clínicas (1909-1922) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 15. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. Cinco Lições de Psicanálise (1909-1910) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 16. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. Uma neurose infantil: história de uma neurose infantil (1918) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 17. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. Uma criança é espancada (1919a) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 17. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. O estranho (1919b) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 17. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. Além do Princípio do Prazer (1920) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 18. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise (1932) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 22. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. Análise Terminável e Interminável (1937) In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 23. Rio de Janeiro: Imago, 1976. LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1996. JORGE, M. A. C. Fundamentos da Psicanálise de Freud a Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. LACAN, J. O Seminário livro 3, As psicoses (1955). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989. LACAN, J. O Seminário livro 4, As relações de Objeto (1956). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.. O Seminário livro 5, As formações do Inconsciente (1957-1958). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

SOBRE A AUTORA Maria Elisa França Rocha. Psicanalista. Doutora em Comunicação Social pela Universidade Autônoma de Barcelona. Professora Associada da Universidade Federal de Goiás. Coordenadora da pesquisa em Cinema e Psicanálise em Teoria da Imagem. Membro do Corpo Freudiano de Goiânia Psicanálise e Transmissão.