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Para a Capitolina

AGRADECIMENTOS 9 INTRODUÇÃO 11 CAPÍTULO 1 > UMA VIDA MAIS OU MENOS 15 CAPÍTULO 2 > DE CAVALO PARA BURRO 25 CAPÍTULO 3 > O DIA SEGUINTE 35 CAPÍTULO 4 > UM NOVO ALENTO 49 CAPÍTULO 5 > UM COELHO BISCATEIRO 57 CAPÍTULO 6 > DE BURRO PARA CAVALO 65 CAPÍTULO 7 > DE VOLTA AO PASSADO? 79 CAPÍTULO 8 > NA ALTA RODA 91 CONCLUSÕES: LIÇÕES DE SORTE PARA COELHOS 103 OS QUATRO PASSOS EM DIRECÇÃO À SORTE SISTEMATIZADOS POR RICHARD WISEMAN 105 FUI DESPEDIDO. E AGORA? 108

À Cláudia Tomás e ao Luís Neves pelas sugestões que levaram à melhoria do texto final. Obrigado. Ao editor José Prata e ao Pedro Queiroga Carrilho pela mesma razão. Ao Luís Cruz pelo telemóvel. Ao bar Chocolate pela electricidade. Ao Manuel Freire, em especial, pelo apoio neste e noutros projectos. Ao Bruno Vasconcelos pelas fotografias. Por fim, mas não menos importante, ao meu irmão João Dias de Sousa pelo incentivo à realização deste livro. 9

A sorte é só um acaso? Porque é que alguns coelhos... perdão... pessoas têm mais sorte, por sistema, do que a maioria das outras? Acredite ou não, existe um conjunto de investigações científicas à volta da questão da sorte veja, por exemplo, o livro O Factor Sorte (título original: The Luck Factor), de Richard Wiseman, editado em Portugal pelas Publicações Dom Quixote. O autor é um professor universitário britânico formado em Psicologia. Actualmente dirige uma unidade de investigação no Departamento de Psicologia da Universidade de Hertfordshire. O seu trabalho tem merecido a atenção de revistas científicas internacionais como a Nature, Science e Psychological Bulletin. No seu livro, Wiseman diz-nos que a sorte está longe de ser apenas um acaso. E se é verdade que não é possível adivinhar o número da lotaria (como eu gostaria de ter essa capacidade!), existe um conjunto de pessoas que sistematicamente têm mais sorte do que as outras. Porquê? À primeira vista, pode parecer que algumas delas nasceram com o rabo virado para a lua. Todavia, a explicação para a maioria dos casos é perfeitamente prosaica: a diferença reside no facto de as pessoas com sorte pensarem e 11

UM COELHO CHEIO DE SORTE terem comportamentos diferentes daquelas que não são bafejadas pela sorte. A fábula aqui apresentada anda à volta dos comportamentos e pensamentos que nos levam a ter mais sorte. O protagonista é um coelho chamado João Sortudo. A sua maneira de pensar e de agir favorece a sorte. E ao longo da história vai perceber que pode ter ainda mais sorte se fizer por isso. Vai cultivar os pensamentos e comportamentos que o ajudam a atrair a sorte, e evitar os pensamentos e comportamentos que dão azar. E a vida vai acabar por lhe correr muito melhor. Não sem alguns percalços, claro. Mas sobre a história do João Sortudo não vamos falar mais por enquanto, não vos queremos retirar o prazer da leitura. Queremos, sim, frisar bem uma ideia: se até um coelho consegue ter mais sorte, porque não conseguirá também o leitor? 12

:: CAPÍTULO 1 ::

Era uma vez um coelho muito bem-parecido, com pêlo castanho e algumas manchas brancas. Chamava-se João Sortudo e a vida corria-lhe mais ou menos. Não estava muito satisfeito com a sua vida, mas não podia dizer que fosse má. Até então o João tinha feito tudo o que a sociedade e a sua família esperavam dele. Casara recentemente e já tinha uma ninhada de filhotes. O leitor sabe como são os coelhos: sempre que podem, fazem determinadas actividades. E com grande rapidez. 17

UM COELHO CHEIO DE SORTE A vida de casado agradava ao João se tinha de casar, era com aquela coelhinha. Já sabem que determinadas actividades estavam a correr bem ao casal. Porém, aquela coelhinha era um achado em muitos outros aspectos. Não só por causa do narizinho rosado e dos lindos dentes brancos que o deixavam louco. Era também uma boa mãe e, sobretudo, uma companhia agradável e inteligente. Os colegas de trabalho do João contavam-lhe histórias horríveis sobre a forma como as mulheres lhes davam cabo da paciência. O João, ao contrário, sabia que havia uma química muito especial entre ele e a coelhinha Maria. Na relação com a sua mulher só existia uma questão que provocava algum atrito afinal, não há coelhinha sem senão. O João conhecia muitos e variados coelhos. Ricos e menos ricos. Coelhos com muita e pouca idade. E a maioria trabalhava em áreas que não tinham nada que ver com a dele. O João trabalhava na apanha da cenoura, o que o obrigava a constantes deslocações. Havia semanas em que mal tinha tempo de ir à toca. A coelhinha Maria preferia que o João passasse mais tempo com ela e com os filhotes (que eram muitos, como se sabe). As constantes saídas dele eram o principal motivo de discussão entre os dois. E as discussões só não azedavam mais porque a maioria dos amigos e conhecidos do João eram do sexo masculino. Se o caso fosse diferente, a Maria ficaria ainda mais irritada ela dizia que não tinha ciúmes, mas não acreditem nela. Para além das saídas de trabalho, o João adorava encontrar-se e conversar com a sua rede de amigos e conhecidos. Era um jantar para aqui e um almoço para ali. Não há nada como roer umas cenouras com os amigos, pensava. Melhor ainda eram as idas semanais às corridas de coelhos. O João nunca faltava, eram absolutamente sagradas. Ia ver as corridas com o grupo de sempre, coelhos das mais 18

CAPÍTULO 1 :: UMA VIDA MAIS OU MENOS 19

UM COELHO CHEIO DE SORTE diferentes origens e classes sociais, que em comum com ele tinham apenas a paixão pela mesma equipa: o Sporting Clube da Coelhândia. Por vezes, o João bebia um pouco de mais quando ia às corridas. Naturalmente, a esposa não ficava contente. Quem o atura depois sou eu e não os amigos. Já não tinha paciência para aquelas conversas, o árbitro isto, o árbitro aquilo, a pista estava inclinada. Não há pachorra. Resmunguices da Maria à parte, a única faceta da sua vida que o João não apreciava muito era a profissional. Sempre tinha seguido os conselhos dos seus pais nesta área. De acordo com eles, qualquer coelho que se prezasse tinha de trabalhar na apanha da cenoura achavam que era o tipo de trabalho mais seguro do mercado. Os coelhos irão sempre comer cenouras, diziam. E, além disso, era bem pago. A verdade porém é que, findo mais um fim-de-semana, acabadas as corridas e as discussões sobre as corridas, o João voltava para o trabalho. E era confrontado com a mesma triste realidade: não tinha grande interesse pelo mundo das cenouras excepto quando se tratava de comê-las, claro. O que lhe interessava mesmo era a construção de tocas. Porém, toda a gente dizia que era um negócio perigoso, com muitos altos e baixos. Umas vezes havia muito trabalho e ganhava-se muito bem: noutras alturas, o mercado das tocas vinha por aí abaixo e não havia nada para fazer. Desta forma, quando entrou para a universidade, o coelho João escolheu um curso sobre cenouras em geral e sobre a apanha em particular com muita pena sua, deixou de lado os cursos sobre a construção ou arquitectura de tocas. Apesar de não se interessar muito pelas disciplinas relacionadas com cenouras, conseguia ter boas notas o João sempre foi um coelho bastante inteligente. Obviamente, quando saiu da faculdade, arranjou com facilidade um estágio numa conhecida produtora de cenouras. 20